5º dia: TORRES VEDRAS a BOMBARRAL – 31 quilômetros

5º dia: TORRES VEDRAS a BOMBARRAL – 31 quilômetros

Rezai o Terço todos os dias. Rezai, rezai muito! E fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas. Quando rezardes o Terço, dizei depois de cada mistério: Ó meu bom Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno. Levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.

Teria, novamente, uma jornada de peso, além do que estávamos num domingo.

E eu pretendia partir bem cedo, como de praxe, porém, choveu a madrugada toda e às 6 h caía um forte temporal.

Quando a intempérie amainou, às 6 h 30 min, bem protegido, pois persistia uma fria garoa, deixei o local de pernoite e segui a sinalização, em direção à saída da cidade.

O trecho inicial, todo urbano, me levou a transitar por bairros periféricos e, em determinado local, por uma passarela metálica eu ultrapassei a Autovia Nacional e logo depois, quando eu me encontrava próximo de Aldeia Nova, a chuva cessou.

Em seguida, segui em descenso, ultrapassei um grupo de casas e, mais acima, ainda caminhando sobre piso asfáltico, eu girei, bruscamente, à esquerda, e adentrei em fresco bosque de eucaliptos, por onde prossegui em franco descenso, paralelo às vias férreas.

Foi um trajeto agradável, contudo, mais adiante, emergi da umbrosa mata e prossegui por uma rodovia vicinal asfaltada, que passou por Abrunheira, depois, seguiu à direita, em direção a Emergeira.

Um quilômetro adiante, obedecendo à sinalização, eu fleti à esquerda e adentrei em larga estrada de terra, por onde segui tranquilo e feliz, num percurso deserto e plano, com imensos parreirais a me ladear.

Bem à frente, depois de percorrer 15 quilômetros, em Casais do Seixo, eu voltei a caminhar sobre piso asfáltico e por ele passei por Casais de Valentina, depois enfrentei mais 7 duros quilômetros até Outeiro da Cabeça, uma povoação de razoável tamanho, que eu bordejei pela rodovia.

Ali, numa rotatória, depois de percorrer 21 quilômetros, uma placa me avisava que restavam 8 quilômetros até o final da jornada.

Então, prossegui caminhando pelo acostamento de uma movimentada rodovia e nesse trecho encontrei muitos ciclistas pedalando em sentido contrário, fazendo seu “pedal domingueiro”.

Quatro quilômetros adiante, em Casalinho, as flechas me remeteram para a direita, onde acessei uma estrada de terra descendente, que seguiu paralela a uma ferrovia e margeada por extensas plantações de pera e maçã.

Contudo, quando faltava um quilômetro para adentrar em zona urbana, retornei à beira da rodovia pela qual cheguei ao centro de Bombarral, meu destino nessa jornada.

Nesse dia, tive o prazer de almoçar com meu amigo Aurélio Simões, residente em Lisboa, mas que, gentilmente, dirigiu quase 100 quilômetros para me dar um abraço, pois quando passei pela capital portuguesa ele estava viajando.

São gestos dessa magnitude que emociona e deixa marcas indeléveis na memória.

Enquanto ingeríamos um bacalhau à moda da casa e degustávamos um vinho da terra ficamos um bom tempo a conversar sobre seu país e minha aventura pelo Caminho do Mar.

Foi uma confluência agradável de espíritos, pois passei mais de uma hora na companhia de um amigo fraterno, que toca o coração da gente, de uma forma inesquecível.

Nosso bate papo seguiu sempre descontraído e alegre, mas ele precisava seguir viagem, já que voltaria a trabalhar na manhã sequente, e eu pretendia descansar.

Nos despedimos como velhos companheiros de armas, depois cada um seguiu seu rumo: ele para a sua residência e eu para o hotel, pois logo a chuva voltou a cair em forma de garoa.

Algumas fotos dessa etapa:

Caminho silencioso e deserto, pelo interior de imenso bosque de eucaliptos.

Depois, prossegui por um caminho arejado e plano...

Lindo e aprazível trecho sobre terra.

Prosseguindo, mas, sob insistente garoa.

Uma fonte de água existente em Casais do Seixo.

Trânsito pelo acostamento da rodovia, depois de passar por Outeiro da Cabeça.

Trecho final, entre árvores frutíferas e sobre terra.

Quase chegando... as vias férreas seguem paralelas pelo lado esquerdo.

Bombarral é uma pacata vila portuguesa, marcadamente, agrícola, sede de concelho, situada na região Centro do País, numa área de terras muito férteis, onde se produz um famoso Vinho e abundam saborosas e variadas frutas.

A ocupação humana por estas paragens de solos férteis remonta a tempos bem antigos, com diversos vestígios pré-históricos, como os Castros de São Mamede e Carvalhal (fortificação neolítica da Columbeira), ou as grutas Nova, da Lapa do Suão e de Pulga.

Sabe-se que o rei D. Afonso Henriques terá doado em 1153 as terras do Bombarral aos monges da Ordem de S. Bernardo, facto que influenciou toda a história da região, devido ao excelente aproveitamento agrícola que os frades iniciaram.

Já no século XIV o Bombarral era uma granja pertencente ao imenso Mosteiro de Alcobaça, exercendo aqui os monges de Cister uma grande influência agrícola.

Em 1808 fez-se história no Bombarral, aquando a luta pela independência com a Batalha da Roliça, na qual o exército anglo-luso, comandado pelo General Wellesley, futuro Duque de Wellington, se sagrou vencedor.

Esta vila agrícola apresenta um bonito Patrimônio arquitetônico, com destaque para a moderna Igreja Matriz ou Igreja Paroquial do Santíssimo Salvador do Mundo, datada de 1953, para a Ermida de São Brás ou para a bonita Capela da Madre Deus do século XVI.

Pela região existem diversas casas senhoriais e pequenos palacetes dos grandes produtores agrícolas e pessoas influentes da vila, como é exemplo o Antigo Palácio dos Henriques, hoje edifício da Câmara Municipal, o Palácio Grojão do século XVI onde hoje funciona o Posto de Turismo e o Museu Municipal, o Solar dos Loridos ou o Solar dos Mellos.

Outro importante monumento da vila é a Estação de Caminhos de Ferro, que durante muitos anos foi um importante pólo de desenvolvimento local, transportando os frescos produtos da terra. Esta bonita estação apresenta interessantes painéis de azulejos da década de 1930, retratando cenas rurais, nomeadamente da vitivinicultura tão importante para o Bombarral.

A Mata e o Jardim Municipal permitem agradáveis passeios pela natureza, lembrando os tempos em que a Corte aqui se instalava, já desde o século XV, aproveitando as boas condições e os ares frescos da Coutada Real, hoje adaptada a outros estilos de vida.

Atualmente, a localidade é uma das maiores produtoras da “Pera Rocha do Oeste”, fruta que apresenta uma epiderme amarela-clara, polpa branca, macia-fundente, granulosa, doce, não ácida, muito sucosa e de perfume ligeiramente acentuado.

Em 1836, foi identificada no concelho de Sintra, na propriedade do Senhor Pedro António Rocha, uma pereira diferente, com frutos de qualidade invulgar. A variedade de “Pyrus communis L.”, apelidada de pera rocha, era de tal modo gabada pela delícia dos seus frutos, que não passou despercebida.

A Pera Rocha, unicamente produzida na região Oeste de Portugal, beneficia-se da designação “Denominação de Origem Protegida”, atribuída em exclusivo pela união europeia a áreas delimitadas de produção regional, com características únicas de qualidades.

População: 13.200 habitantes.

A praça principal da cidade de Bombarral.

Com o meu grande amigo português Aurélio Simões, defronte à igreja matriz de Bombarral.

Já, com referência ao meu amigo Aurélio Simões, português “de quatro costados”, que fez questão de ir me recepcionar em Bombarral, diria que, atualmente, cultivo por ele uma espécie de invulgar admiração imune ao tempo e a distância, como é praxe no universo peregrino.

Sua amizade estará sempre entre as mais agradáveis e, também, devo dizer, entre as mais importantes de minhas lembranças do Caminho do Mar (Lisboa a Fátima).

Se algum dia, porventura, nos revermos pessoalmente, será como se o tempo não tivesse passado, porque “viajantes” não cobram a ausência dos amigos, mas celebram os reencontros. 

O hotel onde me hospedei nesse dia em Bombarral.

RESUMO DO DIA - Clima: Nublado e garoento, variando a temperatura entre 12 e 18 graus.

Pernoite: Hotel Comendador - Cêntrico - Apartamento individual excelente - Preço: 35 Euros;

Almoço: Roling Stone Restaurante - Ótimo!

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma jornada de grande extensão e, praticamente, toda plana. Infelizmente, 2/3 do percurso foi sobre o piso asfáltico, um tormento para os pés do caminhante. Porém, nele também desfrutei de paisagens deslumbrantes e transitei por locais silenciosos. E não me lembro de ter avistado comércio em nenhuma das povoações por onde transitei. No global, um etapa de superação, mas, recompensada, amplamente, pela visita do meu amigo Aurélio que, além de dirigir várias milhas para mim ver, ainda, como fraterno amigo, fez questão de oferecer-me o almoço. A ele, minha gratidão eterna!