2020 – GIRO FEIJÃO – FAZENDA BONFIM – MORUNGABA E TRILHA MARIA NONNA – 27 QUILÔMETROS

Aquele que é corajoso é livre.” (Sêneca) 


Nem só de caminhos consagrados e extensos é feito um peregrino.

Nesse sentido, os itinerários de parca extensão são mais apreciativos, embora, aos mais ambiciosos caiba refutar tal entendimento.

Então, para solidificar minha opinião, costumo afirmar que grandes jornadas fortificam o caráter de um homem, pois exigem dele pertinácia de espírito e resistência física.

As pequenas, por outro lado, moldam, aguçam, aperfeiçoam os sentidos, que não são estacionários, como muitos podem pensar.

Ao revés, suscetíveis ao treino e, em consequência, a melhoramentos.

Frequentemente, em uma longa caminhada, nos privamos de descansar à sombra de uma frondosa árvore e de observar, serenamente hirtos, os traços irregulares de uma cadeia de montanhas no horizonte, uma vez que o objetivo final ainda está distante e o tempo é escasso.

Nas mais efêmeras, uma parada se faz onde bem entender, já que a ocasião não é um fator tão limitante.

Enfim, embora minhas interpretações sobre ambas pareçam antagônicas e confusas, reitero que são complementares entre si.

Posto que, um bom caminhante depende de suas águas duais para preencher um hiato na vida que, em sua grande parte, é alienada e apartada do que mais o apraz.

Isto posto, vesti minha indumentária de peregrino e parti para Joaquim Egídio, a fim de realizar mais um agradável giro pela zona rural do município de Campinas e um pouco do que vi e vivi no percurso, conto abaixo: 

O MEU SOLITÁRIO GIRO

Caminhar é um pouco como a vida: A jornada só exige que você coloque um pé na frente do outro, de novo e de novo e de novo. E se você se permitir estar presente ao longo de todo percurso, irá testemunhar a beleza a cada passo do caminho.” 

Depois de uma “viagem” de, aproximadamente, 30 minutos, parti do restaurante Feijão com Tranqueira, local onde deixei meu veículo estacionado, às 6 h 30 minutos, sob um clima frio e extremamente ventoso.

Inicialmente, segui em frente pelo acostamento da rodovia José Bonifácio Coutinho Nogueira, que liga as cidades de Campinas/SP e Morungaba/SP. 

Bifurcação na rodovia. À esquerda, segue em direção à cidade de Morungaba/SP. Foi por onde eu prossegui.

Percorridos 3 quilômetros em bom ritmo, justamente no local em que o piso asfaltado se finda, há uma bifurcação e eu segui à esquerda, sobre terra, pela nominada Estrada da Fazenda Bonfim.

Na verdade, trata-se da continuação da rodovia SP-081, por onde caminhei em direção a um dos maciços da Serra das Cabras. 

Clima fresco. Em contínuo ascenso..

Logo eu enfrentei forte, mas curto ascenso, depois, já no plano, segui animado, aspirando o frio e puro ar emanado pela belíssima natureza circundante.

Após leve descenso e percorridos 6 quilômetros, transitei diante da entrada da centenária Fazenda Bonfim, um marco na história campineira. 

Entrada da maravilhosa Fazenda Bonfim.

Ela configura-se como exemplar registro de patrimônio técnico-arquitetônico do apogeu da produção do café na cidade de Campinas.

A significativa linguagem de seu conjunto arquitetônico é marcada pelo desenho refinado e sofisticado da sede e das moradias a ela vinculadas.

Fundada em 1820 pelo capitão-mor Floriano de Camargo Penteado, na Serra de Cabras, ela foi uma das mais bem estruturadas fazendas da região, com máquina de benefício a vapor.

Sendo que no início do século XX, chegou a possuir 223 mil pés de café. 

Lago existente no interior da Fazenda Bonfim.

Localizada em local privilegiado, da fazenda é possível uma vista quase completa do centro de Campinas.

É que lá fica o Pico do Brumado, ponto de maior altimetria do município de Campinas, e onde os atuais proprietários construíram um mirante.

Arquitetonicamente, sua casa sede não tem a mesma ostentação de outras construções da época.

Pois, com 8 quartos e 2 alcovas, ela é ampla e confortável, mas sem a imponência de outras, como a da Fazenda Santa Maria ou a da Três Pedras. 

Em ascenso, da metade do morro, vista da sede da Fazenda Bonfim.

Prosseguindo, logo iniciou-se íngreme e pedregoso ascenso, que fui vencendo sem ímpeto, mas com constância.

Trezentos metros acima o aclive se tornou menos rígido e pude respirar aliviado. 

Em ascenso e quase no topo da serra..

Percorridos 7 quilômetros, cheguei ao topo da serra, localizado a 1.030 m de altitude, onde está fincada uma enorme antena de transmissão/captação da Embratel, hoje desativada. 

Chegando ao topo do serra, onde está a antena da Embratel.

Daquele local se descortinava um visual maravilhoso e pude fotografar ao longe, no horizonte, fulgurante sob o sol matutino, a grande metrópole campineira.

Aproveitei, ainda, para ingerir uma banana e me hidratar.

Refortalecido, prossegui em frente, agora em forte descenso. 

Abaixo, a sede da Fazenda Bonfim. Ao longe, a cidade de Campinas.

Esse trecho sequente é sempre em abrupta declivência e agrega muitas chácaras nas laterais da estrada, por isso e se tratando de um sábado, encontrei um razoável trânsito de veículos e, consequentemente, aspirei muita poeira.

Percorridos 9 quilômetros, eu passei diante do Cruzeiro fincado em um dos morros da Serra das Cabras, onde está a imagem do Cristo Crucificado, de cinco metros de altura, e as figuras da Mãe Dolorosa e de São João Evangelista, assentadas sobre duas pedras ali existentes. 

Entrada para o Cruzeiro de Morungaba.

Segundo os antigos moradores, à época da sua inauguração, era um local estratégico, visível de todos os pontos do então distrito de Morungaba.

Do belvedere privilegiado, pode-se observar a conformação geograficamente denominada como um “mar de morros” movimentando a paisagem, ora verdejante de pastagens, ora densamente verde do arvoredo remanescente da Mata Atlântica, criando recantos pitorescos. 

Em franco descenso, Ao longe, sob a neblina, corre o rio Jaguari.

Dali eu avistava, ao longe, do lado esquerdo, uma cortina neblinosa, localizada sobre o local por onde verte o caudal do rio Jaguari, com corredeiras e remansos.

A partir desse local eu passei a caminhar sobre piso asfáltico, já em zona urbana.

Prosseguindo, em forte descenso, encontrei alguns ciclistas galgando a serra, num trajeto íngreme, mas instigante. 

Transitando pela zona urbana de Morungaba/SP.

Já no plano, percorridos 11 quilômetros, acessei a rua São Benedito, então, eu fleti 90º à esquerda e segui caminhando em direção ao rio Jaguari, por uma avenida bastante movimentada.

O trecho inicial, sobre calçadas recentemente restauradas, me levou a transitar por bairros periféricos e logo passei diante da igreja de São Judas Tadeu, localizada na praça Luís Vieira, que se encontrava em obras.

Igreja dedicada a São Judas Tadeu, em Morungaba/SP.

A partir desse local, passei a caminhar sobre paralelepípedos, num trajeto ascendente, localizado numa rodovia vicinal bastante movimentada e que não contém acostamento.

Por isso, a atenção do caminhante precisa ser redobrada nesse trecho perigoso e muito mal sinalizado. 

As Torres da Embratel.

Percorridos 15 quilômetros eu cheguei diante da entrada para um amplo terreno onde, há tempos funcionava a Estação Terrena de Morungaba, uma importante unidade da Embratel, onde as telecomunicações internacionais chegavam via satélite, interligando o centro-sul do Brasil com o mundo.

O complexo marcou história nas interlocuções do país, tendo sido inaugurada em 1986, pelo então Presidente da República José Sarney.

Na época havia também a Estação de Tanguá, localizada no município de Tanguá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que era única e respondia pela comunicação do Brasil com o mundo.

Assim, a Estação de Morungaba chegou como contingência e para auxiliar na distribuição do tráfego de São Paulo e Sul. 

As Torres da Embratel, de outro ângulo.

Porém, com a descoberta e introdução do cabo de fibra óptica, ela se tornou obsoleta e, consequentemente, foi desativada, em 1998.

Um vídeo que reporta a sua pujante inauguração, bem como explica seu posterior abandono, poderá ser visto em: https://www.youtube.com/watch?v=DQw15gwgAVQ&t=2s

Atualmente, no local só restam os prédios e as antenas que teimam em ficar de pé, tristes lembranças de sua fase áurea, porém, face à sua mística, a área persiste sendo um local turístico e arborizado, parada obrigatória dos ciclistas e trilheiros da região, para fotos e observação.

E, como muitos, também fiz uma pausa diante do enigmático local, visando fotografar o espaço, aproveitando, ainda, para me hidratar e ingerir outra banana.

Entrada para o Trilha Maria Nonna.

Defronte a esse local há um portal de pedras, sinalizando a entrada para outra via vicinal de terra: a Trilha Maria Nonna, que segue em direção à Estrada das Cabras.

Então, prosseguindo em frente, dobrei à esquerda e após vencer empinada ladeira, passei a caminhar pelo topo de outro morrote, com largas vistas do horizonte. 

Caminho bucólico e belíssimo...

Já em descenso, eu detinha uma vista maravilhosa de uma grande fazenda que surgia à minha frente e abaixo, onde o forte eram as imensas plantações de hortaliças, das mais variadas espécies. 

Sozinho da trilha, hora de festejar!

Na sequência o caminho se aplainou e prossegui varando capões de mata nativa, entremeados com extensos campos de pastagem, onde avistei rebanhos de gado leiteiro e, surpresa, um extenso cafezal.

No 18º quilômetro eu transitei diante da entrada da Fazenda Lajeado, um local de profunda paz e de beleza natural, onde se destaca um casarão aconchegante e perfeito para imersões e retiros. 

Trecho ermo e silencioso...

O trecho sequente me proporcionou muita sombra, pois foi trilhado sob a fronde refrescante de um silencioso nicho remanescente da Mata Atlântica. 

Mais sombra no percurso. O peregrino agradece! 

Seguindo em frente, no 21º quilômetro o roteiro foi se empinando e logo enfrentei íngreme ascenso nominado de “Serrinha” que, em seu final, me levou a 900 m de altitude, depois, ainda que por um breve trecho, o roteiro se aplainou.

Então, caminhei por um local alisado e, percorridos mais 300 metros, acessei a já conhecida estrada da Fazenda Bonfim, onde fleti à direita e prossegui em forte descenso. 

Reencontro com a rodovia que segue em direção a Morungaba/SP, por onde eu havia passado de manhã.

No 23º quilômetro eu cheguei ao asfalto e segui à direita, ainda em franco descenso.

Seguindo em frente, após percorrer 27 quilômetros, cheguei diante do restaurante Feijão com Tranqueira, local de onde eu havia partido de manhã e, satisfeito, mas um tanto exausto, dei por encerrada minha espetacular caminhada. 

No final, de volta ao Restaurante Feijão com Tranqueira.

Então, após me hidratar e bater algumas fotos do local, adentrei em meu veículo e retornei à Campinas. 

Sobre o trajeto desse dia, diria que foi extremamente agradável, mas, por sua extensão e face ao clima seco e pouco hidratado que vivenciávamos, tornou-se bastante desafiador.

Por isso, para intentá-lo, eu recomendo um razoável preparo físico, disposição ferrenha e mente determinada.

Paisagens magníficas no trajeto desse dia.

FINAL

Se um homem caminha num passo diferente dos seus companheiros, pode ser que ele ouça o som de outro tambor. Deixe-o seguir a música que ouve, seja qual for o ritmo.” (Henry David Thoreau)” 

Depois de percorrer 27 milhas, chegada check do restaurante Feijão com Tranqueira, de onde eu havia partido de manhã. Momentos efêmeros, mas de intensa e grata felicidade!

A caminhada é um exercício aeróbico muito eficaz e saudável. 

Vez que caminhar é uma atividade física perfeita: é fácil, leve, melhora o seu astral e é capaz de proporcionar saúde, beleza e boa forma.

É um exercício que poder ser praticado por qualquer pessoa, independentemente da idade e do condicionamento físico.

A caminhada, além de tudo, ainda tem a vantagem de ser a mais segura de todas as atividades aeróbicas - tanto sob o ponto de vista cardiovascular como ortopédico.

Mesmo assim-a com passos rápidos, dificilmente o coração será sobrecarregado e, além disso, diferentemente da corrida, o risco de lesões nas articulações - em especial nos joelhos e tornozelos - é bem menor.

Caminhar durante 30 minutos, 3 vezes por semana, pode ser tão eficiente no tratamento de depressão aguda quanto a utilização de medicamentos e além disso, evita doença e melhora a qualidade de vida.

São vários os benefícios da caminhada: Maximiza a circulação sanguínea, os riscos de problemas cardíacos, a ansiedade e o estresse, auxilia nas dietas de emagrecimento, ajuda a tonificar e fortalecer os músculos, reduz a pressão sanguínea e os níveis de colesterol no sangue , evita o aparecimento da osteoporose, combate ao diabetes, melhora o nível de condicionamento físico e aumenta a imunidade do organismo

Então, vamos caminhar com mais constância?

Bom Caminho a todos! 

Agosto / 2020