11ª etapa – ALAGÓN à GALLUR – 23 quilômetros

11ª etapa – ALAGÓN à GALLUR – 23 quilômetros

Se você acredita que pode, você pode!

Pronto para mais uma jornada...

A etapa não seria longa, além de ser toda plana.

Contudo, era um sábado, dia de São Jorge, padroeiro de Aragón e, por conta disso, o comércio, se abrisse, com certeza fecharia mais cedo.

Assim, como forma de agilizar meu aporte ao local de destino, deixei o local de pernoite às 6 h 45 min, seguindo pela “Calle Mayor”, em direção à saída da cidade.

A primeira flecha amarela do dia, pintada num poste, à direita. Grande alegria!

Logo avistei a primeira flecha amarela, então, girei à esquerda e segui por um caminho de terra socada.

O dia amanhecia rapidamente e o sol já ameaça apontar a minha retaguarda.

Mais um dia amanhece no Caminho...

Mais adiantei, por um viaduto, eu atravessei sob as vias férreas e, logo em seguida, sob a Autovia Nacional.

Mais um dia, de sol e alegria!

Então, girei à esquerda e prossegui por uma rodovia vicinal asfaltada.

No caminho, em direção à Cabañas de Ebro.

O sol logo deu as caras e pude observar a existência de uma grande área verde à minha direita, plena de árvores, algo raro no caminho, porém isto acontecia porque eu estava me aproximando novamente das cercanias do rio Ebro.

Adentrando à cidade de Cabañas de Ebro.

Vencidos 5 quilômetros em ritmo uniforme, adentrei a zona urbana de Cabanãs de Ebro, uma minúscula povoação, onde vivem 540 pessoas.

Fundada na era romana, ainda é possível ver alguns pilares, na verdade, o que restou de seu importante porto fluvial.

Igreja matriz da cidade.

Eu passei ao lado de sua igreja matriz, cujo padroeiro é Santo Ildefonso, mas logo, por uma larga avenida, contendo calçada lateral, eu deixei a simpática vila.

Dali eu tinha uma visão privilegiada da imensidão do rio Ebro, que nesse local faz um grande meandro.

O fabuloso rio Ebro... que banha a localidade.

Passei, também, ao lado de um grande dique de contenção, que visa proteger a povoação das cheias do Ebro.

Retorno aos campos bucólicos e arejados.

Prosseguindo, logo voltei a caminhar em verdes campos, num trajeto arejado e agradável.

Apesar do sol brilhar com força, a temperatura se mantinha num patamar aprazível, algo em torno de 15 graus.

Caminho com sol e sem sombras.

O trajeto prosseguiu plano, mas logo passei a sentir uma brisa fria e constante no rosto, proveniente de um morro que eu avistava ao longe e à esquerda, com o cume ainda coberto de neve.

Apesar de minha curiosidade latente, acabei me esquecendo de perguntar sobre seu nome e localização.

Quase chegando à cidade de Alcalá de Ebro.

Vencidos mais 4 quilômetros, adentrei em Alcalá de Ebro, outra pequena vila, onde residem 270 almas.

Entrada da cidade.

Sua origem provém do árabe Al Calat (O Castelo), cujas ruínas pude fotografar na saída da povoação, junto ao traçado do caminho.

Igreja matriz de Alcalá del Ebro.

Eu passei diante da igreja matriz, cuja padroeira é a Santíssima Trindade, depois, já deixando a cidade, topei com um monumento dedicado a Sancho Pança, ali fincado em louvor às referências desse lugar, que expressa este personagem na segunda parte do livro de Cervantes.

A estátua de Sancho Pança;

Sancho Pança foi governador da Isla Barataria, localizada próxima de Alcalá de Ebro.

A história...

O autor de Dom Quixote a denominou de Ínsula, porque durante as cheias do rio Ebro, a localidade se convertia numa autêntica ilha.

Ruínas do Castelo árabe (século XII).

Já deixando a povoação, passei ao lado de outro grande dique de contenção, que visa à segurança dessa cidade, durante as cheias do rio.

No caminho, em direção à cidade de Luceni.

Prosseguindo, novamente o trajeto se mostrou plano e agradável.

Piso molhado, em face das chuvas recentes.

E eu pude curtir intensamente os momentos ali vivenciados, porque nesse trecho também não avistei vivalma e nem fui ultrapassado por veículos.

O silêncio do entorno só era quebrado pela presença de uma forte brisa, que deixava o ambiente gelado e tentava adentrar em minha indumentária.

Estrada deserta e silenciosa.

Lentamente eu fui derivando para a esquerda e me aproximando das vias férreas, mas ainda por caminho em terra, bastante molhado em face das chuvas recentes.

E mais 4 quilômetros percorridos, passei por Luceni, um povoado maior que os dois anteriores, pois nela residem mais de um milhar de pessoas.

Também situado junto às margens do rio Ebro, tem seus férteis campos irrigados pelo Canal Imperial.

Adentrando à cidade de Luceni.

O topônimo que dá nome a cidade remete a Roma, ao seu Imperador Lucius ou Lucianus, de cuja época foram encontradas algumas moedas em escavações feitas na vila.

Uma das poucas atrações desse lugar é a igreja da Virgem da Candelária, uma construção do século XIII, porém ela está erigida longe do local por onde discorre o Caminho, por isso não consegui fotografá-la.

"... fonte de pedra, com seis canos..."

Eu transitei pela Plaza de Espanha, onde vi uma charmosa fonte de pedra, alimentada por seis canos de água, tendo ao seu redor árvores e bancos.

Deixei a cidade e logo acessei uma rodovia vicinal, que me levou até Gallur.

No caminho, em direção à cidade de Gallur.

Foram 9 quilômetros de duro piso asfáltico, sobre um traçado milenar, por onde, em tempos de outrora, discorria o Caminho Real que, como tantas outras rotas antigas, acabou submergindo sob o alcatrão.

O que não impede que esse tramo prossiga sendo tão histórico quanto já foi.

Para variar, nesse trecho, por sua planura, também fui vítima do vento frio que afrontava de frente, em grande velocidade.

Acostamento inexistente, mas, paisagens belíssimas.

Eu teimosamente prossegui adiante, lutando contra suas lufadas, que funcionavam como freios, já que me obrigavam a andar curvado, para ganhar aerodinâmica.

Era difícil até ouvir meus próprios pensamentos.

Por sorte, o trânsito era quase nulo e logo o vento mudou de direção.

Entorno fantástico, apesar do vento constante e frio.

Assim, pude seguir mais tranquilo, pelo minúsculo acostamento da estrada, no sentido inverso ao tráfego de veículos.

Para passar o tempo, segui observando atentamente belíssimo entorno, enquanto ouvia música proveniente de meu rádio portátil.

Quase chegando... Gallur já está a vista!

O céu se mantinha azul, o sol morno e a quietude concorreram para que eu sobrepujasse esse trecho sem maiores problemas.

Adentrando à zona urbana de Gallur.

E no final, após ultrapassar uma rotatória, adentrei em zona urbana e logo cheguei ao centro da povoação.

Ali tomei informações com um policial e logo chegava ao Hotel e Restaurante El Colono, onde havia feito reserva.

Despendi salgados 36 Euros por um quarto individual, valor bem acima do que desembolsara nos pernoites anteriores.

Informações sobre a cidade.

Ocorre que ele é o único estabelecimento do gênero na cidade, assim, cobra o quanto entende justo e os incomodados que se retirem.

Para almoçar, utilizei o restaurante existente no térreo do edifício, onde paguei 12 Euros pelo “menu del dia”.

Como já esperava, a grande maioria do comércio local estava fechado, mas, por sorte, encontrei uma padaria ainda aberta e pude adquirir água, chocolate e lanche para a jornada seguinte.

O prédio do Ayuntamiento de Gallur.

Importante ícone do Caminho, a vila de Gallur está localizada junto à união dos rios Barba e Ebro, tendo o Canal Imperial como rua da localidade.

Sua origem não é muçulmana e nem romana, e sim de procedência gálica, derivando seu nome de Pagus Gallorum.

Construída junto à calçada romana do Ebro, sua vida transcorreu sem maiores atropelos entre a mudança da nova Era e o século IV d.C, não existindo indícios de destruição ou abandono em suas edificações.

Nessa cidade, combateram em defesa da fé cristã os mártires São Baco e São Jaceto, que morreram durante a perseguição de Diocleciano.

Igreja matriz da cidade.

Sua igreja matriz, dedicada a São Pedro, do século XVIII, foi construída ao lado do antigo castelo de Alfonso I, do século XII

População atual: 2.800 habitantes

Mais tarde, após breve descanso, fui dar um giro pela pequeníssima cidade.

Subindo as escadarias....

Primeiramente, subi umas escadarias e fui visitar a igreja matriz da cidade, cujo padreira é São Pedro.

Mas, como as anteriores, apenas pelo lado externo, vez que ela se encontrava fechada.

Fabulosa vista do rio Ebro.

Do seu átrio, eu tinha uma vista privilegiada do entorno e do local por onde transitaria na manhã seguinte.

Culturas situadas no vale fértil do rio Ebro.

Dali, podia vez o curso do rio Ebro, bem como dos imensos campos agriculturados existentes no fértil vale por onde esse discorre.

Ponte para pedestres sobre o Canal Imperial. Ao fundo, a igreja matriz da cidade.

Depois fui conhecer e fotografar o Canal Imperial de Aragón, que corta a cidade ao meio.

Vista do Canal Imperial, que divide a cidade.

Trata-se de uma das obras hidráulicas mais importantes da Europa, com a extensão de 110 quilômetros, construído de 1776 a 1790, ligando Fontellas (Navarra) a Fuentes de Ebro (Zaragoza).

Vista do lado oposto do Canal Imperial, que divide Gallur.

Sua implementação tinha por objetivo melhorar a capacidade da antiga Acequia de Aragón, levando água do rio Ebro à região, bem como estabelecer um serviço de transporte de viajantes e mercadorias entre as cidades de Tudela e Zaragoza.

Vista do telhado da igreja matriz, com inúmeros ninhos de cegonhas.. Quantos são, afinal?

Da janela do meu quarto no hotel, eu detinha uma visão privilegiada da igreja matriz e pude contar em seu telhado, na parte que podia visualizar, mais de 20 ninhos de cegonha, e havia outros mais em construção.

Sinal de que o entorno oferece farta alimentação a essas aves e seus filhotes, que em breve eclodiriam.

No quarto, estudando o mapa da etapa sequente, que seria longa e complicada.

À noite, como de hábito, ingeri um lanche no quarto, enquanto estudava meus registros quanto a etapa sequente.

E logo fui dormir, porque no dia seguinte teria uma longa jornada a sobrepujar.

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