6º dia – ENGENHEIRO CORREIA a SÃO BARTOLOMEU – 32 quilômetros

6º dia – ENGENHEIRO CORREIA a SÃO BARTOLOMEU – 32 quilômetros

Antes de julgar alguém, tente caminhar uma milha com os seus sapatos. Você pode simplesmente mudar de ideia.

Saída às 5 horas, depois que, gentilmente, o Tonho me serviu o café da manhã.

1ª parte: Engenheiro Correia a Santo Antônio do Leite: 9 quilômetros, em 2 h.

O trajeto seguiu por uma estrada larga e muita terra fofa, mas sem grandes acidentes altimétricos.

O trânsito de veículos, principalmente caminhões, se intensificou após as 6 h e aspirei muita poeira nesse trecho, infelizmente.

O sol logo saiu e mostrou que, para variar, o dia seria quente e calorento.

Santo Antônio do Leite é um distrito da cidade de Ouro Preto, distante 25 quilômetros de sua sede.

A tranquilidade, a salubridade do clima e da água são possíveis explicações para a longevidade alcançada por muitos habitantes desse simpático lugarejo, que hoje somam 2.000 pessoas.

Pode-se pois dizer que, sendo aquele lugar do conhecimento dos combatentes de Manoel Nunes Viana, chefe dos Emboabas, a provável formação do arraial tenha se dado em torno de 1700, talvez antes, por ser passagem entre a Cachoeira do Campo e Ouro Branco.

A incorporação do hagiomástico "Santo Antônio" ao "Leite" deu-se somente após 1.858, quando foi concluída a igreja construída em torno da primitiva capela erigida em homenagem a Santo Antônio de Lisboa.

Altitude: 1013 m

Algumas fotos do percurso desse dia:

Estrada plana mas com muito pó em seu leito.

Por sorte, no início havia pouco trânsito de veículos.

Caminho plano e muito bem sinalizado.

Igrejinha de Santo Antônio do Leite.

Igrejinha de Santo Antônio do Leite, de outro ângulo.

2ª parte: São José do Leite a Cachoeira do Campo: 8 quilômetros, em 2 h.

A saída da cidade se dá por ruas empinadas, calçadas no sistema “pé de moleque”, que machucam, sobremaneira, por dois quilômetros, os pés do peregrino.

O restante da etapa foi cumprida sobre piso asfáltico, numa rodovia sem acostamento, que contém um grande descenso, depois outro empinado aclive.

O sol já crestava forte quando aportei a Cachoeira do Campo.

Esse distrito, o maior de Ouro Preto, foi desbravado em meados dos anos de 1674 a 1675, ou seja, em pleno século XVII.

A bandeira de Fernão Dias Paes, o caçador de esmeraldas, descobriu em meio aos campos a alta cascata, próximo ao Centro Dom Bosco, que posteriormente daria origem ao nome do povoado.

No ano de 1680 o aventureiro Manuel de Mello teria se estabelecido em Cachoeira, tornando-se o primeiro morador.

O povoado teve em 1700 seu desenvolvimento inicial, quando uma crise de fome atingiu Vila Rica, fazendo com que um grande número de pessoas, moradores dessa região mineradora, procurassem outras áreas para produzir alimentos.

Na localidade, pela projeção da época, desencadeou um dos episódios mais sangrentos, envolvendo os direitos de exploração de ouro na futura Capitania de Minas Gerais, conhecido como Guerra dos Emboabas, entre 1707 e 1709, no local conhecido atualmente como Oratório Festivo.

População: 9 mil pessoas - Altimetria média: 1090 m

Algumas fotos do percurso desse dia:

Flores na estrada..

Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, em Cachoeira do Campo.

Igreja de Santo Antônio, em Cachoeira do Campo.

3ª parte: Cachoeira do Campo a São Bartolomeu: 15 quilômetros, em 3 h 30 min.

Em Cachoeira do Campo fiz uma pausa restauradora para descanso, hidratação e ingestão de frutas e chocolates.

Refeito, segui em ríspido ascenso que se prolongou por, aproximadamente, 3 quilômetros, quando atingi 1203 m de altura, o ponto de maior altimetria nessa etapa.

Numa bifurcação específica, os marcos da Estrada Real e do CRER que seguiam juntos desde o local de minha partida, se separaram.

Porquanto, a Estrada Real segue à esquerda, em direção à Glaura, enquanto o CRER prossegue à direita, por uma rodovia vicinal asfaltada, que não apresenta grandes acidentes altimétricos.

O piso duro perdurou até o 10º quilômetro, quando adentrei em terra.

Foram mais 4 quilômetros por uma estrada extremamente empoeirada e seca, com intenso trânsito de veículos, na verdade, um sufoco extremo.

No final, quando restava 1 quilômetro para a chegada, passei a pisar sobre o famoso “calçamento pé de moleque”, novo tormento para meus pés já exauridos pelo esforço da jornada.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Nessa esquina a ER vai à esquerda, em direção à Glaura, e o CRER segue à direita.

Estrada asfaltada e, para variar, sem acostamento.

Estrada de terra, onde passei sufoco pelo pó aspirado.

Trecho sem sombras e com muita poeira.

Parte final, quase chegando... sob sol forte!

Chegando em São Bartolomeu/MG.

Uma acanhada joia barroca do século 18. Assim pode ser descrito o distrito de São Bartolomeu.

Cortada pelo Rio das Velhas, a cidade, que fica a 97 quilômetros da capital mineira, ostenta belíssimas cachoeiras.

A Igreja Matriz de São Bartolomeu é uma das mais antigas e imponentes igrejas de Minas Gerais.

A fartura de frutas na cidade induziu os seus moradores à fabricação de doces caseiros, tradição reconhecida na cidade.

Além do artesanato, a cidade tem o costume de realizar alguns festejos culturais.

A Festa da Goiaba (doce caseiro mais popular da cidade) é de presença obrigatória e está entre as mais conhecidas e apreciadas pelos turistas. 

São Bartolomeu/MG, uma graça de cidade.

São Bartolomeu é uma das localidades mais antigas da região do ouro. O rio das Velhas atravessa o centro do distrito e, por isso, pequenos acampamentos já existiam no local por ser ponto obrigatório de passagem dos bandeirantes, antes mesmo do descobrimento do Ouro Preto. Assim, como a maioria das localidades daquela região, São Bartolomeu recebeu grande quantidade de habitantes em decorrência da crise de fome que assolou Vila Rica em 1700/1701.

A primeira capela foi edificada em louvor a Nossa Senhora do Rosário numa fazenda situada um pouco ao norte do distrito, depois edificaram uma ermida para São Bartolomeu, situada no centro da propriedade de mesmo nome. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário não consentiu a demolição de seu templo, pois os devotos de São Bartolomeu consideravam o local o ponto mais firme para construção do templo porque não era inundado pelas enchentes e aquela era a clareira mais ampla do local. Depois de muito discutir, chegaram a um acordo: a nova igreja seria construída no centro da vila, mas manteria intacta a capela mór do Rosário. A lateral direita da igreja de São Bartolomeu é composta pelo altar-mor dos dois retábulos laterais da antiga capelinha do Rosário. Uma particularidade desta igreja é a existência de um sino de madeira, construído para compor a torre.

 

A igreja matriz de São Bartolomeu/MG.

São Bartolomeu foi grande centro comercial do século XVIII, a rua central era toda tomada por comércios e depósitos de mercadorias. As fazendas de São Bartolomeu se desenvolveram e a agricultura estava presente em todo o local. Devido à abundância de frutas, os habitantes do lugar iniciaram a fabricação de doces, sendo o mais famoso a marmelada.

As festas dos santos eram as mais importantes: a de São Bartolomeu, festejada no dia 24 de agosto realizava-se com a do Santíssimo Sacramento. As festividades começavam no dia 22, após a novena levantasse o mastro do Divino. No dia 23, tinha alvorada de fogos, missa e durante todo o dia tinha fogos. Tudo começava com o boi da manta. Também se realizava a festa em louvor a Nossa Senhora das Mercês, em cuja devoção foi erguida uma bela capela do outeiro da vila. Como a maioria das casas da rua central possuía um oratório, uma atividade comum ao lugar era a reza diante deles, seguida de um café com guloseimas, oferecido pelo dono da casa.

Para sobreviver, a população se dedica à agricultura e à fabricação de doces. Nos quintais são montados pequenos fogões a lenha e o doce é sempre cozido em tachos de cobre. Todas as famílias de São Bartolomeu sabiam fazer doce. As que não vendiam, faziam para consumo doméstico. 

A vila estava em festa pelo aniversário de seu padroeiro.

Em meados do século XX, inúmeras mineradoras instalam-se nas regiões vizinhas. Na década de 70, a introdução da luz elétrica e da televisão fez com que os hábitos noturnos se modificassem. O distrito também ganha canalização de água e esgoto, ampliação da escola, posto de saúde e uma linha regular de ônibus.

Quem chega a São Bartolomeu tem a impressão de voltar no tempo. Casinhas enfileiradas, a igreja no centro da praça, o rio das Velhas, a exuberante natureza. Para quem busca calma e tranquilidade, São Bartolomeu é o lugar ideal. 

O marco do CRER em São Bartolomeu/MG.

População de São Bartolomeu: 800 pessoas. - Altitude: 1028 m.

Fonte: www.manuelzao.ufmg.br

Marco do CRER em São Bartolomeu/MG.

RESUMO DO DIA:

Tempo gasto, computado desde a Pousada do Tonho, localizada no distrito de Engenheiro Correia/MG, até a Pousada Casa Bartô, em São Bartolomeu: Aproximadamente, 7 h 30 min.

Pernoite na Pousada Casa Bartô – Atendimento diferenciado! Recomendo!

Almoço no restaurante Caminho Caipira - Excelente! – Preço: R$18,00, por um prato feito, de excelsa qualidade e quantidade.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma etapa de grande extensão, com alguns aclives importantes, o maior deles situado na saída do distrito de Cachoeira do Campo. O percurso alterna terra com rodovias asfaltadas e calçamentos no estilo “pé de moleque”, o que acaba por exaurir os pés do caminhante. No geral, uma jornada difícil e larga, pelo calor e a poeira enfrentados durante o percurso. Mas o pernoite na Casa Bartô, em São Bartolomeu, onde recebi o carinho e o apreço da amizade de um de seus proprietários, o Sr. Arnaldo, compensou todo o cansaço auferido na jornada. Além disso, o imenso bucolismo e o carinho dispensado pelos moradores da pequena São Bartolomeu me comoveram e restauraram, com sobejo, todo o meu desgaste físico e mental.

07º dia – SÃO BARTOLOMEU a OURO PRETO – 22 quilômetros