FINAL

FINAL

“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”. (Dalai Lama)

Marco inicial do CPI, em Viseu/Portugal.

A TAL ZONA DE CONFORTO

“Como é bela uma asa em pleno voo… Uma vela em alto-mar… Sua vida toda ela! – está contida entre o partir e o chegar…” (Mário Quintana)

E se tudo der errado? E se não for o que eu esperava? E se? E se?

Quantas vezes sonhamos com aquele objetivo de fazer algo que inclui sair da tal zona de conforto e nos deparamos com o “E se”.

Logo após pensarmos no “E se” vem o medo, a angústia e a frustração.

Muitas vezes até passamos a fase do “E se” porém nos deparamos com o temor que de enfrentar o novo, de descobrir novos horizontes, de nos jogar por esse mundão.

O medo de deixar para trás tudo que foi conquistado, de modificar a vidinha confortável e previsível, o medo de quebrar o ciclo, o medo de não estar no “Padrão”, porque deixar a tal zona de conforto não só nos assusta, assusta também toda a sociedade, porém deixamos esse medo de lado, pois agora ele passa a virar aflição.

Trecho do Caminho entre Vila Pouca de Daire e Lamego.

O arrependimento por não ter deixado a tal zona de conforto, a agonia por estar vivendo aquela vida, vivenciando aquele ciclo onde tudo é extremamente previsível, essa ansiedade vai nos consumindo, nos consumindo, nos consumindo…..

E então nos deparamos mais uma vez nos questionando sobre o que tenho feito da minha vida.

Eu estou realmente feliz?

Então o sentimento de remorso toma conta.

Essa compunção faz lembrar de nossas escolhas do passado, faz-nos rememorar do “E se”, “o Medo” e a “Angústia”.

Talvez seja tarde demais, afinal você já não é aquele jovem do “E Se”, e se dá conta de que não viveu e sim sobreviveu durante todos esses anos.

E o sentimento de frustração nos invade com furor sem a menor educação e toma conta, assim desabamos, pois o que resta é apenas lamentar não ter vivido sua própria vida.

Mas nunca é tarde para sair da zona de conforto, a hora é agora de procurar o real sentido, buscar o que realmente importa, afinal:

Nós não escolhemos uma vida, nos vivemos uma!” (Frase do filme The Way 2011).

(Otávio Bernardes)

EPÍLOGO

O Caminho Português Interior de Santiago tem como missão dar a conhecer o antigo caminho medieval do interior de Portugal na sua plenitude, contribuindo para a preservação e salvaguarda da memória histórica e cultural da tradição das peregrinações portuguesas a Santiago de Compostela”. (Fonte: www.cpisantiago.pt)

Trecho do CPI entre Vila Pouca de Daire e Lamego.

Foi justamente a vontade de conhecer, de penitenciar, de se aventurar por este mundo, que forjou no ser humano o desejo pelas peregrinações.

O medo tem como um dos subprodutos a adrenalina, e uma viagem instigante proporciona ambos.

Porquanto, peregrinar significa uma ruptura do cotidiano e, ao mesmo tempo, um encontro com nossas expectativas e nossos desejos.

Ao nos perdermos no insólito, como estrangeiros, “estranhos num terra estranha”, talvez busquemos sentidos e significados em nosso próprio passado, na experiência construída a partir do lugar onde nascemos e começamos a entender a vida e suas configurações misteriosas e fascinantes.

Nesse sentido, uma fantasia que, de tão difícil, acalentamos em nosso íntimo como um sonho impossível de se materializar, quando o efetivamos é delicioso e passamos a revivê-lo como se ainda sonhássemos.

E, se esse anseio fosse peregrinar por locais cuja descrição maravilhosa nos vem deslumbrando a imaginação, durante meses ou anos?

Pois, esse devaneio de percorrer um novo Caminho em terras lusitanas, eu vivenciei, com vagar, em etapas pré-determinadas, como criança gulosa que vai lambendo e mordiscando um pedaço de doce, para prolongar o gozo.

Veterano de muitos trajetos, diria com sinceridade, o “CPI” me surpreendeu, positivamente, por sua rudeza, exuberância, beleza e singularidade.

Convém ressaltar, no entanto, que o Caminho Português Interior a Santiago requer alguma capacidade física, pois o traçado está delineado por muitas serras, montes e encostas.

A alegria de mais um aporte à Santiago de Compostela!

Assim, ele é exigente, mas igualmente repleto de beleza natural e monumentos históricos.

Nesse diapasão, diria que foi, com certeza, um dos melhores roteiros que percorri até hoje.

Em consonância, desfrutei paisagens deslumbrantes, conheci pessoas amistosas e hospitaleiras, percorri áreas onde a preservação ambiental é notória, bosques arejados, paisagens bucólicas, superfícies agriculturais, extensos vinhedos, cenários inéditos, caminhos silenciosos, despoluídos e sem violência.

Resumindo, diria que me senti em outro mundo durante os catorze dias, durante os quais transitei por essa inédita vereda.

Nesse contexto, trilhar o Caminho Português Interior evidenciou-se, para mim, como uma experiência instigante, prazerosa e inolvidável.

De se lembrar que o roteiro pode ser uma excelente alternativa para quem já percorreu o Caminho Português Central, hoje, extremamente massificado e pleno de asfalto em seu piso.

Assim, seja como for, independentemente das razões que levam os caminheiros a fazer-se aos trilhos e às estradas, é uma forma barata de conhecer Portugal e a Galícia, constituídos de um legado extremamente diversificado, onde os habitantes possuem muitas histórias para contar.

Porquanto, inerente ao seu objetivo, diria que o CPI privilegia o contato com a natureza e o patrimônio monumental, sobretudo religioso, mas as razões que orientam os turistas (peregrinos ou caminheiros, conforme as circunstâncias) são as mais díspares, neste, como em todos os outros caminhos que se dirigem a Santiago de Compostela.

A Porta Santa, situada dentro da Catedral Compostela, que somente será aberta em 2021!

Bom Caminho a todos!

Junho/2015

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