8º dia – LAGOA DOURADA à PRADOS - 24 quilômetros

8º dia – LAGOA DOURADA à PRADOS - 24 quilômetros 

 

O percurso não seria tão longo, nem parecia tão complicado. Embora fosse um domingo e eu quisesse chegar cedo ao meu destino para poder almoçar com calma, havia uma senda perigosa a ser trilhada, logo no início da caminhada. 

E como o dia estava amanhecendo ao redor das 6 h 30 min, resolvi sair mais tarde que os dias anteriores.

Assim, levantei às 5 h, calmamente tomei café no refeitório com minha anfitriã, Dona Aidê, e parti exatamente às 5 h 45 min. 

Ao deixar a pousada, virei à direita, e passei ao lado da igreja matriz de Santo Antônio.

O clima era frio e uma forte cerração cobria toda a cidade, tal qual um imenso manto branco. 

Galos cantavam distante, pontilhando a madrugada de sons e anunciando o dia próximo.

Mais acima, ainda em ascensão, passei próximo da graciosa igreja dedicada ao Bom Jesus e prossegui por uma rua calçada em bloquetes até atingir a rodovia que segue em direção a São João del Rei. 

Nesse local, do lado esquerdo, encontrei o primeiro marco da ER.

Prossegui pelo asfalto mais 500 m e, então, obedecendo a sinalização, entrei à esquerda, acessando uma estradinha de terra ascendente, úmida e bastante pedregosa. 

Era domingo, e havia a sensação de quietude, como se a natureza descansasse. Isto me elevou num bem-estar especial.

No final no outeiro, adentrei em pequeno bosque.

Gostosa a fresca da manhã. 

Um perfume delicioso de flores silvestres e resinas brotando dos troncos intumescidos, pairava no ar, misturado com o pipilar da passarada no alvoroço do amanhecer.

O dia já se apresentava claro quando, depois de 3 quilômetros percorridos, entrei à direita, seguindo por uma trilha bastante estreita e orvalhada.

Ali, uma densa neblina cobria toda a paisagem, deixando o ambiente frio, úmido e translúcido. 

A vereda estava localizada em meio a muito capim, porém seu leito estava limpo. 

Observando o chão, percebia-se nitidamente a marca de pneus de bicicletas que recentemente haviam transitado por aquele caminho.

Também pude constatar sinais de botas, possivelmente pertencentes a algum peregrino, que me antecedera. 

Tudo isto me encheu de confiança e tranquilidade, pois apesar da ausência de marcos sinalizadores nesse trecho, seguia convicto de que estava no rumo certo.

Ao meu redor, persistia um silêncio sepucral, mas eu caminhava confiante e feliz, vez que me sentia um ser privilegiado, por desfrutar daquele momento único. 

Afinal, apenas a exuberante natureza me rodeava e nada se movia no ambiente, contudo eu seguia com fé e Deus no coração. 

E isto me bastava!

Meu relógio marcava, exatamente, 6 h 30 min. Fiz uma pausa, pois o momento era profícuo para uma meditação. 

E orei, com muita fé:

“Abençoa Senhor, meu dia. Ajuda-me a vencer não apenas as montanhas e outros obstáculos físicos que encontrarei ao longo de meu caminho, mas também os meus limites dentro de minha condição humana, tão pequena e frágil. Que possa crescer em conhecimento, dilatando meus limites, tanto na horizontal quanto na vertical. Amém.”

Fui arrancado a esses pensamentos pela lívida luz da madrugada que se fazia dia claro. 

Então, lentamente prossegui em descenso, até desaguar numa grande e pantanosa baixada, plena de barro, árvores, tabocas, ainda envolvida por um espesso nevoeiro.

Por uma perigosa pinguela, transpus manso e extenso regato, e logo à frente deixei o mato, acessando uma larga estrada de terra. 

Duzentos metros depois, numa bifurcação, prossegui à direita por uma estrada bem delineada, situada em meio a muito verde.

O rumo estava bem traçado, porém os marcos não reapareceram, o que me causou um certo desassossego. 

Pois, uma das coisas que mais estressa o peregrino é a possibilidade de se perder, e aquele roteiro, em face de sua solitude, estava me deixando preocupado.

Ainda assim, prossegui confiante, pois não encontrei cruzamentos ou bifurcações que pudessem ocasionar indecisões. 

Finalmente, às 7 h, depois de ter percorrido 8 quilômetros, me deparei com um totem e pude respirar aliviado. 

Aproveitei, então, o local, bastante ermo, para fazer uma pausa, visando descanso e hidratação.

Renovado, prossegui por um caminho ascendente, tendo, à minha esquerda, vastíssima plantação de milho. 

Quinhentos metros depois, no topo do outeiro, contrariando meus prognósticos, fleti à esquerda, e logo encontrei outro marco.

Então, caminhei por uma trilha suja e bastante irregular, localizada dentro de um pasto, à minha direita. 

Mais acima, o mato se acentuou e a senda transformou-se numa estreita vereda, espremida entre 2 cercas de arame farpado.

Salvou-me novamente de dissabores a “dica” recebida do Júlio, um caminhante que me antecedera alguns dias. 

Ele havia vivenciado esse grave entrave, pois seguira pela trilha até o final. 

Contudo, à custa de muito risco, pois o mato alto e muitos espinhos, impediam sua progressão. 

E foi à custa de muito sacrifício e denodo que conseguira superar os obstáculos. 

Porém, somente quando deixava o local, é que encontrara a solução para o problema. 

Dessa maneira, eu estava preparado para superar mais esse entrave.

Atento, assim que o mato principiou a fechar, prontamente saltei a cerca e prossegui caminhando paralelo à divisa, pelo pasto vizinho, que, por sinal, fora recentemente roçado. 

Porém, eu dava passos com extremo cuidado, posto que poderia colocar o pé em algum buraco, ou mesmo, pisar num animal rasteiro venenoso, porquanto o mato, apesar de baixo, poderia esconder surpresas desagradáveis.

Finalmente, depois de aproximadamente 600 m nesse desgastante ramerrão, encontrei o marco subsequente da ER, saltei outra cerca, e saí numa estrada de terra, larga e plana. 

Eu estava realmente tenso e esgotado pelo entrave vivenciado, de forma que fiz uma pausa para me recompor, enquanto aguardava a respiração desacelerar.

Mais calmo e depois de boa hidratação, prossegui adiante e logo fleti à esquerda, seguindo pelo meio de um pasto em direção a uma ponte de madeira, através da qual transpus um límpido e barulhento riozinho.

O trecho subsequente foi mais tranquilo, em meio a muito verde, por local descampado, e depois de 10 quilômetros percorridos, acabei desaguando numa larga estrada de terra. 

Ali, contrariando meus vaticínios relativamente à direção a seguir, a sinalização me remeteu à esquerda, por uma estrada ascendente, ladeada por exuberantes árvores.

E logo, precisei vencer uma empinada ladeira, ainda que de pequena extensão. 

Já no topo, pude visualizar algumas rústicas propriedades à distância. 

Uma delas me chamou vivamente a atenção, porém, face à cerração reinante no ambiente, não pude confirmar se era a famosa Fazenda do Engenho, uma herdade datada do século XVIII, visitada pelo imperador D. Pedro II, algumas vezes.

O roteiro prosseguiu sombreado, solitário e extremante silencioso. 

Não se ouvia ruído de automóveis ou de semoventes. 

Também não encontrei vivalmas nesse trecho, apenas se destacava o canto dos pássaros e o barulho do vento na copa das árvores.

Então, numa grande conjunção de caminhos que encontrei à frente, segui à direita e prossegui solitário, entre muito verde, por uma via larga e levemente ascendente.

Depois de 11 quilômetros percorridos, numa bifurcação, onde havia uma grande palmeira no centro de vistosa ilha verde, fleti à direita, e acessei outro caminho, extremamente agradável, situado em meio a matoso bosque.

Mais à frente, a senda adentrou em uma mata de eucaliptos plantados recentemente, onde havia um mata-burro de madeira e algumas bifurcações irrelevantes. 

Prossegui em frente. 

O sol havia nascido há pouco, e um tronco de árvore caído à beira do caminho se transformou em confortável banco, onde fiz outra pausa para descanso e hidratação.

Aquele local me pareceu uma filial do céu. 

Foi bom ouvir o silêncio, às vezes interrompido pelo vôo de uma abelha, formigas trabalhando sem cessar, com sua pesada carga, cumprindo a sina, pássaros trinando ao derredor, sementes nascendo.

Quanta coisa podemos ver no mundo, se nos dispomos a ir devagar, sem pressa ou horário para chegar.

Pois, as sementes germinando, estão apenas obedecendo uma ordem superior, e isto não seria possível se não houvesse um plano cheio de esperança para o universo. 

É lamentável que a correria e a competição impostas pelo sistema capitalista, venham nos usurpando a sensibilidade de ver tanta beleza. 

Pois, deste outro lado do mundo, ainda há sinais de vida!

E, a absoluta ausência de sons naquele ambiente mágico, combinado com a paz infinita, me fez lembrar excertos de um estro creditado a Jean-Yves Leloup, um sacerdote francês, doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia, sob o título “O Poder do Silêncio”, cujo teor, transcrevo:

“Aprende com o silêncio a ouvir os sons interiores da sua alma, a calar-se nas discussões e assim evitar tragédias e desafetos...

Aprende com o silêncio a aceitar alguns fatos que você provocou, a ser humilde deixando o orgulho gritar lá fora, evitar reclamações vazias e sem sentido...

Aprende com o silêncio a reparar nas coisas mais simples, valorizar o que é belo, ouvir o que faz algum sentido..

Aprende com o silêncio que a solidão não é o pior castigo, existem companhias bem piores... e com o silêncio que a vida é boa, que nós só precisamos olhar para o lado certo, ouvir a música certa, ler o livro certo.

Aprende com o silêncio que tudo tem um ciclo, como as marés que insistem em ir e voltar, os pássaros que migram e voltam ao mesmo lugar, como a Terra que faz a volta completa sobre o seu próprio eixo, complete a sua tarefa.

Aprende com o silêncio a respeitar a sua vida, valorizar o seu dia, enxergar em você as qualidades que você possui, equilibrar os defeitos que você tem e sabe que precisa corrigir e enxergar aqueles que você ainda não descobriu. 

Aprende com o silêncio a relaxar, mesmo no pior trânsito, na maior das cobranças, na briga mais acalorada, na discussão entre familiares...

Aprende com o silêncio a respeitar o seu "eu", a valorizar o ser humano que você é, a respeitar o Templo que é o seu corpo, e o Santuário que é a sua vida.

Aprende hoje com o silêncio, que gritar não traz respeito, que ouvir ainda é melhor que muito falar...

Na natureza tudo acontece com poder e silêncio, com um silêncio poderoso; por vezes, o silêncio confundido com fraqueza, apatia ou indiferença. Pensa-se que a pessoa portadora dessa virtude está impedida de reclamar seus direitos e deve tolerar com passividade todos os abusos.

O Sol nasce e se põe em profunda quietude; move gigantescos sistemas planetários, mas penetra suavemente pela vidraça de uma janela sem a quebrar.

Acredita-se que o silêncio não combina com o poder, pois este tem se confundido com prepotência e violência.

Acaricia as pétalas de uma rosa sem a ferir, e beija as faces de uma criança adormecida sem a acordar; aí uma vez vamos encontrar na natureza lições preciosas a nos dizer que o verdadeiro poder anda de mãos dadas com a quietude.

As estrelas e galáxias descrevem as suas órbitas com estupenda velocidade pelas vias inexploradas do cosmos, mas nunca deram sinal da sua presença pelo mais leve ruído. 

O oxigênio, poderoso mantenedor da vida, penetra em nossos pulmões, circula discreto pelo nosso corpo, e nem lhe notamos a presença.

 A luz, a vida e o espírito, os maiores poderes do universo, atuam com a suavidade de uma aparente ausência.

Como nos domínios da natureza, o verdadeiro poder do homem não consiste em atos de violência física, quando um homem conquista o verdadeiro poder, toda a antiga violência acaba em benevolência. A violência é sinal de fraqueza, a benevolência é indício de poder.

Os grandes mestres sabem ser severos e rigorosos sem renegarem a mais perfeita quietude e benevolência.

Deus, que é o supremo poder, age com tamanha quietude que a maioria dos homens nem percebem a Sua ação. 

Essa poderosa força, na qual todos estamos mergulhados, mantém o Universo em movimento, faz pulsar o coração dos pássaros, dos bandidos e dos homens de bem, na mais perfeita leveza.

Até mesmo a morte, chega de mansinho e, como hábil cirurgiã, rompe os laços que prendem a alma ao corpo, libertando-a do cativeiro físico. 

O verdadeiro poder chega: sem ruído, sem alarde e sem violência.

Sempre que a palavra poder lhe vier à mente, lembre-se do Sol: nasce e se põe em profunda quietude; move gigantescos sistemas planetários, mas penetra suavemente pela vidraça de uma janela e você só sabe pelo calorzinho que ele proporciona.

Acarinha as pétalas de uma flor sem a ferir, beija as faces de uma criança adormecida sem a acordar.

"Bem aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra".

"O êxito ou o fracasso de sua vida não depende de quanta força você põe em uma tentativa, mas da persistência no que fizer."

Boa terra em teus pés, Água o bastante em tua semente, bom Vento para o teu sopro, Fogo em teu coração e muito Amor em teu ser.”

Hora de partir. 

E o fiz, agradecendo: “Obrigado, Senhor, pelos alimentos ingeridos, pela água que sorvi. Obrigado por esta mata, pequena, eu sei, mas que trouxe tantas esperanças. Obrigado pelos anjos que guardam esse local e que tantas energias positivas me passaram. Obrigado, Senhor, pelas montanhas e pelo sol que me ilumina. Amém.”

Prosseguindo, iniciou-se severa descida, culminando por ultrapassar rumorejante ribeirão. Na sequência, encontrei um local verdejante, onde havia uma grande plantação de feijão, a primeira que avistava desde o início de minha aventura. 

O prêmio, naquele extasiante local, era o cenário lindo que podia descortinar à minha frente, onde avistava belas fazendas e campos agrícolas. 

Aqui e acolá, o sol penetrava no meio das árvores, formando poças de um verde brilhante.

Logo adiante, às 9 h, encontrei alguns carros estacionados e numa casa, à direita, apesar do horário extemporâneo, algumas pessoas se confraternizavam bebendo cerveja, enquanto aguardavam farta porção de carne assar numa grande churrasqueira.

Parei para conversar com um dos presentes. 

Ele me afirmou que eu estava no bairro do Rancho Fundo e que todos que ali residiam em Prados e aproveitavam o bucolismo e o silêncio do privilegiado local para festejarem o domingo. 

Ainda, complementou, dizendo que eu estava a 7 quilômetros do perímetro urbano.

Prosseguindo, após cordiais despedidas, sobrepujei íngreme ladeira e no 17º quilômetro, passei defronte a simpática igrejinha de Nossa Senhora das Graças, com pintura vistosa e recente, em azul.

No entremeio seguinte, me impressionou a presença de algumas áreas erodidas e topos de morro sem cobertura vegetal. 

E tal supressão ocorre por conta da intensa pecuária leiteira e pela prática de agricultura de subsistência, que observei nesse trecho específico.

O percurso seguiu alternando pequenos descensos com empinadas ascensões, porém, todas de pequena extensão. 

Assim, às 9 h 30 min, depois de percorrer 18 quilômetros, passei defronte o bar do Grotão, que se localiza numa área protegida e arborizada, próximo de um grande rio, onde visualizei uma graciosa cascata.

A partir dali, enfrentei penosa ladeira, que se estendeu por 2 quilômetros e, à medida que ia vencendo o aclive deixava para trás o insuportável calor. 

A cada volta da estrada sentia no rosto afogueado a carícia do vento fresco descido das alturas. 

E no topo do morro, pude avistar ao longe, no sopé da majestosa serra de São José, a cidade de Prados, perfeitamente delineada no horizonte. 

Mais 2 quilômetros percorridos, passei defronte a entrada da Fazenda Fortaleza e, logo abaixo adentrei em zona urbana. 

Junto ao asfalto encontrei o derradeiro marco da ER, quando meu relógio marcava 10 h da manhã, mas ainda me faltava um bom pedaço de chão para aportar ao local de meu pernoite.

Um morador local a quem inquiri, me orientou a continuar pelo asfalto, seguindo à esquerda, em direção ao centro da cidade. 

Assim, depois de 2 quilômetros percorridos em trecho urbano, encontrei a praça principal da urbe, onde tomei novas informações.

Em seguida, por uma via asfaltada, segui em direção à Tiradentes e depois de mais 1.000 m percorridos, cheguei ao espetacular Apart-Hotel Água Limpa, local em que fiquei hospedado. 

Ali desfrutei de excepcionais instalações, bem como de um café da manhã esplendoroso. 

Além, é claro, de um excelente e cordial papo com seus proprietários, o Sr. Renato e Dona Teresa.

Depois de um revigorante banho, retornei ao centro da urbe para almoçar. 

Contudo, em vista do horário um tanto prematuro para tal mister, posto que ainda não era 12 h. 

Assim, tomei um táxi e fui visitar o distrito de “Bichinho”.

Por ser um domingo, o simpático povoado encontrava-se extremamente movimentado. 

Em meio a alguns casarões antigos, encontrei belas pousadas, bares, casas de aluguel, lojas de artesanatos, ateliês, oficinas e deliciosos doces caseiros.

O bucólico povoado impressiona não só por sua simplicidade, mas, principalmente, pela paz, beleza e tranquilidade do lugar, bem ainda pelo contato direto que se tem com a luxuriante natureza observada em seu derredor.

Dentre outras atrações do local, pude apreciar também, a Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, uma construção iniciada por volta de 1.732, cuja conclusão ocorreu somente em 1.771. 

As torres foram acrescentadas no início do século XX e sua fachada simples não evidencia a riqueza de seu interior, dominado por belíssimas pinturas em estilo rococó. 

A ornamentação pictórica é atribuída a Manoel Victor de Jesus, que soube valorizar, sobretudo, os forros e púlpitos da igreja.

Face o adiantado do horário, resolvi almoçar na simpática vilazinha e a opção não poderia ter sido melhor, pois utilizei os serviços do restaurante “Tempero da Ângela”, que ocupa uma ampla área, cercada por verde e com vista parcial para a Serra de São José. 

O ambiente é rústico, para acompanhar o estilo do distrito em que está localizado, e amplo, sendo que nos fundos da construção há uma horta, de onde provém os legumes e verduras que são servidos à mesa.

Entre os atrativos que o lugar oferece, posso citar a qualidade da comida, a forma de servir (as pessoas têm acesso a todas as partes do ambiente, inclusive à cozinha) e a utilização de produtos orgânicos. 

O estabelecimento serve essencialmente comida mineira caseira e dentre os principais pratos oferecidos, poderia enumerar o feijão tropeiro, lombo e pernil assados, tutu à mineira, frango com quiabo ou ao molho pardo, costelinha com canjiquinha, dentre outros, além, é claro, de saladas diversificadas.

Após a lauta e supimpa refeição, tomei um táxi e retornei ao hotel para uma necessária soneca reparadora.

Mais à tarde, assim que o sol abrandou, retornei ao centro de Prados para um necessário “tour”, visto que o "Presépio de Minas", como é cognominada, evoca não só beleza, mas tradição e poesia, guardadas em suas tortuosas e estreitas ruas. 

Há também um valioso acervo histórico-cultural, composto por monumentos religiosos e civis que remontam à época colonial.

Segundo a história, o povoado que originou a atual cidade surgiu em princípios do séc. XVIII, em decorrência da atividade de mineração desenvolvida naquela área. 

Segundo a tradição, data de 1.704 a fixação na localidade de membros da família Prado, de Taubaté, que iniciaram ali a exploração de ouro.

Com o esgotamento das jazidas auríferas na região, o arraial de Prados buscou uma alternativa econômica na instalação de pequenas indústrias, cujo desenvolvimento transformou a localidade num importante centro mineiro de exploração industrial e artesanal do couro.

Reconhecida como importante núcleo de estudo da música setecentista, com trabalhos sobre os mais expressivos compositores do período colonial, especialmente Manoel Dias de Oliveira, a mocidade dedica-se às variadas atividades da Lira Ceciliana, fundada em 1858. 

A corporação, composta por orquestra, banda, coral e escola de música, realiza anualmente o Festival de Música de Prados, em parceria com a Universidade de São Paulo - USP, numa demonstração viva da importância que a comunidade dá a suas raízes históricas.

Ainda que de maneira rápida, pude visitar a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, uma admirável construção da segunda metade do século XVIII, tombada pelo IPHAN, cuja portada é trabalhada em gnaisse, com volutas, figuras concheadas e decoração fitomorfa. 

No nicho, está a imagem da padroeira.

Em seguida, subi até o alto do Fórum e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, uma belíssima edificação que se destaca na paisagem urbana, por sua cor marcante, bem como pelo seu insólito frontispício.

Depois, prossegui atravessando por ruas históricas, de casario conservado, onde dominam o branco e o azul. 

Na rua Coronel José Manuel, segundo me informou um morador local, existe um casarão que pertenceu a Inácio Pamplona, um dos traidores da conjuração mineira. 

De se lembrar, que Estevão Ribeiro de Resende, O Marquês de Valença, nasceu em Prados, assim como os inconfidentes José de Resende Costa Pai e José de Resende Costa Filho. 

Por sinal, os primeiros passos do movimento da Inconfidência Mineira aconteceram nessa cidade.

À noite optei por ingerir apenas um singelo lanche e logo fui deitar, pois me sentia cansado em virtude das múltiplas emoções vivenciadas naquele dia.

São 21 h... Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador... Obrigado, Senhor, por mais este dia. Amém.

Mal tive tempo de me cobrir, já estava dormindo.

IMPRESSÃO PESSOAL – Percurso agradável, com trânsito por locais belíssimos, silenciosos, ermos e arborizados. A lamentar o trecho situado entre o 7º e 8º quilômetro, onde a trilha está intransponível, por falta de poda da mata marginal e manutenção de seu leito. Se o problema persistir, a solução é imitar aquilo que eu fiz, qual seja, saltar para o terreno lateral, à direita, e prosseguir pelo pasto, paralelo à cerca. No restante do trajeto, o caminhante tem a companhia de belas paisagens de serras, ar puro e estradas de terra largas, dotadas de excelente piso.

09º dia – PRADOS à TIRADENTES – 18 quilômetros