2º dia: TIMBÓ à POMERODE – 26 quilômetros

2º dia: TIMBÓ à POMERODE – 26 quilômetros

 

“Os verdadeiros viajantes são aqueles que partem por partir.” (Charles Baudelaire)

 

 

“Hoje o dia promete muita aventura, pois a dificuldade é maior que no dia anterior. Nesse 2º dia, com saída de Timbó, você passará por diversos bares e lanchonetes, pontos turísticos e muitas lojas com produtos bem variados. Logo, o circuito estará na área rural onde a lida do homem do campo, a agricultura de subsistência e as paisagens rurais bucólicas com diversas casas centenárias em estilo enxaimel e jardins bem cuidados, será a tônica do dia até o término do percurso. Após os 25 km que fazem parte do circuito de hoje, cruzando a montanha em direção ao Morro Azul com subidas e descidas íngremes você chegará ao Centro de Pomerode, a cidade mais Alemã do Brasil. Bom descanso.” (Extraído do livro guia do roteiro, que é entregue ao caminhante quando da retirada da credencial, em Indaial/SC)

Conforme havia programado, eu me levantei às 4 horas, fiz minhas orações, ingeri meu café da manhã e, às 5 h 45 min, deixei o Timbó Park Hotel, seguindo em direção à Praça da Figueira Thapyoka.

Antes de lá aportar, eu transpus o rio Benedito por uma comprida e larga ponte de concreto, que oferece ao transeunte um belíssimo visual.

Já na praça central, obedecendo a sinalização, eu segui à direita, ultrapassei por uma ponte o rio dos Cedros, e logo adentrei à esquerda na Rua Marechal Deodoro da Fonseca, sendo que nesse trecho tanto mochileiros quanto cicloculturistas percorrem o mesmo trajeto.

Dois quilômetros vencidos sob a feérica iluminação urbana, eu encontrei flechas pintadas num poste, marcando a bifurcação dos caminhos.

As flechas amarelas, que guiam os ciclistas, mandava seguir em frente.

Enquanto que , as flechas brancas orientavam os mochileiros à direita, pela rua Oscar Piske.

Assim, depois de 4 quilômetros vencidos sobre piso asfáltico, finalmente, as setas brancas me remeteram à esquerda, onde acessei uma larga e descendente estrada de terra, que seguiu em direção à Tifa Nardelli, um bairro de Timbó.

Então, com o dia clareando, tudo ficou agradável, pois passei a caminhar em meio a muito verde, por um local arejado e silencioso.

Depois de transitar por esse pequeno lugarejo, prossegui por uma estrada larga e em declive, situada em meio a grande planície, plena de verde, acabando por sair, mais abaixo, na rodovia que liga Timbó a Pomerode.

Observando a sinalização, dobrei à esquerda, e segui caminhando pelo acostamento da estrada que, por sinal, era bastante largo, o que me deu mais tranquilidade e segurança.

Quinhentos metros depois, passei pelo bairro de São Roque, onde existe uma capela do santo homônimo, na qual entrei e fiz uma visita, e constatei que a mesma passa por reformas radicais, e nada existe em seu interior, seja imagem, altar ou bancos.

Prosseguindo, logo fui ultrapassado por dois grandes comboios de “fusca”, que se dirigiam à cidade de Pomerode, onde estava havendo grande “Encontro Estadual” dos fanáticos por esse tipo de automóvel.

Finalmente, depois de 8 quilômetros vencidos, as flechas me remeteram à direita, onde acessei uma agradável e ascendente estrada de terra, que segue em direção ao pico do Morro Azul.

Nele existe um mirante muito visitado, a fim de se contemplar toda a região, por se tratar de um local bastante elevado, e que serve também como plataforma para a prática de voo livre, através de asas deltas e parapentes.

No Caminho em direção à Pomerode, próximo da localidade de Morro Azul, natureza exuberante!

O clima estava nublado, fresco, úmido, e logo iniciou-se uma tênue garoa.

Naquele local, dos dois lados da trilha, havia bananeiras, coqueirais, bromélias, árvores centenárias e pinheiros.

Inúmeras chácaras foram ultrapassadas, algumas com casas centenárias, mas todas sempre com jardins bem cuidados e floreiras nas janelas.

Mais acima, eu dobrei à esquerda, seguindo em direção à Tifa Colley.

Por curiosidade, Tifa quer dizer lugarejo, onde existe uma pequena colônia de descendentes de alemães.

Todas construídas em locais ermos, sempre com regatos a cortarem a propriedade, e que somente são acessadas por um caminho situado entre encostas.

O termo Tifa também é utilizado, ao menos na região sul, para nominar pequenos bairros situados entre vales.

Nesse pique, ainda subindo, passei dois grandes sítios e, na sequência, transitei defronte à Pousada e Pesqueiro Timbó, uma propriedade situada entre muito verde, com grandes tanques de peixes, piscinas e com excelente estrutura para seus clientes.

Prossegui ainda em ascendência e, então, passei a caminhar entre bosques de pinus e eucaliptos, até emergir no topo do morro, a 400 metros de altitude, numa área aberta, de onde eu detinha uma privilegiada visão de toda a região.

De se clarificar, que ali se encontra o ponto de maior altimetria dessa etapa.

Então passei a descender e, às 9 h, 13 quilômetros percorridos, eu desaguei numa estrada em forma de T, defronte ao portão de um grande haras.

Ali, obedecendo às flechas brancas, eu segui à direita, ainda em franco descenso e bem abaixo eu passei diante da igreja evangélica situada no bairro Mulde.

Quinhentos metros depois, eu segui à esquerda, agora em direção à Tifa Morgenland, ainda em meio a muito verde.

A fina garoa não dava trégua, mas como eu estava em constante movimento, não precisei colocar capa de chuva, pois era baixa a absorção de umidade em meus pertences.

Depois de 20 quilômetros caminhados, eu passei diante da Pousada e Restaurante Mundo Antigo, uma boa opção de hospedagem, para aqueles que preferem ficar no campo, ao invés da cidade.

Então, passei a descender rápido, com violência, por uma estrada encascalhada, e nesse momento meus joelhos tinham a responsabilidade de me manter ereto, considerando a mochila e, ainda, suportando os trancos.

Porquanto, todo o peso do corpo recaiu sobre eles, comandados pelos músculos dianteiros das coxas, que se ressentiam pelo trabalho forçado.

Nessa hora, o cajado é essencial!

Mais abaixo, depois de transitar diante de graciosa cachoeira, acabei adentrando em piso asfáltico, num local integralmente plano, já no bairro de Ribeirão Herdt.

Então, passei a caminhar diante de casas bem cuidadas, com jardins floridos, tendo um grande templo luterano ao meu lado direito, que faz parte da IECBL – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.

Mais dois quilômetros vencidos, eu girei à esquerda e transitei por uma grande avenida, já em área urbana.

Mais acima, passei diante do Centro de Eventos da cidade de Pomerode, onde havia uma grande movimentação, por conta do “Encontro Estadual dos Proprietários de Fusca” e, às 12 horas, adentrei ao Hotel Schroeder, onde fiquei hospedado.

Depois de um reconfortante banho, fui almoçar no Restaurante Siedlertal, um dos estabelecimentos locais do gênero, onde se serve a melhor comida alemã no Brasil.

Ali almocei sob o som de uma animada bandinha que “solava” animadas músicas germânicas, vestida em trajes típicos.

Importante ressaltar que eu adentrei em um estabelecimento diferenciado e aconchegante, sendo que o nome Siedlertal significa: “vale do colono imigrante”.

Entre as especialidades da casa, destacam-se pratos tradicionais da culinária alemã, como a Schlachtplatte, Eisbein, além do marreco recheado, regados a um bom chope ou uma legítima cerveja alemã.

 

Até o século XVI, a região do atual município de Pomerode, era território tradicional dos índios carijós.

Com a chegada dos colonizadores portugueses, nesse século, os selvagens foram escravizados ou exterminados.

Desde então, a região permaneceu pouco povoada, até o início da imigração alemã no Brasil, no século XIX.

Foi, então, fundada uma colônia na área, criada em 1861, pelos imigrantes pomeranos, estrategicamente povoada, num local situado entre Blumenau e Joinville.

A localização foi incentivada pelo doutor Hermann Blumenau, para que, assim, se fortalecesse o comércio entre ambas as cidades.

Os lotes de terras foram divididos entre os imigrantes, que se dedicaram à produção de arroz, batata, fumo, mandioca, feijão e à criação de animais.

Com a chegada do século XX, pequenas indústrias se instalaram na região, com destaque para as de porcelana.

A maior parte desses imigrantes alemães veio da histórica região da Pomerânia, de onde se origina o nome do município, situada entre o norte da Alemanha e a Polônia.

Os pomeranos são descendentes de uma mistura de povos germânicos e eslavos e, desde o século XII, quando passaram a fazer parte do Sacro Império Romano-Germânico, sofreram um processo de germanização de seu idioma e costumes.

Quando chegaram ao Brasil, os pomeranos não se identificavam como alemães, pois possuíam características culturais distintas.

Entretanto, com o passar do tempo, acabaram se incluindo entre os bávaros.

Dentre os diversos grupos de alemães que emigraram para o Brasil, os pomeranos formam uma minoria e, por isso, quando aqui chegaram, mesclaram-se com outros grupos germânicos, o que contribuiu para que perdessem sua herança cultural.

Apenas em três estados brasileiros os pomeranos formaram comunidades autônomas, que contribuíram para a manutenção dos seus costumes: em Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo, São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul, e em Pomerode.

Com o fim da II Guerra Mundial, a maior parte da Pomerânia foi anexada à Polônia, e apenas uma pequena parcela ficou com a Alemanha, chamada de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.

Muitos pomeranos se refugiaram na Alemanha Oriental ou emigraram para outros países, perdendo grande parte de seus costumes.

Prova disso é que o Brasil tem mais falantes da antiga língua pomerana do que a própria Alemanha.

No Brasil, a II Guerra Mundial também foi decisiva para a nacionalização dos imigrantes pomeranos.

O ex-presidente Getúlio Vargas, após declarar guerra à Alemanha, proibiu o uso da língua alemã no País, a construção de casas com arquitetura germânica, e as manifestações ligadas à cultura da Alemanha.

Isso afetou Pomerode e todas as demais colônias de nosso país, que passaram a se abrasileirar cada vez mais.

Ao todo, 300 mil brasileiros são descendentes de alemães pomeranos.

 Mais tarde, após um bom descanso, dei uma grande volta pela cidade, aproveitando para observar sua arquitetura, ruas bem cuidadas, muitas flores nos jardins e cruzamentos, ciclovias, enfim, como era um domingo, ela estava bastante movimentada.

Por sorte, encontrei uma padaria aberta, onde pude me prover de víveres para o dia seguinte.

À noite, optei por um singelo lanche, vez que ainda me encontrava empanturrado pelo exagero cometido no almoço quando, por curiosidade ou gula, degustei uma variedade de pratos cujo sabor e composição eu desconhecia.

 

 Em Pomerode, a cidade mais alemã do Brasil, local mágico e místico!

IMPRESSÃO PESSOAL: Novamente, outra etapa de razoável dificuldade física, porém muito bela em seu trecho central, quando da passagem pela serra de Morro Azul. Lembrando que 10 quilômetros dessa jornada são caminhados em piso duro ou asfáltico. No entanto, a cidade de Pomerode, com suas flores e casas em estilo enxaimel, encanta o caminhante por sua beleza e acaba por compensar qualquer intercorrência havida no jornada.