2º dia: ESTORIL a SINTRA – 32 quilômetros 

2º dia: ESTORIL a SINTRA – 32 quilômetros

Rezai o Terço todos os dias. Rezai, rezai muito! E fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas. Quando rezardes o Terço, dizei depois de cada mistério: Ó meu bom Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno. Levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.” 

Quando deixei o local de pernoite, às 6 h 30 min, garoava, fazia frio e estava muito escuro, pois vivenciávamos os estertores do horário de verão europeu.

Duzentos metros adiante, utilizando um túnel, eu passei sob a estação de trens de Estoril e acessei um calçadão de madeira, situado junto ao mar, onde girei à direita e prossegui margeando a orla.

Apesar do horário extemporâneo e do vento cortante, encontrei algumas pessoas caminhando em sentido contrário, outras pedalando e algumas correndo, o que me animou bastante, pois eu não era o único a defrontar o clima adverso nesse dia.

Sem problemas, pois esse tramo inicial está muito bem sinalizado, eu percorri todo o trecho que perpassa pelo interior da cidade de Cascais, até sair novamente junto à orla marítima, 6 quilômetros à frente.

Então, por uma ciclovia, prossegui caminhando junto ao mar, enquanto a garoa prosseguia, sem dar trégua.

No 12º quilômetro, finalmente, a chuva cessou, exatamente, no local em que abandonei a costa para me dirigir ao interior, utilizando passarelas de madeira, para caminhar sobre as dunas existentes nesse local.

Trata-se do espaço “Duna da Cresmina”, onde há, inclusive, um “Centro de Interpretação”; ali os visitantes podem admirar de perto o sistema dunar, como, também, aprender sobre a sua formação, e a fauna e flora existentes nesse ecossistema.

Prosseguindo, acessei a Estrada da Fonte Velha onde, inicialmente, segui sobre asfalto, depois, mais adiante, prossegui sobre terra, por locais silenciosos e desabitados.

Depois, mais adiante, adentrei à Estrada da Boa Vista, que me levou a caminhar entre exuberante natureza e matas nativas.

Percorridos 18 quilômetros, sob clima nublado e frio, eu ultrapassei uma porteira e passei a caminhar pelo interior de uma vasta e bem cuidada Reserva Florestal, integralmente preservada.

Nesse espaço, eu passei junto à Quinta do Pisão, um local emblemático e belíssimo, que está inserido no Parque Natural de Sintra Cascais, onde habitam raposas, coelhos, águias, perdizes, salamandras, cobras, lagartos, etc.., e, também, animais domésticos, como cavalos, burros, pôneis e ovelhas.

Maioritariamente raças autóctones portuguesas, porque o respeito pela natureza assim o exige.

E todos se abrigam na proteção de uma vegetação extensa e por entre cantos e recantos de centenas de hectares.

No 20º quilômetro eu ultrapassei a rodovia nominada “Estrada da Serra” e principiei a ascender, entre frondosos pinheirais.

Quinhentos metros adiante, eu passei junto ao reservatório de água que serve Cascais, depois, sobre terra, principiei a escalar a famosa serra de Sintra, que seguiu sempre em lenta ascensão, entre frondentes bosque de pinheiros.

Quatro quilômetros à frente, eu desaguei numa rodovia, girei à direita e prossegui sobre piso asfáltico por mais 2 quilômetros, até atingir o topo da elevação, situado a 410 metros de altura, o ponto de maior altimetria dessa etapa.

Então, adentrei à esquerda, ultrapassei uma porteira e passei a descender, desabaladamente, entre exuberante mata nativa que, ao seu final, me propiciou transitar diante de várias propriedades de importância na história portuguesa, como a Quinta da Regaleira, o Palácio de Seteais e outras atrações.

Prosseguindo, sempre por uma rodovia descendente, mais abaixo, já no centro histórico da cidade, transitei diante do Palácio Nacional de Sintra, onde parei para fotografar o exuberante conjunto.

Na sequência, segui mais uns 500 m pela Volta Duche, até encontrar meu local de pernoite nesse dia.

Algumas fotos dessa etapa:

Depois de ultrapassar a cidade de Cascais, caminhando por uma ciclovia à beira mar, mas sob chuva.

Praia do Guincho. Nesse local eu abandonei a orla e prossegui em direção ao interior.

Entrada para a caminhada sobre as Dunas de Cresmina.

Caminhando sobre plataformas de madeira..

Em descenso pela Estrada da Fonte Velha..

Prosseguindo pela Estrada da Boa Vista. Sinalização impecável!

Trecho agreste e ermo.

Caminhando pelo Parque Natural de Sintra Cascais. Local belíssimo!

Represa de água que abastece Cascais.

Em ascenso pela serra de Sintra.

Ainda em ascenso pela serra de Sintra. Clima neblinoso.

Quase no ponto de maior altimetria dessa jornada. Sob chuva e cerração.

Palácio Nacional de Sintra.

Do Paleolítico e Neolítico à Idade do Bronze e do Ferro, passando pelo Período Romano, depois pelo domínio muçulmano, da fundação de Portugal (a 9 de Janeiro de 1154, D. Afonso Henriques outorga Carta de Foral à Vila de Sintra) aos Descobrimentos, Sintra que sobreviveu ao Terramoto de 1755, tem o seu período áureo situado entre o final do séc. XVIII e todo o séc. XIX.

Nesta altura teve início a redescoberta da magia de Sintra, cuja mais antiga forma medieval conhecida "Suntria" apontará para o indo-europeu astro luminoso ou sol. Já foi chamada de Monte Sagrado e de Serra da Lua.

O apogeu do desenvolvimento extraordinário da paisagem de Sintra foi atingido com o reinado de D. Fernando II da dinastia de Saxe-Coburgo-Gotha (1836-1885). Muito ligado a Sintra e à sua paisagem, pela qual nutria um grande afeto, este rei-artista implantaria aqui o Romantismo de uma forma esplêndida e única para as regiões mediterrânicas. O rei adquiriu o Convento da Pena situado sobre uma montanha escarpada e transformou-o num palácio fabuloso e mágico, dando-lhe a dimensão máxima que apenas um romântico de uma grande visão artística e de uma grande sensibilidade estética podia sonhar. Este antecipa, por assim dizer, o célebre Castelo de Neuchwanstein erigido por Luís II da Baviera. Além disso, D. Fernando II rodeou o palácio de um vasto parque romântico plantado com árvores raras e exóticas, decorado com fontes, de cursos de água e de cadeias de lagos, de chalets, capelas, falsas ruínas, e percorrido de caminhos mágicos sem paralelo em nenhum outro lugar.

Entre a segunda metade do século XIX e os primeiros decénios do século XX, Sintra tornou-se um lugar privilegiado para artistas: músicos como Viana da Motta; músicos-pintores como Alfredo Keil; pintores como Cristino da Silva (o autor de uma das mais célebres telas do romantismo português, Cinco Artistas em Sintra); escritores como Eça de Queiróz ou Ramalho Ortigão, todos eles aqui residiram, trabalharam ou procuraram inspiração.

Muitos outros artistas foram seduzidos por Sintra. Sintra foi transformada em arte escrita, pintada, cantada e recordada por Byron, Christian Andersen, Richard Strauss e William Burnett, entre outros.

Sintra não é uma vila qualquer, como escreveu em 1989 o historiador da Arte Vítor Serrão, ela é Patrimônio Mundial da Humanidade, é Paisagem Cultural (classificada pela UNESCO).

Em suma, Sintra é a verdadeira e única capital do Romantismo. - "Sintra é o único lugar do país em que a História se fez jardim. Porque toda a sua legenda converge para aí e os seus próprios monumentos falam menos do passado do que de um eterno presente de verdura. E a memória do que foi mesmo em tragédia desvanece-se no ar ou reverdece numa hera de um muro antigo, Em Sintra não se morre - passa-se vivo para o outro lado. Porque a morte é impossível no vigor da beleza. E a memória do que passou fica nela para colaborar." 'Louvar Amar', Vergílio Ferreira.

População: 382 mil pessoas.

(Fonte: http://www.sintraromantica.net/ )

No alto do morro, o Castelo dos Mouros, em Sintra.

O local por onde eu deixaria Sintra na manhã seguinte...

Local de meu pernoite nesse dia, em Sintra.

RESUMO DO DIA - Clima: Chuvoso no início, depois, nublado, variando a temperatura entre 12 e 18 graus.

Pernoite: Hostel Monte da Lua - Cêntrico - Apartamento individual excelente - Preço: 45 Euros;

Almoço: Restaurante Incomum - Ótimo! Preço: 13 Euros o “menu do dia”.

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma jornada de grande extensão, mas que perpassa por locais de expressiva beleza. Infelizmente, a chuva não deu trégua no início da jornada, exatamente, no trecho localizado junto ao mar. Mas, na sequência, transitei entre locais onde a natureza está perfeitamente preservada, com extensos bosques nativos. O ascenso pela serra de Sintra, também, se mostrou belíssimo e hidratado, bem como o descenso pelo lado oposto, feito sob a copada de frondosa mata. A cidade de Sintra dispensa comentários, pois trata-se de um dos locais de maior visitação turística tanto em Portugal quanto na Europa. De se ressaltar que essa etapa está muito bem sinalizada, mormente em seu traçado inicial.