4 – PARAIBUNA a REDENÇÃO DA SERRA – 33 quilômetros

4 – PARAIBUNA a REDENÇÃO DA SERRA – 33 quilômetros

"Você não para de caminhar porque envelhece, você envelhece porque para de caminhar." (Finis Mitchell)

Mais uma vez a jornada seria de grande extensão e com alguns ascensos pontuais a serem superados.

Por sorte, pudemos ingerir um café forte e espesso que o gentil porteiro noturno nos preparou.

Assim, pontualmente, às 5 h deixamos o local de pernoite e retornamos uns 500 metros sobre os passos que déramos no dia anterior.

Então, por uma ponte, ultrapassamos o rio Paraíba do Sul e prosseguimos por bairros periféricos.

Um pouco adiante, por um túnel, passamos sob a Rodovia dos Tamoios, depois acessamos uma via vicinal asfaltada que segue em direção ao bairro de Itapeva.

Estava muito escuro e uma forte cerração cobria o ambiente, porém, com minha lanterna acesa não tivemos obstáculos em encontrar o rumo a seguir.

Ainda estava muito escuro quando transitamos diante dessa placa dos 90 quilômetros vencidos.

Em determinado local, pude fotografar a placa que nos informava que acabáramos de suplantar a marca de 90 quilômetros caminhados.

Nesse trecho inicial, superamos um razoável ascenso, porém, como o clima estava fresco e nós dispostos, não encontramos nenhum entrave nesse trajeto ascendente.

Duas horas mais tarde, vencidos 10 quilômetros, já com o dia claro, transitamos pelo bairro de Itapeva, onde havia grande alarido de crianças, pois havia uma creche infantil em funcionamento, apesar do horário extemporâneo.

Igrejinha existente no bairro de Itapeva.

Ali há bastante comércio, mas a maioria ainda estava fechado.

Quinhentos metros adiante, acabou o asfalto e passamos a caminhar, definitivamente, em terra.

Muita neblina e piso molhado.

Lentamente, estávamos nos acercando da represa de Paraibuna e, por conta disso, a cerração se mostrou espessa nesse trecho.

Prosseguindo, como de praxe nesse roteiro, transitamos entre grandes fazendas de criação de gado.

Em vários locais notamos movimento de pessoas, além de veículos se deslocando em direção à cidade de Paraibuna.

Grandes retões marcam esse trecho.

Mas também transitamos por intermeios silenciosos e ermos, onde o único som provinha do alegre pipilar dos pássaros.

Dois quilômetros adiante, passamos diante da Fazenda Valsugana, produtora de cafés especiais premiados e aberta à visitação pública, que reúne acervo histórico preservado: Casa Sede, Casas de Colonos, Terreiros, Tulha de Café, Capelinha e Museu do Café. 

Transitando diante da Fazenda Valsugana.

Segundo seu site, ela conta com 3 premiações de "Melhor Café Especial" para nosso café torrado e moído Morro Altto e "Melhor Café Premium" para o nosso café Saint Germain em grão.

Prosseguindo, quase na metade da jornada, teve início um forte ascenso, o mais protuberante dessa jornada.

Início do maior ascenso do dia.

Mas o clima persistia frio e úmido, estávamos bem preparados fisicamente e fomos sobrepujando, com folga, os obstáculos.

A umidade gotejava das folhas das árvores e caia sobre a estrada, deixando alguns locais lisos e perigosos.

Nessa hora o cajado se torna um importante e imprescindível aliado.

No topo do morro, sob intensa neblina. Piso molhado e escorregadio.

Depois de vencer o íngreme ascenso, passamos a descender pelo lado oposto do morro.

E o fizemos com o máximo de atenção, pois uma queda espetacular esteve iminente em todo esse trecho.

Nessa bifurcação, o caminho seguiu à esquerda.

Já no plano, numa bifurcação, observando a excelente sinalização, adentramos à esquerda, posto que o caminho da direita nos levaria em direção ao bairro de Alagoa.

Prosseguimos caminhando num planalto, em meio a espesso eucaliptal e logo passamos diante de uma singela igrejinha pintada de azul, onde pude notar sinais de festa recente, certamente, em comemoração a algum santo junino. 

Igrejinha recém pintada.

Do lado oposto da estrada, se encontra o bar de Dona Cida, que embora estivesse fechado, possui uma excelente estrutura voltada para atendimento aos turistas e peregrinos.

Um pouco à frente, transitamos diante da entrada da Fazenda Pousada Lumiar, que tem uma proposta quase minimalista, segundo diz em sua página na internet.

O caminho prossegue muito bem-sinalizado nessa jornada, como de praxe.

Estávamos transitando muito próximo de um dos braços da represa, porém debalde todos os esforços, não conseguíamos visualizá-la em face da intensa cerração que cobria o entorno.

Porém, ao redor das 9 horas, ela começou a se dissipar e pudemos observar com mais nitidez os locais por onde caminhávamos.

Finalmente, sol forte e ambiente claro.

Em determinado trecho, já em descendência, pudemos ver com clareza o entorno, em face da claritude solar.

E, pouco mais abaixo, pude contemplar extasiado, um dos enormes lagos que fazem parte da represa.

Um dos braços da espetacular represa de Paraibuna.

Seguimos sempre, entre altos e baixos, contornando a enorme lagoa, tendo a nos ladear imensas pastagens e matas nativas.

Sem dúvida, um entorno belíssimo, de encher os nossos olhos.

O roteiro faz grandes giros ao redor da represa. Pouca sombra nesse trecho.

Nesse trecho pude observar casas de alto padrão edificadas ao lado do lago, algumas ostentando lanchas ou barcos a motor.

Finalmente, depois de rápido descenso, chegamos a parte oeste do grande dique e ali nos despedimos dele, ao menos, temporariamente.

Final da parte oeste da represa. Muitas casas em seu entorno.

Então, enfrentamos o derradeiro ascenso que, por sorte, apresentava sombras em alguns trechos.

E depois de infinito descenso, fizemos uma grande curva à esquerda e, ainda em descenso, por ruas asfaltadas, transitamos pelo que restou da cidade velha de Redenção da Serra, pois a maioria das casas submergiu sob o grande lago.

Grande descenso em direção à Redenção Velha.

Isto porque, no início da década de 1970, por uma necessidade de atendimento sócio-econômico regional, o estado deu início à construção da Usina Hidrelétrica de Paraibuna represando os rios Paraibuna e Paraitinga e formando a represa da Companhia Energética de São Paulo (CESP).

A construção, porém, de inusitadas proporções, determinou o desaparecimento de Natividade da Serra e Redenção da Serra.

Da velha Redenção da Serra, cheia de tradições e fatos históricos, restou na parte mais alta do município, da qual não foi atingida pelas águas a Igreja Matriz, o sobrado com sacadas de ferro que sediava a prefeitura e outras poucas residências da rua Capitão Alvim.

A parte mais baixa porém foi totalmente invadida pelas águas.

Na zona rural, o represamento das águas afetou as terras férteis, eliminando grande parte da agricultura de subsistência.

A industrialização da “Calha do Vale” (Taubaté, Pindamonhangaba e Tremembé) e a inundação de parte do município, contribuíram para o êxodo rural de grande parte da população produtiva.

Em 25 de agosto de 1974, de acordo com o decreto de implantação nº 190, nasceu a nova Redenção da Serra, onde numa colina era erguida pelo povo redencense, o cruzeiro que simbolizaria o renascimento do município.

A igreja matriz velha, como pude observar atentamente, ainda está em pé, porém face seu estado precário, passa por reformas.

Enquanto eu descendia por uma das ruas do bairro velho, uma senhora de idade me cercou e perguntou se eu estava indo a Aparecida.

Quando lhe disse sim, ela me cumprimentou e desejou, ardentemente, algo que me emocionou fortemente, um caminho pleno de bençãos divinas.

E, depois de sobrepujar leve colina, acabamos por sair na rodovia SP-121, por onde seguimos marchando pelo acostamento, no sentido contrário ao fluxo de veículos.

Dois quilômetros vencidos em rápido descenso, acabamos por aportar no Restaurante e Pousada Paraíso, situada na entrada de Redenção da Serra, nossa meta para esse dia.

Ali, por um bom quarto individual, paguei R$50,00.

Para almoçar utilizamos os serviços do restaurante ali instalado, onde ingeri uma refeição supimpa, nota dez!

Nele paguei R$30,00 o quilo da refeição, servida no sistema Self-Service.

O proprietário do local, o Sr. Júnior, se mostrou extremamente simpático e prestativo quando lhe pedi informações sobre os percursos sequentes.

E como necessitaríamos de um táxi para levar nossas mochilas ao hotel onde pernoitaríamos no dia seguinte, ele prontamente se predispôs a resolver o assunto e me tranquilizei quanto ao desfecho favorável dessa empreitada.

O local onde pernoitamos nesse dia: Pousada e Restaurante Paraíso.

Na época da expansão das lavouras cafeeiras, o então Governador da Província de São Paulo nomeou alguém que pudesse desbravar novas terras.

Foi então nomeado pelo Governador o sertanista e capitão-mor Francisco Ferraz de Araújo, juntamente de sua esposa e um grande número de escravos, que seguiram mato adentro em busca de terras férteis para o cultivo de café.

Então se instalaram próximo às margens do rio Paraitinga, local denominado de Sertão das Samambaias e ali constituíram uma fazenda.

Durante o processo de instalação e constituição da fazenda, era necessário abrir novas trilhas e caminhos de acesso, sendo que em uma dessas incursões, um dos melhores escravos do capitão Ferraz morreu ao ser picado por uma cobra.

Por ordem do capitão, o escravo foi enterrado ao arredor da fazenda e, em sua sepultura, foi erguida uma grande cruz de madeira em sua homenagem.

Mais adiante no tempo, um novo povoamento na região começou a surgir nas proximidades da fazenda Ferraz de Araújo, porque quando eram solicitadas terras para a instalação de uma nova família, determinava-se que fossem ocupados os terrenos próximos à Grande Cruz.

Em consequência, o caminho da Cruz passou a ser popular entre as pessoas que lá se instalaram.

Posteriormente já com o declínio do café no Vale devido ao esgotamento das terras pelo manejo equivocado dos extensos monocultivos cafeeiros, o então vilarejo passou a ter como atividade econômica as culturas de subsistência, tendo o linho como principal produto, o qual denominou o vilarejo como Paiolinho.

Paiol, estrutura que secava o linho, por isso o nome Paiolinho.

Monumento lembrando a escravatura, edificado em uma praça da cidade, 

Já por volta de 1850, o vilarejo estava crescendo e, nesta época, uma capela com duas torres e um sino foi edificada no lugar da antiga Cruz de madeira, passando assim o lugarejo a se chamar Santa Cruz do Paiolinho.

No ano de 1882, com o progresso do vilarejo, uma nova edificação passou a ser feita em substituição à capela, obra esta realizada por escravos.

No ano de 1890, o idealizador da construção Vigário Padre José Grecco foi embora e, assim, a obra ficou paralisada por 11 anos, até o término da Igreja, que ocorreu em 1904.

Nesse período, desde o início da construção até o término, um feito histórico ocorreu em Santa Cruz do Paiolinho.

No dia 10 de fevereiro de 1888, foi assinada a Carta da Ponte Alta, em que os influentes da localidade se anteciparam a Lei Áurea de 13 de maio de 1888, no qual decidiram libertar seus escravos, tornado assim a primeira cidade da então Província de São Paulo a alforriar seus cativos e a segunda no Brasil a tomar essa marcante decisão espontânea.

Em decorrência desse ato, também fora mudado o nome de Santa Cruz do Paiolinho para Redenção.

A porta de entrada da igreja matriz da cidade. Fechada, nesse dia.

Entre os presentes desse ensejo, estava o Major Gabriel Ortiz Monteiro, um influente da época que hoje tem seu nome na rodovia SP-121, que liga Redenção da Serra a Rodovia Oswaldo Cruz SP 125.

Já em 30 de novembro de 1944, em uma importante reunião do Governo de São Paulo, ainda pelo motivo do pioneirismo na abolição da escravatura, Redenção passa a se chamar como é conhecida hoje, Redenção da Serra, uma forma de agregar o feito histórico a sua localização geográfica encravada na Serra do Mar em pleno Domínio Morfoclimático dos Mares de Morros.”

Intitulada de “Berço da Liberdade Paulista”, Redenção da Serra abriga, desde a década de 70, uma represa da CESP, que no passado foi responsável por uma série de desapropriações, sendo que os prédios da Igreja de Santa Cruz, da sede da Prefeitura Municipal e alguns poucos casarões foram poupados.

Atualmente, a represa se apresenta como uma chance de fomentar de fato os potenciais turísticos cultural, histórico, rural, ecológico e gastronômico dessa pioneira localidade.

População atual: 4 mil habitantes.

Suas principais atrações são: Câmara Municipal, Capela do Cruzeiro, Cidade Velha, Fazenda Independência e Fazenda Boa Vista.

Igreja matriz da cidade, construída em estilo modernista.

Mais tarde, dei um giro pela parte alta da cidade, mas ali não encontrei nada de atrativo, apenas residências e algum comércio.

Então, acompanhado pela Sônia, fomos visitar a igreja matriz, construída em estilo modernista, porém, para nossa infelicidade, encontrava-se fechada, apesar de ser um sábado à tarde, dia que normalmente se realiza missa.

Assim, só pude fotografá-la pelo lado externo.

Outro monumento lembrando a escravatura, edificado numa rotatória, na entrada da cidade.

Na entrada da cidade existe um monumento interessante, que faz referências à abolição da escravatura no município, por sinal, o primeiro a proceder tal ato no Estado de São Paulo.

Com tempo de folga, retornei até aquele ponto para fotografá-lo.

Depois, sem pressa, dei um breve passeio junto à margem da represa que banha a simpática cidadezinha.

A belíssima represa de Paraibuna, que banha toda a cidade.

RESUMO DO DIA:

Tempo gasto, computado desde o Hotel Santinho, localizado em Paraibuna/SP, até a Pousada Paraíso, localizada em Redenção da Serra: 6 h 44 min.

Clima: frio e neblinoso de manhã, ensolarado, após as 9 horas, com temperatura variando entre 12 e 22 graus.

Pernoite na Pousada Paraíso – Apartamento individual excelente – Preço: R$50,00 - (Casal: R$100,00)

Almoço no Restaurante Paraíso - Excelente! – Preço: R$30,00 o Kg, no sistema Self-Service.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma das jornadas mais belas da Rota, embora os 10 primeiros quilômetros sejam trilhados sobre piso asfáltico. No entanto, o percurso sequente, localizado, quase sempre, às margens da represa de Paraibuna, mostrou-se de estupenda beleza. O entorno magnífico contribuiu para o alto-astral do trajeto desse dia, de maviosa lembrança. No global, salvo um importante ascenso no meio do trajeto, ela não apresenta maiores dificuldades altimétricas. Diria, com certeza, que essa também foi uma das mais gratificantes e inesquecíveis etapas que venci na Rota da Luz.