CAMINHO DA FÉ INVERTIDO: UM VULTO MISTERIOSO...!!!

"Sempre que possível, reserve tempo para experimentar o silêncio. A quietude é o primeiro requisito para que seus desejos se manifestem." (Deepak Chopra) 

Retornando de Aparecida em direção à cidade de Águas da Prata, a pé, num domingo, eu pernoitei em Tocos do Moji e no dia sequente, às 4 h da manhã, ainda no escuro, reiniciei minha odisseia.

Nessa etapa, minha intenção era chegar à cidade de Inconfidentes, 38 quilômetros à frente.

Logo no início, enfrentei ríspido ascenso, que fui vencendo, paulatinamente, parando para descansar, sempre que necessário.

O clima se apresentava fresco e hidratado, fruto da chuva que caíra na tarde anterior.

Assim, bem nutrido pelo excelente café da manhã que ingerira, eu tinha tempo de me introspectar, repensar minha vida, professar orações e me integrar com o universo à minha volta.

O céu se encontrava cravejado de estrelas e uma lua, em seu terceiro dia de fase crescente, brilhava opacamente no firmamento.

Impressionante que, quanto mais a madrugada avançava, uma sensação profunda de misticismo atemporal se apossava de mim.

Distante de pessoas, era como seu eu estivesse sendo convidado a adentrar em um mundo privativo e totalmente diferente do cotidiano – tão integrado à natureza como, talvez, fosse possível imaginar.

De vez em quando, eu parava, apoiava meu peso no cajado e descansava atento a tudo que me rodeava.

Eram momentos privilegiados em que eu apenas observava e escutava compenetrado os sons distantes, enquanto o entorno reverberava à minha volta, com uma melodia contínua.

Uma leve brisa agitava os galhos das árvores e, por todo o lado, aves e animais noturnos davam sinal de vida.

E, então, após perpassar pelo bairro Capinzal, já em forte ascenso, num trecho matoso, algo de repente chamou minha atenção.

Parei, engoli em seco, com a cabeça meio inclinada e a boca bem aberta, para aguçar minha audição, e esperei.

Um cão latiu ao longe, ouvi mugidos distantes, vozes flamejantes, depois, tudo decaiu em um profundo e inesperado silêncio.

Não demorou muito, contudo, para que eu tomasse consciência da presença de alguma coisa.

Não consegui identificar a princípio, mas senti que não era nada ameaçador, apenas uma sensação, uma impressão.

Porém, com certeza, eu não estava sozinho em meu Caminho.

E, quase de imediato, uma mão silenciosa, principiou a comprimir meu coração.

Notei-a quando ela atravessou a trilha, nem cem metros adiante, uma silhueta clara que inconfundivelmente cruzou às pressas a estrada, no sentido leste a oeste, e não era apenas uma sombra.

Marquei o local e decidi mentalmente que, quando chegasse àquele ponto, olharia para a direita e iria procurá-la para lhe perguntar o motivo de sua presença naquela paragem, àquela hora extemporânea.

No entanto, quando alcancei o lugar na estrada, não havia ninguém e nenhuma senda visível, qual seja, eu estava ladeado por barrancos nas laterais, encimados por cercas de arame farpado.

Do vulto que vi, nem sinal, nem um som.

Quem quer que fosse, um ser transparente, tinha desaparecido e não estava em lugar algum à vista.

No entanto, ela quis que eu soubesse que estava lá, inequivocamente.

Se não fosse assim, por que outra razão teria passado de maneira tão visível à minha frente?

E sua presença estava por toda a parte.

Eu podia senti-la.

Parei.

Intrigado, olhei em volta.

Eu havia, sem dúvida nenhuma, visto alguém atravessar a vereda adiante de mim.

Um arrepio percorreu minha coluna, todo o meu lado direito formigou, eriçando os pelos de meus braços e pernas, mas não era para eu ficar parado ali, isso eu sabia.

Não que eu fosse indesejado.

O que quer que fosse, não era sinistro nem perigoso.

Mas eu devia, definitivamente, seguir meu caminho.

Era como se alguém, ou algo, estivesse tomando conta de mim.

Seria meu Anjo da Guarda, a quem eu recorria quando me sentia inseguro?

Ou Nossa Senhora Aparecida, a quem eu pedia bênçãos e proteção, sempre que acordava? 

A capela de São Peregrino.

Alcançado o cume do morro, passei a caminhar em descenso e logo, com o dia clareando, parei diante da capelinha de São Peregrino, recentemente inaugurada, onde fiz uma pausa para orações e agradecimentos.

Como por encanto, a mão imaginária que oprimia meu peito principiou a relaxar.

No coração eu sentia uma paz intensa, um calor jubiloso, como se estivesse protegido por um escudo incandescente, ungido pelas mãos da MÃE MAIOR ...!

Bom Caminho a todos! 

Novembro / 2020