14 – FELGUEIRAS a GUIMARÃES – 21 quilômetros

"O tempo exerce um papel essencial na formação do "verdadeiro" peregrino. O Caminho é uma alquimia do tempo sobre a alma. É um processo que não pode ser nem imediato, nem mesmo rápido. O peregrino que encadeia semanas a pé constrói uma experiência com isso. Uma curta caminhada não basta para corrigir seus hábitos, ela não transforma radicalmente a pessoa. A pedra permanece bruta porque, para talhá-la, é preciso um esforço mais prolongado, mais frio e mais lama, mais fome e menos horas de sono." (Jean-Christophe Rufin) 

Seria outra jornada de pequena extensão, assim, não havia pressa para partir, mas às 7 h eu já estava caminhando, infelizmente, debaixo de chuva.

Sem grandes dificuldades, por conta da excelente sinalização, deixei a zona urbana e em rápido descenso, percorridos 5 quilômetros, passei diante Monastério de Santa Maria de Pombeiro, com absides e portada românica, uma construção do século XII.

Infelizmente, a chuva não dava trégua e o local se encontrava fechado, assim, após algumas fotos, segui adiante.

Ali próximo existe a calçada medieval da Piedade, porém, face ao clima chuvoso, segui frente e logo passei defronte ao Monastério de Cáramos, infelizmente, em estado de abandono.

Prosseguindo, sempre em descenso, logo avistei a maravilhosa ponte romana de Arco, por onde transpus o rio Vizela.

A partir desse marco, o roteiro muda ligeiramente de rumo, indo na direção de Fareja, onde acessei uma estrada pedregosa, em forte ascenso, e me internei em um extenso bosque de eucaliptos.

Por sorte, o aclive foi de pequena extensão, pois logo acessei as antigas vias de trem que uniam Fafe com Guimarães, no Apeadero de Palhais, que desde os anos 90 estão habilitadas como via verde ou ciclovia, como se denominam em Portugal esse tipo de caminho.

A chuva cessou, quase imediatamente, o sol saiu e eu pude retirar a capa protetora, que me fazia transpirar abundantemente.

E por esse espaço silencioso e quase sempre retilíneo, caminhei 8 quilômetros sobre a ciclovia que se encontra asfaltada, sendo que no local o tráfego de veículos é proibido e não se atravessa nenhuma povoação nesse intercurso.

Assim, sem maiores novidades, depois de percorrer 17 quilômetros, caminhei por zonas urbanizadas e, novamente, sob chuva, adentrei em Guimarães, uma cidade belíssima, patrimônio mundial, que me impressionou profundamente, porque sua arquitetura é, deveras, deslumbrante.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Em descenso, mas sob forte garoa.

Monastério de Santa Maria do Pombeiro, século XII.

Monastério de Cáramos.

Ponte romana de Arco sobre o rio Vizela.

Bela igreja em Fareja.

Acessando a Via Verde.

Trechos belíssimos, desertos e planos.

O Castelo de Guimarães.

Jardins fantásticos!

A cidade de Guimarães é considerada o «berço» da nacionalidade portuguesa, pois, para além de, segundo a tradição, aqui ter nascido o primeiro rei de Portugal (parece ter nascido em Coimbra ou em Viseu), também foi neste local que se deram os acontecimentos mais marcantes que conduziram à independência de Portugal.

Guimarães fica situado no Baixo Minho, região onde o verde se espraia sobre a terra, cobrindo os montes com extensos pinheirais, e os vales com altos vinhedos, que dão à terra uma característica única no conjunto do território português.

A história de Guimarães começa com a Condessa Mumadona Dias, mulher de D. Ermegildo Mendes conde de Tuy e do Porto, nobre galega, que no séc. X, recebeu do governador da Galiza, Ramiro II a concessão da vila de Creixomil.

Guimarães, cidade belíssima e inesquecível!

Prossegue com Henrique de Borgonha e a leonesa D. Teresa, que geriram o Condado Portucalense e geraram Afonso Henriques; e se conclui com o combate de Afonso Henriques contra a ingerência de Leão e Castela, afirmando , a partir da batalha de S. Mamede (1128) e da luta com sua mãe, a existência de Portucale, existência que seria reconhecida por bula papal em 1179. Já antes, em 1143, D Afonso VII, Rei de Leão, aceitara o novo reino cristão. D. João I cumpre um voto de peregrino à Senhora da Oliveira e beneficia a igreja, o Duque de Bragança, D. Afonso, constrói, na acrópole do castelo, o seu majestoso Paço Ducal. O séc. XVI conhece novo foral de D. Manuel I à vila. O convento da Costa é abandonado pelos Agostinhos e entregue aos Jerônimos, que aí iniciam grandes obras e estabelecem uma Universidade. Na segunda metade do século constroem-se o convento de Santa Clara e a Igreja da Misericórdia. Entre as portas da Nova e de S. Domingos lança-se uma praça exterior às muralhas com o seu chafariz, conhecida hoje por Toural. Na primeira metade do séc. XIX, a vila sofre as consequências de uma sociedade afetada, em primeiro lugar, pelas invasões francesas, seguidamente, pelas políticas internas. Em 1853, um ano após a visita de Rainha D. Maria II, Guimarães recebe o título de cidade.

O desenvolvimento industrial surge então, nos têxteis, couros, cutelaria, serralharia e fundição, ourivesaria, e torna a cidade um dos maiores polos fabris do país.

A praça central de Guimarães: belíssima!

Castelo de Guimarães - Berço de Portugal - Construído inicialmente por Mumadona Dias e seu marido Hermenegildo Gonçalves, situa-se no topo de uma elevação ocupada por um parque arborizado e relvado, distando poucos metros da igreja românica de S. Miguel do Castelo e do Paço dos Duques de Bragança.

Guimarães é considerada a cidade berço de Portugal porque aqui nasceu Afonso Henriques, que viria a ser o primeiro rei de Portugal.

Associado à formação e identidade de Portugal, o centro histórico de Guimarães, na zona que ficava dentro de muralhas, foi classificado Patrimônio Mundial pela Unesco com base nos valores de originalidade e autenticidade com que foi recuperado. A cidade ainda hoje possui um conjunto patrimonial harmonioso e preservado que se mostra em graciosas varandas de ferro, balcões e alpendres de granito, casas senhoriais, arcos que ligam ruas estreitas, lajes do chão alisadas pelo tempo, torres e claustros. Por momentos imaginamo-nos num cenário medieval, onde a nobreza foi construindo as suas moradias como a casa Mota Prego, o Palácio de Vila Flor, do Toural e tantos outros que dão a Guimarães uma atmosfera única.

População: 158 mil habitantes.

Local onde, diz a história, nasceu o primeiro rei de Portugal.

RESUMO DO DIA: Clima: Chuvoso e frio de manhã, depois nublado / ensolarado, variando a temperatura entre 7 e 13 graus.

Pernoite no Hotel São Mamede - Apartamento individual excelente! Preço: 32 euros.

Almoço no Restaurante Cantinho dos Sabores: Sensacional! - Preço: 5 Euros o “menu del dia”.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma jornada de pequena extensão e que apresenta apenas um obstáculo altimétrico a ser superado no 10º quilômetro, logo após a passagem pela vila de Fareja, mas de pequena monta. No entanto, cumprida por locais de expressiva beleza e grande valor histórico. O trânsito pela ciclovia (via verde) também se mostra extremamente ermo e silencioso, um presente para os meus sentidos. No global, uma etapa fácil, tranquila e plena de monumentos históricos. Para não citar o pernoite em Guimarães, uma cidade que me impressionou profundamente, por seu povo amistoso e quantidade de edifícios monumentais. Afinal, segundo a história, foi nessa localidade que “Portugal Nasceu”.