18ª Etapa – VALENÇA DO MINHO à O PORRIÑO – 20 QUILÔMETROS

18ª Etapa – VALENÇA DO MINHO à O PORRIÑO – 20 QUILÔMETROS - “ESTAMPAS GALEGAS

“Quem iniciou sua peregrinação em Lisboa, vai notar a partir dessa etapa uma mudança substancial. O Caminho Português entra na Galícia e o número de albergues de peregrinos aumenta significativamente, em comparação com as jornadas precedentes. Faz tempo que a comunidade galega se preocupou em melhorar e revitalizar todas as rotas jacobeias, dotando-as de uma densa rede de alojamento para romeiros, que permitem fracionar as etapas e encontrar sempre um teto, uma cama e uma ducha quente ao final da jornada. Sem dúvida, uma boa noticia para o sofrido peregrino. Esta primeira etapa galega é larga e desde Orbenlle, antes do polígono industrial de O Porriño, por demais tediosa, porque comporta muito asfalto. Porém, conforme já dito, a oferta de albergues permitem fracioná-la à vontade. Aqueles que decidem percorrê-la inteira, devem ter em conta também que nos últimos quilômetros, entre Mos e Redondela, precisarão vencer um morro de 225 metros de altitude.”  (Traduzido/transcrito do Guia El País Aguilar, edição do ano de 2007, que utilizei na viagem)

 

Inicialmente, nossa meta era caminhar até Redondela, aproximadamente 35 quilômetros de extensão.

No entanto, repensando melhor, tendo em vista que havíamos cumprido duas largas jornadas nas etapas anteriores, resolvemos rever nossa programação.

Assim, de comum acordo, optamos por fazer um percurso menor, deixando o restante para o dia seguinte.

Dessa forma, o percurso seria de curta extensão, no entanto, havia ameaça de chuva para a parte da tarde.

Assim, calmamente deixamos o local de pernoite às 6 horas, seguindo por ruas vazias e silenciosas.

As flechas levam o peregrino a transitar dentro da fortaleza, contudo como já a havíamos visitado no dia anterior, bem como não sabíamos se suas portas estariam abertas naquele horário, resolvemos caminhar direto pela rodovia.

Isto posto, a partir do Largo da Trapicheira, seguimos pela avenida da Espanha, deixamos a cidade amuralhada do lado esquerdo, e logo chegamos à Ponte Internacional, que utilizamos para cruzar o rio Minho.

Já do outro lado, passamos defronte ao Posto da Polícia Federal Espanhola e logo, giramos à direita, seguindo até o “Embarcadero de Lavacuncas” ou Puerto de la Fábrica, primitiva entrada fluvial de peregrinos em Tui, antes da construção da ponte.

Nesse local, localiza-se o verdadeiro quilômetro “zero” do Caminho Português na Galícia e, ao fotografar o “mojón” ali fincado, constatamos pela marcação existente em seu frontispício, que nos restavam, exatos, 115.454 mil metros para aportar em Santiago.

Aproveitamos, ainda, para adiantar nossos relógios de pulso, posto que o fuso horário na Espanha, em relação ao Brasil, passou a ser de 5 horas, ao passo que em Portugal eram 4.

Então, principiamos a ascender através do medieval “Caminho da Barca”, transitando por ruas tortuosas e antigas, até sair, mais acima, já no “casco viejo” de Tui, diante de sua Catedral, um templo com aparência de fortaleza, construído em 1120.

Vigilante nessas terras férteis do Minho, e situada defronte Valença, sua vizinha portuguesa, a cidade era amuralhada e de intensa vida fronteiriça, dada sua proximidade com o reino português.

Paramos na praça para fazer algumas fotos da vetusta igreja, depois prosseguimos em frente, vez que a mesma, por conta do horário, ainda se encontrava fechada.

Mais adiante, passamos diante do Convento das Clarissas Enclausuradas, descemos algumas escadarias, e tomamos o rumo Norte, passando pelos conventos de São Domingo e São Bartolomeu.

Uma coisa nos chamou de imediato a atenção, constatamos que as flechas no lado espanhol estavam borradas, quase apagadas, difíceis de encontrar, o que contrastava muitíssimo com o lado português, onde a sinalização estava perfeita.

Rapidamente nos afastamos da povoação, passamos a caminhar em terra, e pelo vale do rio Minho alcançamos uma construção medieval conhecida como “Ponte da Veiga”, que possui três arcos e transpõe o rio Louro, na frente da qual existe uma escultura que homenageia os peregrinos.

Porém, não chegamos a cruzá-la, pois o caminho segue em frente, e nesse trecho ultrapassamos 3 peregrinas que, pelo traje imaculado e botas limpas, demonstravam estar iniciando o caminho naquele dia.

Mais adiante, acabamos por sair numa rodovia vicinal nova e asfaltada, por onde seguimos pelo acostamento, até transpormos a linha férrea através de um túnel, já em A Piconã, um pequeníssimo povoado.

Logo acima, saímos na rodovia N-550, uma “carretera” que iríamos cruzar várias vezes em nosso roteiro, porquanto 90% do seu traçado coincide com a velha calçada romana XIX.

Mais um quilômetro vencido, nós ultrapassamos a Autovia Nacional por uma ponte metálica e, na sequência, adentramos num belíssimo bosque de acácias, um dos “tramos” mais frescos e belos dessa etapa.

E logo cruzamos a lendária “Ponte das Febres”, uma construção medieval de um só arco, protegida agora por uma plataforma de madeira.

Próximo dela existe uma placa, com os seguintes dizeres:

“Caminhante: aqui se enfermou São Telmo, Patrono de Tui e Frómista, em abril de 1246, quando se dirigia em peregrinação à Compostela.”

Na verdade, naquela ocasião ele foi levado de volta a Tui, às pressas, porém veio a falecer um dia depois.

Um monólito, um cruzeiro e uma placa erguidos junto à ponte, recordam esse fato.

Prosseguimos ainda por uma trilha extremamente arborizada, contudo mais acima, saímos na aldeia de Magdalena, que cruzamos já em asfalto.

Logo passamos diante de um local chamado de “Calvário de A Magdalena”, onde a curiosidade fica por conta da existência de cinco cruzes de pedra, que ali foram fincadas em diferentes épocas.

E logo adentramos em Ribadelouro, outro pequeno povoado, onde visualizamos uma bela construção, local onde funciona seu Centro Cultural.

Nesse ponto, nós abandonamos o asfalto, giramos à direita, e seguimos por outra via arborizada, junto a um murmurante riozinho, até ultrapassarmos a graciosa ponte medieval de Orbenlle, pela qual transpusemos novamente o rio Louro.

Seguimos ainda em meio a agradável bosque, no entanto, logo começamos a ascender por asfalto e, às 9 horas, depois de dez quilômetros caminhados, chegamos a Orbenlle, outra pequena aldeia, onde existe um par de bares.

Então, obedecendo as flechas, nós fizemos um giro à esquerda, atravessamos um eucaliptal, e aportamos em uma ampla e arejada área de descanso, localizada à beira do caminho, sobre um pequeno outeiro.

Ali fizemos uma parada para descanso, hidratação e fotos, vez que daquele ponto pudemos observar todo o amplo vale por onde iriamos transitar na sequência.

Ao fundo, podíamos ver uma ampla área verde, um espaço natural protegido, que, segundo eu soube, os Amigos do Caminho e a Xunta da Galícia, pretendem desviar o Caminho.

Bem dispostos, principiamos a descer por ruas asfaltadas e, já abaixo, num grande planalto, passamos a transitar pelo estressante “Polígono Industrial de las Gándaras de Budiño”.

Na sequência, caminhamos aproximadamente 3 quilômetros por calçadas, em meio a muito barulho e tráfego de caminhões, sem encontrar uma única árvore, embora, por sorte, o dia permanecesse nublado.

A realidade atual desse itinerário é penosa e triste nos finais de semana, quando o local se transforma numa cidade fantasma, e perigosa nos outros dias, pelo expressivo trânsito de veículos.

Custou-nos muita paciência e denodo para vencer mais este obstáculo, posto que ela representa a antítese do que se imagina de um caminho de peregrinação, em meio a natureza.

Contudo, o progresso se interpôs com a história o resultado foi que as indústrias devastaram o traçado do antigo caminho medieval que seguia por essa zona.

Bem, como não há mal que sempre dure, no final de uma imensa reta, utilizando uma passarela metálica, nós transpusemos a linha férrea, depois, por um viaduto passamos sob a Autovia Nacional e, acessamos novamente a rodovia N-550.

Então, giramos à esquerda e, por calçadas movimentadas, enfrentamos mais 3 quilômetros em meio a uma barulhenta zona comercial.

Já, em meio ao casario urbano, passamos diante da capela da Virxe da Guia, uma construção de 1640, erigida num local emblemático, distante exatamente 100 quilômetros de Santiago de Compostela.

Prosseguimos por mais 500 metros, até aportar na praça central de O Porriño, nossa meta para aquele dia.

Tomei informações com um transeunte, e logo nós chegamos ao Hotel Azul, de excelente qualidade, onde ficamos hospedados.

O Porrinõ é uma cidade grande, agradável e moderna, com uma poderosa indústria de mármores, graças às jazidas existentes na serra de O Galiñeiro, localizada no município, porém a cidade não apresenta maior atrativo turístico.

Seu monumento mais famoso é o prédio del “Ayntamiento”, uma obra do arquiteto local Antônio Palácios, edificado entre 1921 e 1924, um conjunto que chama a atenção por seu atrevido jogo de volumes e uso de elementos ecléticos.

Na verdade, se trata de um “pastiche” eclético, que se destaca não só por seu pórtico e balcões neorromânicos, mas também porque incorpora traços neogóticos e uma grande torre defensiva.

Segundo o autor, sua inspiração veio das catedrais-fortalezas medievais, como aquela existente na cidade de Tui.

Para almoçar, utilizamos os serviços do restaurante Lourinã, onde pudemos degustar o “Menu del Peregrino”, pelo preço de 8 Euros.

À tarde, seguimos as flechas do caminho em direção ao supermercado Gadia, e próximo a uma rotatória pudemos admirar um grande domo de granito.

Neste local, localizado próximo de uma fonte de água potável, existe uma placa em homenagem aos escaladores porriñenses Jesus e José Antonio Martinez Novás.

Sendo que Jesus foi o primeiro galego a alcançar o cume do monte Everest, em março de 1997.

Depois fomos visitar a igreja matriz dedicada à Santa Maria, construída em estilo neogótico, em princípios do século XX.

O dia permaneceu nublado e frio, sendo que às 18 horas, quando retornávamos ao local de pernoite, principiou a cair uma fina garoa, e um termômetro que marcava 15º C às 11 horas, quando chegamos à cidade, naquele horário oscilava entre 8 e 9 graus.

Sendo assim, em face do frio reinante, logo nos recolhemos, já concentrados na jornada seguinte, que seria longa, ríspida e praticamente toda em asfalto.

 

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada curta, tranquila, bastante arborizada, e com inúmeros atrativos das épocas medievais, a começar pela estupenda Catedral de Tui. A nota dissonante fica por conta da estafante travessia pelo polígono industrial de Gândara, que não deixa saudades ao caminhante. Em compensação, O Porriño é uma cidade bonita, acolhedora, e que oferece todos os serviços imprescindíveis ao peregrino.

19ª Etapa – O PORRIÑO à PONTEVEDRA – 36 QUILÔMETROS