8ª Etapa: SÃO JOSÉ DO ALEGRE à ITAJUBÁ – 18 quilômetros

8ª Etapa: SÃO JOSÉ DO ALEGRE à ITAJUBÁ – 18 quilômetros

"Poderosa Novena à Nossa Senhora Aparecida: 8° DIA -  Ó Maria, lírio dos vales, lírio nascido entre espinhos sem sofrer sua picada ou a mais leve mancha ao vosso candor, ah!, concedei-nos o dom da pureza, à qual é prometida a visão de Deus."

Eu dormi preocupado com a chuva, porém quando acordei e olhei pela janela, pude perceber uma grande neblina tomando conta da cidade.

Ademais, a previsão meterológica que logo assisti pela TV, davam conta que o dia seria ensolarado e quente.

Então, como o percurso seria de curta extensão, combinei com a Célia o horário de partida, depois, calmamente tomamos o café da manhã que o hotel oferecia.

Em seguida, animados, às 6 h 30 min, iniciamos a etapa do dia.

O Hotel Brasa, onde nos hospedamos, está localizado à beira da rodovia que liga São José à cidade de Maria da Fé.

Assim, seguindo as instruções do livrinho-guia, nós caminhamos pelo acostamento da BR por uns quinhentos metros, até encontrar uma estrada de terra, à direita, exatamente no local onde se encontram as instalações do antigo matadouro municipal.

Iniciou-se, então, uma larga estrada de terra, onde havia espessa neblina, sinal de que mais tarde o sol viria com vigor.

O piso estava bastante liso, em face das chuvas recentes, de maneira que, já escoteiro, eu prossegui com bastante cuidado e atenção, para não me candidatar a um belo tombo e evitar escorregões desnecessários.

O percurso seguiu entre grandes fazendas de gado leiteiro e, depois de 5 quilômetros, enfrentei um duro ascenso, aliás, o único da jornada.

O dia ainda não raiara de todo e a cerração fina, encobria o contorno das árvores.

Porém, estranhamente, a passarada parecia-me mais alvoroçada do que de costume.

Às 8 h, 7 quilômetros vencidos, paramos para fotos e breve pausa, defronte à ponte que transpõe o rio Lourenço Velho.

Ali existe o bar do Ademar, e um caminhão baú, que dava apoio logístico a uma romaria da cidade de Natércia, estava estacionado no local.

O Sr. José, o motorista, muito simpático, contou-me que o pessoal iniciara o trajeto a 1 hora da madrugada, debaixo de chuva, e que haviam feito uma providencial parada naquele lugar, para tomar o café da manhã.

Até ali, eles já haviam caminhado perto de 40 quilômetros, o grupo era formado por mais de 100 pessoas, e eles pretendiam pernoitar no bairro Água Limpa, localizado 14 quilômetros depois da cidade de Itajubá.

Contou-me, ainda, que essa romaria tem muita tradição, posto que estava em sua 76ª edição.

Eu segui adiante, e quando ainda faltavam 6 quilômetros para chegar, eu passei pelo bairro Capetinga, pertencente ao município de Itajubá/MG, onde observei a construção de uma grande igreja, já em sua fase final.

Haveria grande festa no dia seguinte, pois seria o dia de São Pedro, o santo padroeiro daquele enclave, com missa festiva, além de barraquinhas, quermesse, bingo, etc..

Igreja de São Pedro, no bairro Capetinga, Itajubá/MG

Mais abaixo, eu conversei com um senhor que fazia a manutenção na estrada, e ele ao saber de meu destino, pediu que me lembrasse dele quando aportasse à Casa da Mãe Aparecida.

Nesse instante a Célia me alcançou, e prosseguimos juntos em direção à urbe, que se fazia próxima.

O roteiro voltou a ser bucólico, porém o movimento de carros, motos e bicicletas se intensificou, e logo adentramos em zona urbana, transitando por bairros periféricos, onde a rusticidade das residências saltava aos nossos olhos.

Um batalhão de crianças brincava nas ruas, e um bando de cachorros vadios transitava pelo local, revirando sacos de lixo, bebendo água que escorria pela rua, etc...

Enfim, estávamos adentrando numa cidade de razoável tamanho e, como em todas desse naipe, com seus problemas corriqueiros, trânsito caótico, e a realidade que encontrava me oprimia.

Se mal explico, pareceu-me a passagem entre a vida selvagem e a civilização, com as desvantagens de ambas e sem as vantagens de nenhuma das duas.

Seguimos perguntando aos transeuntes sobre o nosso destino, porém o caminho é lógico e único, e conduz sempre ao centro da urbe.

Próximo da estação rodoviária eu pedi informações a um taxista, e cinco minutos depois adentrávamos ao Hotel Oriente, onde eu havia feito reserva.

O estabelecimento está muito bem localizado no curso do Caminho de Aparecida, em zona central, onde existem todos os serviços que o peregrino necessita.

Para almoçar, nós utilizamos os serviços do Restaurante Lenha e Carvão, localizado próximo dali, e de excelente qualidade.

E esta, sem dúvida, sempre é a refeição essencial do dia, porque permite ao caminhante recompor as energias, de tal sorte, que sua higidez física e mental, fiquem preservadas.

 

Entre 1703 e 1705, o sertanista Miguel Garcia de Almeida Cunha, figura proeminente na história da ocupação do Sul de Minas, partiu de Taubaté em busca de ouro.

Ultrapassando a Serra da Mantiqueira na altura do município de Passa Quatro, desviou para a esquerda, indo alcançar o planalto do Capivari, onde descobriu pequenas lavras de ouro em local que denominou de Caxambú.

Próximo a estas minas, encontrou melhores veios auríferos, decidindo então fixar-se por lá com sua família.

Essa descoberta passou a ser conhecida como Minas Novas de Itagybá, que originou o arraial de Nossa Senhora de Soledade de Itagybá, atual município de Delfim Moreira.

Em 1752 foi construída a Matriz de Nossa Senhora de Soledade de Itagybá.

Com a retração da atividade mineradora, dada à precariedade na forma de exploração do ouro e do grande rigor dos impostos e fiscos da Coroa Portuguesa, a estagnação de Soledade de Itagybá tornou-se evidente.

Nos finais de 1818, chegou à região procedente de São Paulo, o Padre Lourenço da Costa Moreira, para exercer as funções de vigário da freguesia.

Então, percebeu que as condições físicas do lugarejo eram por demais precárias para suas pretensões religiosas fossem bem sucedidas.

Assim, o novo vigário resolveu fundar, à margem direita do Sapucaí, um povoado em local menos acidentado, com terrenos mais férteis e clima mais ameno, contando para isto, com a colaboração da população local.

Em março de 1819 foi então erguida uma capela de invocação a São José.

O novo arraial de Boa Vista do Itajubá, como passou a ser chamado, núcleo inicial do município de Itajubá, prosperou rapidamente, tornando-se o centro para onde se convergiria grande contingente da população.

Em decorrência deste rápido desenvolvimento, o novo povoado foi elevado à freguesia pela resolução de 14 de julho de 1832, e em fins deste mesmo ano, os habitantes de Boa Vista tentaram a transferência para a nova freguesia da imagem de Nossa Senhora da Soledade, então entronizada no altar-mor da Matriz de Soledade.

Da disputa travada entre as duas povoações pela posse da imagem, deu-se o episódio conhecido como “Encontro”, quando ficou determinado que uma nova Nossa Senhora da Soledade, semelhante a que pertencia por direito ao velho templo de Soledade, seria encomendada para ornar o templo de Boa Vista de Itajubá.

Pertencendo inicialmente ao município de Campanha, em 27 de setembro de 1848 a lei nº 355, autorizada pelo então presidente da província Dr. Bernardinho José de Queiroga, determinou a criação da Vila Boa Vista de Itajubá desmembrando-se daquele município.

Poucos anos depois, pela lei nº 1149, datada de 4 de outubro de 1862, a vila ganhou foros de cidade.

Em 1878 a cidade de Boa Vista de Itajubá já era uma das mais prósperas e comerciais do Sul de Minas, e devido a sua posição geográfica privilegiada, próxima a São Paulo e equidistante de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, Itajubá constitui um importante centro econômico para o Sul de Minas.

A agricultura, comércio e serviços têm participação expressiva no quadro econômico do município, enquanto seu setor industrial é bastante ativo e diversificado.

Sua população atual é de 92 mil habitantes.

Fica difícil falar de Itajubá, sem se lembrar do rio Sapucaí, pois ele divide a cidade ao meio.

É relevante sua importância no progresso e na vida da urbe, sobretudo no passado, com o favorecimento da navegação.

Ele é também o fertilizador do grande vale pelo qual serpenteia, recolhendo as águas de vários tributários menores, tão ligados às tradições itajubenses, entre os quais o piscoso Lourenço Velho e o Ribeirão José Pereira, que iluminou a cidade no início do século, e que também atravessa a cidade. 

O primeiro civilizado que divisou o rio Sapucaí, afirma-se ter sido João Pereira Botafogo, em 1.596, porque não se tem notícia segura de outro sertanista que o tenha precedido nessa arrojada empresa. 

Sapucaí quer dizer rio das sapucaias, isto é, rio que canta, rio que grita.

O nome foi dado pelos índios em alusão às lecitidáceas que, quando fustigadas pelos ventos, frequentes no vale, produziam silvos semelhantes a gemidos.

Daí chamarem eles sapucaia, isto é, árvore que chora e geme, a essas lecitidáceas, então existentes com abundância em quase todo o vale, sobretudo nas margens e barrancas do rio, onde eram mais aglomeradas. 

O rio Sapucaí entra na cidade pelo bairro urbano Santa Rosa, e sai pelo de Boa Vista, dividindo-a em duas partes iguais.

Dentro do município, o mais importante de seus afluentes, da margem direita, é o Ribeirão José Pereira, que tem origem na Serra da Água Limpa e que vai despejar-se no Sapucaí já dentro da cidade.

Da margem esquerda, os mais notáveis desses afluentes são o Córrego da Estância, o Ribeirão das Anhumas (estes dois nascem na Serra do Pouso Frio), o Ribeirão Piranguçu e o Ribeirão dos Antunes, este já nas divisas com Piranguinho.

O Rio Sapucaí percorre, desde sua nascente até a barra com o Lourenço Velho, na saída do município, uma extensão de 48 km, num vale formado, lado a lado, de altíssimas e imensas vertentes da Mantiqueira.

 

Igreja matriz de Itajubá/MG

Depois de um bom descanso, quando o sol finalmente amainou, fomos dar uma volta pelo centro histórico da cidade, e aproveitamos para conhecer sua igreja matriz, cuja padroeira é Nossa Senhora da Soledade.

Depois, dei um grande giro pela área comercial, onde pedi informações a um taxista, sobre o nosso roteiro, para deixar a cidade na manhã seguinte.

Mais tarde, fui me prover de mantimentos num supermercado.

Com o simpático Leandro, funcionário do Hotel Oriente, que atende muito bem os peregrinos e romeiros que ali se hospedam

Depois, na portaria do hotel, passei um bom tempo conversando com o funcionário Leandro, uma pessoa educada, inteligente, e que deu excelentes dicas de como nós deveríamos prosseguir no dia imediato, em direção à Wenceslau Braz.

E logo me recolhi, pois em face da proximidade da serra da Mantiqueira, o clima esfriou bastante depois das 19 horas.

 

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma jornada de pequena extensão e, praticamente, sem nenhuma dificuldade em termos de altimetria. No geral, uma etapa com entorno extremamente verde, bucólico e agradável. Como sempre, o aporte a qualquer cidade grande é tedioso e envolve perigos, por conta do intenso tráfego de veículos. E, o acesso ao centro de Itajubá também não fugiu a essa regra, em face do horário matutino.

9ª Etapa: ITAJUBÁ à WENCESLAU BRAZ – 20 quilômetros