2023 – CAMINHO DA GRATIDÃO – TORRES/RS a NOVA TRENTO/SC – 423 QUILÔMETROS  - (2ª Parte)


 Reconhecer a gratidão é a porta de entrada para a felicidade e a prosperidade, pois nos faz enxergar as bênçãos em cada momento da vida!

10° dia: GAROPABA/SC a ENSEADA DA PINHEIRA (PALHOÇA/SC) – 24 QUILÔMETROS


A chuva torrencial não deu guarida durante a noite e madrugada, contudo, quando partimos, às 5h30, ela se transformara numa tênue garoa. Sem maiores problemas, acessamos uma ciclovia, localizada ao lado de uma rodovia que, logo deixou o mar, para contornar as famosas dunas do Siriú. Depois de percorrer 6 quilômetros, nós ultrapassamos o volumoso rio Siriú por uma ponte. E, sob clima ameno e entre verdes paisagens, no 10º quilômetro, numa bifurcação, tomamos à esquerda e enfrentamos um ríspido ascenso, ainda sobre piso asfáltico. O descenso pelo lado oposto foi sobre terra e pedrinhas soltas, o que nos obrigou a maximizar os cuidados para não cair. Ao acessar o bairro da Gamboa, ao invés de seguirmos até o centro da vila, nós tomamos um atalho e logo estávamos caminhando à beira mar, por uma orla inclinada. Num local próximo, onde se localiza a divisa de Garopaba com Paulo Lopes, precisamos escalar as dunas para contornar um grande rochedo. Depois, prosseguimos pela praia, belíssima por sinal, mas de areia fofa, e que se encontrava integralmente deserta, face ao clima frio e nebuloso. No final da Praia da Guarda, chegamos ao rio da Madre, que atravessamos num barco comandado por um exímio remador local. Do outro lado, já na Guarda do Embaú, encontramos farto comércio e fizemos pausa numa padaria para ingerir o café da manhã, ainda que tardio. Depois, sem pressa, seguimos até o local de pernoite, localizado na Praia de Cima (Pinheira), pertencente ao município de Palhoça.

Sobre a jornada, diria que foi bastante tranquila e contemplativa, embora os 10 primeiros quilômetros tenham sido trilhados sobre piso asfáltico. Ademais, o dia se manteve fresco e plúmbeo, o que facilitou nosso deslocamento. Apesar da garoa que nos acompanhou no início da etapa e voltou no final, conseguimos chegar sem nos molhar ao hotel onde ficamos hospedados.

A Praia da Pinheira, localizada na cidade de Palhoça/SC, é uma das mais belas e serenas do litoral catarinense. Aqueles que desejam fugir das badaladas orlas de Florianópolis e Balneário Camboriú, ela é o destino perfeito, pois o local garante não só o sossego e momentos contemplativos, como também uma grande oportunidade para entrar em contato com a natureza de forma imersiva.

Pernoite: Hotel e Pousada Santos: Espetacular!  =  Almoço: Restaurante Paladar Gaúcho: Ótimo!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Em descenso para a Praia da Gamboa. Sinalização excelente!

Caminhando pela Praia da Guarda, em direção à Guarda do Embaú.

Atravessando o rio da Madre num barco a remo.

11° dia: ENSEADA DA PINHEIRA (PALHOÇA/SC) a ENSEADA DO BRITO (PALHOÇA/SC) – 23 QUILÔMETROS

 

Partimos às 6 h, sob um clima frio e ventoso, temperatura ao redor de 14ºC. No início caminhamos pela praia, porém, percorridos 3 quilômetros, nós deixamos a orla, transitamos por uma trilha ecológica de parca extensão, ultrapassamos algumas ruas e logo passamos a caminhar por uma rodovia. Alguns metros à frente, fletimos radicalmente à esquerda, e enfrentamos um caminho plano, arenoso e pleno de enormes poças de água, nominado Estrada do Espanhol, que fomos vencendo com muita cautela. No nosso lado direito, situava-se a bela reserva Maciambu. Percorridos 9 quilômetros em bom ritmo, encontramos uma lanchonete, onde ingerimos café e lanche.  Prosseguindo, passamos sob a BR-101, depois acessamos uma antiga estrada florestal, plena de chácaras e residências bem-cuidadas, num trajeto plano, integralmente verde, fresco e agradável. Após ultrapassar uma reserva indígena, já no Morro dos Cavalos, voltamos à BR-101, que apresentava intenso movimento de veículos, e seguimos na contramão, pelo lado externo do guardrail. Mais acima, nós ultrapassamos a BR por uma passarela, depois enfrentamos o trecho mais perigoso e tenso do roteiro: caminhamos 800 m à beira da rodovia, pelo lado interno do guardrail, onde não havia acostamento. Ali, caminhões e outros veículos trafegavam a grande velocidade, passando a centímetros de distância, um risco à nossa integridade física. Finalmente, percorridos 18 quilômetros, adentramos à direita, e seguimos beirando a orla por uma rodovia, já na Enseada do Brito, até o Centro de Vivência Caminho de Nazaré. Ali, o Dão, o simpático proprietário daquele espaço não podia nos abrigar, por estar em curso um Congresso Religioso, então, nos acompanhou até uma casa próxima, onde ficamos hospedados.

Sobre a jornada, diria que foi de razoável extensão, mas integralmente plana. O clima frio e nublado, também, nos auxiliou bastante. De se ressaltar, o risco que corremos ao transitar pela BR-101, num trecho onde não há acostamento, um problema que deverá ser resolvido futuramente. No global, etapa extremamente verde e agradável.

A Enseada do Brito é uma praia ideal para os que buscam um lugar calmo, podendo também tomar um refrescante banho de mar e repor as energias. Costuma receber um bom número de turistas durante a alta temporada, mas seus principais frequentadores são moradores próximos e pescadores. O lugar fica repleto de barcos, já que o cultivo de ostras e mariscos é predominante na região. A localidade é o berço da colonização açoriana em Palhoça/SC.

Pernoite: Casa de aluguel da Kelly Cristina: Excelente!  =  Almoço: Restaurante Maré Mansa (marmitex);

Algumas fotos do percurso desse dia:

Atravessando a Reserva Florestal de Maciambu.

Uma etapa plena de muito verde, em todas as direções.

Flores no Centro de Vivência do Dão, Enseada do Brito.

12° dia: ENSEADA DO BRITO/SC a SANTO AMARO DA IMPERATRIZ/SC – 27 QUILÔMETROS

 

A etapa seria de grande extensão e estávamos num domingo, então, visando agilizar nosso deslocamento, partimos às 5h30 e, novamente, sob clima frio e nublado. Inicialmente, transitamos por bairros urbanos, onde um cinturão de casas nos separava da praia. Percorridos 6 quilômetros e já na Praia do Pontal, vimos o mar pela derradeira vez, depois nos afastamos definitivamente da orla catarinense. Então, por um viaduto, passamos sob a BR-101 e seguimos caminhando por uma estrada larga, que margeia o rio Cubatão e atravessa pequenas comunidades, mas ainda sobre piso duro. Finalmente, no 12º quilômetro, passamos a pisar sobre terra e nesse trecho visualizamos inúmeras culturas de hortaliças, com destaque para beringela, pimentão, tomate, vagem e outras que não conseguimos identificar. No 17º quilômetro, nós cruzamos o rio Vargem do Braço por uma ponte e, depois dali, até o final, voltamos a caminhar sobre piso asfáltico. Logo adiante, no bairro Braço São João, fizemos uma pausa para descanso e hidratação, visto que até aquele local não encontramos comércio em funcionamento. Enquanto conversávamos, iniciou-se uma renitente garoa, obrigando-nos a colocar as capas protetoras. A partir daí, encontramos intenso tráfego de veículos e seguimos ultrapassando pequenas vilas. E, logo após transpor o rio Cubatão por uma ponte, adentramos em zona urbana, quando a chuva passou a cair pra valer. O trânsito estava acentuado, mas fomos vencendo as dificuldades, trocando de calçadas e, após passar diante da igreja matriz da cidade, cujo padroeiro é Santo Amaro, chegamos ao local de pernoite.

Sobre a jornada, diria que ela foi integralmente plana, urbanizada em vários intermeios, mas sempre orlada por magníficas paisagens. A lamentar, que do total percorrido, 22 quilômetros foram sobre piso duro, um tormento para quem calça botas, como eu. No geral, etapa fácil e, tirante o início, até a transposição da BR-101, de grande plasticidade.

A colonização de Santo Amaro da Imperatriz está ligada à descoberta da fonte de águas termais em 1813. Em 18 de março de 1818, o rei Dom João VI determinou a construção de um hospital – foi a primeira lei de criação de uma estância termal no Brasil. Em outubro de 1845, Santo Amaro da Imperatriz recebeu a visita do casal imperial Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina, que mandou construir um prédio com quartos e banheiras para os visitantes em busca de alívio para suas dores. Em homenagem à Imperatriz, a localidade, foi rebatizada como Caldas da Imperatriz e, posteriormente, como Santo Amaro da Imperatriz. População: 27 mil habitantes.

Pernoite: Hotel Santo Amaro: Simples, mas barato e bom!  =  Almoço: Restaurante Camargos: Muito bom!

Algumas fotos do percurso desse dia:

O belo rio Cubatão, que nos acompanhou em boa parte dessa jornada.

Atravessando um bosque diferenciado...

Paisagens de encher os olhos.. céu escuro, promessa de chuvas em breve...

13º dia: SANTO AMARO DA IMPERATRIZ/SC a SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA/SC – 20 QUILÔMETROS

 

A jornada seria de pequena extensão, então partimos às 6h30, depois de ingerir um supimpa café da manhã que o Sr. Valdir, o simpático proprietário do hotel, nos preparou. A previsão indicava tempo nublado, mas sem chuvas. Assim, saímos apenas com a mochila protegida. Lentamente fomos nos afastando da zona urbana e até a passagem pela rodovia SC-282, encontramos trânsito intenso e muito perigo, pois nem sempre havia calçadas. A nos flanquear apenas imensas pastagens e grandes maciços verdes no horizonte, todos com extensa cobertura vegetal. Infelizmente, para nossos pés, prosseguimos caminhando sobre piso asfáltico até o final da etapa. Logo passamos a encontrar capelinhas com as estações da Via Sacra, enquanto ladeávamos o encorpado rio Matias. No final da Via-Crúcis, já no 10º quilômetro, encontramos uma bonita capela de São Francisco de Assis e a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Tudo muito bem-cuidado, com pintura recente. Defronte ao lindo complexo religioso e aproveitando a ocasião, fizemos uma breve pausa para ingestão de água e uma banana. Então, prosseguimos em leve mas contínuo ascenso, que se prolongou até o 15º quilômetro. Na sequência, passamos a descender e no 17º quilômetro, confluímos com a rodovia SC-281, que provém de Palhoça. Então, giramos à esquerda e caminhando sem pressa, sobre um calçadão lateral, chegamos ao nosso destino.

A jornada foi de pequena extensão, porém, cansativa em termos físicos, pelo excesso de asfalto que encontramos no trajeto. No entanto, de maviosa beleza, pelo entorno circundante, de um verde perene em todos os seus matizes. No geral, etapa fácil e agradável, não fosse pelo piso duro em toda a sua amplitude.

São Pedro de Alcântara foi a primeira colônia alemã em Santa Catarina, povoada por imigrantes provenientes em sua maioria da região sudeste da Alemanha, que chegaram na montanhosa região em 1829. Já, o santo que dá nome à cidade, ficou conhecido, sem o desejar, em toda a Europa, pois foi conselheiro do imperador Carlos V e do rei João III; além de amigo dos santos e diretor espiritual de Santa Teresa de Ávila. População: 6 mil habitantes.

Pernoite: Pousada Familiar Dona Dalva: Excelente!  =  Almoço: Restaurante Central: Ótimo!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Paisagens lindas a nos ladear. Céu plúmbeo,,

Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, no meio da etapa.

A linda igreja matriz de São Pedro de Alcântara.

14° dia: SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA/SC a ANGELINA/SC – 28 QUILÔMETROS

 

Infelizmente, o clima mudou, choveu forte a noite toda e quando partimos, às 5h30, ainda garoava intensamente. Inicialmente, seguimos à beira da rodovia SC-281, que corta a cidade. Depois, acessamos uma senda empedrada, nominada de “Caminho das Tropas”, que seguiu em perene e liso ascenso, pelo interior de uma neblinosa mata nativa. Mais acima, a vereda se nivelou e passamos a transitar entre extensas pastagens e muitas fazendas de criação de gado. A estrada se encontrava lisa e, em muitos trechos, encontramos enormes poças de água, fruto da intempérie recente. O rio Imaruí, que corria pelo nosso lado esquerdo estava bufando e bem acima de seu nível normal. O clima frio e úmido, nos propiciou uma caminhada extremamente agradável, enquanto o dia raiava. O roteiro prosseguiu plano e perpassamos por locais de incrível beleza paisagística. Nesse percurso inicial, transitamos por alguns bairros e colônias, onde havia igrejas, porém, em nenhum deles vimos algum estabelecimento comercial em funcionamento. Contudo, depois de percorrer 16 quilômetros, encontramos uma gruta com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, onde havia água potável disponível e, então, pudemos repor o estoque desse líquido. Logo em seguida, passamos diante do bar do Sérgio, nossa esperança de encontrar café, porém ele estava fechado. Enquanto seguíamos animados pela trilha, passamos diante de muitas casas típicas da região, um museu, alambiques situados à beira da estrada, alguns casarões antigos conservados e outros, infelizmente, abandonados. O caminho seguiu sempre ascendente e quase imperceptível, mas depois de caminhar 18 quilômetros, chegamos ao topo de um morro, situado a 690 m de altitude, exatamente, no local onde se localiza a divisa dos municípios de São Pedro de Alcântara e Angelina. Depois de uma pausa no cume para fotos e contemplação, teve início um intenso declive, que perdurou por uns 2 quilômetros, situado numa região erma e com bastante mata nativa. Na sequência, voltamos a ascender, desta vez, de forma continuada, por outros 2 quilômetros, contudo, sob frondosos eucaliptos, que minoraram o nosso esforço físico. O restante do trajeto foi em desabalado descenso, por locais de expressiva beleza, tendo um encachoeirado riacho a correr pelo nosso lado direito, até atingir a cidade de Angelina, nossa meta. À tarde, após o almoço e a necessária soneca vespertina, pudemos visitar e fotografar, com tranquilidade, a bela igreja matriz da cidade, bem como a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, uma obra magnífica.

A jornada foi de grande extensão, e extremamente desafiadora em alguns trechos, mormente, aqueles em íngreme descenso, Por sorte, o clima úmido e nublado facilitou, sobremaneira, nosso deslocamento. A nos ladear, em todo o percurso, extensas matas e pastagens, de encantadora plasticidade. No geral, uma etapa desgastante, mas orlada de verde em toda a sua dimensão.

A história de Angelina começa em 1845, com a família Garcia, que fixou residência naquelas terras. Em 30 de novembro de 1859, foi fundada ali uma colônia, quando oito famílias se estabeleceram no vale, atual perímetro urbano da cidade. Recebeu a denominação de Angelina, em homenagem ao então Presidente do Conselho de Ministros, Ângelo Muniz da Silva Ferraz. População: 5 mil habitantes

Pernoite: Sens Hotel e Restaurante: Excelente!  =  Almoço: Restaurante do próprio hotel: Ótimo!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Paisagens imorredouras nessa etapa..

Em descenso, já próximo de Angelina.

A gruta milagrosa de NS de Lourdes, em Angelina.

15° dia: ANGELINA/SC a MAJOR GERCINO/SC – 29 QUILÔMETROS

 

Seria outra jornada de superação e grande amplitude, assim, partimos  às 5h15, sob clima fresco e nublado, mas sem chuva. O primeiro trecho, de 2 quilômetros de extensão, foi trilhado sobre piso duro e por bairros periféricos. Então, numa bifurcação, adentramos à esquerda e passamos a caminhar em terra, enquanto o dia raiava. O trajeto seguiu sempre em agradável descenso e 4 quilômetros percorridos, passamos a margear a Barragem do Garcia, que foi inaugurada em 1963, sendo o primeiro empreendimento da CELESC - Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A, na geração de energia elétrica. O caminho plano e, em alguns trechos, com profundos declives, seguiu ao lado do maravilhoso rio das Antas, que corria célere pelo nosso lado esquerdo. Em vários enclaves, encontramos aglomerações de residências, bem como inúmeras chácaras e pequenas propriedades pertencentes a pessoas residentes em outras cidades. Depois de 13 quilômetros percorridos, adentramos ao distrito de Garcia, cuja sede é Angelina e, numa padaria, fizemos providencial pausa para ingerirmos café e lanche, o que muito nos reanimou. Seguindo em frente, passamos a caminhar sobre piso asfáltico, já no bairro Coqueiros. Finalmente, depois de percorrer 18 quilômetros, encontramos uma bifurcação e, observando à sinalização, adentramos à esquerda, em direção à cidade de Major Gercino, nossa meta. Bem dispostos, prosseguimos em contínuo ascenso, contudo sempre rodeados por abundante vegetação que, em alguns locais, nos propiciou refrigério, embora o dia prosseguisse nublado. Numa das curvas da estrada pude fotografar um acontecimento inusitado: trata-se da união de duas árvores que, com raízes diferenciadas, penderam e se encontraram no alto e, imbricadas e amalgamadas com tal solidez, que se tornaram um só tronco. No mínimo, algo curioso e distinto, embora existam referências desse fenômeno na internet sob o título: “duas árvores abraçadas”. Prosseguimos ainda em leve ascensão mergulhados em mata nativa até que, finalmente, acabamos por sair num local aberto, no pico do monte, de onde detínhamos uma visão privilegiada de todo o entorno que se desenhava abaixo. Fizemos ali uma pausa para contemplação e fotos. Então, passamos a descer com ímpeto, pois o caminho descai desabaladamente e é preciso envidar todo cuidado para não levar um tombo. Nessa hora o cajado é essencial! Já no plano, adentramos em zona urbana, passamos a caminhar por uma avenida asfaltada e logo chegávamos ao nosso destino. À tarde, o tempo mudou novamente e caiu pesada chuva na região, plena de raios e trovões, que prosseguiu noite adentro.

Outra jornada de grande extensão, porém bem mais fácil que a anterior, pois nela há somente um ascenso, situado após o 18º quilômetro. Novamente, o clima nublado facilitou nossa caminhada. A nos ladear, em todo o percurso, extensas matas e culturas variadas, com ênfase ao tabaco. No global, uma das etapas mais belas desse roteiro.

Emancipada em 1961, a cidade recebeu o nome de Major Gercino em homenagem a Gercino Gerson Gomes, um filho ilustre. Seus colonizadores foram alemães, portugueses, italianos e poloneses, e sua principal fonte de renda é o turismo e a fabricação artesanal de vinhos e espumantes. População: 4 mil pessoas.

Pernoite: Hotel e Restaurante Senadinho: Excelente!  =  Almoço: No restaurante do próprio hotel: Ótimo!

Algumas fotos do percurso desse dia:

O belo rio Tijucas, que nos acompanhou em todo o trajeto desse dia.

Muito verde, para onde se olhe...

16° dia: MAJOR GERCINO/SC a NOVA TRENTO/SC – 26 QUILÔMETROS

 

A etapa seria longa e estafante, eu sabia, pois a percorrera em 2016. Partimos às 5h, e o primeiro grande desafio do dia foi atravessar o rio Tijucas por uma ponte pênsil, visto que tudo ainda estava escuro e o piso, em madeira, se encontrava úmido e liso. Ultrapassado esse obstáculo, acessamos uma estrada de terra larga e hidratada. Nela giramos à direita e seguimos caminhando, indefinidamente, por locais habitados. Por sorte, havia chovido bastante à noite e o clima se apresentava úmido, neblinoso e frio. O trajeto se apresentou extremamente verde, tendo inicialmente imensas pastagens em ambos os lados do caminho. Mais adiante nós atravessamos um frondoso bosque de eucaliptos e, na sequência, visualizamos grandes áreas cultivadas, sendo que o forte nesse enclave são as plantações de milho e mandioca. Trechos de mata nativa apareciam nos morros circundantes, enquanto o rio Tijucas corria mansamente à nossa direita, durante todo esse percurso. Sem dúvida, um colírio para nossos olhos, uma benção divina aos nossos sentidos. Então, passamos por uma área inculta, onde avistamos rústicos ranchos de madeira, local de habitação de silvícolas, uma vez que transitávamos por uma aldeia indígena, pois nessa área habita uma tribo de índios guaranis. Prosseguindo, logo passamos diante de um pequeno oratório onde a imagem maior era a de Nossa Senhora Aparecida, onde fizemos, então, uma pausa para oração, bem como aproveitei a água que vem de uma bica e é ofertada aos caminhantes graciosamente. Mais alguns quilômetros percorridos agradavelmente entre a pródiga natureza, transitamos pelo bairro Nova Itália, que pertence à cidade de São João Batista e paramos para fotografar a igreja de São José, o padroeiro desse enclave. Num banco situado defronte ao templo, fizemos uma pausa para descanso, lanche e hidratação. Então, na sequência, seguiram-se longos estirões, quase sempre retilíneos, localizados em meio a luxuriante vegetação, onde também notei a existência de imensas culturas de fumo, que depois são vendidas para as indústrias de cigarros. Percorridos 17 quilômetros, dobramos à esquerda e depois de 200 m, ladeamos o Pesqueiro do Sr. Dilson Trainotti, que se encontrava fechado. E, seguimos em direção à trilha. Na verdade, a “senda” que iríamos adentrar é vital para os caminhantes, pois se ela não existisse ou estivesse interditada pelo seu proprietário, nós teríamos que caminhar mais 8 quilômetros até a cidade de São João Batista e, posteriormente, seguir por asfalto até Nova Trento, o que “engordaria” em 17 quilômetros o nosso percurso naquele dia. Assim, logo acessamos o sendeiro que, em seu início, bastante inclinado, estava terrivelmente enlameado, por conta da chuva ocorrida na noite anterior. Seguimos, depois, no plano por algum tempo, porém, depois de transpor pequeno patamar, ela principiou a ascender em zigue-zague pelas bordas da montanha. O caminho nesse trecho é esplendoroso, pois está envolto por frondosas árvores, onde a vegetação além de intacta, é luxuriante. Depois de aproximadamente um quilômetro morro acima, emergimos num local arejado, de onde detínhamos larga visão de todo o entorno, até o longínquo horizonte. Prosseguimos em ascensão e, já no topo do morro, passamos a caminhar no plano, agora dentro de frondente bosque de eucaliptos. Posteriormente, após caminhar por locais ermos e integralmente arborizados, principiamos a descender com violência e, mais alguns metros percorridos, atravessamos uma porteira e acessamos uma larga e plana estrada de terra, por onde prosseguimos à esquerda. Retroagindo, diria que foram 4.200 metros, trilhados em meio a muito verde, por locais amenos e arejados, que foi, sem dúvida, o ponto alto desta etapa. Mais alguns metros percorridos em bom ritmo, dobramos à esquerda, caminhamos mais um quilômetro e adentramos em zona urbana. E logo adiante, atravessamos o rio do Braço por uma extensa ponte de concreto, dobramos à esquerda novamente e, caminhando sem pressa, chegamos à Pousada e Restaurante Natalina, local onde havíamos feito reserva. Depois de um profícuo e refrescante banho, fomos almoçar. E, à tarde, tivemos tempo de fazer demorada visita à belíssima igreja matriz de Nova Trento, cujo padroeiro é São Virgílio.

Outra jornada de razoável extensão, trilhada em meio a culturas variadas e muito verde. Novamente, o clima nublado nos auxiliou. O ponto alto foi a transposição de uma elevação, pela trilha do Trainotti, de esplendorosa beleza, mas, também, de múltiplas dificuldades. No global, uma das etapas mais fascinantes e bucólicas desse roteiro.

Nova Trento foi colonizada por imigrantes italianos, oriundos do Trentino Alto Ádige, norte da Itália, em 1875. Ainda hoje a cidade exibe com orgulho os traços da colonização italiana, presente em seus pratos típicos servidos diariamente nos restaurantes e pousadas. A bandeira de Nova Trento traz as cores da bandeira italiana (que são as mesmas do estado de Santa Catarina) e denota uma acentuada intenção de resgate das origens europeias da cidade ocorrida a partir de 1960, embora, como se sabe, a colônia tenha sido fundada quase 30 anos antes do território de Trento pertencer à Itália. População: 15 mil habitantes;

Pernoite: Pousada e Restaurante Natalina: Espetacular!  =  Almoço: Restaurante Grelha e Brasa: Nota 10!

Algumas fotos do percurso desse dia:

No caminho, em direção a Nova Trento..

Muito barro e natureza intacta, na transposição da trilha do Trainotti.

Diante da belíssima igreja matriz de Nova Trento. Quase lá!

17° dia: NOVA TRENTO/SC a VÍGOLO a NOVA TRENTO/SC – 13 QUILÔMETROS

 

Saída às 7 h, após ingerir o café da manhã, porque a jornada seria curta e fácil. Além disso, não precisaríamos carregar nossas mochilas. Esse trecho final, já meu conhecido, segue por ruas e avenidas, com expressivo tráfego de veículos. Num local situado à direita da rodovia, pudemos visitar o lugar onde existia a casa de Santa Paulina. Lá ela viveu com seus pais, de 1875 a 1890, antes de fundar a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, em 12/07/1890. Ali existem inúmeros painéis desenhados com figuras representando suas visões, sonhos e milagres. Prosseguimos adiante e, depois de transitar diante da casa que alberga o “Lar de Apoio ao Peregrino de Santa Paulina” chegamos, finalmente, diante de seu Santuário. Uma das maneiras de adentrar ao templo é subir 113 degraus pelas escadarias situadas em sua parte frontal. Porém, nós optamos por acessar uma passarela existente no lado esquerdo da igreja, com 170 metros de extensão, e por ali seguimos até a porta do Santuário, onde há uma estátua em tamanho natural de Santa Paulina. Naquele local sagrado fizemos fotos, em seguida, emocionados e jubilosos, adentramos à Basílica para orações e agradecimentos. Em seguida, assistimos à missa que é celebrada naquele Santuário, diariamente, às 10 h, onde, além de comungar e agradecer as graças recebidas, fomos homenageados pela nossa condição de peregrinos. Finda a cerimônia, com o coração em festas, retornamos a pé ao local de pernoite, em Nova Trento. Então, após abraços e cumprimentos, demos por encerrada nossa peregrinação pelo CAMINHO DA GRATIDÃO e no dia sequente retornamos aos nossos lares.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Finalmente, chegamos! Gratidão, Santa Paulina!

Adeus, Nova Trento! Ou, quiçá, apenas um até breve...

Obrigado, Santa Paulina, por todas as graças alcançadas!

INQUIETUDES...!! 


(Textos dos amigos e peregrinos Gilmar Oliveira e José Heriberto de Oliveira, insertos no Facebook, a quem eu agradeço de coração!)

 

Inigualável...

O adjetivos se tornam minúsculos, as proezas e andanças se agigantam, os quilômetros e as terras percorridas lhe saúdam, mudam- se os relevos, endireitam-se as planícies, o orvalho, quiçá, as chuvas, lhe dão as boas vindas, o sol e as sombras dividem-se em reverências, como se fossem aliadas e súditas de todos os feitos. Essa inquietude, essa força que impulsiona, o coloca nas galerias dos incomuns. Não é por orgulho, tampouco pela magnitude de todos os seus feitos, mas sim pela busca do incerto, aquelas que movem montanhas aliado a fé, a insuperável vontade de vencer, de dobrar os terrenos e os solos ainda desconhecidos. A poeira, o calor, os ventos, as chuvas, até a neve, hoje são suas companheiras fiéis, nessa busca que nunca se finda.

Saúde sempre! 

(Gilmar Oliveira)


Amei o comentário. Por mais que eu pense nunca acho o adjetivos correto para me referir a grandiosidade do Oswaldo Buzzo. Vou passar a chamá-lo de Oswaldo, o Gigante. 

(José Heriberto de Oliveira)


Somos os reflexos de todas as nossas atitudes e buscas. Buzzo é um fora de série, aquela paixão, aquele destemor e amor pelo que faz e representa. Não o conheço pessoalmente, mas vibro com todos seus feitos, aplaudo a busca incessante por novos Caminhos, procuro dentro dos limites estar ao seu lado, ouvindo o som do cajado batendo firme de encontro aos solos desconhecidos, pois ali não existem temores, mas sim a FÉ inabalável, do encontro final com o destino traçado. 

Saúde sempre! 

(Gilmar Oliveira)

Adeus, Santa Paulina, um dia ainda volto aí... tenho fé!

FINAL

 

A gratidão não é apenas a maior das virtudes, mas a mãe de todas as outras.” (Sêneca)

 

Se você deseja viajar para viver uma experiência diferente, explorar a sua fé e ter um contato maior com o seu “eu” interior, saber o que é peregrinação é fundamental. Afinal, ela é praticada desde os tempos imemoriais, em quase todas as culturas e religiões do mundo, qual seja, é o ato de realizar uma jornada individual ou em um grupo de pessoas até um destino considerado sagrado — seja ele uma cidade, um templo ou mesmo um trajeto. Mas peregrinar não é apenas caminhar até um determinado lugar, é realizar essa missão por algo maior que o mova e o inspire a ser peregrino, é ter como objetivos encontrar sua essência e seus valores, buscar o sentido da existência e evoluir espiritualmente. No lugar para o qual você se dirige pode ter ocorrido, do ponto de vista religioso e/ou histórico, uma manifestação sobrenatural, um milagre, a passagem de um ser superior ou um acontecimento importante de acordo com a sua crença. Se você decidiu realizar essa experiência é importante avaliar se completará a jornada sozinho ou se fará parte de um grupo, e uma vez decidido isso, é hora de planejar o destino. A escolha do local é muito importante pelo significado que ele representa para você, até porque, é de suma importância que ele funcione como motivador e fonte de fé. No momento em que você entende o que é peregrinação, sabe que o foco do seu trajeto não é o turismo convencional, mas, sim, uma experiência de autoconhecimento e realização pessoal.

Por outro lado, você já ouviu alguma vez a famosa frase de Hipócrates: “Andar é o melhor remédio para o homem”? Sem dúvida, uma caminhada é, de longe, uma das mais aconselháveis alternativas para quem busca ativar a saúde do corpo e da mente de uma só vez, posto que tal exercício é leve, prático e, também, desenvolve os músculos em geral e ajuda a acalmar o estresse do cotidiano.

Pois bem, foi pensando nessa saudável atividade, que viajei ao Estado de Santa Catarina, a fim de percorrer o CAMINHO DA GRATIDÃO e não me arrependi, vez que encontrei paisagens deslumbrantes, povo hospitaleiro e, durante boa parte do trajeto, visualizei um litoral magnífico, pleno de praias paradisíacas e trechos preservados da Mata Atlântica.

Além disso, diria que nele vivenciei dias de imensa alegria e profunda sintonia com o Criador, pois percorri a orla de balneários colossais, confraternizei com o dom da vida e da saúde, conheci pessoas diferenciadas, transitei por locais de imorredouras belezas naturais e alicercei novas amizades.

Uma trajetória plena de louvores, que se encerrou no abençoado Santuário de Santa Paulina, em Vígolo (Nova Trento/SC), onde sublimamos louvores e acrisolamos nossa índole.

Assim, ao finalizar este maravilhoso percurso, não poderia deixar de agradecer às pessoas maravilhosas que nos acolheram nas pousadas e hotéis, bem como à ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO CAMINHO DA GRATIDÃO – AACG, mormente, ao amigo José Heriberto de Oliveira e seus demais colaboradores, que traçaram o roteiro e se desdobram na conservação desse traçado, pois sem eles, nada teria sido possível.

Ainda, um obrigado especial à peregrina Adriana Hoch que, com seu marido Leopoldo, percorreu esse itinerário em julho passado e disponibilizou um diário na internet, de grande auxílio quando fui programar minha odisseia.

Por derradeiro, gratidão especial ao Vinícius, meu parceiro de trilha que, como de outras vezes, demostrou disposição, companheirismo e imensa fé, enquanto marchávamos em direção de nosso objetivo maior: aportar aos pés de SANTA PAULINA!

E, a Ela rogamos bênçãos e proteção a nós, família e amigos. 


Bom Caminho a todos!

Outubro/2023

Meu Diploma do CAMINHO DA GRATIDÃO, que guardarei com muito orgulho e carinho.