8º dia: RODEIO à APIÚNA – 20 quilômetros

8º dia: RODEIO à APIÚNA – 20 quilômetros

 

“A alma de uma viagem é a liberdade, a liberdade perfeita, de pensar, de sentir, da maneira como cada um deseja. Partimos para uma jornada principalmente para nos livrar de todos os obstáculos e inconveniências; para deixarmos nós mesmos para trás, muito mais do que para nos livrarmos dos outros.” (William Hazlitt)

 

 

“Hoje, no último dia de caminhada, o trajeto pelo centro de Rodeio é cercado por muitos bares e lanchonetes interessantes para visitar. Quando sair do hotel, a poucos metros irá passar por uma vinícola. Visite, conheça. Rodeio é uma cidade de imigração italiana, portanto, não estranhe o sotaque dos moradores e suas conversas em italiano. Conheça a Igreja Matriz do centro da cidade e seu interior. Saindo de Rodeio siga em direção à Ascurra, outra cidade de imigração italiana, que também oferecerá muitas opções em bares e lanchonetes, além de algumas verdureiras. O trajeto em direção à cidade de Apiúna é de estrada de chão, com locais muito interessantes, onde o rio será companheiro por um longo percurso. Já em Apiúna, poderá decidir sobre o dia seguinte: ir a Indaial caminhando, ou, ainda, ir de ônibus e retornar depois, caso tenha deixado o seu veículo em Indaial.”  (Extraído do livro guia do roteiro, que é entregue ao caminhante quando da retirada da credencial, em Indaial/SC)

A jornada seria de pequena extensão e, praticamente, toda plana.

Mas, em face de passagem aérea já adquirida, eu retornaria no dia seguinte ao meu lar.

Assim após o aporte em Apiúna, eu necessitava retornar à Indaial, onde havia feito reserva para pernoite.

Dessa forma, como maneira de agilizar a minha caminhada daquele dia, levantei às 4 h e, depois de tomar café na cozinha da residência com meus anfitriões, Dona Irene e Sr. Dande, iniciei minha jornada diária.

Por informações colhidas na internet, sabia que, apesar do Vale Europeu ser de colonização predominantemente alemã, 80% da população de Rodeio e Ascurra, por onde eu transitaria nessa etapa, são descendentes de italianos.

A primeira parte do trajeto é integralmente urbana, de maneira que eu acessei a Rua Barão do Rio Branco e segui um bom tempo por calçadas integralmente vazias, àquele horário.

Cinco quilômetros percorridos, próximo do portal da cidade, eu girei à direita, adentrei à Rua Nova Brasília, e prossegui caminhando por locais recentemente urbanizados, mas agora sobre paralelepípedos.

Trata-se de um trecho perigoso e inóspito, pois inexistem calçadas a amparar o caminhante, me obrigando a transitar sobre um piso que se encontrava extremamente escorregadio, em face da tênue garoa que caía naquele momento.

Nesse primeiro “tramo” não há quase nada a apreciar, porquanto se trata de bairros periféricos, localizados numa área nua e sem arvoredos, ainda que cercada, à distância, por belas e verdes montanhas.

Finalmente, 7 quilômetros percorridos, eu adentrei em Ascurra, uma cidade de cultura predominantemente italiana, cuja colonização foi feita por fazendeiros da região de Tirol, em 1876.

 

Curiosamente, a escolha do nome Ascurra é atribuída ao Dr. Blumenau e provém de um local existente na Serra do Ibitirapé, que foi tomado pelo exército brasileiro durante a Guerra do Paraguai, em 1869.

De se lembrar, que em 1911, sua população mostrou mais uma vez ser valente e corajosa, porque enfrentou, sem medo, a maior enchente que se tem conhecimento em toda a história do Rio Itajaí-Açu.

À época, houve destruição de casas, ranchos, lavouras e perdas de animais.

Porém, a “Colônia Italiana”, assim como era carinhosamente chamada, não se intimidou e começou sua reconstrução, sendo que em menos de dois anos, já tinham praticamente dobrado a produção agrícola da época anterior a enchente.

Atualmente, com 7.500 habitantes, está em franco progresso, e estima-se que o município possua cerca de 303 propriedades rurais, a maioria exploradas em regime de economia familiar, convivendo lado a lado com a indústria, e distribuídas em oito comunidades.

A agricultura tem com grande atividade econômica, o cultivo do arroz irrigado, onde a produtividade média é de 7.000 kg/Há.

Já em menor escala, e normalmente como atividade de subsistência, produz-se também nas propriedades rurais do município: milho, banana, fumo, mandioca, batata-doce, oleicultura, fruticultura, apicultura, avicultura, suinocultura, piscicultura, vinicultura.

 

Igreja matriz de Ascurra, cidade tipicamente italiana, a começar pelo nome.

Eu prossegui por ruas largas e bem cuidadas, e logo passava diante de sua igreja matriz, dedicada a Santo Ambrósio, cuja arquitetura é preservada desde sua edificação, pela originalidade, que ocorreu em 1912.

Segundo a história, a religiosidade sempre marcou o povo ascurrense, pois do nascimento a morte, a religião foi sempre indispensável na vida do imigrante.

Fiz ali uma pequena pausa para fotos e hidratação, embora o clima se mostrasse frio e nublado, excelente para caminhar.

O belíssimo e perigoso rio Itajaí-Açu, que me ladeou em quase toda a extensão no percurso entre Ascurra e Apiúna/SC.

Na sequência, eu transpus o rio Ingá por uma ponte, transitei mais alguns metros sobre bloquetes e, finalmente, depois de 9 quilômetros percorridos, acessei uma larga estrada de terra, situada à beira do rio Itajaí-Açu.

Embora existam inúmeras residências nessa área, a paisagem tornou-se agradável, pois a mata ciliar, composta de árvores centenárias, me propiciou uma caminhada extremamente agradável e fresca.

Depois de 13 quilômetros vencidos, eu passei diante de uma igreja e outras construções anexas, isto já na Comunidade de Guaricanas, onde fiz uma pausa para fotos e com o objetivo de ingerir uma fruta.

Em seguida, obedecendo à sinalização, eu girei à esquerda, e prossegui caminhando por locais desertos, extremamente verdejantes, seguindo sempre paralelo ao rio Itajaí-Açu, que nesse trecho tem expressiva largura.

Após ultrapassar um belo bosque de eucaliptos, mais adiante, eu transitei por férteis vales, integralmente agriculturados, onde se sobressai, principalmente, a cultura do arroz, milho e várias espécies de hortaliças.

Nesse pique, no final de uma grande reta, eu girei à esquerda, e ultrapassei o rio Itajaí-Açu através de uma longa ponte pênsil, onde carros e pedestres disputam espaço, numa competição desigual e perigosa.

Foi também local de fotos, já com ares de despedida.

 

Transpondo o rio Itajaí por uma ponte pênsil, para acessar a cidade de Apiúna que está na outra margem.

A história do município de Apiúna teve início em meados do século XIX, por volta de 1845, quando portugueses fixaram-se em suas terras, na atual localidade de Subida.

A história segue e, em 1867, no Morro Pelado, surge a Rancharia de Odebrecht e, na sequência, em 1878, 150 imigrantes fundam o povoado de Bugherbach.

Ao longo de sua história, Apiúna foi chamada de Ribeirão Neisse e também Aquidabã. Mas, somente em 1941, por causa da revisão territorial passou a chamar-se definitivamente Apiúna.

Que é um nome de origem indígena, significando Cabeço Negro, devido à pitoresca montanha arredondada e escura em forma de cabeça, que existe no município, conhecido como Morro Dom Bosco, um dos cartões postais da cidade.

A pequena urbe, que é cortada em toda a sua extensão pela rodovia BR-470, possui, atualmente, uma população de 10 mil habitantes e, dentre suas peculiaridades, está a “Tangefest”, que ela promove anualmente, sempre no mês de junho.

Ou seja, a Festa da Tangerina, uma das culturas mais fortes existentes nesse simpático município.

           

Bem, já do outro lado do rio, eu ultrapassei a perigosa BR, que nesse trecho não possui semáforos para travessia de pedestres, apesar de albergar um movimento intenso de veículos, e logo aportei diante da matriz de Sant’Ana, já no município de Apiúna.

Ali fiz algumas fotos, depois dei por encerrada minha caminhada pelo Circuito Vale Europeu.

Defronte a igreja matriz de Apiúna/SC, local onde finalizei o meu Caminho!

Na verdade, gostaria muito de percorrer o trecho final, situado entre Apiúna e Indaial, porém compromissos adredemente agendados me impediam de permanecer mais um dia em Santa Catarina.

Assim, adentrei ao templo, onde agradeci pela minha saúde e por mais um Caminho conquistado.

Obrigado Mãe Aparecida, por mais um sonho realizado!

Depois, tomei um táxi e regressei à cidade de Indaial, mais especificamente, ao Hotel Fink, onde já havia deixado reserva para aquele dia.

Ali, à noite, a simpática Giovana entregou o meu Certificado de conclusão do Circuito Vale Europeu, com o qual muito vibrei, pois se tratava de mais um galardão a ser incorporada à minha coleção.

E no dia seguinte, um domingo, eu retornei ao meu lar doce lar.

 

Com a Giovana, proprietária do Hotel Fink em Indaial/SP, simpatia de pessoa, que me forneceu a credencial no início e meu "Diploma" no final do Caminho.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma jornada de pequena extensão, mas integralmente urbana nos primeiros 9 quilômetros. Depois ela se torna interessante, porque o trajeto segue paralelo ao majestoso rio Itajaí-Açu, atravessando imensas áreas verdes. E, como de praxe, o epílogo é sempre emocionante. Afinal, sob as bênçãos divinas, eu conseguira acrescer mais um roteiro às minhas conquistas.