15ª etapa – CALAHORRA à AGONCILLO – 41 quilômetros

15ª etapa – CALAHORRA à AGONCILLO – 41 quilômetros

Pensamento positivo só leva a gente pra frente!

A etapa proposta pelo guia que eu portava, aconselhava pernoitar em Alcanadre, um percurso de apenas 20 quilômetros.

Porém, o trajeto até Logroño, na derradeira jornada, seria de 37 quilômetros e eu teria muito o que fazer naquela cidade como, por exemplo, comprar minha passagem de trem até Sarria.

Assim, depois de estudar atentamente as opções possíveis, resolvi estender meu périplo até a cidade de Agoncillo, e para isso, me preparei física e psicologicamente.

Tudo decidido, resolvi sair bem cedo e, às 5 h 45 min, deixei o local de pernoite.

Segui, tranquilamente, em direção ao centro da urbe, cruzei o Passeo del Mercadal e, defronte ao prédio que abriga o Arquivo Diocesano, eu girei à esquerda e prossegui indefinidamente pela Avenida San Milan.

Mais adiante, numa rotatória, eu acessei à rodovia que segue em direção à cidade de San Adrián.

Observando às instruções que eu portava, por uma grande ponte eu passei sobre as vias férreas, girei à esquerda, acessei uma estrada de terra e prossegui adiante, junto à linha do trem, minha referência na primeira parte dessa etapa.

O que me preocupava é que até aquele local, quase 3 quilômetros percorridos, eu não avistara nenhuma seta amarela, o que me causava espanto, visto que as jornadas anteriores se encontravam estupendamente sinalizadas.

O sol ameaça nascer à minha retaguarda.

Pode ser que, em face da ausência de luminosidade, elas existissem, apenas eu não as iluminara com minha lanterna de mão.

De qualquer maneira, visando espancar minhas dúvidas, observei atentamente ao GPS e me certifiquei de que eu seguia na direção correta.

À minha retaguarda, o sol já dava mostras de que em breve apareceria, embora nuvens espessas cobrissem o céu.

Como de praxe, caminho plano e deserto.

O caminho se abria a minha frente largo, pedregoso, plano e orlado por várias plantações de oliveira.

Existiam, como de se esperar, imensos vinhedos no horizonte, todos irrigados pela água proveniente do Canal de Lordosa, que se localizava a uns 200 metros à minha direita.

Aproximadamente, 7 quilômetros percorridos, quase 90 minutos depois de minha partida, finalmente, pintada numa árvore localizada à minha direita, avistei a primeira flecha amarela do dia.

Aquilo me infundiu grande confiança e, agradecido, prossegui animado em minha jornada.

Do lado direito, bodegas.

Nesse trecho, observei ainda alguns barracões, de onde saía intensa fumaça das chaminés.

Tratava-se de bodegas, fabricantes de vinhos de alta qualidade, associadas a uma tecnologia avançada.

Então, lentamente, eu fui derivando para a esquerda e, em determinado local, por um túnel, eu atravessei sob as vias férreas.

Caminho pedregoso e extremamente deserto.

Acessei, então, um caminho pedregoso, situado em meio a uma agreste vegetação, num solo seco e esturricado.

Transitando por locais ermos e sombrios...

Depois, fiz algumas manobras insólitas como, por exemplo, subir e descer pequenas elevações, por locais extremamente ermos e silenciosos, situados em meio a lugares sombrios e estranhos.

Muitas pedras nesse trecho.

Talvez, pelo entorno lúgubre e clima soturno, eu tenha me sentido um tanto ansioso nesse trecho, sei lá.

No caminho, em direção a Alcanadre. Pausa para  hidratação.

Depois, por um túnel, atravessei sob a Autovia Nacional, onde fiz uma pausa para ingerir uma banana e me hidratar.

Caminho colorido. Meu astral melhorou.

Na sequência, em leve ascenso, passei a caminhar por belas paisagens que, novamente, avivaram meu alto-astral.

Imensos vinhedos do lado esquerdo.

Nesse trecho, eu transitei um bom tempo a uns 300 metros da rodovia, que ficava a minha direita, contudo, estranhamente, eu não ouvia o som dos veículos que por lá trafegavam, tal era o meu envolvimento com a paisagem circundante.

Os vinhedos prosseguem.

Novamente, me integrei aos vinhedos e a exuberante natureza que me rodeava.

Dia nublado, ideal para caminhar.

Além das vinhas, também, encontrei muitas plantações de oliveiras e de “melocotón” (pêssegos).

Mais uvas. Afinal, eu estava na Rioja!

Três quilômetros adiante, por uma ponte, eu passei sobre a Autovia e, em sequência, prossegui em ascenso, por uma estrada pedregosa e árida.

No caminho, em direção a Alcanadre. Vinhedos a perder de vista.

Já no topo da elevação, encontrei um local de descanso, com alguns bancos e ajardinamento, de onde eu tinha uma visão do rio Ebro, situado a uns dois quilômetros, à minha direita.

Ainda não era o momento de me refestelar, de forma que segui adiante, agora em forte descenso.

Quase chegando à cidade.

E, depois de vencer 22 quilômetros, logo adentrava em zona urbana, caminhando pelas ruas estreitas, mas muito bem cuidadas de Alcanadre.

No caminho, em direção a Alcanadre. a cidade já está a vista.

Essa cidade, antes da era cristã, tomando por base os textos grecolatinos de Estrabón, Tito Lívio e Ptolomeo, se situava na zona do povo basco.

Posteriormente, o seu fértil entorno foi disputado pelo reino visigodo de Toledo, até a chegada dos árabes a essa zona, que foi por eles dominada em 714.

Assim, nesse ano, os Banu Qasi, família poderosa dessa região, tomou posse do local e organizou o território para os muçulmanos, embora a presença dessa raça nessa área fosse minoritária.

A origem de seu nome se deve ao árabe em sua totalidade, já que foram eles que nominaram o povoado, possivelmente, a ponte, os arcos ou o aqueduto, simbolizando que os árabes conquistaram o “pueblo do aqueduto”.

Igreja matriz de Alcanadre.

Sua igreja matriz, dedicada à Santa Maria, está catalogada como Bem de Interesse Cultural, na categoria Monumento, desde 1982.

Sua população atual é de 750 habitantes.

Eu transitei calmamente pelas ruas do minúsculo povoado e parei diante da igreja matriz para fotos.

Posteriormente, seguindo às flechas sinalizadoras, deixei a cidade.

O caminho seguiu depois, à beira da via férrea.

Eu portava o guia do caminho e, embora me baseasse por suas informações, segui às setas amarelas e logo percebi que, nesse trecho, o trajeto mudou radicalmente.

E, pelo que pude notar, para melhor.

Porquanto, após caminhar breve tempo por uma rodovia, eu ultrapassei as vias férreas e depois, girei radicalmente à esquerda, seguindo, então, por uma larga estrada de terra.

Estação ferroviária da cidade.

Logo passei diante da estação de trem da cidade de Alcanadre, que persiste ativa.

Início de um caminho precioso.

O roteiro, largo e bem definido, prosseguiu plano e entre plantações de uvas.

Muito verde no entorno.

Mais adiante, passei a caminhar entre extensos vinhedos e largas plantações de pinheiros, tendo o rio Ebro fluindo forte, a menos de 50 metros do meu lado direito.

Bosques de eucaliptos..

Foi um tramo esplêndido, pela farta vegetação que sobejava no entorno.

Vegetação exuberante.

A primavera seguia avançada nesse trecho e muitas flores amarelas orlavam o caminho.

Flores para alegrar meu caminho.

Porquanto, a presença maciça de verde à beira do roteiro, era algo inédito nesse Caminho, que vinha seguindo desde Deltebre.

Lentamente, fui me aproximando do morro situado à esquerda.

Por sinal, nesse trecho específico, o Caminho e o GR-99, que é o Caminho Natural do Ebro, seguem sobrepostos no mesmo roteiro.

O rio Ebro está a poucos metros, do lado direito.

Mais adiante, as vias férreas encostam numa grande parede montanhoso e o caminho prossegue ao lado dela.

Caminho arejado e sem sombras.

Foram momentos solitários, pois não vi ninguém nesse trajeto, persistia no ar apenas o gorjeio dos pássaros e uma fresca brisa.

O rio Ebro corre do meu lado direito.

Em determinado local, o rio Ebro faz um grande meandro e se afastou de mim, contudo, mais adiante, voltamos a caminhar lado a lado.

Trecho boscoso, uma raridade nesse caminho.

Mais à frente, para minha surpresa, retornaram os verdes bosques.

Entorno maravilhoso.

Fazendo uma breve reflexão sobre o assunto, cheguei à conclusão que apenas na chegada à Zaragoza, encontrara bastante verde, quando caminhava pelo Caminho Natural La Alfranca.

Muito trigo do lado direito.

Afora isto, o caminho discorre sempre entre culturas variadas, à beira de vias férreas e canais de irrigação, porém, não existem sombras em seu traçado.

Um dos melhores e mais bonitos trechos do Caminho do Ebro.

A etapa desse dia, após a cidade de Alcanadre estava sendo uma exceção à regra.

Mais à frente, caminhei um bom tempo ao lado de extenso trigal, mas ainda com bosques à minha esquerda.

Depois de enfrentar um leve ascenso, passei ao lado da “Mansión de San Martín de Berberana”, herdeira da romana “mansio berberania”.

Pelo que pude notar a distância, essa propriedade se encontra abandonada e em ruínas.

Mas ela fazia parte do itinerário de Antonino, situado entre Briviesca e Berberana, no ano 216 d.C, onde ela aparece citada.

E logo encontrei uma estrada asfaltada, por onde prossegui em direção à cidade de Arrúbal, onde logo aportei.

Chegando em Arrúbal.

Caminhando a minha frente, avistei um peregrino, que puxava um carrinho amarrado a sua cintura, onde levava a mochila.

Logo o alcancei e seguimos um tempo conversando.

Ele se chamava Iago, era francês e percorrera o Caminho Catalão, antes de adentrar no Caminho Jacobeu do Ebro, já próximo de Zaragoza.

Falou-me que só conseguia caminhar 20 quilômetros por dia e, apesar do horário, pois já era 12 horas, ele havia partido de Alcanadre naquele dia, ou seja, até aquele local ele havia caminhado 16 quilômetros.

Um peregrino francês segue à minha frente, puxando um carrinho.

E, como eu, também pernoitaria em Agoncillo, onde existe um albergue de peregrinos, notícia que eu desconhecia.

Logo nos despedimos, pois ele entrou num bar para tomar um café e eu segui adiante.

Ainda fiz um pequeno desvio na rota, apenas para fotografar a igreja matriz da cidade, uma edificação do século XVI, cujo padroeiro é “El Salvador”.

Igreja matriz de Arrúbal.

De passado incerto, situada entre o vale dos rios Leza-Jubera, está Arrúbal, uma localidade onde vivem 500 habitantes.

Vestígios romanos encontrados em seu município, coresspondem a dois pilares que restaram de uma ponte destruída, que se localizava sobre o rio Leza, por onde transitava a calçada romana que ia de Briviesca a Zaragoza.

A primeira citação documental sobre essa vila data de 1094, referindo-se a uma doação em favor do Monastério de São Juan de la Peña, feita por Sancho Fortuniones e sua esposa Blasquita.

A chegada do trem e a criação do Polígono Industrial de “El Sequero” acabaram por desenvolver a região onde está inserta essa pequena, mas simpática povoação.

No caminho, em direção a Agoncillo. Vista do alto, desde Arrúbal.

Arrúbal está localizada no topo de um pequeno promontório, de onde eu tinha uma vista privilegiada do local por onde caminharia na sequência.

Já descendendo, logo encontrei uma estrada asfaltada e por ela segui por mais 4 quilômetros, até chegar a zona urbana de Algoncillo, minha meta para aquele dia.

A parte velha da cidade fica num local plano, mas existe um bairro localizado na parte superior, por onde passa a rodovia N-232 e também a Autovia Nacional.

Assim, tomei informações na povoação, e depois de enfrentar um pequeno ascenso, dois quilômetros à frente, adentrei ao Hostal El Molino, onde havia feito reserva.

Ali, por 25 Euros, pude desfrutar de um quarto arejado e superespaçoso.

Para almoçar, utilizei o restaurante existente no térreo do estabelecimento, onde paguei 10 Euros por um excelente “menu del dia”.

Vista de Agoncillo, desde o bairro de cima.

Algoncillo é a derradeira localidade de importância, antes de se alcançar a capital riojana.

Sabe-se que a povoação antecessora da vila, antes da dominação romana, era de origem celtíbera Agon.

A igreja matriz da cidade tem como padroeira Nossa Senhora “LA Blanca” e conserva em seu interior colunatas romanas encontradas nos arredores da povoação.

Digno de nota, é o Castelo de Águas Mansas, construído entre os séculos XIII-XIV, Monumento Histórico Nacional, desde 1983, que pertenceu a Ordem de Calatrava e foi recentemente restaurado.

A cidade conta com 1300 habitantes, e abriga o Polígono Industrial de El Sequero, bem como um campo de aviação, que serve de base para helicópteros.

À tarde, depois de uma necessária soneca, eu retornei caminhando pela rodovia, aproximadamente 1 quilômetro, para adquirir víveres numa “tienda”.

E, deixei de ir visitar os monumentos localizados na parte velha da cidade, por estar muito cansado, face a longa jornada vivenciada nesse dia.

Depois, aproveitei o restante da tarde para encetar demorada faxina nos pertencentes que iam na minha mochila, visto que no dia sequente, ao aportar em Logroño, eu encerraria o Caminho Jacobeu do Ebro.

À noite o tempo fechou e existia previsão de chuva para a madrugada seguinte.

Para jantar, me dirigi ao bar situado no térreo do edifício, onde ingeri um ”bocadillo” de presunto, acompanhado por uma taça de vinho tinto.

E fui dormir alegre, pela expectativa da finalização do roteiro no dia seguinte.

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