PEREGRINAÇÃO LOURDES (FR) A SANTIAGO DE COMPOSTELA, COM MUITA FÉ E CORAGEM!

Com o fito de resgatar promessa feita na Catedral de Santiago de Compostela em maio de 2001, retornei novamente ao Caminho neste Ano Santo Compostelano de 2004, aproveitando o ensejo, ainda, para conhecer a cidade de Lourdes (França), um sonho longamente acalentado.

Deus me proveu de ânimo, saúde física e mental, tempo disponível e condições financeiras, para não só realizar meu desejo de conhecer o famoso Santuário Francês, como, também, partir dele, a pé, em direção a Santiago de Compostela, num percurso global aproximado de 1.000 quilômetros, que cumpri em 32 dias. 

Diante da Gruta de Massabielle, momentos antes de partir.

RUMO A LOURDES (FR)

Para coincidir com o meu período de férias, programei-me para realizar a sonhada jornada em abril/maio de 2004. E assim, a partir da virada do novo ano, preparei-me fisicamente e, também, espiritualmente, para enfrentar da melhor maneira possível o desafio a que me propus. Aprofundei-me então em leituras sobre a rota e as cidades, suas histórias, tradições, religiosidade, etc.. Para harmonizar, fiz longas caminhadas, bastante natação, um pouco de musculação, e alterei meus hábitos alimentares. Além disso, entrevistei duas pessoas que já tinham feito essa viagem anteriormente, como forma de ampliar meus conhecimentos e aplacar minhas dúvidas.

Finalmente, após meses de preparação, expectativas, ansiedades, angústias, incertezas, dia 04 de abril de 2004, embarquei rumo à Espanha. Dia 05, pela manhã, desembarquei no Aeroporto de Barajas, em Madri. Após breve conexão, outro vôo me levou até Toulouse (Fr), onde cheguei às 11 horas. Do aeroporto, um táxi me transportou até a Estação Ferroviária de Toulouse-Matabiau, onde embarquei num trem às 12 h 09 min que, pontuamente, às 14 h 21min, deixou-me em Lourdes. 

Após hospedar-me num modesto, porém, confortável hotel, e tomar um banho relaxante, fui ao Santuário propriamente dito, localizado numa área extensa e aprazível, que abriga um enorme complexo turístico e recepciona milhares de peregrinos do mundo todo que ali vão em busca de cura para suas enfermidades físicas, ou apenas, para visitar aquele lugar sagrado.

A Basílica do Rosário desponta altaneira, fincada num morro, e sob ela, do lado direito, localiza-se a Gruta de Massabielle, onde Nossa Senhora apareceu por 18 vezes à Bernadette Soubirous, sendo que a primeira delas ocorreu em 11 de fevereiro de 1858.

No solo da gruta brota uma fonte cristalina, quase sob a imagem de Nossa Senhora incrustrada na rocha, fruto do milagre concedido à Bernadette pela Virgem Maria, que mandou-a cavar a pedra bruta, como forma de comprovar aos céticos a autenticidade de suas aparições. A água límpida que ali nasce é canalizada e disponíbilizada aos visitantes em torneiras para beber, e em diversas piscinas onde são banhados diariamente, em dois horários distintos, os doentes que para ali se dirigem em busca do restabelecimento de sua saúde.

À noite, após o jantar, retornei ao Santuário para assistir a missa das 20 horas e, depois dela, participei emocionado da Procissão das Velas que ali se realiza diariamente às 21 horas, com a participação de religiosos, de visitantes, de doentes e de seus familiares, numa poderosa corrente uníssona de oração e demonstração de fervor nos pleitos que ali são invocados.

Descendo desde o Cebreiro, após forte nevasca.

RUMO A SANTIAGO, DISTANTE 1.000 QUILÔMETROS

Dia 6 de abril, terça-feira, amanheceu nublado e frio. Isto, porém, não abalou meu ânimo, e após um breve desjejum, às 07 horas, assisti à missa diária que é celebrada na cripta da Basílica do Rosário. Ao término da cerimônia, desci até a milagrosa Gruta de Massabielle, e ali, às 8 horas, assisti à outra missa, desta vez rezada em italiano. Findo o ato religioso, recebi do padre capelão uma benção especial que somente é concedida aos peregrinos que dali partem, a pé, em direção a outro local sacro. Então, confiante e cheio de fé, dei meu primeiro passo rumo à Santiago de Compostela, distante 1.000 quilômetros dali, em direção ao sul. 

Por falar precariamente a língua francesa e confiar na informação de um morador local, desprezando os mapas que portava, acabei tomando rumo errado, só percebendo o engano depois de caminhar por duas horas e já ter percorrido 13 quilômetros. Por sorte e, com a ajuda de um solícito sitiante, consegui retornar à rota planejada, porém, precisei andar muito para consertar o erro cometido, de forma que os 19 quilômetros planejados para o primeiro dia acabaram se transformando em 26, num percurso estafante, resultado do equívoco cometido, o que foi extremamente desgastante para um início de jornada. Ao final desta etapa, pernoitei em Lestelle-Bethrram.

O dia 7 amanheceu chovendo e assim permaneceu o tempo todo, e isso não permitiu aventuras por trilhas e atalhos viscinais, recomendados no guia que eu levava, que encurtariam, consideravelmente, meu percurso. Resolvi, então, caminhar pelo acostamento de rodovias mais movimentadas, acrescendo na jornada 5 quilômetros, além do planejado para aquela etapa do caminho. À noite, em Arudy, após hospedar-me no único hotel da cidade, comemorei meu aniversário (53 anos), jantando num restaurante, onde brindei com satisfação o inolvidável momento vivido, sorvendo um delicioso vinho francês.

No dia 08 a chuva cessou e, depois de caminhar 20 quilômetros e contornar o Hotel Au Bom Coin, na cidade de Lurbe-St-Christau, deparei-me, comovido e emocionado, com a primeira flecha, símbolo do Caminho de Santiago, indicando que por aquele local passa a Rota iniciada em Arles, na parte mais setentrional da França. Segui em frente, e após percorrer mais 8 quilômetros, cheguei à Sarrance, local que havia programado para dormir. Porém, por azar do destino, o único hotel da cidade encontrava-se em reformas. Sem outra alternativa, caminhei em frente, por mais 9 quilômetros, até a cidade de Bedous, onde pernoitei numa agradável hospedaria. 

Choveu a noite toda, no alto dos morros que circundam a simpática cidade, nevou abundantemente. Assim, na manhã seguinte, caminhei quase sempre sobre a neve, até atingir, após 15 quilômetros, a cidade de Urdos, belíssima estação de esqui, a última povoação francesa antes da fronteira. 

Prossegui, ainda pelo acostamento da rodovia por mais 13 quilômetros numa ascensão lenta, porém contínua, até chegar a um enorme túnel, com extensão de 8.616 metros, que transpassa por debaixo dos Pirineus. Essa magnífica obra de engenharia, recentemente inaugurada, foi construída sob a majestosa cadeia de montanhas que separa a França da Espanha. Todavia, por ali só trafegam veículos, sendo os pedestres obrigados a fazer o percurso pelo cume dessa elevação rochosa.

Desviei, então, à esquerda, e caminhei mais 3 quilômetros por uma colina escarpada, sob ventos enregelantes e muita neve, até atingir Somport, a primeira cidade que encontrei após adentrar às terras espanholas, situada numa altitude de 1.600 metros. Neste local inicia-se o Caminho Aragonês, que corta a Província de Aragon, no sentido longitudinal, até juntar-se ao Caminho Francês, mais especificamente, na cidade de Puente la Reina.

Como era Sexta-feira Santa, feriado nacional, e face à recente nevasca, o local se encontrava tomado por centenas de turistas e o modesto albergue que ali se localiza já estava lotado. Mesmo exausto, não tive alternativa, segui em frente, caminhando por mais 8 quilômetros, agora em rápido descenso, até a cidade de Canfranc Estación, onde me hospedei num Hostal.

No dia seguinte, 10 de abril, caminhei por mais 39 quilômetros, até a cidade de Santa Cruz de la Serós, lá hospedei-me no Hotel Aragon. Ao final da tarde, aluguei um táxi e percorri 12 quilômetros até o alto de uma montanha, onde tive a oportunidade de conhecer o famoso Monastério de San Juan de la Penã, localizado no pico da elevação, cuja obra aproveitou a inclinação de uma enorme rocha, que lhe serve de proteção. 

A peculiar construção, data do século X, se encontra integralmente preservada, e em seu interior estão expostas inúmeras obras artísticas, cuidadosamente restauradas. Tombado desde o século 19 como Monumento Nacional Espanhol, é célebre por seu claustro sem teto, protegido tão somente pela saliência de pedra do abrigo natural, sob o qual foi edificado, e que serviu, também, entre os séculos XI e XIV, de panteão para inúmeros reis aragoneses e navarros que nele se encontram sepultados.

Além de toda a magia e encanto ali reinante, o lugar proporciona aos visitantes uma das vistas mais lindas de todo o Caminho. 

A jornada que se seguiu foi difícil e silenciosa. Depois de caminhar 9 quilômetros e ultrapassar a cidade de Puente la Reina de Jaca, segui, solitário, por mais 21 quilômetros numa região plana, deserta, árida e desprovida de de qualquer tipo de apoio. No final dela, após escalar encrespada ladeira, cheguei à Artieda, cidade construída no topo de uma grande elevação, onde pernoitei num albergue particular, juntamente com outros 7 peregrinos.

No dia seguinte, andei beirando o Embalse (represa) de Yesa, num percurso bastante interessante, mormente pelo agradável e extenso bosque centenário que atravessei antes de chegar à Ruesta. Ao deixar essa cidade, enfrentei uma das etapas mais árduas de todo o Caminho. A trilha sobe de maneira lenta, porém contínua, por uma colina terrivelmente alcantilada, ladeada em toda sua extensão por uma enorme plantação de pinheiros. Como disse Manoel Brasília em seu diário, é hora de colocar a reza em dia, e, assim, ela foi repetida inúmeras vezes.  

Depois de 6 quilômetros de uma subida interminável, cheguei, finalmente, ao topo da arborizada Serra de Peña Musera. A partir dali, iniciei uma descida brusca, sobre um terreno desnudo, pontilhado de rochas irregulares, lisas, algumas móveis. Todo cuidado é pouco, pois o risco de queda ou torcedura é iminente. 

Quase no final da etapa, transitei por uma autêntica calçada romana com mais de 2.000 anos, perfeitamente conservada desde que foi construída, todavia, meus pés já doloridos, sofriam ao pisar sobre as pontiagudas e malfadadas pedras, nela assentadas. Pelo cansaço já acumulado na renhida jornada, não contive o pensamento de que o engenheiro que projetou tão desalinhada obra, deveria ter seu diploma sumariamente cassado.

Finalmente cheguei à Undés de Lerda, uma pequena povoação, onde residem 20 habitantes, inúmeras casas estão abandonadas e em ruínas, o que se assemelha a uma cidade fantasma. Segui em frente e, logo depois, ultrapassei o marco que indica a divisa da Província de Aragon com a de Navarra. Como por encanto a paisagem árida por onde caminhava a alguns dias, cedeu lugar a imensos campos verdes e agriculturáveis, quase sempre, plantações de trigo e cevada. Ao final desta etapa, cheguei à bela e progressista cidade de Sanguesa, onde pernoitei.

 Outro viés interessante aconteceu na etapa seguinte. Após caminhar uns 8 quilômetros, ultrapassei um túnel de 167 metros, escavado na rocha, antiga passagem de trens madeireiros, que me levou para dentro do Parque Nacional de Foz do Lumbier. A trilha segue beirando o rio Irati, cercada por enormes paredões rochosos, num trajeto silencioso, somente quebrado pelo canto das aves que habitam este santuário da natureza. 

Ali vive e procria uma grande colônia de águias dos pireneus, e inúmeros outros pássaros que se aproveitam daquele local privilegiado para fazer sua moradia e, na época própria, nidificar. Após caminhar por aproximadamente dois quilômetros, por dentro do desfiladeiro, deixei aquele paraíso ecológico, ultrapassando outro túnel escavado na rocha, este com a extensão de 206 metros. Foi, sem dúvida, um dos cenários mais maravilhosos e emblemáticos que conheci ao longo de minha jornada. Ao término desta etapa, pernoitei em Monreal.

No dia seguinte, cumpri a última etapa na rota aragonesa, e quase no final dela, ultrapassei a magnífica Ermita de Eunate, sem dúvida, um dos pontos mais místicos de toda Rota. Após uma visita demorada àquela belíssima relíquia templária, segui em frente e, logo depois chegava a Puente la Reina, onde todos os caminhos se encontram e se tornam único, cidade onde, também, havia pernoitado em 2001. A partir dali pude caminhar com tranquilidade, pois já conhecia as etapas subsequentes.

Entretanto, foi emocionante reencontrar em Logroño a casa de Dona Felisa e receber um “sello” em minha credencial, aposto por sua neta Patrícia. Lamentavelmente, aquela anfitriã se foi para um outro plano espiritual e, digo pelos meus sentimentos, toda a magia e o misticismo que antes ali existiam, praticamente desapareceram após a morte daquela abnegada senhora que aguardava diariamente os peregrinos. Na sequência, foi gratificante congraçar com a “brasileiríssima” hospitaleira Ester, no albergue de Nájera, e com o Rusti, em Castrojeriz. Em Calzadilla de la Cueza, pude conhecer o Acácio e a Orieta, que desenvolvem, naquele local, um trabalho magnífico em prol dos peregrinos, e onde nós brasileiros nos sentimos em casa. Foi, igualmente, edificante poder abraçar novamente, dentre outros, a Laura e o Lobo em Mansila de las Mulas, o Tomás no Manjarim e o Jesus Jato em Villafranca del Bierzo.

Em Palas de Rei, estando distante apenas 76 quilômetros de Santiago, comecei a sentir um estranho vazio interior, pois breve acabariam o cansaço de dias seguidos, além do desconforto de caminhar sob o sol e a chuva, e de vestir as mesmas amarrotadas roupas todos os dias. No entanto, encerrar-se-iam, também, a despreocupação, o alheamento à realidade do mundo e aos acontecimentos rotineiros da vida comum. Daí a angústia, já era a saudade do Caminho, daquela sucessão de boas e más, porém, sempre novas experiências.

Finalmente, dia 07 de maio, após 32 dias, ininterruptos, de jornada, aportei em Santiago e, após cumprir as formalidades de praxe, como tocar o Pórtico da Glória, bater a cabeça por três vezes na estátua do mestre Mateo, abraçar Santiago, visitar seu túmulo, pude, finalmente, ultrapassar a Porta Santa, um sonho palpitante para todos os peregrinos que demandam àquele Santuário neste Ano Santo de 2004.

Não menos emocionante foi a missa do peregrino no sábado, dia 08, em cuja cerimônia, eu e os demais peregrinos que haviam recebido sua Compostela até às 11 horas daquele dia, fomos homenageados. Para finalizar, um espetáculo único: assistir aos tiraboleiros municiarem o enorme recipiente metálico com o tradicional incenso e, depois, fazerem voar o Botafumeiro gigante, dependurado numa enorme corda, de quadrante a quadrante, na nave central da Catedral de Compostela.

Para encerrar com “chave de ouro” a jornada, no domingo, dia 09, fui à Finisterre e, de maneira simbólica, para exorcizar os últimos resquícios de energia negativa acumulada em meu ser, queimei todas roupas que utilizei durante a caminhada, num ritual simples, todavia, tocante para mim. E no dia seguinte, retornei ao Brasil.

 Em termos numéricos, caminhei, por volta de 1.000 quilômetros, assim distribuídos: 120 em território francês, 180 na Rota Aragonesa e 700 no Caminho Francês.

Numa avaliação pessoal, diria que, nesse retorno, senti o Caminho mais leve, mais suave, menos cansativo. Já calejado pela experiência de 2.001 e sabendo, de antemão, a partir de Puente la Reina, a direção das flechas amarelas, pude caminhar com calma e sem preocupação, revendo, com outros olhos, a paisagem ao meu redor, desfrutando, em toda sua magnitude, o rico acervo cultural e a deslumbrante beleza natural que a Rota Jacobeia nos propicia. 

Com a Orieta e o Acácio, em Calzadilla.

IMPRESSÕES PESSOAIS

A Espanha, como toda a Europa, vive um surto de franco desenvolvimento. Em praticamente todas as cidades e povoações por onde passei, pude observar uma atividade febril, reformas de prédios e edificação de novas habitações são vistas em meio a inúmeros tapumes e enormes canteiros de obras. Em vários locais, visualizei rodovias em construção, outras sendo pavimentadas ou duplicadas.

Muitas dessas obras estão sendo financiadas com recursos da Comunidade Econômica Europeia, pude comprovar isso, em placas de propaganda afixadas ao longo de todo o trecho, sinal de que o Euro está sendo melhor distribuído entre os países membros dessa seleta plêiade.

 Por conta dessa vigorosa expansão no setor de serviços, em diversos locais o Caminho original foi interrompido ou seccionado, obrigando os caminhantes a transitar por desvios e, não raro, realizar verdadeiros malabarismos físicos, para vencer os obstáculos impostos pelos novos roteiros traçados. Infelizmente, para nós peregrinos, este é o preço do progresso.

Em compensação, observei, também, que o trajeto todo está muito melhor sinalizado, com as flechas amarelas revitalizadas e tracejadas em profusão. Quanto aos alojamentos, constatei com agradável surpresa, que em muitas cidades, surgiram albergues novos, outros foram reformulados e modernizados, oferecendo um ambiente acolhedor, com hospitaleiros simpáticos e atenciosos, de modo a proporcionar um acolhimento digno e confortável aos peregrinos.

Desnecessário dizer que o Caminho fervilha, borbulhante e atribulado, mormente em seu trecho final. Marchei tranquilo até Burgos, porém, a partir daí notei um incremento expressivo no número de caminhantes que ganhou, ainda, maior ênfase após a cidade de Leon. No entanto, a partir do Cebreiro e mais, especificamente, depois de Sarria, ficou impossível caminhar, sem, praticamente, tropeçar nas pessoas, tamanha a afluência de grupos com carros de apoio, jovens escolares em férias e, na maior algazarra, além de inúmeros aventureiros que encontrei nessa etapa derradeira.  

Assim, com essa população toda em movimento, os albergues estavam, compreensivelmente, superlotados e o trajeto tornou-se, infelizmente, para os peregrinos autênticos, confuso, barulhento e disputado, desaparecendo, por conta disso, todo o silêncio, a camaradagem, a introspecção e a confraternização que vivenciei nos primeiros dias de minha aventura.

 

No Caminho Aragonês, próximo de Monreal.

FINAL 

De minha parte, voltei com uma sensação de tarefa cumprida e uma elevação espiritual profunda pela doação, muitas vezes sobre-humana, um desapego às coisas materiais, pelo sacrifício enorme dispendido durante a jornada. 

Por isso, ao término da jornada, foi impossível não adentrar à magnificente Catedral de Compostela com a alma em júbilo, coração opresso e descompassado, e reter o choro, longamente adiado, sem vertê-lo copioso no momento sublime de abraçar o busto do Santo Apóstolo, ao término da peregrinação. 

Porque, peregrinar, além de se caminhar em direção a um lugar sagrado, é, verdadeiramente, ir ao encontro de Deus e com ele dialogar, abrindo-se, sem temores, e com franqueza. Concomitantemente, é um bom momento para se exercitar a comunhão com o amor fraterno, com a bondade e a felicidade que estão sempre tão perto e, ao alcance de nós, mas que nem sempre a compreendemos.

Finalmente, em Santiago!!

Somente quem participa e compartilha dessa experiência, pode aquilatar o grande significado do Caminho, que se reflete depois em nosso cotidiano. Ele enleva e enlaça a todos, sublima nossas mazelas mais profundas, e se instala no coração do caminhante, quando se está só, diante daquela imensidão, numa terra alheia, longe dos amigos e familiares queridos.

Por isso mesmo, a Rota Jacobeia é uma experiência única que torna a pessoa diferente e só pode ser sentida por aqueles que a realizam.

Assim, se você se sentiu atraído e deseja comungar com essa minha aventura, não hesite: vá em frente, pois Santiago lhe aguarda!

Bom Caminho a todos!

Junho/2004