1ª Jornada

1ª Jornada - Sevilha a Guillena - 22 quilômetros: “O Grande Dia!”   

Levantamos às 4 h 30 min, a cidade ainda dormia, quando, pontualmente, às 5 h 30 min, deixamos o hostal, e seguimos vagarosamente rumo à Catedral de Sevilha. 

Na verdade, naquele momento, a saída definitiva para o Caminho trouxe em meu íntimo uma mescla de temor, apreensão e alívio.

Alguns garis faziam a limpeza nas ruas, de forma que fomos obtendo informações e observando as placas indicativas. 

Assim, sem maiores problemas, às 6 h, chegamos ao local, marco zero de nosso roteiro, onde seria dado o pontapé inicial.

Atentos, olhamos toda a extensão ao redor do resplandescente Templo na tentativa de localizar, entre suas inúmeras portas, aquela cuja denominação "la Assunción" nos indicaria o ponto de partida para a Via de la Plata. 

Mais algumas perguntas a passantes locais e logo estávamos defronte ao nosso objetivo.

 

 

                

                                  "Porta de là Assuncion"  e "Marco-Zero no chão"

 

Imediatamente, algumas fotos foram registradas junto ao marco-zero. 

Depois, seguiram-se as imprescindíveis orações e partimos pela Avenida de la Constitución, acessando em seguida as “calles”: Garcia de Vinuesa, Jímios, Zaragosa, Reys Católicos e Ponte de Triana. 

Após atravessarmos esta, giramos à direita e seguimos pela rua San Jorge y Castilla até o final.

O dia se mostrava escuro, frio e uma leve cerração encobria a cidade. 

Porém, pude, com uma lanterna na mão, identificar o nome das ruas, uma vez que as setas praticamente inexistem nesse trecho do percurso citatino e, quando surgem, estão pintadas numa altura de 50 cm do chão, o que torna difícil a visualização, mormente, naquela hora da manhã.

Mais à frente, passamos pela famosa "Ermida del Cachorro", onde se encontra guardada a imagem do “Gran Poder”, que deu origem à Irmandade fundada em 1.431 pelos Duques de Mediona Sidonia. 

Que, juntamente com a Confraria de Macarena, fundada em 1.595, são as mais antigas da cidade.

No final da avenida, após ascender por umas escadarias, adentramos num grande parque que serve como estacionamento de caminhões, onde, repentinamente, as setas desapareceram. 

Prosseguimos lentamente em direção à linha férrea, mas, o motorista de um carro nos orientou a tomar, exatamente, a direção diametralmente oposta àquele que vínhamos caminhando. 

Então, obedecendo a sinalização, cruzamos novamente o rio Guadalquivir por uma ponte “peatonal”.

A partir dali as flechas se tornaram freqüentes e, com a luz do dia, foi fácil encontrar o rumo a seguir. 

Assim, ao invés de continuar pelo asfalto e passar por dentro do povoado de Camas, continuamos por uma larga estrada de terra à beira do rio. 

Depois de ultrapassar a fazenda Gambogaz e passar sob a “carretera” SE-30, num percurso plano e deserto, acessamos uma rodovia asfaltada, de pouco tráfego, e logo adentrávamos à cidade de Santiponce.    

O sol já havia assomado de todo à nossa esquerda. 

Próximo às primeiras casas, meia dúzia de cães, das mais diversas pelagens, nos afrontaram, ladrando furiosamente. 

Porém, continuamos a passos firmes pela outra calçada, fingindo ignorá-los, o que surtiu efeito, pois,  nos deixaram seguir em paz.

Na entrada da urbe, destaca-se o Monastério de San Isidoro del Campo, construído por Guzmán el Bueno no século XIV. Inicialmente, pertenceu à ordem de “Cister” e mais tarde foi ocupado por monjes Jerônimos. Atualmente, a igreja católica detém em seu poder apenas o templo e parte do claustro, sendo o restante cedido à Organização Paz e Bem, que realiza trabalho filantrópico voltado para o atendimento de pessoas com problemas mentais.

 

Monastério de San Isidoro del Campo, ao fundo 

 

Ao ultrapassar a cidade em toda sua extensão, por uma avenida larga e bem sinalizada, vêm-se, quase no final desta, as ruínas de Itálica, importante colônia romana fundada no ano 206 a.C., por Escipion, historicamente, o primeiro assentamento romano no sul da Península Ibérica.

No final da zona urbana existe um posto de combustível. 

Lá funciona um bar, onde é possível utilizar banheiros e adquirir água e mantimentos. 

Logo à frente, numa rotatória, cruzamos a rodovia “N-630” e avistamos um bosque de eucaliptos, referencial citado em Guias. 

Assim, caminhamos nessa direção sem titubear.

Ali, giramos à esquerda e acessamos larga e plana estrada de terra que se perde no infinito, seguindo paralelo à movimentada rodovia, em meio a enormes plantações de trigo. 

Nesse trecho, pudemos desfrutar da companhia de lebres, coelhos e perdizes que deram o “ar da graça”, ao cruzar o caminho à nossa frente, por inúmeras vezes.  

 

      

Após uma hora de caminhada, avistamos no horizonte uma construção cilíndrica, cuja altura se via ao longe. Prosseguimos em marcha ininterrupta, porém a tal torre nos parecia sempre distante e inacessível.

Quando, no entanto, nos aproximamos dela, Fran “puxava” visivelmente a perna direita. 

Desse modo, resolvemos fazer uma pausa e verificar a causa das dores. 

Ao descalçar a bota, notamos que havia três enormes bolhas na sola e no lado do seu pé. 

Mau começo, pensei!

Prontifiquei-me em ajudá-lo, fiz-lhe um curativo rápido, dei-lhe um analgésico e seguimos em frente, pois, estávamos próximos de nossa meta do dia. 

Assim, mais 5 quilômetros percorridos num ritmo uniforme e aportamos em Guillena, ponto final de nossa primeira etapa.

Ali nos hospedamos no excelente Hostal Francês (40 Euros) e utilizamos o restaurante do mesmo estabelecimento (9 Euros) para fazermos as refeições. 

O proprietário, um jovem alegre, nos tratou com muita simpatia e atenção.

Mais tarde, na busca por uma “tienda” para comprar mantimentos, passei ao lado da igreja matriz da cidade dedicada à “la Virgem de Granada”, cuja construção do século XV, tem interessante estilo mudéjar.    

 

 

Até o anoitecer, chegaram outros cinco peregrinos que se alojaram no mesmo local onde nos encontrávamos.

Enquanto descansava, pude ler num jornal local a respeito de uma licitação em curso, para construir um moderno albergue na cidade, o que pensei ser providencial, uma vez que lá, ainda, não oferecem esse tipo de conforto ao peregrino.

 

Resumo: Tempo gasto: 5 h 30 min - Sinalização: Excelente, após a parte urbana de Sevilha - Clima: Ensolarado, com temperatura variando entre 5 e 17 graus.

Impressão pessoal: Trajeto plano, sem obstáculo, sendo 1/3 em asfalto, o restante por estradas rurais.