2 - PARAISÓPOLIS à LUMINOSA

2 - PARAISÓPOLIS à LUMINOSA - 25 quilômetros 

               Como de praxe, levantei às 5 h, tomei banho, fiz alongamentos e às 5 h 30 min, cumprindo o combinado com o pessoal da pousada, fui tomar o café da manhã.

         Bem alimentado, despedi-me da Vanessa, a funcionária que preparou a mesa para meu desjejum e, tranquilamente, deixei o local de pernoite às 6 h 20 min, quando o dia principiava a nascer.

            O clima se apresentava frio, ventoso e seco, mas eu estava bem agasalhado.

  Assim, saí e segui por ruas tortuosas e bem sinalizadas pelas flechas amarelas, em pronunciado descenso.

            Já no plano, ao lado da padaria JK Lanches, eu entrei à direita e acessei a Avenida Egídio Dias de Carvalho e nela prossegui por três quilômetros, agora em piso asfáltico.

         Num local bastante arborizado, eu acabei por encontrar em sentido perpendicular a rodovia que liga Paraisópolis a São Bento do Sapucaí e, obedecendo à sinalização, girei à esquerda, e prossegui caminhando.

           Logo adiante, por uma moderna ponte eu transpus o rio Sapucaí-Mirim e, depois de ter percorrido mais um quilômetro, se tanto, entrei à direita, em larga e sombreada estrada de terra, e prossegui em direção ao bairro de Áreas.

            Que, curiosamente, tem uma parte de sua superfície pertencente ao Estado de Minas Gerais e outra ao de São Paulo.

            Trinta minutos depois, eu passei defronte à entrada da pousada Casa da Fazenda, localizada nas faldas de uma grande montanha, um local de encantadora beleza.

          O roteiro prosseguiu plano e serpeante, sempre em meio a imensas propriedades rurais, onde a única atividade econômica praticada é a criação de gado leiteiro.

          Às 8 h, depois de já ter percorrido 9 quilômetros, eu saí num grande trevo e, prossegui à esquerda, ainda em terras mineiras.

Na sequência, eu contornei um outeiro onde avistei uma singela igrejinha pintada em cor verde, cujo padroeiro é São Benedito.

           Segui, então, em meio a grandes pastagens e quinhentos metros depois, já em terras paulistas, passei por um local onde existe um grupo escolar e um posto de saúde, ambos de responsabilidade do município de São Bento do Sapucaí/SP.

           Um pouco mais abaixo, visualizei uma fonte de água canalizada, bem como avistei uma graciosa gruta construída em pedra e, em seu nicho, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.

            Enquanto fazia uma pausa para molhar o rosto e o cabelo, pois o sol já principiava a incomodar, aproveitei para externar preces de proteção à Mãe Maior.

            Depois, iniciou-se pequeno declive e logo passei defronte uma grande fazenda que se dedica à criação de peixes.

         

            Pude contar ali vários reservatórios de água, todos de igual dimensão, onde são colocados os alevinos quando nascem e, depois, ao crescerem, sucessivamente, vão mudando de tanque.

         Diante dessa grande herdade havia um chiqueirão de porcos e, curioso, pus-me a observar alguns desses animais, que logo correram em minha direção, certamente, em face do horário, pensando que eu viera alimentá-los.

           Mais adiante, a paisagem se fez deslumbrante e pude visualizar no topo de um morro, um imponente casarão, cuja construção remonta à época áurea do café, sede da Fazenda da Pedra Branca, propriedade atualmente da família Goulart.

           Já chegando próximo a um rio, avistei um lugar denominado de “Estreito”, em cuja área está situado o “Caminho do Apertado”, onde existem ruínas de uma calçada de pedra construída por escravos, mais ou menos no ano de 1.800.

             O local é de difícil acesso, de forma que apenas fiz uma pausa para fotos e hidratação junto à porteira que dá admissão a esse sítio e depois segui adiante.

             Prossegui em descenso e no ponto de menor altimetria dessa jornada, depois de 12 quilômetros percorridos, eu atravessei uma ponte e principiei a escalar a serra do Cantagalo.

          Trezentos metros acima eu avistei uma placa indicando a entrada para uma cachoeira, contudo, apesar de ouvir o inconfundível som da queda d’água, não consegui visualizá-la, posto que a vegetação que a cercava era abundante e de expressivo tamanho.

            O percurso se tornou difícil e extremamente íngreme em determinados trechos, porém, com persistência e obstinação fui vencendo os aclives, enquanto, pelo meu lado esquerdo, a beleza da natureza se mostrava em todo o seu esplendor, acalentando minh’alma através da retina atenta às coisas de Deus.

            Já no topo de um grande morro, o percurso tornou-se menos áspero, e eu pude contemplar o ribeirão Cantagalo, que corria no fundo de um grande vale paralelo à estrada, onde suas águas cristalinas vertiam sobre pedras e formavam graciosas cachoeirinhas.

           Mais acima, eu passei diante do sítio Alto das Montanhas e prossegui, ainda em ascenso, até sair num local parasidiaco, pleno de muito verde, com casas simples, porém, todas de pintura recente e com jardins bem cuidados.

           Encontrava-me, então, no bairro do Cantagalo, um local de expressiva beleza, que está situado a 1.200 m de altitude, onde predomina o clima frio, e cuja sede é São Bento do Sapucaí/SP.

            Parei ali no bar do Natanael para comprar água, descansar e conversar um pouco, depois prossegui em frente, pois o sol já principiava a crestar com violência.

           Quase deixando esse simpático povoado, passei diante da pousada Vó Maria, onde se realizava uma confraternização religiosa, com oferecimento de um café da manhã comunitário, servido nos jardins da propriedade.

         Parei para fotografar e o Sr. Rogério, o responsável pelo local, gentilmente veio até a porteira me cumprimentar, dar as boas vindas, e convidar-me para participar da animada reunião, tomar um café, ingerir um pedaço de bolo de fubá, ao qual prontamente agradeci, pois estava bem alimentado.

          Durante o rápido papo que travamos, ele me contou que ali também se hospedavam peregrinos do Caminho da Fé, tanto que naquela manhã partiram dali 8 pessoas cuja meta era pernoitar no bairro Campista, já em Campos de Jordão.

             Foi uma conversa alegre e festiva, mas depois de agradecer por sua amabilidade, eu segui adiante, emocionado pela recepção solidária e amiga dessa gente simples, humilde, desprovida de qualquer luxo e vaidade.

            Ao sair, ainda enfrentei um brusco, mas curto aclive, em meio a uma mata fechada, até aportar em um local plano.

  Ali, depois de já ter caminhado 22 quilômetros, ultrapassei a divisa e adentrei no Estado de Minas Gerais, exatamente num local sinalizado por uma placa a informar que eu estava a 3 quilômetros de minha meta para aquele dia.

          A partir daquele ponto iniciou-se severo descenso, agora em meio a imensas plantações de banana e, logo abaixo, eu avistei Luminosa, uma pequena vila incrustada num imenso vale, todo rodeado por montanhas.

          Assim, fui-me equilibrando como podia, forçando os joelhos e os tendões para não cair ou derrapar, porquanto o declive era deveras assustador, vez que se baixa de 1.300 metros para 900, em pouco mais de 2 quilômetros.

         Finalmente, com os pés em brasa, às 11 h eu cheguei ao meu destino e me hospedei na pousada Nossa Senhora das Candeias, de propriedade de Dona Ditinha, uma senhora extremamente calma, amável e hospitaleira.

          Luminosa, atualmente com 600 habitantes, é um distrito cuja sede, distante 15 quilômetros, é a cidade de Brasópolis/MG, e a principal atividade econômica praticada nessa região, além da pecuária, é a bananicultura.

           Segundo soube por um morador local, há muito tempo atrás aquela área pertencia ao Estado de São Paulo.

 A pequena vila onde eu estava, à época, nominava-se Candeia, por conta da existência naquela região de muitas árvores homônimas, que sob o brilho do luar se tornavam extremamente brilhantes.

           Posteriormente, uma questão sobre o lugar exato da divisa foi encerrada, e o local passou a pertencer ao Estado de Minas Gerais que, utilizando-se de um decreto, alterou o nome para Luminosa.

           Após um merecido e energizante banho frio, pude degustar um autêntico almoço mineiro na própria cozinha da pousada, onde me senti parte da família de Dona Ditinha, pois almocei ao lado de sua mãe e de sua única neta, a Giovana.

           Depois de uma reconfortante soneca, caminhei em direção à imponente torre da igreja matriz, e adentrei na mística igreja dedicada à Nossa Senhora da Candelária, de pintura recente, em belíssima cor salmão.

           Entrei e parei um momento para absorver a atmosfera daquele sacro espaço, simples e aconchegante.

           Vasos de flores ornavam o altar e também alguns nichos onde estavam inseridas imagens de Santos e de Nossa Senhora.

             Com tranquilidade pude respirar a paz que emanava daquele ambiente sagrado, sabendo que poderia contar com a proteção de minha Mãe Maria, no decorrer de minha “viagem”.

             Posteriormente, sentei num banco da praça fronteiriça ao templo, e fiquei observando seus frequentadores, que vivem em minha opinião, num lugar onde tive a nítida sensação de que o tempo parou.

             Era um domingo e muitas pessoas passeavam a cavalo pelas imediações, aliás, esse é o principal meio de locomoção na localidade.

   À propósito, visualizei placas afixadas em postes proibindo a amarração de animais nos logradouros, porquanto existem palanques apropriados para tal finalidade erigidos em “sítios” específicos.

             Um fato, sem dúvida, para quem reside em cidade grande como eu, inusual e curioso ao mesmo tempo.

          Na única rua que corta a cidade, defronte a um bar, “rolava” um som, instalado dentro de uma picape, em alto volume, enquanto jovens locais degustavam um churrasco assado numa churrasqueira móvel, colocada sobre a calçada de pedestres.

          Convidado pelo pessoal, não me fiz de rogado e participei da alegre algazarra, regada a muita cerveja, bebida que realmente não é o meu forte, de forma que ingeri apenas uma latinha da autêntica “loira gelada”.

          Mais tarde, após esmoer um singelo lanche preparado por Dona Ditinha a meu pedido, composto de pão e salada apenas, fui até a igreja assistir à “celebração da palavra”, que se iniciou, pontualmente, às 19 h.

            E logo depois me recolhi, posto que estava preocupado com as dificuldades advindas do percurso seguinte: um autêntico “rompepiernas” em direção ao cume de vários morros.

3 - LUMINOSA à CAMPISTA