11ª Etapa – ÁGUEDA à ALBERGARIA-A-VELHA – 17 QUILÔMETROS

11ª Etapa – ÁGUEDA à ALBERGARIA-A-VELHA – 17 QUILÔMETROS – “UMA PONTE COM HISTÓRIA

“Nesta curta etapa, ocorre como em sua predecessora, que discorre demasiados quilômetros sobre asfalto, sobretudo em sua primeira parte. Durante toda a jornada vamos seguir fielmente a mesma direção que se seguia há 20 séculos, a calçada romana número XVI, só que ao invés de pedras polidas de cal ou granito, os pés dos peregrinos modernos pisarão sobre o asfalto da N-1 ou de pequenas rodovias vicinais, que o ajudarão a avançar em direção ao norte. O melhor momento da jornada é a travessia do rio Marnel, por uma preciosa e sinuosa ponte de pedra, que tem embasamento romano e estrutura medieval. Essa transposição oferece, sem dúvida, a melhor fotografia das últimas etapas. Um pouco de história, num minúsculo fragmento que restou de épocas passadas, porém, de cintilante beleza, que nos transporta, por um momento, a pensar sobre a rede viária por onde transitaram os primeiros viajantes.” (Traduzido/transcrito do Guia El País Aguilar, edição do ano de 2007, que utilizei na viagem)

 

Defrontava-me, novamente, com outra etapa relativamente curta e com poucos acidentes altimétricos.

Assim, em relação aos dias anteriores, eu levantei bastante tarde, às 6 h, e deixei o Residencial Ribeirinho, tranquilamente, às 7 h.

A cidade estava ainda acordando, quando segui beirando o impetuoso rio Àgueda, passei diante da Capela de Nossa Senhora da Ajuda, até encontrar um desvio à direita, em direção à cidade de Paredes.

Principiei, então, a ascender, mas, sempre por asfalto, até que 3 quilômetros adiante, eu encontrei um cruzamento com bastante tráfego, próximo da Zona Industrial Norte.

Ultrapassado esse empecilho, eu prossegui por uma rodovia vicinal asfaltada, em direção à Mourisca do Vouga, onde aportei, depois de 5 quilômetros caminhados.

Em seguida, atravessei a cidade por sua avenida principal, flanqueado por estupendas mansões, algumas, no entanto, em estado de total abandono.

Segundo Confalonieri, a urbe tem esse nome, porque a aldeia, quando de sua passagem por aqui “começou a construir um muro.”

Na verdade, ela é uma típica povoação alongada, que cresceu em função e na direção de um caminho, muito típico nesta região de Aveiro, e que recorda as povoações que também surgiram dessa mesma maneira ao longo do Caminho Francês, na Espanha.

Muitas de suas casas de alto padrão foram erigidas por emigrantes, e seguem o padrão arquitetônico, com balcões cristalizados, pináculos de telhas francesas, grades forjadas em ferro e uma ou duas palmeiras no jardim.

Nesse tramo, encontrei muitas crianças se dirigindo a pé ou de bicicleta para a escola, pessoas caminhando em direção ao trabalho, e muitos carros trafegando pelas ruas estreitas e retilíneas, por onde cruzei.

Mais adiante, passei diante da igreja matriz, girei à direita, e adentrei em outra rodovia vicinal, que seguiu em direção a Pedaçães.

Duzentos metros depois, eu estaquei agradavelmente surpreendido diante de uma área campestre, existente ao lado de uma residência, ao me deparar com três bovinos pastando mansamente.

Eram os primeiros dessa espécie, que avistava desde minha partida de Lisboa.

O proprietário estava entrando num veículo e pude comentar o fato com ele que, sorridente, disse que possuía mais 20 vacas confinadas num outro terreno, mais abaixo.

No final de uma longa declividade, eu transpus a rodovia N-1/C-2 e, já do outro lado, prossegui à esquerda, por um caminho de terra, que me levou 300 metros depois a ultrapassar a “puente romano-medieval sobre o rio Marnel”.

Trata-se de uma construção do século II, perfeitamente conservada, que dava passagem a calçada XVI, Olisipo-Bracara, que na época medieval ,fora melhorada e ampliada.

É um dos rincões mais bonitos e autênticos que eu vi nestas ultimas jornadas de peregrinação, por onde eu transitei, quase sempre, por asfalto e núcleos urbanos modernos.

Ao que tudo indica, a ponte tinha esse mesmo aspecto quando por ela passaram Biondo e Confalonieri, que anotou em seu diário: “É tão larga como a ponte de Santo Ângelo, em Roma.”

Esta zona foi um importante cruzamento de caminhos na época clássica, pois daqui partia uma via secundária até Viseu e em algum lugar próximo, quem sabe no Castelo de Marnel, existia, segundo alguns historiadores, a cidade de Talabriga, uma das mais importantes de Portugal romanizado e da qual nada se sabe nem mesmo sua localização exata.

Fiz, naquele emblemático local, uma longa pausa para meditação, hidratação, fotos e ingestão de uma barra de chocolate.

Na sequência, por um túnel, eu transpus a rodovia, depois prossegui subindo até que, 600 metros depois, eu passei diante de um cemitério e uma igreja, já na cidade de Lamas do Vouga.

Trezentos metros depois, quando eu deveria seguir à esquerda, para passar novamente sob a rodovia e transpor o caudaloso rio Vouga por outra ponte medieval, tive meus passos obstruídos.

Vez que, a longa ponte de pedra, do século XVI, que ali havia, teve seus dois arcos centrais levados pela correnteza, na inundação ocorrida em 2009, restando interditada para trânsito de pedestres, até sua possível reconstrução.

Assim, a travessia desse trecho se faz diretamente pelo acostamento da perigosa e movimentada rodovia N-1/C-2, desse modo, um quilômetro depois, eu saí à esquerda, já na cidade de Serém.

Poucas casas ali existem, de forma que prossegui adiante, agora por uma íngreme rampa, porém, ainda por asfalto.

No topo da colina, finalmente, eu transitei por Serém de Cima, uma povoação de razoável tamanho, que cruzei em sentido retilíneo, por sua rua principal.

Um quilômetro depois, num cruzamento, eu prossegui em frente, e adentrei numa larga estrada de terra, em meio a uma imensa plantação de eucaliptos.

O mais interessante é que o caminho segue cortado por inúmeras variantes, porém nele não existe nenhuma sinalização.

Na verdade, o meu Guia dizia que eu deveria caminhar sempre no sentido norte, contudo, desafortunadamente, eu não carregava uma bússola.

Com a ausência das setas sinalizadoras, tentei me manter sempre no roteiro principal, sem me importar com as variantes que surgiam a todo instante, bem como procurei rastros de botas no solo úmido, verificando, assim, possível pegadas de peregrinos que me antecederam.

Foram 3 quilômetros de caminhada solitária, e sem saber se estava no rumo correto, porém, no final de uma grande reta, eu acabei por sair numa “carretera” vicinal.

Por ela, eu ultrapassei Autopista A-25 utilizando uma ponte metálica, e logo adentrei em zona urbana, seguindo em direção ao centro de Albergaria Velha, onde aportei às 10 h 30 min.

A origem da cidade é um albergue que a rainha Dona Tereza mandou construir no ano de 1120, para dar acolhida a viajantes e peregrinos.

Conforme o decreto exarado à época, as instalações deveriam conter “quatro camas, colchões de palha, madeira, água, fogo, sal e maca para transportar os enfermos, bem como esmolas, ovos ou frangos para os doentes.”

Hoje se transformou numa vila moderna e aprazível, com poucos atrativos monumentais, mas agradável para passar a noite, já que os peregrinos podem pernoitar no salão paroquial.

Ali, eu me hospedei na Pensão Alameda onde, por 20 Euros, fiquei muito bem alojado.

Como ainda era cedo e o sol estava forte, aproveitei para lavar várias peças de roupa, sempre na certeza de que no outro dia, todas estariam secas e em condições de uso.

Para almoçar, eu utilizei os serviços do Restaurante Adega Regional Casa de Alameda, que recomendo com efusividade, porquanto, de preço módico e de excelente qualidade.

À tarde, depois que o sol amainou, fui observar o local por onde eu deixaria a cidade na manhã seguinte e, na volta, aproveitei para conhecer a igreja matriz do povoado, dedicada a Nossa Senhora do Socorro, erigida em 1855, em agradecimento à erradicação de uma grave epidemia de cólera ocorrida no município.

A novidade ruim foi constatar que minha bota começou a apresentar alguns problemas de desgaste no forro do calcanhar esquerdo, o que me forçará a tomar algumas precauções adicionais nos próximos trajetos, com o fito de evitar bolhas.

Fui deitar cedo, porque no dia seguinte enfrentaria uma jornada duríssima, que me levaria pernoitar em São João da Madeira, uma cidade grande, moderna, e extremamente formosa e aprazível, segundo o Guia que eu portava.

 

IMPRESSÃO PESSOAL – Sem dúvida, a etapa mais curta e fácil de todas que enfrentei no Caminho. Embora ¾ do trajeto seja feito por asfalto. Há que se ressaltar o ponto alto da jornada: a passagem sobre a inesquecível “puente medieval” para transpor o rio Marnel. No geral, outro percurso trilhado entre intenso verde e, à exceção do bosque de eucaliptos, que cruzei nos derradeiros quilômetros, também está muito bem sinalizada.

 12ª Etapa – ALBERGARIA-A-VELHA à SÃO JOÃO DA MADEIRA – 30 QUILÔMETROS