FINAL

IMPRESSÕES PESSOAIS

Voltar a caminhar como peregrino, desta vez em direção ao Santuário de Aparecida e sob a égide de Maria, propiciou-me vivenciar novamente a rotina nômade, típica do homem pré-histórico, e já olvidada pela geração atual.

Entretanto, ainda subsistente em nossa carga genética, com todas as suas surpresas, perigos, e superação de limites físicos e mentais. Porque a vida errante também tem seus encantos, como a sombra das árvores frondosas, o perfume das flores silvestres, o ar da montanha, o céu estrelado e outras surpresas indescritíveis.

Por tudo isso, peregrinar traduz-se numa experiência indizível e especial. Mesmo que se digam milhões de palavras acerca dessa pratica milenar, não se pode descrevê-la com exatidão, pois apresenta nuances que difere em cada ser humano.

Desse modo, faz-se necessário encará-la particularmente, para poder sentir o peso de sua profundidade, altura e extensão.

Porque há, também, momentos de extrema solidão e melancolia durante uma longa caminhada. Neles, os fantasmas interiores se assenhoreiam de nossas motivações e assombram. Nessas horas tendemos a questionar a jornada, e algumas vezes, até, somos propensos a crer na inutilidade de tão grande esforço.

Porém, existem momentos de amizade, paz, plenitude e de bem-aventurança. De profunda comunhão e integração com a natureza, companheiros peregrinos, e o povo ao longo da trilha. Podem durar horas ou frações de segundos, contudo, sempre deixam marcas indeléveis em nossa alma.

E, ao final, descobrimos que qualquer Caminho, sempre imita nossa própria vida: “Vita nostra, peregrinatio perpetua!” Nesse diapasão, vale a pena transcrever iluminado poema, correlato ao tema em questão:

“ATÉ O FIM”

Não, não pare,

é graça divina,

começar bem.

Graça maior,

é persistir,

na caminhada certa.

Manter o ritmo...

Mas a graça das graças,

é não desistir.

Podendo ou não podendo,

caindo, embora aos

pedaços,

chegar até o fim! 

(D. Helder Câmara) 

 FINALIZANDO

 Depois de percorrer o Caminho de Santiago por duas vezes (2.001 e 2.004), o Caminho do Sol em 2.002, e o Caminho das Missões em 2.003, concluir o Caminho da Fé em 2.005, prodigalizou-se, para mim, como um memorável feito, de incomensurável satisfação pessoal.

Nesse diapasão, peregrinar à Aparecida do Norte evidenciou-se, em meu interior, como uma “viagem” enriquecedora sob todos os aspectos, mormente, no plano espiritual.

Porque toda peregrinação é um ato sagrado, e todo peregrino um herói inquieto, que busca, mesmo sem saber, o centro luminoso interior, a conexão com alguma forma de divindade. 

E o que o atrai a uma romaria, na verdade, é a qualidade especial das experiências que é possível viver do decorrer da aventura.

Por isso, a jornada como benesse singular acontece em todo o percurso, e não apenas no seu ponto de chegada.  

Posto que, se partirmos depositando nossa expectativa nas eventuais gratificações que nos esperam ao atingirmos o alvo final, estaremos desatentos e perderemos a miríade de pequenas e grandes vivências que nos aguardam perfiladas ao longo do Caminho.

Nessa consonância, para auferirmos todos os beneplácitos desse roteiro, é aconselhável que ele seja cumprido sob algumas condições essenciais, qual seja: estejamos sempre com a consciência desperta, os cinco sentidos ligados, a mente aberta, e o coração puro, como das crianças.

Quando alguém costuma a agir desse modo, a vida, mesmo em seus episódios mais banais, transforma-se numa permanente e excitante viagem. E cada um de nós em peregrino da existência.

Bom Caminho a todos!

Junho/2005