25ª Jornada

25ª Jornada - Laza a Xunqueira de Ambia – 34 quilômetros – “Bar de las Conchas!”:

Acordei como de costume às 6 h. 

Para minha decepção, a chuva voltara e lá fora caía forte borrasca. 

Vagarosamente, os demais também se levantaram, de forma que tomamos o desjejum quase comunitariamente.

Às 7 h 30 min, quando a chuva finalmente amainou, parti sozinho, debaixo de leve garoa. 

Os primeiros 3 quilômetros são feitos em asfalto, pela rodovia local 113, até Soutelo Verde, um “pueblo” pequeno e deserto.

Já era dia claro, a garoa havia cessado, mas, as nuvens continuavam baixas e carregadas.

Passei ao lado da igrejinha local e depois prossegui entre vinhedos, mas, em breve retornava ao asfalto e por ele alcancei, após, mais 3 quilômetros, a vila de Tamicelas.

A partir dali inicia-se forte e íngreme subida, sobre pedras polidas e escorregadias. 

A chuvinha persistia, de forma que precisei manter firme concentração, posto que a altitude inicial é de 400 m, e após 3 quilômetros de dificultosa ascensão, atinge 1.000 m de altura.

Sem dúvida, um dos grandes “obstáculos” a ser superado nessa Rota. 

Contudo, a visão que se descortinava lá do topo era realmente espetacular, o que compensa todo o esforço despendido.

À propósito, existem peregrinos que preferem vencer este portentoso desafio, subindo pelo asfalto, porém, alguns consideram esta opção mais difícil que o roteiro tradicional, além de exceder em quase 4 quilômetros o caminho de terra. 

Existem, ainda, estatísticas de que pela “carretera” há que se sobrepujar 67 curvas, algumas delas com grande inclinação em seu traçado.

Às 10 h, 12 quilômetros superados, cheguei em Albergueria, simpática cidadezinha de casas toscas e silenciosas. 

Parei no “Bar das Conchas”, realmente um local rústico, místico e imperdível.

A parte interior resulta curiosa, posto que é integralmente revestida de lambris de madeira talhada e suas paredes e teto estão tomadas por milhares de vieiras, onde encontram-se gravados nomes e datas, lembrança de peregrinos que por ali transitaram, legando a este pequeno recanto um ambiente tipicamente “jacobeo”.

O Sr. Luiz, o proprietário, foi extremamente simpático e atencioso comigo e, por certo, com todos os visitantes.

Prontamente, me cedeu uma concha que autografei e, em seguida, como num ritual, fixou-a na parede do estabelecimento. 

Acredito que ficará lá para sempre, como testemunha de minha passagem por aquele local.

Depois de tomar saboroso café e comer algumas bolachas, prossegui por estradas rurais, em meio a muito verde. 

Pouco à frente, no topo do monte Talarinho, cruzei uma grande cruz de madeira, a famosa “Cruz de los Segadores”.

A partir daquele ponto o caminho entra em grande descenso e por ele atingi, às 12 h, Vilar de Barrio que, comparando com as demais desta etapa, é uma vila de razoável porte. 

Na entrada dessa povoação, do lado direito, vale a pena fotografar um esplêndido conjunto de hórreos, integralmente preservados.

A chuva apertou e resolvi não fazer mais paradas. 

Assim, prossegui em frente, primeiramente por asfalto até Bóveda e Vilar de Gomareite.

Depois, por planas, retas e monótonas estradas de terra, sempre em meio a muito verde, numa zona boscosa onde abundam os grandes carvalhos.

Na verdade, caminha-se sobre a laguna seca de Antela que, segundo os historiadores, foi no passado, a maior superfície de água doce de toda a Península Ibérica.

Nessa marcha, passei por Bobadela, Pedroso e Cima de Villa, pequeníssimos “pueblos” que não oferecem nenhum tipo de serviço.

   

 Albergue de Peregrinos de Xunqueira de Ambia

Finalmente, às 14 h 30 min, cheguei ao Albergue de Peregrinos de Xunqueira de Ambia, situado no Pavilhão Polidesportivo da cidade. 

No entanto, precisei caminhar mais 1.000 m, até a urbe, mais especificamente, até o bar Retiro, onde apanhei as chaves com a proprietária, Sra. Marina.

Uma hora depois, enquanto me banhava, chegou o Francisco e, mais tarde, Miquelle e Olaf.

O albergue necessita de manutenção, contudo, é espaçoso e confortável. 

Por volta das 17 h, na grande e funcional cozinha do prédio, improvisamos um lanche comunitário, onde discutimos as peripécias do dia e planos para a jornada seguinte.

Em seguida, fomos todos ao “pueblo” fazer compras e navegar na Internet.

Na cidade, cujo nome evoca a aparição de Nossa Senhora da Assunção, num juncal, há o famoso e belíssimo Monastério de Santa Maria la Real, do ano de 1.164, construído em estilo românico, que possui um harmonioso claustro em estilo tardogótico, uma visita indispensável para os caminhantes.

Por sinal, até o final do século XIX, esta povoação chegou a contar com um hospital de peregrinos que podia abrigar mais de 100 pessoas e era parada obrigatória aos que se dirigiam à Santiago, em face da hospitalidade ali dispensada.

À noite retornamos os quatro novamente à simpática povoação, desta vez para jantar no café-bar “Saboriño” (8 Euros).   

Na volta ao albergue, uma surpresa agradável: além do silêncio reinante, o céu se mostrava límpido e integralmente coalhado de estrelas. 

No entanto, fazia um frio “de rachar”, com a temperatura exterior beirando a marca de zero grau.

Resumo: Tempo gasto: 7 h – Sinalização: Normal  - Clima: Tempo chuvoso, com temperatura variando entre 3 e 12 graus.

 

Impressão pessoal: Uma etapa sem grandes dificuldades, a não ser pela íngreme encosta a ser vencida após a cidade de Tamicelas. Em compensação, o Bar das Conchas, em Albergueria, é imperdível e faz a diferença nesse percurso.