20ª Etapa – PONTEVEDRA à CALDAS DE REIS – 24 QUILÔMETROS

20ª Etapa – PONTEVEDRA à CALDAS DE REIS – 24 QUILÔMETROS – “CRUZEIROS, VINHEDOS E IGREJAS DE GRANITO” 

“A saída de Pontevedra pela Ponte do Burgo, nos coloca num território ondulado e fértil, numa das etapas mais bonitas do Caminho na Galícia. Se excetuarmos um pequeno “tramo” por acostamento de “carretera”, a maior parte da jornada discorre por caminhos e calçadas com pouco tráfego e muitas árvores, que vão se alternando com vinhedos, cruzeiros e pequenas igrejas rurais. Sobretudo no trecho entre Alba e o Concelho de Barro. Caminhamos por terras de denominação de origem Rias Baixas, uma importante zona vinícola, onde se produz, dentre outros, o vinho “albarinõ”. Não é de se estranhar, portanto, que boa parte da rota se desenvolva entre vinhedos. Existem dois albergues, em Barros, na metade de trajeto, e o de Briallos, proposto como final de etapa. Porém, no primeiro deles não há comércio próximo, de maneira que o peregrino deverá adquirir seus víveres para o jantar, em alguma povoação intermediária.” (Traduzido/transcrito do Guia El País Aguilar, edição do ano de 2007, que utilizei na viagem)

 

A jornada não seria longa, ainda assim, como forma de ocupar bem o dia, deixamos o local de pernoite às 6 h, seguindo em direção ao Santuário situado na Praça de La Peregrina, onde estivéramos no dia anterior.

Prosseguindo, passamos pela Praça da Ferreria, depois acessamos a rua Real, para chegar à Ponte do Burgo, por onde transpusemos o limpíssimo rio Lérez, já na parte norte da cidade.

Para nossa alegria, logo o asfalto se transformou em vegetação, e o caminho voltou a ser em terra, o que mitigou o cansaço dos pés.

Logo passamos por Xunqueira de Alba, localizada junto ao rio de A Granda, depois, seguimos paralelos à linha férrea até Pontecabras, deixando à esquerda o rio Cabras e as instalações da fábrica “Cros”.

Em seguida, cruzamos as vias férreas por um túnel inferior, depois ascendemos até alcançarmos a Igreja de Santa Maria de Alba, uma típica construção galega do século XII, em pedra de granito, carcomida pelos musgos, e situada junto a um antiquíssimo cemitério.

Próximo, está sua casa “rectoral” e um monumento ao peregrino.

Prosseguindo por um caminho rural, situado em meio a espesso bosque, passamos por um lugar chamado Goxilde.

A história conta que nesse local o Arcebispo Xelmírez, descansou com suas hostes, a caminho de Compostela, depois de ter perpetrado o famoso “Pio Latrocínio” de relíquias da Catedral de Braga, em 1124.

Logo adiante, nós voltamos a cruzar as vias férreas, depois prosseguimos por asfalto até São Caetano, onde passamos diante da modesta capela do santo homônimo.

Logo acessamos uma estrada de terra à direita, situada em meio a frondoso e fresco bosque de acácias, carvalhos e pinheiros, tendo em alguns momentos, pelo lado esquerdo, extensos vinhedos.

Nesse trecho passamos pelas aldeias de Liborei e Castro, depois voltamos a nos embrenhar num bosque, e na sequência transpusemos a “Pontella”, uma bellísima “ponte medieval,” num local chamado “Pozo Negro” (sobre o Rego del Pozo Negro).

Iniciamos, então, um leve ascenso, e pela derradeira vez no dia, nós transpusemos as vias férreas, e prosseguimos subindo, até chegar ao Lombo da Maceira, para depois adentrar na aldeia de San Mauro, onde historicamente se efetuava a troca de montarias.

Prosseguimos por uma estrada solitária, bastante campestre, depois passamos em Sam Mamed de Portela, onde um antigo cruzeiro nos indicou o caminho a seguir.

Na sequência, transitamos por Ponte Valbón e Amonisa, um local místico, onde a imagem de Santiago, afixada num cruzeiro, indica o norte, olhando em direção à cidade de Compostela.

E logo alcançamos o peregrino Tomás, com quem havíamos conversado em Pontevedra no dia anterior.

Ele havia iniciado sua caminhada há pouco e seguia bem devagar, de modos que o cumprimentamos efusivamente, depois prosseguimos adiante.

Depois, prosseguimos em zig-zag, ainda cortando vinhedos, até sair mais adiante na rodovia N-550, já no povoado de A Seca, onde existe uma grande área recreativa oferecendo sua excelente estrutura para descanso aos peregrinos.

Seguimos mais um trecho pela rodovia N-550, depois adentramos a uma matosa senda, localizada à esquerda, que seguiu paralela à “carretera”, em meio a hortas e vinhedos, onde se cultiva a famosa uva “albarinho”, típica da região das Rias Baixas.

E às 10 horas, 18 quilômetros vencidos, chegamos à Briallos, uma minúscula aldeia, onde existe um bem aparelhado albergue de peregrinos, que oferece 50 camas e excelentes instalações aos caminhantes.

Já deixando o povoado, adentramos numa estrada vicinal em terra, que prosseguiu extremamente bucólica e agradável, em meio a milharais, pastos e vinhedos, que nos levou, depois de 3 quilômetros, a retornar definitivamente à rodovia N-550.

E por ela, adentramos em zona urbana, transpusemos o rio Umia pela Ponte do Bermaña, e logo aportamos na praça central de Caldas de Reis, nossa meta para aquele dia.

Após tomar informações com um senhor muito simpático, seguimos pela Avenida Dolores Mosquera, até localizar o excelente Hotel Lotus, onde ficamos hospedados.

Para almoçar, utilizamos o restaurante do próprio hotel, onde fomos muito bem atendidos.

Caldas deve seu nome a um manancial de águas termais, que nascem com temperatura oscilando entre 40 e 48 graus, e que deu origem, na época romana, ao “Mansio Agua Celenae”.

Nela se cruzavam as calçadas número XIX, que vem de Braga, com a XX, conhecida por Loca Marítima, vinda pela costa, e desde então, a cidade foi um centro administrativo e religioso importante, sede episcopal na Espanha visigoda, até que o bispado transferiu-se para Iria Flávia.

Na época medieval, nobres e arcebispos viviam aqui e passavam largas temporadas para desfrutar de suas águas termais, sendo que uma das  mais assíduas foi a rainha de Castilla, dona Urraca, que teve aqui seu filho, o futuro Alfonso VII, rei de Castilla e León.

Ele nasceu numa casa-fortaleza derrubada em 1891, devido ao seu estado de deterioração, no entanto, suas pedras foram utilizadas na construção da igreja dedicada a Santo Tomás Canterbury, localizada numa das principais avenidas da cidade.

Esse Santo canonizado era um arcebispo e mártir inglês, que antes de ser assassinado, em 1170, peregrinou à Compostela e, segundo os arquivos da época, pernoitou em Caldas.

Atualmente com 10 mil habitantes, famosa por suas águas termais, Caldas de Reis se transformou em uma vila balneária e turística.

Sua antiga Rua Real, exclusiva de pedestres, ainda conserva algumas de suas casas nobres, com seus brasões no frontispício, sendo que a Fonte de las Burgas, localizada na mesma “calle”, oferece suas instalações para banhos termais gratuitamente aos peregrinos.

 

À tarde saímos passear pela cidade, e pudemos conhecer suas igrejas, bem como transitar por formosos e bem-arrumados parques.

Depois fomos até o albergue de peregrinos, localizado junto à ponte que transpõe o rio Bermaña, para carimbar nossas credenciais, e constamos que apesar de disponibilizar 36 camas, já se encontrava lotado.

Na sequência, aproveitamos para conhecer a ribeira do rio Umia, bem como visitar o seu grande Parque Botânico, que pertenceu ao Conde de Canillas, onde se sobressaem bananeiras, magnólias e camélias.

E, também, uma centenária plantação de pés de carvalhos, além de uma fileira de salgueiros, que engloba mais de 100 espécies.

Na sequência, seguimos as flechas amarelas por algum tempo, como forma de facilitar nossa saída da cidade na manhã seguinte.

À noite, como de praxe, optei por um singelo lanche no quarto, me resguardando para a etapa do dia imediato, quando iria conhecer a imperdível cidade de Padrón.

 

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada relativamente curta, tranquila e agradável, que transcorre sempre em meio a muito verde. Apesar de pequenos trechos em asfalto, a etapa é extremamente bucólica, discorrendo bastante tempo entre vinhedos e plantações de milho. No geral, um percurso fácil, aprazível e com pouca variação altimétrica.

21ª Etapa – CALDAS DE REIS à PADRÓN – 18 QUILÔMETROS