1º dia: SÃO BENTO DO SAPUCAÍ/SP a LUMINOSA (BRAZÓPOLIS/MG) – 23 QUILÔMETROS

"Todos temos dentro de nós uma reserva de força insuspeita que emerge quando a vida nos coloca à prova." (Isabel Allende) 

Após ingerirmos o café da manhã que a Arlete, a proprietária da Pousada Vovó Hilda, nos disponibilizou, partimos às 5 h, sob um vento fresco e clima ameno, temperatura na agradável casa de 16°C.

A saída desse roteiro se faz pela avenida principal da cidade, e segue em direção contrária ao antigo roteiro do Caminho da Fé que por ali passava, até ultrapassar um riacho por uma pequena ponte.

Na sequência, fletimos à direita e prosseguimos sobre piso asfáltico, sempre ladeados por belas vivendas e algumas chácaras.

Depois de 3 quilômetros percorridos, no final de brusco declive, adentramos ao bairro Quilombo e logo passamos defronte uma igrejinha dedicada a Nossa Senhora da Imaculada Conceição.

Esse é um lugar pitoresco, reduto de artesãos, como o famoso escultor Ditinho Joana, bem como ponto de manifestações culturais e ainda possui um centro de artesanato, que confecciona produtos com a palha da bananeira.

Ali também há um Museu da Revolução de 32, uma estrutura construída em pau-a-pique, localizada dentro da Pousada do Quilombo, onde existe um acervo com relíquias: fotos históricas, peças e armas que fizeram parte da história da Revolução Constitucionalista.

Percorridos 4 quilômetros e ao final de um pequeno trecho em bloquetes, nós adentramos em terra e logo enfrentamos uma penosa ladeira que, face às chuvas do dia anterior, se encontrava úmida e escorregadia.

O aclive foi se acentuando, e em alguns locais nós encontramos patamares onde pudemos descansar, para depois prosseguir com mais desenvoltura.

Em compensação, e como forma de aplacar nossos espíritos, toda vez que nos voltávamos para trás, podíamos ver abaixo, a cidade de São Bento, de onde tínhamos partido, cada vez mais longínqua.

Mais acima, a estrada foi diminuindo em largura e logo se transformou numa trilha íngreme, localizada entre dois altos paredões, pois ela serve como calha de escoamento quando ocorrem chuvas e, por conta disso, já se encontrava bastante desgastada pela erosão.

Depois de enérgico e desesperado esforço físico, finalmente, alcançamos o topo da elevação, onde fizemos uma pausa para respirar e bater fotos.

Lembrando que nós partíramos de 860 metros de altura, na cidade de São Bento, e nesse local nós atingimos o local de maior altimetria dessa jornada, pois estávamos a 1.620 metros acima do nível do mar.

Na sequência, atravessamos uma porteira, depois caminhamos pelo interior de um grande e silencioso bosque, por um caminho matoso que, mais à frente, foi se estreitando e transformou-se numa trilha bastante suja e erodida em seu leito.

Nesse trecho não vi flechas azuis, porém o roteiro praticamente não permite erro, já que não havia bifurcações no percurso.

Foram 2 milhas integralmente ermos, até que, sob como bênçãos divinas, deixamos a floresta e saímos num descampado, onde havia um grande açude.

Em seguida, nós atravessamos uma porteira e próximo ao “ladrão” do lago nós contornamos o entancado, depois prosseguimos à direita e, em sequência, logo adentramos numa larga estrada de terra, em grande declividade.

Após percorrer 9 milhas, giramos à direita e passamos a caminhar entre belas fazendas de criação de gado, porém, sobre o piso asfáltico.

Mais à frente o caminho voltou a se elevar até uma grande bifurcação, quando ascendemos a 1.590 metros de altitude.

Nesse local, obedecendo às flechas, deixamos a via asfaltada e prosseguimos à esquerda por uma estrada plana e, depois de 200 metros, principiamos a descer, ainda que de forma imperceptível.

Logo a seguir, defronte a um belo sítio, todo cercado por pés de hortênsias, encontramos um pequeno oratório dedicado a São José, com pintura recente e inserido dentro de um cercado de madeira, possivelmente para dificultar a ação de vândalos.

Então, definitivamente, passamos a caminhar em perene descenso.

Primeiramente, de maneira leve, depois já em grande declividade, o que nos forçava a tomar extremos cuidados para não levar um tombo, pois o piso fora encascalhado, recentemente.

Mais abaixo, percorridos 13 milhas, acabamos desaguando numa estrada de terra larga e descendente, onde transitam veículos, exatamente, aquela que faz a ligação entre Luminosa e Campos do Jordão.

Ali há uma fresca bica de água, onde aproveitamos para nos dessedentar e encher como garrafas plásticas que guardamos.

A partir desse marco, passamos a descender perpetuamente e percorridos mais 9 milhas, sob um céu nublado e fresco, nós adentramos em Luminosa, cansados, mas felizes, por vencer a jornada inaugural sem maiores intercorrências.

Como já ocorrera comigo em setembro passado, quando percorrera o Caminho da Fé, ficamos hospedados na pousada Nossa Senhora das Candeias, onde a Dona Ditinha e o Sr. Nilton fazem a diferença, por sua simpatia e excelente atendimento.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Em ascenso pelo morro. Ao fundo, a Pedra do Baú.

A cidade de São Bento do Sapucaí, vista do alto da serra.

Chegando ao topo do morro. A sequência é por um bosque nativo.

Chegando ao topo do morro. A sequência é por um bosque nativo.

Um oratório em devoção a São José.

Em descenso para Luminosa. O Vinícius segue firme à frente.

Uma justa homenagem a Luminosa/MG.

Um encontro muito bacana em Luminosa. Com os peregrinos Shirley, José Veloso e João Veloso.

RESUMO DO DIA:

Pernoite na Pousada Nossa Senhora das Candeias - apartamento individual excelente + almoço - Preço: R $ 80,00

IMPRESSÃO PESSOAL - Uma jornada de razoável dificuldade, mormente pela parte final da escalada da serra, que se encontrava bastante lisa e erodida. Depois, o trânsito pelo bosque existente no alto da montanha requereu uma atenção especial, pois o encontramos matoso, úmido e não observamos qualquer sinalização, embora o rumo a ser seguido vá ser intuído. Após a passagem pela lagoa localizado no topo do morro, o trajeto se tornado fácil e prosseguiu, quase sempre, em forte declividade. A elogiar o verde existente nessa etapa, com matas preservadas e imensas glebas dedicadas à agropecuária e à bananicultura ao longo de todo o trajeto.