2023 – CAMINHO DE APARECIDA: SÃO JOSÉ DO ALEGRE/MG a APARECIDA/SP - 113 QUILÔMETROS

“Recomeçar sempre! Melhorar sempre! Não ter paz enquanto cada dia não for um degrau a mais na escalada rumo a objetivos sempre mais elevados.” (Chiara Lubich)

Eu encerrara o Caminho da Agonia em Itajubá/MG ao lado da peregrina Shirley e cumprindo o que inicialmente traçáramos, no dia sequente nós retrocedemos até a cidade de São José do Alegre/MG, depois, animados e expectantes, partimos em direção ao Santuário de Aparecida para cumprir outro projeto longamente acalentado.

1º dia: SÃO JOSÉ DO ALEGRE/MG a ITAJUBÁ/MG – 20 QUILÔMETROS

“A satisfação está no esforço e não apenas na realização final.” (Gandhi)

A jornada seria de pequena extensão, assim, ingerimos calmamente o café da manhã e, após carimbar nossa Credencial de Peregrino no Bar e Restaurante Brasa, partimos às 6h30, sob um clima frio e neblinoso.

Depois de caminhar 1 quilômetro à beira da rodovia que segue em direção à cidade de Pedralva/MG, nós adentramos à direita em larga e embarreada estrada de terra enquanto, lentamente, o dia amanhecia.

A primeira parte do percurso é integralmente plana e transcorre por estradas rurais orladas por belas chácaras e fazendas, onde impera o bucolismo das paisagens.

Percorridos 4.800 metros em bom ritmo, numa bifurcação perfeitamente sinalizada, pois ambos os roteiros seguem em direção à cidade de Itajubá, nós fletimos à direita, enfrentamos uma pequena elevação e, a partir desse marco, o caminho de tornou ermo, silencioso e agradável.

Depois de caminhar um bom tempo por uma estrada larga e arejada, situada em meio a imensa várzea, por uma ponte de madeira nós ultrapassamos um ribeirão, depois, transitamos entre grandes fazendas de gado bovino e, percorridos 15 quilômetros adentramos em zona urbana.

Na sequência, utilizamos uma longa avenida, extremamente movimentada face ao horário matutino, e 3 quilômetros depois, nós chegamos à área central da cidade de Itajubá, onde nos hospedamos. 

Pernoite no Hotel Oriente – Apartamento excelente! – Preço: R$90,00 p/pessoa;

Almoço no Restaurante Carvão e Lenha: Excelente!

Algumas fotos do trajeto desse dia:

2º dia: ITAJUBÁ/MG a WENCESLAU BRAZ/MG – 22 QUILÔMETROS

“Por mais que na batalha se vença um ou mais inimigos, a vitória sobre si mesmo é o maior de todos os trunfos.” (Buda)

A jornada seria, novamente, de pequena extensão, assim, ingerimos calmamente o café da manhã e partimos às 6h30, já com o dia claro.

A primeira parte do percurso é integralmente urbana e minha velha conhecida, pois eu já a percorrera em várias oportunidades.

Assim, sem maiores novidades, 12 quilômetros à frente, numa bifurcação, quando o roteiro “Passos de Padre Léo” segue à esquerda, nós giramos à direita, depois, atravessamos a rodovia MG-350, que vai na direção de Delfim Moreira, e logo adentramos numa estrada de terra, que seguiu paralela ao rio Sapucaí.

Mil metros adiante, atravessamos uma porteira e iniciamos forte ascenso em direção ao cume de um morro, praticamente, o único ponto de destaque nessa jornada em termos de dificuldade altimétrica, vez que a trilha exigiu muito cuidado, pois se encontrava extremamente, encharcada, erodida e lisa, pelo trânsito massivo de mototrilheiros, cavaleiros e ciclistas.

Ultrapassado esse obstáculo, passamos a descender com ímpeto, depois, transitamos diante de uma grande fazenda de criação de gado, em sequência, atravessamos o belíssimo rio Bicas por uma ponte e, percorridos 16 quilômetros, acessamos a rodovia MG-459 que segue em direção a Wenceslau Bras.

E foi caminhando pelo acostamento, no sentido contrário ao fluxo de veículos, que atingimos nosso objetivo, quando o relógio marcava 11 h.

Na Pousada Castelinho, como de praxe, fomos muito bem recebidos pela Patrícia, minha velha conhecida, pois ali eu já houvera pernoitado várias oportunidades.

Infelizmente, por problemas particulares, a Shirley precisou retornar aos seus afazeres, então convoquei o Vinícius para me acompanhar e, juntos, seguimos até o final da jornada.

Pernoite na Pousada Castelinho – Apartamento excelente! – Preço: R$65,00 p/pessoa, com café da manhã; Destaque para a acolhida dos proprietários Patrícia e seu esposo Luciano, pessoas extremamente hospitaleiras e atenciosas para com os peregrinos que ali aportam. Por isso, recomendo este local, com efusão!

Jantar: Restaurante da Derli – Comida excelente!

Algumas fotos do trajeto desse dia:

3º dia: WENCESLAU BRAZ/MG ao BAIRRO DO CHARCO (DELFIM MOREIRA/MG) – 16 QUILÔMETROS

“Apenas o desconhecido amedronta o homem. Mas, uma vez que o homem o enfrente, esse medo se torna conhecido.” (Antoine de Saint-Exupéry)

Seria uma jornada de diminuta extensão, porém, sempre em forte e perene ascensão.

Dessa forma, sem pressa, tomamos café que gentilmente a Patrícia nos ofertou e partimos às 6h30, já com o dia claro, porém, sob um clima frio e neblinoso, temperatura na casa do 10ºC.

Assim, deixamos o local de pernoite e seguimos à direita, pela rodovia BR-479, que vai em direção à cidade de Piquete/SP.

Mil e quinhentos metros percorridos, depois de passar diante do local onde funciona a Copasa - Águas Minerais de Minas S/A, acessamos uma estrada de terra, à direita, que seguiu em leve aclividade.

O trajeto prosseguiu com bastante cobertura vegetal, sempre em meio a grandes fazendas de criação de gado e cinco quilômetros depois, passamos diante da entrada para o bairro Quilombo, onde avistei uma placa afixada numa árvore, nos avisando que ainda restavam 10 quilômetros para a chegada.

A partir dali, encontramos muito pó no leito da estrada e a cada veículo que por nós passava, uma nuvem de poeira se formava, oprimindo nossa respiração, por isso, desse ponto até o final, aspiramos muito pó. 

Prosseguimos ascendendo em ziguezague, por trechos clivosos, num caminho ladeado por pinheirais e extensos eucaliptais e, mais acima, transitamos diante da Fazenda Paiol, onde existe uma mina de água mineral puríssima, que é comercializada pela empresa BPS.

Sempre em ascensão, passamos diante da Fazenda Campo do Vento, que antigamente também abrigava peregrinos, onde visualizei alguns cavalos e muitos carneiros espalhados pela propriedade.

Finalmente, no 13º quilômetro, chegamos a 1.800 metros de altitude, o ponto de maior altimetria nessa etapa, então, adentramos em um local amplo e descampado, e, observando à nossa direita, detínhamos uma visão privilegiada, do grande vale por onde nós viéramos caminhando.

A partir desse marco, passamos a descender, lentamente, e logo avistamos, do lado esquerdo, uma pequena gruta, diante da qual existe uma fonte de água cristalina que nasce na serra, onde há uma singela construção, dentro da qual está exposta uma bela imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Depois, prosseguimos adiante e logo adentramos ao bairro do Charco, cuja sede é a cidade de Delfim Moreira/MG.

Ali, nos hospedamos no Chalé da Suze, uma construção espetacular, gerenciada por uma pessoa maravilhosa, a Suze, que nos acolheu com presteza e amabilidade, algo que fez muita diferença nesse dia.

“O bairro do Charco está localizado na serra da Mantiqueira, no município de Delfim Moreira/MG, num local com grande potencial para baixas temperaturas e geadas. Na verdade, o lugar está localizado a 1.720 m de altitude, bem no coração da maravilhosa serra da Mantiqueira, e ali há uma expressiva criação de trutas e salmão, com venda de congelados. Por ele transitam peregrinos e romeiros que tem como destino o Santuário de Aparecida e também é acesso para a Fazenda da Onça (acampamento do Exército de Itajubá/MG) e o Parque Estadual de Campos do Jordão/SP (Horto Florestal). ​Trata-se de um vilarejo, onde não há comércio, com residências de inverno, algumas casas de madeira, serralheria e uma igreja católica (sem torre). Uma paragem antiquíssima, cujas terras pertencem, desde o século XVII, à Família Faria, após mais de cinco gerações.”

​RESUMO DO DIA - Pernoite no Chalé da Suze – Excelente! – Preço: R$130,00 por pessoa, com pensão completa: café da manhã, almoço e jantar. Necessário ressaltar a simpatia e prestatividade da Suze, proprietária do local onde nos hospedamos, que fez toda a diferença, pois nos recebeu com extremo carinho e fantástica hospitalidade. Assim, recomendo esse local com efusão!

Algumas fotos do trajeto desse dia:

4º dia: BAIRRO DO CHARCO (DELFIM MOREIRA/MG) a PEDRINHAS (GUARATINGUETÁ/SP) – 34 QUILÔMETROS

“Minha mensagem é a prática da compaixão, do amor e da generosidade. Essas coisas são muito úteis no nosso dia-a-dia, e para a humanidade como um todo. Sua prática pode ser muito importante.” (Dalai Lama)

Após o café da manhã que gentilmente a Suze, a proprietária da Pousada, nos serviu e, imediatamente, após os acertos monetários, às 4h20 min, sob uma temperatura enregelante de 5ºC, iniciamos a jornada, seguindo por uma trilha silenciosa, situada em meio a uma mata espetacular. 

O trajeto ermo, hidratado e silencioso nos levou, 4 quilômetros adiante, a enfrentar o primeiro dos 4 íngremes ascensos que se necessita vencer para atravessar a Mantiqueira e, percorridos 5 quilômetros, nós chegamos à divisa dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, onde está fincado um pedestal com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. 

O descenso pelo lado oposto exigiu bastante atenção, pois o leito da trilha se encontrava extremamente revolvido, pela passagem constante de mototrilheiros, que concorreram, decisivamente, para assorear esse traçado.

Porém, com muito cuidado e fé em Deus, acabamos por sair na Estrada de Lavrinhas, depois de percorrer duros 8 quilômetros 

Na sequência, nós ultrapassamos o Fazenda dos Carneiros e, percorridos 17 quilômetros, nos enlaçamos com a Estrada de Pedrinhas, cujo início se dá diante do portão do Horto Florestal de Campos do Jordão. 

A partir daí o trajeto se tornou nosso velho conhecido e sem grandes dificuldades nós transitamos pelo bairro Gomeral, depois, com muita tranquilidade, pois o clima se manteve nublado e fresco, aportamos à Pousada do Agenor, nosso destino nesse dia.

RESUMO DO DIA: Pernoite na Pousada do Sr. Agenor: Atendimento especial! – Apartamento excelente, com café da manhã e jantar – Preço: R$130,00.

Algumas fotos do trajeto desse dia:

5º dia: PEDRINHAS (GUARATINGUETÁ/SP) a APARECIDA/SP – 22 QUILÔMETROS

“Felizes são aqueles que sonham sonhos e desejam pagar o preço para vê-los realizados.”

Seria a derradeira jornada e, como era talvez, a 20ª vez que eu trilharia esse trecho, ele já era meu velho conhecido. Assim, como nós precisávamos retornar nesse mesmo dia às nossas residências, depois de tomar o café gentilmente preparado pela Élen, exatamente às 4h30, e após fraternas despedidas, deixamos a Pousada do Sr. Agenor e seguimos em frente. 

Com o dia clareando, passamos pelo distrito de Pedrinhas e, quinhentos metros à frente, observando à sinalização, adentramos à direita, em larga estrada de terra, por onde seguimos em bom ritmo, porquanto, face às chuvas recentes, o clima se apresentava fresco e extremamente hidratado. 

A partir daí o trajeto é integralmente plano e, sem maiores novidades ou dificuldades, aportamos ao Santuário Mariano de Aparecida, nossa grande meta!

Algumas fotos da etapa desse dia:

FINAL

“É porque eles têm tanto a dar, e dão com tamanha prodigalidade, que os homens se apaixonam pelos Caminhos e estão sempre voltando para eles.” 

Medo e incerteza são poderosos combustíveis e diante deles, se venço a reação inicial de congelamento, a inação como primeira resposta, os passos seguintes, rumo ao desconhecido, são dados com toda a atenção possível.

Meus sentidos ficam mais alertas, acesso minhas melhores habilidades, reconheço sem pudor minhas deficiências, absorvo o máximo do entorno e percebo meu lugar naquele tempo e naquele espaço.

Numa caminhada exigente eu exploro os limites do meu corpo na mesma intensidade com que investigo e tento expandir os limites da minha mente ou do meu espírito.

Uma aventura de fé pode ser também um profundo mergulho para dentro de nós mesmo, como todo o peso e a expectativa que isso representa, pois tudo depende do vigor de passos.

Relativamente ao Caminho de Aparecida, diria que nele vivenciei dias de imensa alegria e profunda sintonia com o Criador, pois escalei serras colossais, revi amigos, confraternizei com peregrinos do Caminho da Fé, conheci pessoas diferenciadas, transitei por locais de imorredouras belezas naturais e alicercei novas amizades.

Uma trajetória plena de louvores, que se encerrou no abençoado Santuário Mariano de Aparecida.

Assim, ao finalizar novamente esse maravilhoso roteiro, não poderia deixar de agradecer às pessoas maravilhosas que nos acolheram nas pousadas e hotéis, bem como à Associação dos Peregrinos do Caminho de Aparecida, mormente, o Rodrigo, de Alfenas, assim como o Leandro e o Carlos Eduardo (“Cadu”) de Itajubá, que fazem a conservação desse itinerário, pois sem eles, nada teria sido possível.

Por derradeiro, gratidão especial a Shirley e o Vinícius, meus parceiros de trilha que, como das vezes anteriores, demostraram disposição, companheirismo e imensa fé, enquanto marchávamos em direção de nosso objetivo maior: aportar aos pés da MÃE APARECIDA!

E, a Ela rogamos bênçãos e proteção a nós, família e amigos. 

Bom Caminho a todos!

 Agosto/2023