Caminho Brasileiro de Santiago - SC

2018 - CAMINHO BRASILEIRO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA 

Um relato como este, ou qualquer outro livro que se tenha escrito sobre viagem, não é um problema para se estudar ou anotar. É algo que escrevi para compartilhar, dar prazer, é algo para desfrutar. O peregrino amigo deve ser capaz de ver estas pessoas e lugares, de as ouvir e de os cheirar. É claro que algumas partes são dolorosas, mas peregrinar – na sua própria essência, tem de evocar esperança. Pois, desespero é o sofá; é indiferença e olhos vidrados e sem curiosidade. Acredito que os caminhantes são essencialmente positivistas, ou então nunca iriam a lado nenhum, e um relato de viagem deve refletir o mesmo otimismo geral.” (Web) 

Reconhecido pela Catedral de Santiago de Compostela e oficialmente integrado ao trajeto histórico, o Caminho Brasileiro - de 22 quilômetros - deverá ser complementado na Espanha: de La Coruña a Santiago de Compostela, totalizando os 100 quilômetros exigidos para a obtenção da Compostela (certificado de peregrinação).

O Caminho Brasileiro de Santiago de Compostela dispensa guia e pode ser feito seguindo à sinalização e às informações disponibilizadas no site da ACACSC - Associaçāo Catarinense dos Amigos de Santiago de Compostela (www.amigosdocaminho.com.br).

Recomenda-se o uso de botas de trilha, de bastões e de uma pequena mochila para levar apenas o essencial, principalmente, água e lanche.

A maior parte do trecho não oferece dificuldade, porém, entre a praia da Lagoinha e a praia Brava, o peregrino enfrenta aclives íngremes e, também, o trecho da Brava para Ingleses, feito em meio à mata, exige esforço e um bom preparo físico.

Para ver ou baixar essa trilha, gravada no aplicativo Wikiloc, acesse:

https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/caminho-brasileiro-de-santiago-de-compostela-18431208#wp-18431230

A MINHA EXPERIÊNCIA NESSE CAMINHO

Eu encerrara o Caminho dos Milagres no Santuário de Santa Paulina, em Vígolo, cidade de Nova Trento, e ao voltar à cidade de Florianópolis para retornar à minha residência, mudei de ideia e embalado pelo espírito peregrino que me norteia, resolvi conhecer esse novel roteiro.

Para tanto, tomei um táxi, que me levou até a Praia de Canasvieiras, onde me hospedei no excelente Flat Amsterdam, situado em local estratégico, a menos de 100 m do início do Caminho Brasileiro.

Nele, por R$70,00, pude dispor de um apartamento confortável, limpo e espaçoso.

Para almoçar, utilizei os serviços do Restaurante e Churrascaria Bom Sabor, onde paguei R$17,00 para comer à vontade no sistema self-service. 

Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, "Marco Zero" do Caminho.

Mais tarde, me dirigi à Secretaria da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, sito à Rua Madre Maria Vilac, 1700, onde fui muito bem recebido pelo Sr. Lúcio que, após me cumprimentar efusivamente, apôs os carimbos necessários em minha Credencial Peregrina.

Satisfeito, fiz demorada visita ao interior do templo, onde aproveitei para agradecer às bençãos recebidas e pleitear saúde para mim e familiares. 

O interior da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe.

Depois, antes de retornar ao local de pernoite, dei um agradável giro pela orla marítima que, por ser um sábado, se encontrava bastante animada.

Necessário clarificar que Canasvieiras funciona como uma pequena cidade: conta com serviços de saúde, polícia, supermercado e comércio, sendo que sua praia fica aberta para o norte, entre o mar oceânico e o de baía, com águas calmas, mornas e ondas suaves. 

Placa alusiva!

BREVE HISTÓRIA 

A ideia de criar um caminho no Brasil surgiu de Fábio Tucci Farah e Mariana de Assis Viana Mansur, de São Paulo.

Na Espanha, o caminho mais curto, de La Coruña até Santiago, não chega a completar os cem quilômetros exigidos.

Por isso, em dezembro de 2016 a Catedral de Santiago permitiu que outros países criassem trechos pequenos fora da Europa.

De acordo com o jornalista e escritor Fábio Farah, que representa a Catedral de Compostela junto à Arquidiocese de São Paulo, na idade média, quando as peregrinações começaram, não existiam cidades consagradas como ponto de partida.

“Muitos peregrinos saíam da porta de casa e caminhavam até Santiago de Compostela. Hoje temos cidades consagradas como ponto de partida e poucos saem da porta de casa. O Caminho brasileiro será, simbolicamente, uma forma de sair da porta de casa para percorrer o trajeto”, afirma.

Com a autorização da Catedral, Fábio e Mariana começaram a pesquisar lugares para o Caminho Brasileiro.

Como La Coruña é uma cidade portuária, eles queriam uma cidade costeira para dar a ideia de continuidade ao caminho.

“Além de ser uma cidade bela, Florianópolis é de fácil acesso para pessoas de vários países”, explica Fábio.

A existência da Acacsc (Associação Catarinense dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela) também facilitou pela escolha por Florianópolis.

O Caminho Brasileiro, foi consagrado em 29 de junho de 2017, com a participação de mais de 500 caminhantes, sendo, a partir de então, reconhecido pelo Cabildo Metropolitano da Catedral de Santiago de Compostela e oficialmente integrado ao trajeto histórico de A Coruña a Santiago de Compostela, totalizando os 100 quilômetros exigidos.

Fonte: ndonline.com.br

NO CAMINHO

No dia seguinte, um domingo, me levantei cedo, ingeri frutas e uma barra de chocolate, depois fiz alongamentos e, exatamente, às 6 h 15 min, me postei diante da igreja Nossa Senhora de Guadalupe, marco zero desse Caminho que, obviamente, àquele horário, se encontrava fechada.

Depois de me persignar, solicitar proteção à Virgem em meu trajeto, liguei o GPS e segui em frente pela rua Afonso Cardoso da Veiga. 


Praia de Canasvieiras, no início, integralmente deserta...

Vista do meu lado esquerdo, enquanto caminhava pela praia de 

Canasvieiras.

Duzentos metros adiante, ao chegar à praia, dobrei à direita e segui caminhando pela areia, no sentido norte. 

Fazia frio e ventava forte, mas prossegui animado pela praia deserta, enquanto o dia raiava, lentamente.

Mais adiante, eu ultrapassei a praia da Cachoeira do Bom Jesus e, após ter caminhado 3.700 m, já em Ponta Canas, eu dobrei à direita, depois, por uma ponte de madeira, eu atravessei um curso d'água, e deixei a orla marítima pela servidão Manoel Salomé Jacques. 

Deixando a praia de Ponta Canas.

Ao final desta, eu acabei por sair na Avenida Luiz Boiteux Piazza, onde dobrei à esquerda e caminhei por 2.000 m até a rua Deputado Fernando Viegas (Referência: Residencial Raio do Sol), onde dobrei, novamente, à esquerda.

Ao final da rua paralela à praia (+700 metros), cheguei à igreja de São Pedro, onde eu deveria obter segundo carimbo em minha Credencial Peregrina, contudo, o templo se encontrava fechado. 

Igreja de São Pedro.

Já prevendo tais desencontros, a direção desse roteiro autorizou o atendente da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe a timbrar, com antecedência, os 4 carimbos em minha credencial.

Fiz algumas fotos no local, depois segui adiante pela Estrada Jornalista Jaime de Arruda Ramos, por onde caminhei 480 metros, até chegar ao Antares Club Hotel Lagoinha (nº 1850), onde há uma passagem que leva à praia da Lagoinha do Norte, à esquerda.

Estou descrevendo, em detalhes, a minha trajetória, no entanto, posso assegurar que esse roteiro está impecavelmente sinalizado com flechas amarelas e placas que estão, quase sempre, afixadas em postes, muros, estacas, etc.. 

Tudo muito bem sinalizado.

A larga faixa de areia me permitiu uma boa caminhada pela praia da Lagoinha, que é protegida por costões, tem águas quentes e calmas e abriga uma tradicional colônia de pescadores.

Quinhentos metros adiante, quando a orla se findou, dobrei à direita e acessei, novamente, a Estrada Jornalista Jaime de Arruda Ramos, e logo após uma ponte, fleti à esquerda, e principiei a ascender por uma escadaria.

Por sinal, próximo ao acesso às escadas, há uma segunda alternativa ao caminhante, de média dificuldade, com dois quilômetros a menos em extensão, porém, a primeira opção, mais bruta e difícil, proporciona um visual deslumbrante e compensador, e foi por ela que eu segui. 

Visual da praia Lagoinha Norte, desde o início da Trilha do Rapa.

Assim, prossegui ascendendo pelos degraus e, em seu final, eu dobrei à esquerda e prossegui pela rua Cônego Valmor Castro até determinado local, onde se inicia a Trilha do Morro do Rapa, de razoável complexidade, em minha humilde opinião.

A entrada da trilha é sinalizada com placas indicativas do trajeto e grau de dificuldade.

Sua extensão é de 2.800 m, com tempo de percurso de, aproximadamente, 1h 30 min, sendo que no topo do morro é possível se ter uma vista panorâmica das Praias Brava, dos Ingleses e da Ilha do Arvoredo. 

Cartaz existente no início da Trilha do Morro do Rapa.

Ao longo do trajeto há vários letreiros, com explicações sobre a flora e fauna locais e, além disso, toda a sua extensão está sinalizada por estacas vermelhas, um ótimo referencial para o caminhante não se perder, posto que em determinados locais, partem ramificações que podem induzir a erros.

Na verdade, essa vereda atravessa o Morro do Rapa (daí o nome), que separa a praia de Lagoinha Norte da praia Brava, sendo que, no trecho em que se caminha pelo alto da serra, a vista panorâmica do entorno é fantástica e a mata que nos envolve, exuberante. 

Pela trilha...

Desde o início, já em meio à Mata Atlântica, existem vários pontos para admirar a beleza da encosta recortada pelo mar azul brilhante.

Um pouco mais acima, cheguei ao “Mirante de Pedra”; trata-se de uma pequena saida da trilha, um enorme rochedo que avança em direção ao mar, de onde avistei uma boa parte do continente e as praias que haviam ficado à minha retaguarda.

Infelizmente, o sol estava de frente, o que não permitiu bater fotos, face à intensa claridade que dele advinha. 

A "Caverna de Pedra".

Mais acima, passei pela “Caverna de Pedra”, uma formação rochosa que molda um túnel sobre a trilha.

Ainda em ascenso forte pela íngreme senda, ultrapassei o “Abrigo da Pedra”, outra enorme conjunção de três rochedos que se encontram superpostos. 

O "Abrigo da Pedra".

Em sequência, quase no topo do morro, eu passei pela “Ponta do Rapa”, o ponto mais ao norte da ilha de Florianópolis, de modo que, ao circundarmos a trilha, estamos dando a volta nesta pequena península, onde encontra-se a “Agulhinha do Rapa”, mudando totalmente a nossa perspectiva.

Porquanto, no início visualizamos a parte interna da ilha, que dá para o continente, e depois observamos a parte externa, voltada para o oceano. 

Pela trilha, integralmente solitário...

Daquele patamar é possível divisar a Ilha do Arvoredo, contudo, o candente sol frontal impediu minha visão e fotos dessa maravilha.

Depois da passagem pela “Agulhinha do Rapa”, onde é possível fazer escaladas em rocha, principiei a descender pela mata nativa para despontar em um dos mirantes mais belos que já vi: uma grande plataforma de parapente, de onde pude avistar os dois lados da ilha de Florianópolis: leste e oeste. 

Vista desde o local situado próximo a plataforma de parapente

Depois de uma pausa contemplativa no local, prossegui em descenso na trilha, uma íngreme e “criminosa” ladeira que, em seu final, me deixou numa rua asfaltada, por onde segui adiante.

Mais à frente, ao chegar em uma rotatória, dobrei à direita e prossegui caminhando até a rua Sinésio Duarte, que dá acesso à praia Brava, uma orla ampla, de característica oceânica, que possui ondas fortes e bravias, derivando daí o seu nome.

Nelas, as águas são limpas, contêm muita salinidade, embora, de temperatura agradável. 

Caminhando pela praia Brava.

Sua areia é finíssima e macia, exibindo um encantador visual aos visitantes.

Segundo li, ali há uma excelente infraestrutura hoteleira e de hospedagens de temporada, sendo muito frequentada por turistas argentinos, anualmente, durante o mês de janeiro.

Nela, caminhei cerca de 1.500 metros e, ao seu final, adentrei à direita, e logo acessei a trilha do Morro da Feiticeira, que segue em meio à mata, num trecho que exige muito esforço físico e extrema atenção à sinalização. 

Início da Trilha do Morro das Feiticeiras.

O trajeto avança pelo morro, sob a frondosa mata nativa e possui trechos bem íngremes e escorregadios.

Até que o ascenso foi tranquilo, embora tenha encontrado trechos erodidos e muitos galhos espalhados pela trilha, resultado de vendavais recentes. 

Pela trilha, em ascenso...

Mas, o grande desafio situa-se no declive, pois, em determinados trechos, ele é por demais inclinado.

Por sorte, em sua parte derradeira, uma mão bondosa amarrou uma corda nas árvores laterais e foi nela que me segurei para não despencar encosta abaixo.

Também, nesse trecho matoso, como na Trilha do Morro do Rapa, não cruzei e nem avistei vivalma, talvez pelo horário extemporâneo que por ali transitei.

Ao emergir desse frondejante intermeio, eu adentrei à praia dos Ingleses, uma grande orla de mar aberto, com quase cinco quilômetros de extensão.

Suas ondas são fortes e longas, e nela eu segui animado, pisando sobre a areia fina e branca, que proporciona uma maior formação de dunas. 

Caminhando pela praia dos Ingleses.

O clima já estava mais ameno, de forma que encontrei muitas pessoas caminhando ou correndo em sentido contrário, algumas até em trajes de banho, embora a temperatura se mantivesse na casa dos 15ºC.

Em determinado local eu encontrei um grande fluxo d'água escoando em direção ao mar e para não molhar meus pés, precisei fazer uma pequena volta, utilizando a ponte existente na rua paralela à praia, e nela retornando, assim que encontrei acesso mais adiante.

Sem grandes empecilhos, pois o trajeto é integralmente plano e arejado, caminhei até a última rua existente antes das dunas, chegando à Estrada Vereador Onildo Lemos.

A igreja de Nossa Senhora dos Navegantes está a uma quadra da praia, onde eu obteria o terceiro carimbo em minha credencial. 

Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes.

No entanto, como já era previsto, o templo também se encontrava fechado.

Fiz ali, então, pequena pausa para fotos e hidratação.

Na sequência, acessei a avenida Dom João Becker, e por ela prossegui até a altura da rua Mercúrio (na bifurcação em Y).

Então, dobrei à esquerda e prossegui por ela, até encontrar a rua Intendente João Nunes Vieira.

Nela está o Santuário Sagrado Coração de Jesus (à altura do nº 1529), final da jornada dos 22 quilômetros do Caminho Brasileiro de Santiago de Compostela, por sinal, o único santuário cristão que encontrei aberto no percurso. 

O Santuário do Sagrado Coração de Jesus, "Ponto Final" do Caminho Brasileiro.

Aproveitando a ocasião, adentrei ao templo para orar e agradecer pela conclusão de mais um caminho.

Depois, tomei um táxi e retornei à praia de Canasvieirias, local de meu pernoite nesse dia, também.

E, já na pensão onde me hospedara, depois de um revigorante banho, sentia que naquele dia fora impulsionado por um sentimento de missão, compromisso e atenção total, vez que estava pronto para qualquer coisa, a qualquer hora e, apesar de tudo, não estava cansado quando cheguei.

Gratidão, Santiago, mais uma vez!


ORAÇÃO DO BOM CAMINHO! 

Meus pés foram feitos para caminhar;

Minhas costas para levar minha bagagem;

Meus braços e mãos para realizar o trabalho necessário na jornada;

Minha mente para comandar meus corpos físico e astral;

E meu Espírito para ser o Senhor da minha mente.

Assim, que meus pés escolhidos sempre prontos para fazer a caminhada;

Meus braços e mãos fáceis sempre aptos ao trabalho durante minha jornada;

Minha mente esteja sempre atenta ao comando correto do meu corpo, para que eu possa realizar o trabalho físico e intelectual de forma correta;

Que meu espírito seja sempre forte para comandar minha mente com maestria;

E meu coração seja sempre saudável para realizar o CAMINHO DO MEIO, servindo de ponte de ligação entre a mente e o espírito, no Caminho do BEM, do BOM e do BELO.

Assim Seja! ” 

A primeira flecha do Caminho, situada próximo da igreja de NS de Guadalupe.

Para ver ou baixar a trilha que percorri, gravada no aplicativo Wikiloc, acesse: https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/caminho-brasileiro-de-santiago-de-compostela-florianopolis-sc-27501673

FINAL 

"As vezes o meu inteiro se parte e tenho que colocar esses pedaços no seu devido lugar. Para que isso aconteça necessito usar uma quantidade imensa de energia e só consigo quando os meus medos, as minhas dores, a minha felicidade e os meus fantasmas entram em harmonia, e me dão o aconchego onde minha alma repousa e meu espírito recebe a luz que o energiza. Existem lugares que são únicos para que isso aconteça, e um deles é o Caminho de Santiago.” (Autor desconhecido) 

Caminhando pela praia dos Ingleses. Visual imperdível! Manhã maravilhosa!

Peregrinar, em seu significado ancestral, denota partir, sair, deixar.

Vez que, não é possível caminhar sem se ausentar do cotidiano, sem desapegar das coisas e da própria casa.

Mas, caminhar pode significar, também, buscar algo novo, talvez, meditar, procurando respostas para dúvidas existentes em nosso âmago.

Nesse sentido, diria que o percurso do Caminho Brasileiro de Compostela me encantou pelo seu silêncio e ermosidade, em boa parte do trajeto, onde pude me introspectar e comungar com o universo à minha volta.

Posto que, a natureza presente em seu roteiro enche os olhos, faz suspirar e enternece o nosso coração.

Contudo, gera, também, obstáculos físicos de considerável porte.

Como conselho amigo, recomendaria aos caminhantes menos experientes, não intentarem tal travessia solitário, tal qual eu fiz.

Porquanto, peregrino de muitos caminhos, diria, com sinceridade, que achei o trecho brasileiro um dos mais difíceis que já percorri, devido à instabilidade do percurso, que oscila entre ascensos íngremes, decliveis abruptos, areia, asfalto, rochas, trilhas erodidas e matas umbrosas.

Inobstante tais entraves físicos, quando atravessei a porta do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, ponto final desse Caminho, encontrei o prêmio que tanto ansiava.

Em relação à minha convicção religiosa, experienciei a iluminação interior.

Já, concernente ao meu ardor peregrino, o autoconhecimento.

Recompensas abstratas, sem dúvida, mas, para mim, de valor inestimável.

Minha Credencial Peregrina e os 4 carimbos indicados.

Assim, com os quatro carimbos apostos em minha Credencial Peregrina, já sonho em percorrer o trecho restante, a partir de La Coruña, capital da Galícia, totalizando 100 milhas exigidos para a obtenção de mais uma Compostela (Diploma de Peregrinação). 

Dessa forma, no dia seguinte, de manhã, retornei à igreja de Nossa Senhora de Guadalupe e ali agradeci a Virgem, com emoção e fervor, aquela visita ao seu templo, em nome de Santiago.

Na sequência, com infinita gratidão, levantei-me do banco onde estivera sentado, em profunda reflexão, volvi os olhos para o infinito e fiz uma prece silenciosa e franca, pela consecução de meus objetivos na Espanha.

Depois, girei o corpo e iniciei a longa viagem de regresso para casa.

Bom Caminho a todos! 

Agosto / 2018