4º dia – SANTARÉM a AMIAIS DE BAIXO - 30 quilômetros

4º dia – SANTARÉM a AMIAIS DE BAIXO - 30 quilômetros

Ó Santíssima Virgem Maria, Mãe da Divina Graça, que vestida de nívea brancura aparecestes aos pastorinhos singelos e inocentes, ensinando-os, assim, o quanto devemos amar e procurar a inocência da alma, e que pedistes, por meio deles, a emenda dos costumes e a santidade de uma vida cristã perfeita, concedei-nos misericordiosamente a graça de saber apreciar a dignidade de nossa condição de cristãos e levar uma vida conforme as promessas batismais.” 

O percurso inicial, segundo as informações que eu detinha, seria todo em piso duro, assim, por dispor da iluminação urbana e adiantar minha jornada, deixei o local de pernoite às 5 h 30 min.

Fui me afastando de Santarém, transitando por bairros periféricos e, sem maiores dificuldades, depois de percorrer 5 quilômetros, passei por Portela das Padeiras, onde vi, ao menos, 2 padarias abertas e, se quisesse, poderia ingerir o café da manhã naquele local, o que não era o caso, pois estava bem alimentado.

Seguindo por calçadas e à beira de rodovias, em determinado local, ultrapassei o “monjón” que me informava restarem 50 quilômetros até Fátima.

Nove quilômetros superados em ritmo constante, transitei por Azoia de Baixo, enquanto a pequena vila ainda dormia.

Nela, passei diante da Quinta de Vale Lobos, para onde, segundo a história, o famoso escritor Alexandre Herculano se retirou definitivamente, em 1857.

Fez isto, conforme explicou, para se dedicar quase inteiramente à agricultura e a uma vida de recolhimento espiritual, “ancorado no porto tranquilo e feliz do silêncio e da tranquilidade”, como escreveria na advertência prévia do primeiro volume dos seus Opúsculos.

Doze quilômetros percorridos, com o dia claro, finalmente, deixei o asfalto para adentrar à direita e logo avistei o “Cantinho do Peregrino”, uma exótica e obrigatória parada no Caminho, com direito a carimbo na Credenciai Peregrina.

Segundo li, Francisco Torres improvisou ali um oásis de descanso e encontrou o atrativo para dois dedos de conversa, porquanto, naquele local ele convive com quem passa, ouve histórias do mundo e viaja à boleia da imaginação.

Porém, quando por ali transitei, talvez por ser um domingo ou pelo horário extemporâneo, tudo era quietude, assim, apenas fotografei o local e segui adiante.

Em leve mas contínua ascendência, passei por Casais de El Rei, onde observei extensas culturas de hortaliças.

Depois de transitar por Advagar, percorridos 16 quilômetros, sem maiores intercorrências, fiz uma pausa para descanso, hidratação e ingestão de uma banana.

Prosseguindo, encontrei algumas pessoas caminhando, muitos ciclistas pedalando e já com sol pleno, passei por Santos e, logo em seguida, por Casais das Milhariças, pequenos povoados onde não avistei vivalma, apenas alguns veículos circulando.

Foi em Arneiro das Milhariças, uma vila pouco maior, depois de ter percorridos 22 quilômetros, que encontrei comércio aberto e adentrei num bar para comprar água e tomar uma xícara de café.

Na sequência, precisei escalar uma pequena serra e em determinado trecho, fui ultrapassado por um grupo de uns 30 ciclistas, que fazia seu “pedal domingueiro”.

Já no topo do morro, com amplas vistas do horizonte, transitei pela minúscula Chá de Cima, onde fotografei moinhos desativados, estranhas construções em ferro, utilizadas antigamente para moagem e guarda de grãos.

De lá, eu já avistava a temível serra D'Aire, por onde transitaria na jornada do dia seguinte.

O trecho sequente, todo percorrido em meio a silencioso bosque se mostrou agradável e me permitiu um contato mais estreito com a natureza circundante.

Depois de vencer brusco descenso, por uma rodovia asfaltada, mais abaixo, encontrei uma bifurcação.

O caminho prosseguia à direita, porém eu segui adiante e logo adentrava em Amiais de Baixo, localidade onde pernoitaria naquele dia.

Algumas fotos da etapa desse dia:

As marcas vão caindo...

Outro dia nascendo...

O "Cantinho do Peregrino" estava deserto e silencioso quando por ali passei.

Estrada ascendente, entre olivais..

Uma grande plantação de pimentões.

Estamos chegando...

Adentrando em Arneiro..

O Caminho segue em direção à serra em frente..

Moinhos desativados em Chã de Cima.

Vista da região, desde o Mirador de Chã de Cima.

Trecho final: deserto e silencioso.

Quase chegando ao final da jornada desse dia. Sol forte, céu azul!

A Vila de Amiais de Baixo situa-se num vale, ao sul do chamado Maciço de Porto de Mós, tendo a Serra dos Candeeiros a poente e a Serra D’Aire a norte, e dista 31 quilômetros da sede do Concelho (Santarém).

A origem do topônimo Amiais está associada à possível existência de muitos amieiros nas margens do ribeirão de Amiais, que atravessa a vila e deságua junto à nascente do rio Alviela.

O topônimo De Baixo teria sido acrescentado para distingui-la da povoação contígua, de Amiais de Cima, lugar pertencente à freguesia de Abrã.

A extração de madeira e a sua transformação, já há mais de duzentos anos, eram as suas atividades principais.

Hoje, a indústria da cerâmica e eletrônica, junto com o mobiliário, são as principais fontes de riqueza.

O comércio e serviços são também, na vila, atividades com importância significativa.

Amiais de Baixo detém a categoria de Vila desde 21 de Junho de 1995.

População: 1900 pessoas.

Flores na belíssima vila de Amiais de Baixo.

A vila de Amiais me surpreendeu positivamente, pela limpeza, plasticidade de algumas modernas vivendas e, principalmente, pela hospitalidade e gentileza de seu povo.

Nas duas oportunidades que pedi informações a transeuntes, fui estupendamente bem tratado.

Trata-se de uma povoação plana e muito bem cuidada, um local aprazível, onde me senti em casa, como de resto, em Portugal todo.

O prédio que abriga a Prefeitura de Amiais de Baixo.

RESUMO DO DIA - Tempo gasto, computado desde o Residencial Beirante, em Santarém, até o Hotel Amiribatejo, em Amiais de Baixo: 6 h.

Clima: Ensolarado, variando a temperatura entre 12 e 23 graus.

Pernoite: Hotel Amiribatejo: Excelente! – Apartamento individual - Preço: 25 Euros.

Almoço: Churrascaria Frango Assado: Excelente! Preço: 9 Euros.

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de razoável extensão, com alguns entraves altimétricos, mas nada tão exigente. Como em outras etapas, seu percurso mescla asfalto com estradas de terra, sendo que alguns trechos são ermos e silenciosos. O trânsito, pela serra onde está situada a vila de Chã de Cima, é de extrema beleza e propicia vistas de 180 graus ou mais, de um entorno extremamente verdejante. No global, uma etapa extremamente agradável, que venci com tranquilidade e sem maiores obstáculos.