15ª Jornada

15ª Jornada - San Pedro de Rozados a Salamanca – 25 quilômetros: “Metade do Caminho!”:

 

A chuva deixou o clima úmido, ventoso e frio. 

Quando saí às 7 h da manhã, reparei num termômetro pendurado do lado externo do albergue que marcava exatos, 2º C.

Parti do povoado sob os ruídos dos animais madrugadores, muitos latidos de cães e cantos de galo. 

Uma sinfonia única.

Ainda no escuro, segui por uma estrada de terra plana e larga e, mais à frente, acessei uma rodovia vicinal asfaltada que me levou, em descenso, durante uma hora, até a cidade de Morille.

Tudo estava silencioso e deserto na pequena povoação, ninguém circulava pelas ruas, apenas alguns cães ladraram à minha passagem diante do novo e moderno albergue, instalado numa vistosa residência, onde antigamente funcionava o Posto de Saúde local.

Ultrapassei a pequena vila e prossegui por trilhas bem demarcadas, situadas entre inúmeras fazendas de criação de gado.

Logo à frente, após transpor pequeno riacho, me senti feliz ao alcançar a marca dos 500 quilômetros percorridos, qual seja, metade da jornada cumprida. 

A manhã estava agradável e meu coração pulsou jubiloso pela conquista.

Apesar do frio reinante, o sol brilhava com intensidade e o chão gramado se encontrava coberto por uma fina camada de orvalho.

No topo de pequena elevação, quando ainda faltavam 15 quilômetros para encerrar a jornada, pude avistar, ao longe, emocionado, as torres da Catedral de Salamanca a se destacar no horizonte.

Naquele local, segundo a história, houve a famosa batalha de Arapiles, frente aos franceses, em 22/07/1812, que serviu de prenúncio à derrocada napoleônica. 

Nesse memorável dia, a Espanha e seus aliados conseguiram reunir ali 51.900 homens que combateram o exército Galês, composto por 47.000 soldados. 

É fato que, fruto da renhida luta, nesse dia morreram aproximadamente 18.000 homens, sendo, 13.000 franceses.

O percurso restante, todo plano, se tornou fácil e agradável. 

Quando ainda restavam 10 quilômetros a percorrer, passei próximo à Miranda de Azán, cidade situada a 300 metros do Caminho.

Já próximo do final da jornada, no topo de um pequeno morro, há um interessante cruzeiro fincado, onde pude, então, desfrutar de visão privilegiada de Salamanca, minha meta naquele dia.

A entrada na parte urbana da cidade se faz por ruas bem sinalizadas, entre grandes olmeiros e, às 12 h, eu atravessava uma enorme ponte romana situada sobre o majestoso rio Tormes, cuja construção data do ano 100 d. C, época do governo do imperador Trajano.

    

Dali pude divisar as torres de suas estupendas Catedrais, a velha e a nova.

Salamanca, conhecida na antiguidade como “Helmantike”, Helmantica” e “Salmantica”, foi conquistada por Aníbal no século III a.C e, posteriormente, esteve sob o domínio dos romanos.     

Também, foi ocupada pelos muçulmanos que, posteriormente, foram derrotados por Raimundo de Borgoña, no ano de 1.085, para, depois, integrá-la definitivamente aos reinos cristãos.

Hospedei-me no Hostal Sara (42 Euros), situado próximo aos famosos jardins de “Calysto e Melibea” e, para refeições, escolhi um dos inúmeros restaurantes que funcionam nas imediações.

No retorno ao local de pernoite, permiti-me fazer breve reflexão.

Afinal, conseguira atingir um patamar intermediário, no qual podia relaxar, observar o Caminho até ali percorrido e alegrar-me por ter superado inúmeras dificuldades.

Agora era imprescindível recarregar as baterias e elevar o espírito para enfrentar os desafios que me aguardavam à frente.

Mais tarde, após breve descanso, fiz um “tour” pelo centro da urbe, que recebeu da Unesco o título de  “Patrimônio da Humanidade”.

Pude visitar, então, alguns prédios que fazem parte de seu conjunto monumental, como a Casa das Conchas, sua Universidade, fundada pelo rei Alfonso IX, em 1.218, bem como o Convento das Dueñas e o Palácio de Anaya, dentre outros.

Depois, segui para a Plaza Mayor, considerada a mais bonita entre todas existentes na Espanha, em razão de sua esmerada configuração.

Realmente, a construção, datada de 1.729, nos impressiona pela simetria e beleza, posto que contém 88 arcadas e é adornada por 96 obeliscos, 112 luminárias de época e, exatas, 247 varandas.

Enquanto admirava o maravilhoso conjunto arquitetônico, encontrei com meus amigos alemães, Karl e Walfrid, que estavam chegando naquele instante.

Registramos algumas fotos para a posteridade, e eles seguiram em frente, pois, iriam pernoitar num albergue particular situado próximo à saída da cidade, já que o estupendo refúgio municipal, um edifício de pedra integralmente reformado, situado próximo da Catedral nova, estava em obras.    

À noite a temperatura caiu bastante e resolvi fazer apenas um leve lanche no quarto do Hotel.

 

 

 

Resumo: Tempo gasto: 5 h - Sinalização: Excelente - Clima: Ensolarado, com temperatura variando entre 4 e 17 graus.

 

Impressão pessoal: Um percurso fácil, bonito e em perene descenso, coroado pela chegada à metade da jornada em Salamanca, belíssima e temática cidade, Patrimônio Universal da Humanidade.