3º dia – ITANHANDU/MG a DIVISA DOS ESTADOS DE MG/SP - 25 quilômetros

3º dia – ITANHANDU/MG a DIVISA DOS ESTADOS DE MG/SP - 25 quilômetros 

"Às vezes na vida que você precisa peregrinar. Fazer uma peregrinação ou morrer. Morrer com um monte de trabalho duro, comodidades ou egoísmo que obscurece o esplendor do espírito. Um pouco como aquelas aves migratórias que vemos no céu. Você precisa imigrar do contrário a morte é certa. Cada peregrinação é uma viagem para dentro de si mesmo, e neste encontro íntimo e pessoal se manifesta aquilo que somos. Por isso a melhor maneira de se conhecer é partir para outras terras." (José Arlegui)

A jornada seria de média extensão e integralmente plana em sua primeira parte, até a cidade de Passa Quatro.

Mas, estávamos num sábado e eu precisaria resolver pendências relacionadas com a etapa sequente, de forma que, após as abluções matinais, deixei o local de pernoite às 6 h.

O dia já estava claro e encontrei bastante gente circulando pelas ruas frias da cidade. 

No poste, a primeira flecha do dia, junto com o totem da ER.

Eu segui as instruções constantes na planilha da ER e não tive problemas para encontrar o meu rumo.

Dois quilômetros percorridos por bairros periféricos, finalmente, passei a caminhar sobre terra e tudo ficou melhor.

O clima se apresentava úmido e com bastante cerração no entorno, sinal de que mais tarde o sol apareceria. 

Início do caminho em terra.

As propriedades onde transitei nesse primeiro trecho, tinham sua missão todas voltadas para a pecuária.

Dessa forma, grandes pastagens me ladearam no caminho. 

Muita nebulosidade e hidratação.

Um cartaz afixado na lateral da estrada me confidenciava que Itanhandu, cidade das artes, também é bastante conhecida por sua atividade artística.

Além de um vigoroso artesanato, o município já foi sede de uma revista modernista, cuja primeira edição ocorreu em 1969, e tem um dos mais tradicionais festivais da canção do sul de Minas Gerais. 

Caminho plano e retilíneo.

Mais adiante, eu transitei diante das imensas instalações da Granja Santa Marta, novamente sobre piso duro, no momento em que muitos trabalhadores adentravam às suas instalações para a lida diária.

Depois voltei a caminhar em terra, por mais algum tempo.

Mais adiante, voltei a caminhar sob piso asfáltico, já no distrito de Pé do Morro, cuja sede é a cidade Passa Quatro.

A estação de Pé do Morro foi aberta em 1951, segundo o Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, de 1960.

E, segundo moradores do local, no pequeno bairro afastado do centro de Passa-Quatro, o que existia ali era uma parada em que não havia uma construção, somente uma cobertura. 

Transitando pelo bairro de Pé do Morro.

E ela ficava afastada da pequena vila, hoje uma plataforma de concreto abandonada e cheia de mato com umas estacas cercando o local.

A elevação desse lugarejo a distrito ocorreu no ano de 1948.

Observei bastante movimentação pelo local onde também existe variado comércio. 

Caminho retilíneo, uma tônica nessa etapa.

O caminho, integralmente plano, prosseguiu mesclando terra com um piso asfáltico bastante danificado, onde as crateras eram a tônica.

Também cruzei com inúmeras pessoas fazendo sua caminhada matinal.

O roteiro é muito bem delineado, porque podia avistar a rodovia MG-158, que liga Itanhandu a Passa Quatro, a uns cem metros do meu lado esquerdo. 

Retão sem fim...

E era ladeado do meu lado direito pelos trilhos da antiga linha ferroviária, hoje desativada.

Em determinado local, passei diante da Granja Santa Clara, que dispõe de portentosas instalações.

Como as demais, ela também abriga uma quantidade incrível de galinhas, que ficam em gaiolas especiais, sob as quais se acumulam montes de dejetos, cobertos por cal, talvez para um futuro uso como adubo. 

Mais adiante, transitei pelo bairro de Tronqueiras, cujo substantivo quer dizer: “Cada um dos esteios da porteira a que se prendem as varas da cancela.” 

Transitando pelo bairro de Tronqueiras.

Ali, face ao horário matutino, a movimentação de veículos, pessoas e cães vadios era bastante expressiva.

Nesse local existem algumas pousadas, a maior parte de característica rural, sendo uma região onde ainda há muitas olarias em operação.

Eu atravessei lentamente a povoação, depois, mais adiante, voltei a transitar em terra, por locais agradáveis e desertos. 

Retorno ao caminho em terra.

Porém, inexoravelmente, fui me aproximando da civilização e acabei por chegar ao centro da cidade, mais especificamente, na Pousada São Rafael, onde havia feito reserva.

Antes, contudo, passei diante do Colégio São Miguel, fundado em 1935 por padres Betharramistas, destinado ao ensino secundário, que acolhia em regime de internato, ensinava latim e tinha padres professores de diversos países. Hoje oferece também cursos técnicos em eletricidade e eletrônica.

Sua história é extremamente dignificante:

“No ano de 1934, em Buenos Aires - Argentina foi realizado o Congresso Eucarístico Internacional. Os participantes brasileiros foram hospedados no Colégio São José da Congregação Betharramita, inclusive, o Cardeal Dom Sebastião do Rio de Janeiro.

O Cardeal ficou muito impressionado com a obra educacional dos Betharramitas na Argentina e convidou a Congregação a fundar um Colégio similar em sua Arquidiocese no Rio de Janeiro. A Congregação atendeu o convite e em 19 de março de 1935, desembarcava no Rio de Janeiro, o Padre João Batista Apetche, primeiro betharramita a pisar em solo brasileiro. 

Casarão que abriga o Colégio São Miguel.

O Padre acostumado com o clima frio da Europa não suportou o calor carioca e estimulado pelas irmãs da Providência de Gap veio conhecer Passa-Quatro e como todos os que pisam em solo passaquatrense, foi seduzido pelo clima ameno, pelas belas paisagens e hospitalidade. O saudoso padre decidiu construir a escola em Passa-Quatro e expandir a obra de São Miguel Garicoïts também no Brasil.

A Congregação Betharramita contou com o apoio do prefeito da época, Dr. Castro e seu sogro, o Deputado Arthur Tibúrcio. Foi contratado o Sr. Henri Sajous, o arquiteto da Igreja de Ibarre, terra natal de São Miguel Garicoïts, que se encontrava no Brasil há alguns anos, para adaptar a construção já existente no local, para um Colégio simples e bonito como gostam os betharramitas.

No dia 06/11/1936 chegam a Passa-Quatro os padres Francisco Darley e Dante Angelelli para auxiliarem o Padre João Batista Apetche e assim em 1937, o Colégio São Miguel abre suas portas e recebe os primeiros alunos. Por aqui já passaram centenas de jovens que hoje estão espalhados pelo País levando sempre a lembrança da saudosa Escola que um dia lhes ensinou um pouco da Espiritualidade do Eis-me-aqui, do FVD (Faça-se a vontade de Deus)." 

Na Pousada São Rafael tomei café, bem como deixei guardada minha equipagem principal.

Em seguida, fiz contato com um taxista, o Sr. Domingos, para que fosse me buscar no alto da serra da Mantiqueira, exatamente, no local onde se encontra demarcada a divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo.

Novamente revigorado, parti para a segunda parte da jornada do dia.

Levei apenas minha “mochilinha de ataque”, que continha água, barra de cereais e uma banana.

Seguindo adiante, passei diante da igreja matriz da cidade, depois prossegui em agradável passeio, tendo ao meu lado a linha férrea.

Mais adiante, cruzei com muitos turistas e residentes locais fazendo sua caminhada matinal.

Logo acessei uma trilha gramada situada no meio dos jardins e por ali segui confortavelmente. 

Deixando Passa Quatro, ao lado da linha do trem.

O trajeto é levemente ascendente e segue atravessando bairros periféricos da cidade onde avistei, ao menos, dois confortáveis hotéis, de excelente qualidade, que apresentam notável e belíssima estrutura: o Hotel Recanto das Hortênsias e o Mira Serra Parque.

Mais acima, enveredei para a esquerda e, na sequência, transitei pelo bairro de Pinheirinhos, de grande tradição histórica, porque teria servido de local de pouso aos primeiros bandeirantes que aportaram à Minas Gerais, provenientes de São Paulo.

Eles eram capitaneados pelo venerável Fernão Dias Paes Lemes, cognominado de “O Caçador de Esmeraldas”.

Sobre o lugar, a história diz:

“Pinheirinhos, estando à margem do famoso “caminho velho” dos tempos coloniais e imperiais, viu muita tropa passar, levando e trazendo riquezas mil.

Sua denominação veio também de uma vegetação que lhe dá o nome, pois quando os primeiros bandeirantes, vindos do Vale do Paraíba, penetraram nas terras dos cataguás, pela garganta do Embaú, encontraram, ainda em crescimento, tais pinheiros. Daí, Pinheirinhos.

Há menção do nome no livro de Antonil, editado em 1711 – CULTURA E OPOLULÊNCIA DO BRASIL:

“Então, começam a passar o ribeirão que chamam de Passavinte, porque vinte vezes se passa e se sobe às serras, encontrando aprazíveis árvores de pinhães” – ou – “passam outro ribeiro que chamam Passa-Trinta, porque trinta e mais vezes se passa, se vai aos Pinheirinhos, lugar assim chamado por ser o princípio deles” – isto é, o começo do crescimento dos pinheiros.” 

À esquerda, acesso ao bairro Pinheirinhos.

Eles chegaram até esse local, após transpor o Embaú, com imensos sacrifícios.

Infelizmente, nada mais resta em termos de construção que possa lembrar essa epopeia.

No entanto, sempre é bom lembrar que os ranchos edificados à época eram de madeira que, certamente, com o passar do tempo, sucumbiu às intempéries.

Este é na verdade o antigo caminho dos bandeirantes.

Para se chegar ao pouso das terras altas da Mantiqueira, passava-se um rio quatro vezes.

O rio ficou sendo o Passa Quatro, bem como o povoado que começou a se formar ao redor do pouso.

Seguindo em frente, eles ultrapassaram o rio Verde, depois o Capivari e o Baependy, atravessaram o rio Grande e acamparam às margens do rio das Mortes, onde iniciaram o Arraial de Ibituruna, o primeiro das Minas Gerais, permanecendo aí até que se findasse a estação das chuvas.

Esse local, apesar de histórico, é integralmente urbano e, quando por ele passei, muitos cães ladraram por trás das cercas das casas, que ostentavam jardins de begônias, tinhorões, beijos e amores-perfeitos.

Veio-me à memória minha infância, no interior

Eu transitei rapidamente pelo bairro e, mais acima, obedecendo à sinalização, girei à direita, ultrapassei as vias férreas e, para minha alegria, acessei uma larga estrada de terra.

Imediatamente, meus pés agradeceram! 

A histórica Estação de Manacá.

Antes, contudo, passei ao lado da Estação de Manacás, que também tem muita história para contar:

“Manacá é um arbusto cujas flores variáveis, conforme o Dicionário do Houaiss, ganham totalidades brancas, roxas e lilases. Suas raízes são purgativas e depurativas.

Poetas e romancistas de todas as escolas literárias como José de Alencar, Fagundes Varela, Bernardo Guimarães, José Veríssimo, Lima Barreto, Mário de Andrade, Guimarães Rosa e tantos outros citaram essa delicada flor em seus livros.

Pode-se levantar a hipótese que, na época da construção da estação Manacá, deveria haver, nas suas cercanias, belos pés de manacás em plena florescência, para que não se desse o nome de Pinheirinhos a tal construção.

Distante quatro quilômetros da estação central do município, Manacá era ponto de embarque não só para os moradores da sede do futuro distrito mas também para os rurais do Quilombo, Caxambu, Morro, Fazenda Velha e outros bairros.” 

Caminho plano, agradável, mas sem sombras.

Eu prossegui solitário, por um caminho agradável, reto, porém sem sombras.

Paisagens bucólicas, plenas de rara beleza, preenchiam o entorno. 

Ao longe e à frente, a serra da Mantiqueira.

Ao longe, bem a minha frente, perfeitamente delineada, podia avistar a serra da Mantiqueira, que escalaria ainda naquele dia. 

Caminho deserto e agradável.

Logo passei diante de uma singela capelinha, toda depredada, cheia de teias de aranha.

Por dentro e ao redor um punhado de velas, quadros e fotos emolduras.

São comuns esses pontos onde as pessoas vêm pedir, agradecer, ou simplesmente manifestar sua religiosidade.

Talvez a solidariedade que não encontraram nas pessoas humanas possa estar presente nos seres celestiais que imaginam existir e isto pode trazer a elas algum conforto.

Há séculos é assim, são cruzes, pequenos oratórios, ou até mesmo uma pedra mais saliente: é a fé do nosso povo! 

O rio Passa Quatro que dá nome a cidade.

Percorridos 6 quilômetros nessa segunda jornada, em agradável toada, eu fleti radicalmente à esquerda, transpus as linhas férreas, depois prossegui em ascenso até a rodovia MG-158, que liga os Estados de Minas Gerais e São Paulo.

Então, obedecendo à sinalização, caminhei 2 quilômetros em asfalto, por uma pista perigosíssima, vez que apesar do expressivo trânsito de veículos, ela não contém acostamento.

Então, para minha benção, no totem nº 1219, eu deixei a rodovia e acessei outra agradável estrada de terra que, mais abaixo, me fez transpor novamente as linhas férreas. 

Paisagens belíssimas nesse trecho.

Em seguida, prossegui por uma estrada larga e sombreada, plena de pinheirais.

Nesse trecho derradeiro eu transitei diante de diversas fazendas onde o forte também era a pecuária, com numerosos rebanhos.

Ali o visual não ficou pior, apenas mudou um pouco.

Em vez da mata fechada que defrontaria em breve, agora via montanhas cobertas por pastos, com forte presença das araucárias. 

Caminho orlado por araucárias.

Essas árvores típicas do Paraná e de todo o Sul do Brasil, têm um fruto comestível, o pinhão, que os bandeirantes carregavam como alimento.

Eles foram os grandes responsáveis por sua disseminação e, por isso, em todo o caminho percorrido pela bandeira de Fernão Dias, as araucárias estão presentes.

Já em ascenso, acabei por transitar pelo bairro do Registro, depois voltei novamente à rodovia. 

Chegando a divisa dos Estados de MG e SP;

Caminhei, se tanto, uns 300 metros e ultrapassei a divisa dos Estados de Minas Gerais e São Paulo, num local conhecido como “A Garganta do Embaú”.

A Garganta do Embaú é um ponto notável na Serra da Mantiqueira, se localiza no Vale do Paraíba na divisa dos municípios de Cruzeiro-SP e Passa Quatro-MG, por ser o ponto mais baixo de toda sua cumeeira e visível a várias dezenas de quilômetros; é uma passagem por onde os bandeirantes que vinham de cidades do Vale, como Taubaté, se embrenhavam pelo chamado "caminho geral do sertão" em direção a Minas Gerais.

Embaú, na língua tupi, quer dizer “a derradeira aguada” segundo Teodoro Sampaio, mas Silveira Bueno, em seu “Vocabulário Tupi-Guarani-Português, afirma que quer dizer “bica d'água”.

As passagens mais difíceis para as tropas de todo o Caminho do Ouro, ou Estrada Real, ficavam na Serra do Mar logo na saída de Paraty e na Serra da Mantiqueira, aonde a passagem se dá por uma falha geográfica conhecida pelo nome de "Garganta", daí o nome, "Garganta do Embaú".

Segundo a história, por ele passaram as bandeiras como as de Fernão Dias, Antônio Delgado da Veiga e de Miguel Garcia e este caminho, mais tarde, fez parte do antigo caminho da Estrada Real, que levava o ouro de Minas Gerais até o porto de Parati. Gentil Moura, em seu “Dicionário da Terra e da Gente de Minas”, afirma que pelo Embaú deve ter passado a expedição de Martim Afonso, em 1531, assim como aquela que fez parte o inglês Anthony Knivet, em 1596.

Um documento escrito entre o final do século XVII e o princípio do século XVIII, descreve o caminho do Embaú, por onde subiam os paulistas, que descobriram as minas de ouro, como sendo este o único caminho que havia para Minas de todas as povoações do Sul, a saber, de todos os distritos de São Paulo e do Rio de Janeiro. 

Vista do Vale do Paraíba, desde o Mirante do Embaú.

João Camilo de Oliveira Torres, em sua “História de Minas”, escreve que a garganta era passagem obrigatória e afirma que o Conde de Assumar quando veio para Minas como governador, em 1717, procurou fazer um levantamento dos caminhos existentes, notando o “caminho velho” do Rio, o caminho de São Paulo, o “caminho novo”, construído por Garcia Rodrigues Paes, filho de Fernão Dias. Analisando-os, deu preferência ao de São Paulo, passando por Taubaté e Embaú.

Mais recentemente na história brasileira, o ponto foi palco de batalhas ocorridas na região por ocasião da Revolução de 32 e por se tratar de um ponto estratégico de acesso entre São Paulo e Minas. Nas proximidades do Embaú, existe um túnel ferroviário, conhecido por "túnel da Mantiqueira", construído pelos ingleses, ainda no tempo de D. Pedro II, que era de importância militar extrema e onde ocorreram combates violentos durante a Revolução. Foi pelo Embaú também que as tropas militares de São Paulo invadiram a cidade mineira de Passa Quatro, recuperada posteriormente pelas tropas mineiras. 

Imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Atualmente no local, onde ocorreram as lutas fratricidas, existe uma imagem de Nossa Senhora em um altar com vista para o Vale do Paraíba.

No local existe um bar e foi para ali que me dirigi primeiramente, objetivando adquirir água.

Aproveitei para conversar com o proprietário, indagando-lhe sobre a trilha que desce a serra da Mantiqueira, localizada do lado esquerdo da rodovia, que faz parte do roteiro proposto na planilha disponibilizada pelo site da ER.

Ele me contou que sempre viu ciclistas e cavaleiros descendendo pelo local, mas não sabia me informar para qual localidade eles seguiam, nem qual o caminho utilizado. 

Monumento que homenageia os heróis de 1932.

Depois segui até o Mirante existente no local.

Junto deste, localizei o Altar do Embaú onde, em 1932, ocorreram lutas fratricidas. 

Mãe Aparecida, a Vossa Benção!

Nele está inserida a imagem de Nossa Senhora Aparecida, onde posicionei-me para uma foto.

No horário adredemente combinado, o taxista aportou no local e, 30 minutos depois, eu estava novamente adentrando à agradável Pousada São Rafael.

Ali, por R$125,00, pude dispor de um excelente quarto individual.

Para almoçar utilizei os serviços do Sushi Porão onde, por R$15,00, pude comer à vontade no sistema Self-Service.

Depois, deitei para descansar.

Remonta ao tempo da bandeira de Fernão Dias Paes Leme em 1674 a origem dessa cidade encravada na Serra da Mantiqueira, no sul do Estado de Minas Gerais.

Situada logo após um marco geográfico bastante notável na Serra, a Garganta do Embaú, por onde passou a expedição liderada por aquele bandeirante, teve sua localização descrita em documentos que dão origem ao nome da cidade.

Consta também expedições de Jacques Félix, fundador de Taubaté, e seu filho de mesmo nome, em expedições anteriores pela região, datadas de 1646, que podem ter dado origem ao povoamento mais antigo.

Este caminho ficou conhecido, mais tarde, como Caminho Velho da Estrada Real.

No caminho descrito por André João Antonil, consta o nome do Ribeirão do Passatrinta, logo após a descida da serra da Amantiqueira, mas segundo nota de Andrée Mansuy Diniz Silva, o nome atual desse afluente do Rio Verde é Passaquatro, ou Passa Quatro.

A região começou a ser povoada mais ativamente na segunda metade do século XIX após ser elevado a Distrito em 1854, servindo de parada para quem atravessava a Mantiqueira e se dirigia à cidade de Pouso Alto pela Estrada Real (Caminho Velho).

Em 1884, a antiga Estrada de Ferro Minas-Rio, construída pelos ingleses, contribuiu decisivamente para aumentar o povoamento e desenvolvimento da região, tendo tido em sua inauguração a presença do governante de então, o Imperador D. Pedro II.

A cidade teve como autor de seu projeto inicial de saneamento e coleta pluvial o engenheiro sanitarista Paulo de Frontin, que hoje dá nome uma das praças da cidade, localizada no largo da estação ferroviária.

Em 1912 a cidade abrigou uma expedição científica internacional que veio estudar a ocorrência de um eclipse solar.

Na ocasião, cientistas de diversos países, chefiados pelo astrônomo Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional, compareceram junto com uma comitiva presidencial, onde estava o Marechal Hermes da Fonseca, Presidente da República.

O fenômeno foi pouco observado devido às más condições atmosféricas naquele dia.

Foi palco de dois episódios militares do século XX, as revoluções de 1930 e 1932 (em tal Revolução, atuou como médico no hospital municipal o futuro presidente Juscelino Kubitschek).

Em 1941 foi considerada Estância Hidromineral pelas propriedades medicinais de várias de suas fontes de águas óligo-minerais, radioativas na fonte, principalmente devido à grande concentração de radônio e torônio.

Sua população atual é de 16.000 habitantes.

(Fonte: Prefeitura de Passa Quatro) 

Igreja matriz de Passa Quatro.

“Passa quatro vezes o mesmo rio, e terás um repouso tranquilo".

Essa foi a frase deixada por Fernão Dias aos visitantes posteriores e que deu o nome a cidade e ao trajeto da Estrada Real.

A cidade possui um rico acervo arquitetônico e urbanístico formado por construções que datam da virada do século 19 para o 20: A Matriz de São Sebastião, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em estilo gótico, o calçamento em paralelepípedos formando faixas claras e escuras, as fontes de água mineral presentes em todas as praças e jardins, o conjunto da estação ferroviária e o clima, que no verão varia entre 16 e 22 graus e, no inverno, chega a 0 grau durante as geadas da madrugada, dão um toque especial e aconchegante a essa pequena urbe.

Entre suas belezas naturais, destaca-se o Pico da Pedra da Mina, com 2797 metros de altitude — que fica no trecho da Mantiqueira chamado de Serra Fina e é o 4º ponto mais alto do Brasil — o Pico dos Três Estados, com 2665 metros, localizado no encontro entre as divisas de SP, MG e RJ, e o Pico do Itaguaré, com 2308 metros, onde nasce o ribeirão Passa Quatro.

Uma ótima opção para o turismo histórico é a viagem de Maria Fumaça em vagões do século 19, que parte da estação da cidade todos os sábados às 10 h e às 14 h 30 min e, aos domingos, às 10 h.

Antes do embarque e no retorno, os turistas ouvem as músicas do acordeom tocado por um típico personagem do Brasil: seu José Rodrigues, de 59 anos.

O passeio termina na estação de Coronel Fulgêncio, próximo ao túnel de 1 quilômetro de extensão que separa Minas Gerais de São Paulo, que foi cenário de sangrentas e decisivas batalhas da Revolução Constitucionalista de 1932, com a presença do então jovem médico mineiro Juscelino Kubitschek.

No local, foram gravados os últimos capítulos da minissérie “Mad Maria”, da TV Globo.

(Fonte: Wikipédia)

Igreja matriz de Passa Quatro, de outro ângulo.

Mais tarde, após um bom descanso, fui visitar e fotografar a igreja matriz da cidade, cujo padroeiro é São Sebastião.

Depois, saí em busca de informações, porque tinha algumas dúvidas a sanar sobre a etapa sequente.

Porém, não consegui dirimi-las, vez que não encontrei nenhum guia que me orientasse com precisão no quesito: como eu deveria agir na descida da serra da Mantiqueira.

Ocorre que na planilha da Estrada Real constava um atalho situado do lado esquerdo da rodovia, onde também eu precisaria superar uma trilha de aproximadamente 1 quilômetro.

Eu havia lido dois relatos sobre o assunto e em ambos os casos os peregrinos enfrentaram problemas graves nesse trecho. 

Ao fundo, o famoso maciço da Serra Fina.

O primeiro deles, encontrou a trilha sem manutenção, com mato alto, num local onde abundam cobras, mormente as da espécie urutu.

O outro trombara com um enxu de marimbondos, fora picado em várias partes do corpo, perdera os óculos e, após resgatar sua mochila, precisou retornar montanha acima e descer pelo asfalto.

Eu pretendia seguir o roteiro proposto pelo Instituto da Estrada Real, mas precisava saber se o trecho era seguro, bem como se fora feita limpeza nesse trajeto recentemente.

Afinal, eu estava sozinho e não sabia se encontraria sinal em meu celular no percurso.

Contudo, debalde minhas perquirições com ciclistas, taxistas e guias de montanha, não obtive sucesso quanto aos meus questionamentos. 

A antiga Estação Ferroviária de Passa Quatro.

Dessa forma, optei em descer a serra diretamente pelo asfalto.

Um trajeto xexelento e arriscado em face do expressivo tráfego de veículos, mas na falta de alternativas, essa era a única opção viável.

Isto decidido, ingeri um lanche natural num bar próximo, depois me recolhi.

AVALIAÇÃO PESSOAL – Uma etapa de razoável extensão, que apresenta variações altimétricas apenas em seu trecho final. O percurso inicial entre Itanhandu e Passa Quatro é quase todo urbano e percorrido, em sua maior parte, sob piso duro. Já o trecho derradeiro, situado após o distrito de Pinheirinhos, é muito belo, ermo e silencioso. No global, uma etapa fácil, tranquila e com belas vistas do Vale do Paraíba, a partir do mirante situado na Garganta do Embaú.

RESUMO DO DIA:

Tempo gasto, computado desde o Hotel Casarão, em Itanhandu/MG, até a divisa dos Estados de MG e SP: 6 h;

Clima: Ensolarado até o final da jornada.

Pernoite no Hotel e Pousada São Rafael: Apartamento individual excelente – Preço: R$125,00, com café da manhã;

Almoço no Restaurante Sushi Porão: Excelente! – Preço: R$15,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.

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