2019 – CAMINHADA DE JACUTINGA/MG ao SANTUÁRIO DE SANTA LUZIA (ESPÍRITO SANTO DO PINHAL/SP – 30 quilômetros

Deus, por vezes, manifesta seu poder através dos mais fracos. Luzia, uma frágil jovem de Siracusa, era forte de alma, por ser virgem. A Providência deu-lhe o dom de vencer, não só com seus argumentos, mas também pela força, seus perseguidores pagãos.” 

A famosa igreja de Santa Luzia, localizada no bairro homônimo, em Espírito Santo do Pinhal/SP

“RUMO AO SANTUÁRIO DE SANTA LUZIA”

Todo caminho que ligue dois pontos distintos, onde haja apoio logístico e transcorra em sua maior parte junto à natureza, para mim, como caminhante contumaz, sempre desperta interesse.

Porém, se além desses fatores, ele ainda agregar conotação religiosa, ganha imensa relevância em minhas prioridades.

Assim, nasceu o interesse de reprisar a caminhada que os jacutinguenses fazem próximo do dia 13 de dezembro, data em que se comemora a festa de Santa Luzia, em direção ao seu Santuário, localizado em Espírito Santo do Pinhal/SP.

Dessa forma, animado em desvendar mais um roteiro inédito, viajei para Jacutinga/MG e quando ali cheguei, tive a alegria de reencontrar o Vinícius, um grande amigo peregrino que, novamente, seria o meu “Companheiro de Jornada”.

Após os efusivos cumprimentos e abraços, como é praxe no universo peregrino, nos hospedamos no Hotel Ghandi, onde me foi disponibilizado um excelente quarto, ao preço de R$70,00/dia.

À noite, atendendo ao convite do “irmão” caminhante Polly Ferreira, seguimos até a sua residência, onde aconteceu uma animada confraternização.

O “Policarpo” se encontrava eufórico pelo recente lançamento de seu livro “Um Sonho Que Eu Não Tinha, Ser Peregrino”, num evento que ocorrera há dez dias.

Nessa oportunidade, tive a alegria de reencontrar outra pessoa especial, que não via há algum tempo: o Ely Prado, amigo do coração!

A “festa” estava animada, contudo, nos recolhemos cedo, vez que o dia seguinte nos reservava intenso esforço físico, pois transitaríamos pela serra da Mantiqueira, num sobe e desce contínuo. 

Reencontro com o Vinícius. Prazer enorme em rever meu grande amigo!

Com o dileto amigo Ely Prado.

Com o Polly, nosso grande irmão de fé!

Ely e Polly, amigos e peregrinos que muito admiro!

Os amigos reunidos... sempre uma grande festa!

A NOSSA CAMINHADA 

Como de praxe e de comum acordo, o Vinícius e eu resolvemos sair bem cedo, como forma de agilizar nosso deslocamento, então, partimos às 4 h 45 min, depois de ingerir substancial café da manhã, que muito nos reenergizou.

Assim, deixamos o Hotel Ghandi onde pernoitáramos e seguimos em direção ao ponto “zero” do roteiro: a estação ferroviária da antiga Rede Mineira de Viação, um prédio de 1886.

Depois de nos cumprimentarmos e desejarmos boa sorte, mutuamente, demos início à nossa peregrinação e seguimos sob o conforto da iluminação urbana em bom passo, vez que o dia somente raiaria dali a 15 minutos.

Percorridos 5 quilômetros, com o sol despontando, transitamos pelo bairro São Luiz, onde pude fotografar a igrejinha ali existente.

Então, giramos à direita, depois, por uma ponte nós ultrapassamos o rio Moji-Guaçu, então, adentramos em larga e ascendente estrada de terra, por onde seguimos animados e sob o frescor de frondente mata nativa.

Naquele local, como num passe de mágica, tudo ficou silencioso e bucólico.

Mais acima, passamos a transitar entre imensos cafezais e no oitavo quilômetro, ainda em forte ascendência, fizemos uma pausa para fotografar a cidade de Jacutinga e todo o panorama que dali se descortinava, desde o Belvedere 7 de Abril, que se encontra a 1070 m de altitude, junto a uma grande pedra.

Depois, prosseguimos em aclive por mais algum tempo, então, após atingir o topo do morro, situado a 1.100 m, passamos a descender, como de praxe nessa etapa, entre cafezais a perder de vista.

Mais abaixo, defronte à Fazenda Ranchão, fletimos, radicalmente, à esquerda, e prosseguimos em outro forte ascenso até que, percorridos 14 quilômetros, atingimos o ponto de maior altimetria da jornada, situado a 1.231 m de altura.

Depois, seguimos sempre em ríspido descenso, sobre um duro piso cascalhado, alternando o trânsito entre eucaliptais e cafezais sem fim e, em alguns trechos, transitamos por locais ermos e silenciosos.

No 15º quilômetro, fizemos uma pausa para descanso, hidratação e ingestão de carboidratos.

Depois, seguimos adiante e, logo à frente, do cimo de um morro, nós avistamos, situada a uns 5 quilômetros de distância, a cidade de Espírito Santo do Pinhal, o que nos infundiu novo ânimo.

Já no plano, percorridos 19 quilômetros, fizemos outra pausa num bar situado no bairro Areião, para que o Vinícius pudesse ingerir um poderoso energético, que lhe deu novo alento para enfrentar o trecho derradeiro.

A partir desse local, prosseguimos sobre piso asfáltico, primeiramente, pelo acostamento da rodovia ESP-020, porém, a partir do 22º quilômetro, passamos a caminhar por bairros periféricos da cidade de Espírito Santo do Pinhal.

Percorridos 26 quilômetros, passamos sob a SP-342, que vai em direção a Andradas, depois acessamos uma rodovia vicinal que, 3 quilômetros à frente, nos deixou diante do Santuário de Santa Luzia, nossa meta nesse dia.

Então, adentramos àquele espaço sacro e, de imediato, nos dirigimos ao interior do templo ali erigido, onde professamos orações e externamos agradecimentos pelo sucesso de nossa abençoada peregrinação.

Mais tarde, após breve descanso, adentramos num táxi e retornamos a Jacutinga onde, novamente, pernoitamos nesse dia.

Nessa oportunidade, tive o prazer de, novamente, dividir a trilha com meu amigo Vinícius, grande companheiro de jornada, a quem agradeço pela companhia e amizade.

Algumas fotos do percurso

Capelinha existente no bairro São Luiz, em Jacutinga/MG.

Trecho em ascenso, sob frondosa e fresca mata nativa.

Vista desde o Belvedere 7 de Abril.

O Vinícius segue firme à minha frente nesse trecho.

Entre eucaliptais...

Ainda sob fresca mata...

Em descenso; depois, o caminho prossegue em aclive pelo lado oposto.

Ao fundo e ao longe, imensos cafezais...

Igrejinha de Santo Afonso, localizada no topo do derradeiro morro.

Em contínuo descenso...

Chegando ao bairro Areião.

O trecho derradeiro, por asfalto, coincide com o traçado do Caminho da Fé.

Enfim, chegamos!

No interior da capela. Momento de orações e agradecimentos!






Defronte ao Santuário. Missão cumprida!

A IGREJA DE SANTA LUZIA

A Igreja de Santa Luzia localiza-se no bairro rural de mesmo nome, na cidade de Espírito Santo do Pinhal/SP.

A região onde se situa era conhecida – em fins do século XIX – como Bairro Morro Azul e fazia parte da Fazenda Monte Alegre, de propriedade do tenente-coronel Vicente Gonçalves da Silva, que herdara de familiares.

Em 1868, o tenente-coronel casou-se com Francisca Tomázio – carinhosamente chamada de Chiquinha Ramos.

Segundo consta, dona Chiquinha era mulher religiosa e os últimos anos de sua existência “foram consagrados ao bem”.

Essa religiosidade alcançou maior expressividade quando ela passou a se preocupar com colonos e conhecidos que tinham problemas na vista.

Na ânsia de ajudá-los, dona Chiquinha dedicou-se às orações e a devoção a Santa Luzia, a santa protetora dos olhos.

O marco da devoção a Santa Luzia ocorreu em 1908, com a chegada da imagem da santa em sua residência, vinda de Fuscaldo (Itália), através da Estação Ferroviária Mogiana.

Sendo a imagem de tamanho natural, não foi possível Dona Chiquinha colocá-la no oratório de seu quarto, então, resolveu construir (1909-1910) uma capelinha para abrigar a “Santa dos Olhos”

Era uma capela pequena, que comportava cerca de trinta pessoas em pé.

A primeira missa foi rezada pelo Padre Guilherme Landel de Moura, no dia 13 de dezembro de 1909, da qual participaram os proprietários da Fazenda Morro Azul e seus familiares, bem como toda a colônia italiana ali moradora.

A partir de então, tornou-se tradição a realização da festa todo dia 13 de dezembro, que ano após ano, foi crescendo, e que hoje é o maior acontecimento religioso da região.

Contando sempre com a participação de milhares de devotos de Espírito Santo do Pinhal, das cidades vizinhas, do Sul de Minas Gerais e da Grande São Paulo, que chegam ao local do evento a pé, de carro ou de ônibus para agradecer bençãos recebidas da padroeira da boa visão.

Nos primeiros anos, a festa de Santa Luzia foi promovida por Dona Chiquinha Ramos e por familiares e depois pelos imigrantes italianos que trabalhavam na Fazenda Morro Azul.

Em 03/04/1956 teve início a construção da nova igreja ao redor da velha capelinha para que fosse posteriormente demolida.

As obras transcorreram durante cinco anos com a ajuda financeira dos próprios agricultores, sitiantes e moradores das imediações.

Em 13 de dezembro de 2009, na festa em comemoração aos 100 anos da Capela de Santa Luzia, por decreto de Dom David Dias Pimentel, que presidiu a celebração, elevou-se a Capela a condição de Santuário Paroquial ligado à Paróquia do Divino Espírito Santo e Nossa Senhora das Dores, tendo como pároco Monsenhor Augusto Alves Ferreira.

A singularidade desta festividade municipal encontra-se no fato de Santa Luzia não ser padroeira da cidade e figurar como a festa religiosa de maior expressão no município, tornando o dia 13 de dezembro, feriado municipal desde 1995.

Atualmente, a comunidade continua lutando para a preservação de tamanha devoção, não medindo esforços para atender aos romeiros que veem de diversas cidades de São Paulo e Minas Gerias.

Calcula-se que durante a primeira semana de dezembro até o dia 13, passam pelo bairro aproximadamente 30.000 devotos a Santa Luzia, e são celebradas diversas missas por padres da cidade e demais vindos de outras paróquias, para melhor atender aos romeiros e devotos.

(Fonte: http://www.santuariosantaluzia.com.br/o-bairro.php)

Santa Luzia, rogai por nós!

EPÍLOGO 

PODEROSA ORAÇÃO A SANTA LUZIA 

Ó, Santa Luzia, que preferistes deixar que, os vossos olhos fossem vazados e arrancados, antes de negar a fé e conspurcar vossa alma; e Deus, com um milagre extraordinário, vos devolveu outros dois olhos sãos e perfeitos, para recompensar vossa virtude e vossa fé, e vos constituiu protetora contra as doenças dos olhos, eu recorro a vós para que protejais minhas vistas e cureis a doença dos meus olhos.

Ó, Santa Luzia, conservai a luz dos meus olhos para que eu possa ver as belezas da criação.

Conservai também os olhos de minha alma, a fé, pela qual posso conhecer o meu Deus, compreender os seus ensinamentos, reconhecer o seu amor para comigo e nunca errar o caminho que me conduzirá onde vós, Santa Luzia, vos encontrais, em companhia dos anjos e santuário.

Santa Luzia, protegei meus olhos e conservai minha fé.

Amém!

Santa Luzia rogai por nós!

Amém!

Santa Luzia, a vossa benção e proteção para os nossos olhos!

FINALIZANDO..

A solidariedade que existe entre peregrinos é única e não pode ser encontrada em qualquer outro lugar.

Eles estão todos ligados por algo profundo e orgânico.

Talvez, algo que corresponda a um plano que venha do nosso nascimento, mas que desde então foi esquecido.

À noite, você não precisa se preocupar em vestir roupas elegantes e você não se depara com o dilema: 'Estamos de férias, o que iremos fazer hoje?'

À noite, todos passam o tempo juntos e vão para a cama cedo, então, acordam de madrugada para sair mais uma vez.

O bonito de tudo isso é que a maioria das pessoas encontram-se lá por causa de alguma motivação interna, que não tem nada a ver com religião, mas compartilham e vontade de ajudar o outro; talvez essa seja a religião dos peregrinos.

Embora possa parecer pura retórica, é realmente assim, e você só poderá sentir e viver isso empreendendo a viagem.

(Anônimo)

Bom Caminho a todos!

Dezembro/2019