CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma peregrinação se distingue de uma viagem comum pelo fato de que não segue um plano ou itinerário prévio, não tem em vista um alvo fixo ou um propósito limitado, mas contém seu significado em si mesmo, baseando-se num impulso interno que opera em dois planos: no físico e no espiritual.” (Anagarika Govinda)

 

Ao concluir o trajeto do Caminho Primitivo, depois de percorrer o Caminho Francês, desde San Jean Pied de Port, em 2.001 e 2004, gostaria de destacar algumas peculariedades que, a meu ver, o diferencia basicamente deste último, mormente no trecho que se segue após a cidade de León.

Em Santiago, festejando com os amigos Celsio (Espanha) e Alabama (EUA)

Em primeiro lugar, frente à opulência monumental do Francês, à exceção de Oviedo e Lugo, impera a riqueza paisagística, já que o roteiro “Primevo” transcorre, em sua maior parte, por zonas montanhosas.

E, conquanto não sejam excessivamente elevadas, permitem desfrutar de um entorno inigualável, tendo os “Picos de Europa” como tela de fundo.

Caminhar por cordilheiras, em contínuas escaladas e descensos, num perene “rompepiernas”, faz com que esse caminho seja bem mais duro que o outro “tramo” e, em consequência, há menos pessoas no roteiro, o que permite uma peregrinação mais “famíliar”.

As etapas são praticamente obrigatórias em seu traçado, pois os raros albergues e hostais existentes, estão situados em pontos específicos e concretos, sem grandes possibilidades de se estender as jornadas por mais alguns quilômetros, como sucede no Caminho Francês.

Com Daniel, um ciclista brasileiro

Isto, que poderia resultar numa dificuldade, permite uma maior vivência entre os caminhantes, cujo pernoite coincide praticamente todos os dias, até o final da aventura.

De se ressaltar, no entanto, que a infraestrutra logística é bastante deficiente.

A principal diferença em relação ao Caminho Francês, é que os albergues na zona asturiana são pequenos e estão pessimamente localizados, salvo raras exceções, como o da cidade de Tineo.

Porquanto, relativamente a esse item específico, não me pareceu que as prefeituras e, muito menos o Principado, estejam preocupados com a adequação ou uma melhor conservação desses estabelecimentos.

Mais ainda, entre as etapas também são raros os locais de relaxamento ou diversão, propícios para se descansar ou ingerir algo, como um café, um refrigerante, uma sidra, ou mesmo, uma cerveja.

Inclusive, há finais de etapa onde, salvo o albergue, não há nenhum tipo de habitação ou comércio, para se adquirir algo para comer ou beber, o que obriga o sofrido peregrino a transportar víveres de alguma aldeia anterior que ofereça tal serviço.

Tudo isso concorre para que as jornadas se tornem mais longas, dolorosas e árduas.

Adeus Santiago e, quem sabe, até um dia!

O Caminho Primitivo transcorre em muitos trechos por “carretera”, ainda que nessas, a circulação de veículos seja normalmente suave, e não comporte perigos excessivos.

Por outro lado, caminhar pelas veredas, supõe afrontar fortes descensos, até o mais profundo dos vales, seguidos de empinados aclives pelo lado oposto, e se o terreno estiver seco, pode ser maravilhoso, porém, se chover, esse trânsito se torna bastante arriscado.

Ademais, em caso de intempéries, transitar por terrenos pantanosos, pressupõe ter que prestar toda a atenção possível no solo para evitar encalhar em grandes trechos embarreados.

Isso tudo, sem poder desfrutar da paisagem circundante, vez que o baixar e subir grandes encostas se faz necessário para encurtar distâncias.

Em todo o caminho “oficial”, a sinalização está muito boa, embora seja propício alertar que nas Astúrias, as conchas que indicam a direção ao peregrino, estão no sentido inverso em relação aos sinais praticados na Galícia.

Por final, necessário destacar a amabilidade dos asturianos em geral, e sua boa disposição para ajudar quando solicitado ou não.

Porquanto, em mais de uma ocasião, a intevenção oportuna e espontânea de um morador, evitou que eu saísse do roteiro, o que implicaria percorrer trechos adicionais desnecessários.