2020 – CAMINHO DA FÉ MINEIRA - POÇOS DE CALDAS/MG a OURO FINO/MG – 87 QUILÔMETROS

Não se faz nada ao caminhar, só se caminha. Mas não ter nada para fazer, exceto caminhar, nos permite resgatar o puro sentimento de ser, redescobrir a simples alegria de existir." (Frédéric Gros)

O ano estava se findando, então, convidei o amigo Vinícius para empreendermos nossa derradeira caminhada de 2020 e, para tanto, escolhemos percorrer outro trajeto inédito, como forma de expandir nosso universo peregrino.

O roteiro definido, localizado no Estado de Minas Gerais, não nos decepcionaria, como de fato ocorreu, pois durante 3 dias vivenciamos paisagens campestres, conhecemos pessoas amistosas, locais ermos e silenciosos, além de visitarmos cidades históricas, asseadas e seguras.

Um pouco do que vimos e sentimos em mais essa aventura de fé, conto a seguir:

A VIAGEM

Avance no seu desejo de conhecer o mundo e não tema as pessoas ao seu redor. Vá, pois nada que viver aqui ou ler lhe dará a experiência de ter visto ou vivido em terras estrangeiras da sua. Só é possível entender uma cultura quando se tem contato com ela!” 

O prédio onde funcionava o antigo Cassino existente em Poços de Caldas/MG.

Para iniciar o périplo, tomamos um ônibus que, 3 horas mais tarde, nos deixou em Poços de Caldas, ponto inicial de nosso roteiro.

Quando ali chegamos, rapidamente, nos registramos no Hotel Reis, onde havíamos feito reserva.

Bem acomodados, saímos para almoçar e, para tanto, escolhemos um dos inúmeros restaurantes existentes no centro dessa histórica e progressista cidade.

À tarde, fomos visitar a igreja matriz da cidade, cuja padroeira é Nossa Senhora da Saúde.

Depois, ainda tivemos tempo para dar um grande giro pela urbe, com direito a conhecer o Parque José Affonso Junqueira onde, dentre outros prédios históricos, está localizado o edifício que abrigava o antigo Cassino existente na cidade. 

O Palace Hotel, tradicional estabelecimento existente em Poços de Caldas/MG.

A história de Poços de Caldas começou a ser escrita a partir da descoberta de suas primeiras fontes e nascentes, no século XVII, encontradas às bordas uma caldeira vulcânica há 90 Ma. As águas raras e com poderes de cura foram responsáveis pela prosperidade do município desde os seus primórdios, dando inicialmente o nome para a região de Santa Rita das Águas Milagrosas dos Poços de Caldas, quando as terras começaram a ser ocupadas por ex-garimpeiros, desiludidos com o declínio da atividade aurífera na região das minas. Eles passaram a se dedicar sobretudo à criação de gado, sendo obrigados a percorrer longas distâncias em busca de pasto para os animais.

Mas a região onde hoje se situa Poços de Caldas já tinha proprietário. Pertencia, desde 1818, ao capitão José Bernardes Junqueira, e logo após a sua morte, passou a pertencer ao seu sobrinho, Pedro Junqueira. Por isso, quando o Senador Joaquim Floriano Godoy declarou de utilidade pública os terrenos junto aos poços de água sulfurosa, determinou também a desapropriação do local. Um expediente que acabou se mostrando desnecessário, porque o próprio capitão se encarregou de doar 96 hectares de suas terras para a fundação do município. O ato foi assinado no dia 6 de novembro de 1872, data em que se comemora o aniversário de Poços de Caldas.

Desde 1886, funcionava no município um balneário utilizado para tratamento de doenças cutâneas. O estabelecimento servia de águas sulfurosas que eram captadas pela Fonte Pedro Botelho, no local onde está o parque infantil Darcy Vargas. Ali, a água sulfurosa subia até os depósitos por pressão natural. O balneário tinha um chalé que foi feito para receber o imperador Dom Pedro II e um hotel denominado "Hotel da Empreza", foram construídos pelo engenheiro alemão Carlos Alberto Maywald e o arquiteto italiano Giovanni Battista Pansini, autores também de várias construções no município. Em 1889 o chalé foi usado como consultório médico de Pedro Sanches. Este balneário não existe mais, pois foi demolido no final dos anos 20, quando foi construído o conjunto arquitetônico de Eduardo Pederneiras, composto pelo Thermas Antônio Carlos, o Palace Cassino e o Palace Hotel, os quais são os mais belos prédios do município até hoje.

Poços recebeu seu primeiro visitante ilustre, o Imperador Dom Pedro II, em outubro de 1886. Ele esteve na "freguesia", acompanhado da imperatriz dona Teresa Cristina, para a inauguração do Ramal da Estrada de Ferro Mogiana. Três anos depois o município foi desmembrado do distrito de Caldas e elevado à categoria de vila e município. Seu nome tem relação com a história da Família Real Portuguesa. Na época em que foram descobertos os poços de água térmica e sulfurosa, o município de Caldas da Rainha, em Portugal, já era uma importante terma utilizada para tratamentos e muito frequentada pela família real. Caldas da Rainha (assim chamada em homenagem à Rainha D. Leonor, esposa de D. João II de Portugal) possui o mais antigo hospital termal em funcionamento no mundo (Hospital Termal Rainha D. Leonor), desde o século XV. Como as fontes eram poços utilizados por animais, veio o nome Poços de Caldas.

A igreja matriz de Poços de Caldas/MG.

A prosperidade e o luxo tiveram seu grande momento em Poços de Caldas enquanto o jogo esteve liberado no Brasil. Pelos salões do Palace Casino e do Palace Hotel desfilava a nata da aristocracia brasileira e até de outros países. O presidente Getúlio Vargas tinha uma suíte especial no hotel, com a mesma decoração da que ele usava no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então capital do país. O quarto ainda hoje preserva os móveis e o estilo da época. Mas uma das maiores atrações do hotel continua sendo sua piscina térmica, construída num suntuoso salão sustentado por colunas de mármore de carrara.

Dentre os artistas que passaram pelo Palace Casino naquela época áurea incluem-se Sílvio Caldas, Carmem Miranda, Orlando Silva e Carlos Galhardo. Estiveram também em Poços de Caldas personagens ilustres como Rui Barbosa, Santos Dumont, o poeta Olavo Bilac e o romancista João do Rio. Entre os políticos, o interventor de Minas Gerais durante o Estado Novo, Benedito Valadares, e o presidente Juscelino Kubitschek, entre outros, foram também presenças constantes.

A proibição do jogo, em 1946, e a invenção do antibiótico tiveram forte impacto para o turismo no município. O termalismo deixou de ser a maneira mais eficaz de tratar as doenças para as quais era indicado. E os cassinos foram fechados. A economia de Poços sofreu um grande abalo, mas logo encontrou uma alternativa ao entrar no "ciclo da lua-de-mel", quando se tornou elegante passar as núpcias no município e o turismo conseguiu fôlego para sobreviver. Depois deste período, o perfil do turista que visita Poços mudou. A classe média e grandes grupos passaram a frequentar as termas, a visitar as fontes e outros pontos de atração do município, antes restritos à elite.

Em 2006, o município realizou investimentos para aumentar o fluxo de turistas, explorando outros belos atrativos de que dispõe, para pessoas de todas as idades e gostos, como o turismo ecológico, cultural, de aventura e esportes radicais.

População atual: Aproximadamente, 170 mil habitantes. – Altitude: 1.200 m

Em Poços de Caldas/MG, confraternizando com meu parceiro Vinícius.

RESUMO DO DIA:

Pernoite no Hotel Reis – Apartamento individual excelente – Preço: R$75,00

Almoço na Cantina Bom Apetite: Excelente – Preço: R$20,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.


1º dia: POÇOS DE CALDAS a CALDAS – 30 QUILÔMETROS

É melhor caminhar cheio de esperança do que chegar.” (Provérbio Japonês) 

O percurso seria longo e a primeira parte seria toda citadina e sobre piso duro, assim, partimos às 4 h, sob céu claro e clima fresco, ingredientes extremamente aprazíveis para quem vai caminhar.

Lentamente, e sob o conforto da iluminação urbana, percorremos 5 quilômetros, utilizando o traçado de uma ciclovia, até nos enlaçarmos com a MG-149, nominada de Geraldo Martins Costa, que segue em direção à cidade de Pouso Alegre/MG.

Então, prosseguimos caminhando pelo acostamento dessa rodovia, extremamente perigosa e movimentada, no sentido contrário ao fluxo de veículos, sempre em ascenso, até que, percorridos 9 quilômetros, finalmente, adentramos à direita e acessamos uma larga estrada de terra.

A partir daí, o trajeto se tornou bucólico, ermo, e pudemos desfrutar de um silencioso entorno campestre, onde a tônica era as imensas culturas de reflorestamento, compostos por eucaliptais e pinheirais.

Também, atravessamos inúmeros nichos de mata nativa, num trajeto hidratado e agradável, pois havia chovido forte na região na noite anterior, e o entorno denotava intenso verdor, em todas as suas tonalidades.

Mais adiante, a paisagem se abriu e avistamos vastas culturas de milho, entremeada com grandes pastagens.

Aproximadamente, no 17º quilômetro, passamos diante da entrada da RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural Morro Grande, inserida na Fazenda Retiro Branco, de propriedade da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio).

A reserva representa as formações vegetais da região, recoberta por campos naturais de altitude e mosaicos de Mata Atlântica, e o local é um referente centro de educação ambiental e ecoturismo desse enclave.

Seguimos adiante, contornando essa grande massa rochosa, por locais de expressiva beleza, sempre em perene descenso, até que no 22º quilômetro, quando o cenário, novamente, se abriu, pudemos avistar, abaixo e ao longe, a cidade de Caldas, nossa meta nesse dia.

O trecho final, ainda sobre clima fresco e céu nublado, nos levou a transitar entre inúmeras fazendas de gado leiteiro, até adentrarmos em zona urbana, onde seguimos em direção ao nosso local de pernoite nesse dia.

Algumas fotos do percurso:

Depois de deixar a rodovia, um caminho maravilhoso se abriu...

Trecho arborizado. O Vinícius segue na frente.

Caminho com muitos nichos de mata nativa.

Transitando entre eucaliptais, uma tônica nessa etapa.

O CAMINHO DA FÉ EM CALDAS

A cidade de Caldas foi inserida no Caminho da Fé em 08/03/2020 e o trajeto recebeu o nome de “Ramal Esperança Bretas”, em homenagem a uma enfermeira caldense que, para pagar uma promessa, fez a primeira peregrinação a pé que se tem registro, até a igreja de Santa Rita de Caldas, antes mesmo que a cidade se tornasse destino de romarias de diversas regiões do país.

Na época, era pároco em Santa Rita o Padre Alderigi Maria Torriani, cujo processo de canonização é analisado pela Igreja Católica.

O peregrino seguirá em direção a Santa Rita de Caldas por uma estrada de terra que corta o bairro Maranhão, aos pés da Serra da Pedra Branca, que era a antiga ligação entre as duas cidades.

O Caminho da Fé, em Caldas, vai contemplar ainda uma rota que virá das cidades de Botelhos e Campestre, que já está em fase de implementação.

Caldas ficou conhecida no início do século XX pelo poder de suas águas medicinais. Turistas e moradores que procuram Pocinhos do Rio Verde para o tratamento de doenças, deixam legados importantes como gratidão pela graça da cura.

A Capela de Santa Terezinha, no alto do Morro do Galo, foi construída por uma devota que foi curada pelas águas sulfurosas.

Atrás da Igreja São Vicente Ferrer, também há uma pequena gruta dedicada à Santa Rita de Cássia, bem como outros monumentos espalhados pelo bairro.

Na Zona Rural de Caldas, pela rota do Caminho da Fé, existem capelas que, além de espaço de fé e devoção, reúnem fiéis em festejos que resguardam antigas tradições folclóricas e religiosas como as Folias de Reis, Terços Cantados, louvações e quermesses. 

A igreja matriz de Caldas/MG.

A CIDADE DE CALDAS/MG

O município de Caldas, antigamente conhecido como Paragens dos Bugres, teve sua origem com as entradas e bandeiras que desbravaram o sertão em busca de riquezas. Situada num local de disputas entre as capitanias de Minas e São Paulo, a região dos Campos de Caldas prosperou, apesar dos conflitos e da decadência da mineração. Segundo o IBGE, foi devido à diminuição do rendimento dos centros auríferos, que os faiscadores empobrecidos passaram a buscar regiões favoráveis à agricultura e a pecuária. Devido à riqueza dos campos naturais que os primeiros moradores se estabeleceram, introduzindo a atividade pastoril.

Segundo esta fonte, o Planalto da Pedra Branca está ligado a esse ciclo agropecuário e foi por volta de 1780, que o português Antônio Gomes de Freitas e sua esposa, Maria Rodrigues Machado, residentes em Aiuruoca, compraram a “Fazenda dos Bugres”, assim denominada por julgar-se ter sido o território da antiga aldeia de índios tapuias, seus primitivos habitantes, conforme vestígios encontrados nas proximidades do ribeirão que banha o povoado e que também tomou esse nome (Ribeirão dos Bugres).

Antônio Gomes de Freitas é considerado o fundador do povoado dos “Campos de Caldas”.

Além das razões de ordem econômica, motivos de natureza política (opressão do Reino em Vila Rica, no Tijuco e em São João Del Rei) contribuíram para o povoamento do Planalto. Assim, a região desenvolvida e valorizada, passou a ser conhecida pelo nome de Campos de Caldas, afirmando-se como grande produtora de uvas e vasto rebanho bovino.

Data de 1876 o início da fabricação de vinho de uvas, tornando-se conhecido em todo o país. Em 1938, a intensificação da cultura vinícola motivou a mudança do nome de Caldas para Parreiras, que assim permaneceu por dez anos, voltando a se chamar Caldas em 1948.

O topônimo Caldas provém do latim cal(i)dae (quente), aquae (águas), isto é, lugar onde nascem fontes termais cujas águas tem poderes medicinais principalmente e para tratamento de doenças cutâneas.

População: 17 mil habitantes - Altitude: 1.200 m

A igreja do Rosário, em Caldas/MG.

RESUMO DO DIA - Clima: fresco e nublado, com temperatura variando entre 17 e 24 graus.

Pernoite na Pousada do Edmar – Apartamento individual bom, porém o estabelecimento não serve café da manhã – Preço: R$70,00

Almoço na Ney Churrascaria e Restaurante: Excelente! – Preço: R$15,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de grande extensão e muita beleza, porém, os primeiros 9 quilômetros são tensos e percorridos sobre piso duro. Contudo, quando se adentra às estradas de terra, tudo muda e o percurso se torna bucólico e aprazível. No geral, uma etapa agradabilíssima, plena de verde e trechos ermos e silenciosos. No global, tirante a primeira parte, um trajeto de grande plasticidade, com ascensos e descensos leves, e pleno de paisagens espetaculares.


2º dia: CALDAS/MG a SANTA RITA DE CALDAS – 17 QUILÔMETROS

Esforce-se para ser paciente ao suportar os defeitos dos que o cercam. Porque você também tem muitos, e eles precisam ser suportados pelos outros.” (Thomas Kempis) 

A jornada seria de pequena extensão e como a Pousada do Edmar onde pernoitamos nesse dia, não serve a refeição matinal inclusa na diária e, pasmem, nem ao menos oferece uma xícara de café ao peregrino, resolvemos sair mais tarde e aguardar até as 6 horas, quando a padaria existente defronte ao estabelecimento onde estávamos hospedados, abrisse suas portas.

Então, após ingerirmos um consistente desjejum, vestimos nossas mochilas e demos adeus à bela e bucólica Caldas.

Partimos, tranquilamente, às 6 h 30 min, sob um clima fresco e céu nublado, pois chovera forte durante toda a madrugada.

Já deixando a localidade, pudemos observar do lado direito um dos cartões postais da cidade: A Pedra do Coração e a Capela de Santa Bárbara, situadas a 1.350 m de altura, na serra do Maranhão, cujo formato lembra um coração.

O trajeto seguiu plano e em meio a pastagens e extensas culturas de milho, uma tônica nessa etapa.

Sem maiores problemas e com uma grande serrania nos acompanhando pelo lado direito, pudemos apreciar a paisagem fantástica que nos envolvia e aspirar o ar puro que emanava do entorno fresco e ventoso.

Percorridos 10 quilômetros, passamos diante da Pedra Branca, cujo pico está situado a 1.720 m de altitude, um dos cartões postais mais belos do sul de Minas, muito apreciado pelos amantes da natureza e pesquisadores, de onde é possível conhecer e apreciar o “mar de Minas” (mar de montanhas).

A rocha é conhecida por seus afloramentos rochosos, pleno de ranhuras, e por sua rica biodiversidade rupestre, com espécies vegetais encontradas, exclusivamente, em seus limites.

Transitando em meio a alguns bosques de eucaliptos e fazendas de gado leiteiro, no 13º quilômetro atingimos 1.200 m de altura, o ponto de maior altimetria do percurso.

Então, principiamos a descender e um pouco mais tarde adentramos em zona urbana, por onde seguimos em direção ao local de pernoite.

Algumas fotos do percurso:

Caminho hidratado e maravilhoso nesse dia.

Eucaliptais, como de praxe...

Paisagens de "encher os olhos"...

Caminho belíssimo e pleno de muito verde.

Ao fundo, a bela Pedra Branca, cartão postal de Caldas/MG.

Santa Rita de Caldas é um município do estado de Minas Gerais, e sua população é de 9.300 habitantes.

Localizada entre picos da Serra do Cervo, no sul do estado de Minas Gerais, a 1.162 metros de altitude, possui algumas das mais deslumbrantes manifestações de fé do estado e esconde ao longo de seu município belezas naturais, procuradas por amantes da natureza e praticantes de esportes ecológicos.

Além disso, possui uma terra fértil, rica em nascentes de água e de clima agradável, proporcionando o sucesso da economia municipal na agricultura e na pecuária de corte e leiteira.

O primeiro povoador que se tem registro a instalar no município foi Veríssimo João de Carvalho, no local denominado "Gineta", ali estabelecendo a primeira fazenda.

Assim, foi em 1852 que os numerosos habitantes da região realizaram um importante movimento no sentido de criar uma nova localidade.

Embora já houvesse no local uma pequena igreja dedicada a Santa Rita, resolveram os moradores do lugar oficializar a devoção a santa, dirigindo à cúria Diocesana de São Paulo, que por Provisão de 19 de maio de 1852, autorizou a criação e edificação da capela dedicada à mesma Santa Rita.

Nesse sentido, o turismo religioso também é muito importante para o município.

Terra escolhida pelo saudoso Monsenhor Alderigi para demonstrar durante 50 anos de paroquiato toda sua fé e exemplo de amor a Deus e ao próximo.

Falecido em 1977, Monsenhor Alderigi está sendo estudado pela Igreja Católica, através da abertura do processo da beatificação, em 3 de fevereiro de 2001, como um provável santo brasileiro, devido graças alcançadas por fiéis que garantem ter sido atendidos por sua intercessão.

O Santuário Arquidiocesano de Santa Rita de Caldas tem uma das preciosidades da fé mineira, um fac-símile (réplica idêntica) do verdadeiro corpo de Santa Rita de Cássia, que se encontra na cidade de Cássia, na Itália, e uma relíquia “ex-corpore” de Santa Rita.

Fundados na fé em Santa Rita de Cássia e no Monsenhor Alderigi, durante todo o ano, milhares de romeiros se dirigem ao santuário em busca de graças ou para pagar promessas.

O auge do turismo religioso se dá no dia 22 de maio (dia de santa Rita de Cássia), quando a pequena e pacata cidade fica completamente tomada por milhares de devotos de todos os cantos do país e santa-ritenses ausentes.

Fonte: Wikipédia

Chegada diante da igreja matriz de Santa Rita de Caldas/MG.

RESUMO DO DIA: Clima: fresco e nublado, com temperatura variando entre 17 e 25 graus.

Pernoite no Granville Hotel: Apartamento individual excelente – Preço: R$60,00

Almoço no Restaurante do Biguá e Dona Fiinha: Excelente – Preço: R$20,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa de pequena extensão, onde seguimos sempre escoltados por um maciço rochoso, situado do lado direito do caminho, cujo ápice se encontra na serra da Pedra Branca, de visão inolvidável. No percurso, avistei inúmeras culturas de batata e milho, pastagens a perder de vista, muitos eucaliptais, além de alguns nichos de mata nativa. No global, um percurso, praticamente, todo plano, pleno de verde e belezas naturais indescritíveis. Esta foi, com certeza, uma das jornadas mais belas que já percorri em todo o Caminho da Fé.


3º dia: SANTA RITA DE CALDAS/MG a OURO FINO/MG – 40 QUILÔMETROS

Com tempo bom, prepare-se para o tempo ruim”. (Thomas Fuller) 

Vivenciávamos um domingo e a jornada seria de grande extensão, assim, de comum acordo, partimos às 3 h 30 min sob um céu plúmbeo e clima ameno, que não nos deixava antever o que em breve se sucederia.

Pois, quinze minutos mais tarde, quando já havíamos deixado a iluminação urbana e acessado uma via vicinal asfalta que segue em direção à cidade de Ouro Fino, desabou, repentinamente, um dilúvio em forma de tempestade, que nos pegou em completa surpresa, pois nem a capa protetora tivemos tempo de vestir.

Prosseguimos sobre piso asfáltico e sob renitente temporal por 7 quilômetros quando, obedecendo à sinalização, abandonamos a rodovia e seguimos à direita, sobre terra, ainda sob intensa borrasca.

Tal situação somente melhorou quando, já com o dia claro, passamos a caminhar entre imensas pastagens e campos agriculturados, até que, percorridos 15 quilômetros, fizemos uma pausa no bairro Pião, para hidratação e ingestão de carboidratos.

Seguindo adiante, ainda sob recalcitrante garoa, iniciamos um perene ascenso que perdurou até o 22º quilômetro, quando chegamos ao topo do morro, a 1.400 m de altura, o ponto de maior altimetria dessa jornada, situado no bairro Ventania, exatamente, na divisa dos municípios de Ouro Fino e Santa Rita de Caldas.

Na sequência, prosseguimos caminhando em franco descenso, enquanto pelo nosso lado direito, vistas deslumbrantes se descortinavam ante os nossos olhares maviados, embora a neblina circundante obscurecesse, de certa forma, o contorno das paisagens.

Nesse trecho em declive, pudemos observar extensa criação de gado leiteiro e de corte, plantações de milho, eucaliptos e, principalmente, imensos cafezais.

Finalmente, no 28º quilômetro o percurso se nivelou e na parte final, já sem chuvas, prosseguimos animados e, sem maiores percalços, adentramos em zona urbana, mas ainda precisamos caminhar mais 4 quilômetros sobre piso duro, até aportar ao nosso local de pernoite.

À tardezinha, tivemos o prazer de reencontrar o preclaro amigo e peregrino Oswaldo Francisco Bueno ou, simplesmente, “Xará”, que nos levou até a Lanchonete Parada da Manu, onde pudemos nos confraternizar e colocar o papo em dia, após o longo interstício imposto pela pandemia.

Algumas fotos do percurso:

No bairro Pião, ainda debaixo de chuva, pausa para lanche e hidratação.

Paisagens fantásticas a nos ladear..

Igrejinha do bairro Ventania, situada no ponto de maior altimetria dessa jornada.

Em descenso, ladeado por belas paisagens, mas ainda sob garoa...

Gruta de Nossa Senhora da Penha, onde há água potável.

Na Lanchonete Parada da Manu, em Ouro Fino, com meu "Xará" Oswaldinho e o Vinícius. Confraternização pelo final da caminhada!

RESUMO DO DIA: Clima: chuvoso de manhã, depois nublado, variando a temperatura entre 15 e 23 graus.

Pernoite na Pousada Canto de Minas: Excelente! Apartamento individual – Preço: R$70,00

Almoço no Biba’s Restaurante - Preço: R$20,00, pode-se comer à vontade no Self-Service.

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa de grande extensão e difícil superação, mormente, em seu trecho inicial, quando fomos surpreendidos por forte tempestade, e durante 3 horas caminhamos quase às cegas, tamanho o volume de água derramado. No entanto, um percurso de imensa beleza paisagística, pleno de verde e locais ermos. Após ultrapassarmos a serra da Ventania, o trajeto, sempre em perene descenso, se revelou tranquilo e repleto de vistas espetaculares. No global, uma jornada bastante exigente em termos físicos, mas que superamos com muita garra, persistência e fé.


FINAL

"Muitas vezes o peregrino percebe, outras vezes não, que toda a caminhada faz parte da experiência, não só o endereço da chegada. O estar a caminho permite que as forças auto curativas e auto reguladoras da psique operem a renovação criativa de hábitos, atitudes, ressentimentos, somatizações." (Kathy Marcondes) 

Em Ouro Fino, descansando após nossa chegada ao destino.

Nem só de caminhos consagrados e extensos é feito um peregrino.

Nesse sentido, os itinerários de parca extensão são mais apreciativos, embora aos mais ambiciosos caiba refutar tal entendimento.

Então, para solidificar minha opinião, costumo afirmar que grandes jornadas fortificam o caráter de um homem, pois exigem dele pertinácia de espírito e resistência física.

As pequenas, por outro lado, moldam, aguçam, aperfeiçoam os sentidos, que não são estacionários, como muitos podem pensar.

Ao revés, suscetíveis ao treino e, em consequência, a melhoramentos.

Frequentemente, em uma longa caminhada, nos privamos de descansar à sombra de uma frondosa árvore e de observar, serenamente hirtos, os traços irregulares de uma cadeia de montanhas no horizonte, uma vez que o objetivo final ainda está distante e o tempo é escasso.

Nas mais efêmeras, para-se onde bem entender, já que a ocasião não é um fator tão limitante.

Enfim, embora minhas interpretações sobre ambas possam parecer antagônicas e confusas, reitero que são complementares entre si.

Posto que, um bom caminhante depende de suas águas duais para preencher um hiato na vida que, em sua grande parte, é alienada e apartada do que mais o apraz.

Nesse diapasão, diria que o Caminho da Fé Mineira, embora de pequena dimensão, é de “encher os olhos” do caminhante com suas paisagens inolvidáveis, recantos bucólicos e pelas belas e altaneiras montanhas que ladeiam o peregrino quase o tempo todo.

Assim, diria que minha experiência nesse roteiro foi uma das mais gratificantes possíveis, por isso, o recomendo com efusão. 

Em Poços de Caldas/MG, antes de iniciar o Caminho...

Finalizando, novamente, tive o prazer de “dividir a trilha” com o Vinícius, grande amigo e parceiro, a quem agradeço pela presença marcante e memorial companheirismo.

Bom Caminho a todos! 

Dezembro/2020