3º dia: ESTAÇÃO PIRACUAMA a CHÁCARA DOIS LEÕES – 30 quilômetros – “TRILHA DAS BORBOLETAS”

Seja sempre grato pelo afeto e pessoas que você tem ao seu redor. Um coração agradecido te faz feliz.” (Buda)

A jornada seria longa e árdua, assim, às 3 h 30 min já estava em pé me preparando para a penúltima etapa de minha peregrinação, dia em que, finalmente, conheceria a fabulosa “Trilha das Borboletas”.

A sequência natural do Caminho da Fé seria descender desde Campos de Jordão até a Estação Piracuama (Pindamonhangaba), um percurso de, aproximadamente, 25 quilômetros.

Ocorre que eu já conhecia esse trecho, pois o percorrera em duas ocasiões.

Além disso, eu estava com tempo exíguo para finalizar a minha peregrinação, pois tinha data para retornar ao meu lar, de forma que resolvi saltar essa etapa, fazendo-a motorizada.

Eu combinara com um motorista de táxi para ele me pegar às 4 h 30 min, de forma que, um pouco antes do horário aprazado, eu deixei o local de pernoite e me dirigi à avenida principal da cidade.

Ali me postei ao lado de um restaurante, num cruzamento, e aguardei pela chegada da condução.

Ainda estávamos no inverno, e um frio desconfortável grassava nas ruas adjacentes.

O vento cortante vergastava a cidade, que mal amanhecia para o trabalho.

As pouquíssimas pessoas que transitavam naquele horário tinham as mãos enfiadas até o fundo dos bolsos, e andavam apressadas para esquentar o corpo, com os ombros erguidos e tesos.

Conforme ajustado, no dia anterior, eis que o veículo contratado estacionou ao meu lado, na hora marcada.

Exatamente 20 quilômetros rodados em baixa velocidade, por rodovias vazias e com forte cerração, nós chegamos ao ponto adredemente demarcado: a Estação de Trem de Piracuama, situada no bairro homônimo.

Prontamente eu desci, paguei a corrida e me despedi do motorista, depois, fiz uma pausa para orar pedindo proteção na trilha.

Placa que sinaliza o início do Caminho das Borboletas.

Animado, iniciei minha caminhada e uns 500 m adiante, cheguei a uma bifurcação de roteiros: se seguisse à direita, pelo asfalto, iria na direção do bairro Mandu, depois prosseguiria até o bairro de Ribeirão Grande, mais especificamente, até a Pousada Dois Leões, um percurso com, aproximadamente, 30 quilômetros de extensão.

Porém, desta vez, eu optei por seguir à esquerda, pelo novo traçado recentemente disponibilizado pela Associação dos Amigos do Caminho da Fé que, também, depois de 30 quilômetros de percurso, deixa o peregrino no mesmo local de pernoite do outro trajeto.

Então, acessei uma larga estrada de terra, plana e arborizada, por onde segui tendo, o tempo todo, a serra da Mantiqueira a me escoltar pelo lado esquerdo.

Caminho nebuloso... ao fundo o pico do Itapeva.

Nela, protuberante, sobressaía o famoso pico do Itapeva, uma elevação rochosa com 2.025 m de altitude, cujo cume, surpreendentemente, está situado no município de Pindamonhangaba/SP, a apenas 35 metros da divisa com Campos do Jordão.

O novo roteiro é ermo e silencioso em alguns trechos, e perpassa diante de chácaras, pequenas vilas, igrejas, fazendas, etc..

Estrada arejada e deserta.

Contudo, em nenhum local eu avistei algum estabelecimento comercial em funcionamento.

O dia clareou logo, mas permaneceu enfarruscado e frígido, até a hora do almoço.

Uma igrejinha situada à beira do caminho.

Depois de caminhar 9 quilômetros, eu ultrapassei um ribeirão sobre uma ponte e, então, enfrentei um ríspido aclive, por uma rodovia asfaltada e ascendente.

Chegando à casa de Dona Eva.

Contudo, sem maiores dificuldades, vencidos 12 quilômetros, cheguei ao bairro Rodeio e fiz uma pausa na casa de Dona Eva, que é a representante no Caminho da Fé e faz o apoio ao peregrino nesse local.

Gentilmente, ela me ofertou café e água, mas disse que, infelizmente, ainda não possuía carimbo para selar minha credencial.

Dona Eva, uma pessoa amiga e solícita.

Contou-me que é possível pernoitar em sua residência, desde que haja um contato prévio, e que, recentemente, abrigou 11 peregrinos ali.


Depois dessa porteira tem início o ascenso dentro da mata nativa.

Eu estava preocupado com a possibilidade de chover em breve, face à nebulosidade crescente na atmosfera, assim, após despedidas fraternais, enfrentei outra ríspida ladeira que depois de, aproximadamente, uns 500 m, me deixou diante de uma porteira.

Ao ultrapassá-la, enfrentei uma estrada ascendente, situada entre frondosa mata nativa, mas por onde, também, transitam veículos automotores.

Sempre subindo, depois de mais 1.500 m, atingi o topo do selado, situado entre o morro da Pinga e os contrafortes da serra da Mantiqueira, que divide o vale do Ribeirão da Borboleta, à leste e com o Ribeirão do Oliveira, à oeste.

Caminho em aclive e integralmente ermo.

Um local silencioso, ermo e emblemático!

A estrada rural segue à esquerda, em direção ao pico do Itapeva, mas, para nós peregrinos, começa, diante da placa do Caminho da Fé, que sinaliza restarem 38 quilômetros até Aparecida, a parte crucial da jornada.

Pois, ali, exatamente, tem início a lendária “Trilha das Borboletas”, com 4 quilômetros de extensão e que, segundo soube, teria mais de 300 anos de existência e remontaria à época dos bandeirantes.

Placa que sinaliza a entrada para a "Trilha das Borboletas".

Atualmente, ela faz parte da Fazenda das Borboletas.

Seu acesso é permitido pelo proprietário desse herdade, pois a senda é uma “Servidão” - antigo caminho utilizado pelos moradores da região para escalar e descender a serra, que já existia antes da demarcação dos limites da fazenda e, ainda hoje, é uma importante via de trânsito para a comunidade que reside em seu entorno.

Naquele local eu estava a 1.100 m de altitude e no final dessa mítica vereda, eu retornaria a meros 680 m de altimetria, um descenso abrupto de 400 m, algo intenso para qualquer caminhante, mormente, se estiver carregando nas costas uma mochila de 8 quilos, como eu fazia.

Eu estava integralmente sozinho e poucos sabiam de minha intenção de descender a montanha por aquela senda.

Dessa forma, me persignei, depois pedi a proteção a Nossa Senhora Aparecida, minha guia naquela arriscada empreitada.

Sobre minha cabeça, o céu invernal estava tão baixo, neblinoso e sombrio que, apesar do horário, mal se podia dizer que aquilo fosse dia.

Até onde minha vista alcançava, tudo era mata fechada, esparramada por toda a extensão da serra.

A impressão que eu tinha é que de havia um guardião, uma entidade superior que enxergava do alto, tomando conta deste reino verde, a quem eu deveria pedir licença para entrar.

Afinal, muitos seres habitam esses lugares e, na verdade, eu estava invadindo esse templo da natureza.

Assim, era preciso chegar de mansinho, em silêncio, respirar fundo, deixar-se envolver por uma auréola de paz.

Rezei, então:

“Ò Deus, grandioso pai, que criaste a montanha e a floresta, eu Te peço licença para penetrar nesta parte de Teu reino. Dá-me guarda e proteção, porque eu vim em paz, amém.”

Uma voz sutil ciciou aos meus ouvidos: “Seja bem-vindo!”

Olhei, então, a borda da floresta durante alguns segundos, à escuta de um pio alarmante de alguma ave assustada.

Uma corrente de ar agitou o arvoredo à minha volta, enquanto eu permanecia ali em silêncio, cautelosamente, à espera de algum ruído suspeito, fosse de origem animal ou humana.

Depois, ouvindo apenas as batidas de meu coração, no silêncio, cruzei uma fina linha de demarcação entre o sabido e o desconhecido, e entrei na mata.

Caminho em descenso, dentro de valetas.

Fui penetrando devagar, passo a passo, aquele fantástico lugar e, em meu âmago, sentia que me fora dada permissão de passagem, que eu havia rogado em silêncio, desde quando percebera a presença da deslumbrante mata nativa, dois quilômetros antes.

Emocionado, sentia as vibrações daquele mundo misterioso, impregnado de energias, pulsando como um coração vivo, pleno de vida simples, calma e bela.

E sabia que a floresta não estava ali para se mostrar ao homem, ela apenas cumpria o chamado do cosmo.

Descendendo pela encosta da montanha.

Segui caminhando cautelosamente e, quase de imediato, o terreno começou a se inclinar num declive longo e gradual em direção ao leste.

No entorno, uma leve neblina cobria toda a paisagem, deixando o ambiente frio, úmido e translúcido.

Observando o chão, percebia-se nitidamente a marca de patas de cavalo que recentemente haviam transitado por aquela centenária picada.

Como a denunciar sua passagem pela senda, encontrei inúmeros montículos de fezes desses equestres espalhados ao longo do percurso.

Também pude constatar sinais de botas, possivelmente pertencentes a algum peregrino, que me antecedera no roteiro.

Tudo isto me encheu de confiança e tranquilidade, pois apesar da quase ausência de marcos sinalizadores nesse trecho, seguia convicto de que estava no rumo certo.

Ao meu redor, persistia um silêncio sepulcral, mas eu caminhava confiante e feliz, vez que me sentia um ser privilegiado, por desfrutar daquele momento único.

Afinal, apenas a exuberante natureza me rodeava e, aparentemente, nada se movia no ambiente, contudo eu seguia com fé e Deus no coração.

E isto me bastava!

Caminho erodido, dentro de valas profundas.

Prosseguindo adiante, verifiquei que uma luz fraca penetrava pelas frestas das árvores, deixava o dia muito estranho, e a sensação de total isolamento era, em alguns momentos, deveras preocupante, pois não sabia o que me aguardava adiante.

No entanto, a cada curva da vereda se descortinava um novo e incrível panorama.

Pequenas frestas na mata circundante permitiam visualizar, ao longe, os verdejantes contrafortes serranos opostos, além do plúmbeo firmamento.

O caminho, agora, seguia sempre em pronunciado declive, e assim fui perdendo altitude rapidamente, transitando por trechos com desníveis extremos, obrigando-me a firmar as mãos nos barrancos ou arvoredos circundantes, para conseguir dar conta dessa autêntica descalaminhada.

Em forte descenso, dentro da mata nativa.

Uns 500 m abaixo, se tanto, me deparei, talvez, com o maior obstáculo que enfrentei nesse trajeto inicial: um grande rochedo atravessado no meio da senda, que demandou muito cuidado para ser sobrelevado, pois enfrentei fundo degrau na sua parte posterior, o que me exigiu a máxima atenção para não sofrer uma queda espetacular.

Segundo o Jorge, da Pousada Dois Leões, há projeto visando criar um desvio para esse obstáculo, o que nós peregrinos, muito agradeceríamos, face ao perigo que ele representa.

A descida prosseguiu sem maiores intercorrências, contudo, mais abaixo, o caminho se estreitou, transformando-se numa senda, onde encontrei algumas pedras soltas.

A fita azul ajuda a guiar o peregrino..

Por conta disso, a vereda tornou-se extremamente perigosa, e precisei envidar todo o cuidado para não escorregar ou cair, sobrecarregando os pés e os joelhos, algo que poderia ser fatal, vez que uma simples torção poderia colocar em risco minha peregrinação.

Embora me sentisse razoavelmente preparado fisicamente, eu transpirei muito nesse trecho, pois o grau de inclinação da trilha era bastante íngreme e, quase sempre, em brusco descenso.

Após uns trinta minutos de muito sofrimento, o caminho se nivelou e passei a derivar com menos velocidade, sempre em meio a muito verde, composto por matas nativas e o barulho de um riacho despencando à minha esquerda.

Porém, o dia continuava nebuloso e ameaçador, e ouvia o vento açoitando com violência um penhasco arborizado situado próximo dali.

Trecho arejado, mas com muita nebulosidade no entorno.

Dez minutos mais tarde, emergi da umbrosa mata e caminhei por algum tempo, por terrenos arejados.

Naquele local, a atmosfera apresentava-se sinistra, nuvens baixas e escuras se espalhavam por todos os lados, me deixando inquieto e preocupado, embora não houvesse previsão de chuvas para aquela data.

E, estranhamente, eu me sentia particularmente exposto, talvez por caminhar escoteiro, talvez pelo céu cinza, deixando tudo ainda mais ameaçativo ao meu redor.

Logo se iniciou um autêntico tobogã, descendendo continuamente, até chegar a um riacho, que ultrapassei utilizando as pedras existentes em seu leito.

Um dos córregos que se necessita transpor no roteiro.

 A partir desse ponto a trilha estreitou mais ainda, e a floresta, constituída por frondosas árvores, estava fechada, lúgubre e tristemente silenciosa.

Pareceu-me que a clorofila da mata se encontrava em seu apogeu, o que a tornava ainda mais pesada e reservada.

Nesse trecho, as raízes das arvores cruzavam o caminho, segurando a terra, e o piso, embora estivesse úmido, não continha barro, vez que nele havia uma grossa camada de folhas.

Sinceramente, se eu me deparasse com uma cobra naquela perigosa senda, não saberia o que fazer, porquanto seria impossível seguir em frente, pela estreiteza do caminho e falta de opções para desviar desse hipotético obstáculo.

O caminho finalmente se nivela..

Finalmente, quando, em definitivo, o piso se aplainou, consultei o GPS incrustado em meu aparelho celular e verifiquei que já vencera metade desse percurso umbroso, assim, um tronco de árvore caído no meio do caminho se transformou em confortável banco, onde fiz uma pausa para descanso e hidratação.

Porém, não me sentei, apenas utilizei o madeiro para pousar minha mochila e fazer alongamentos nas panturrilhas.

Calmamente, enquanto me hidratava e, depois, ingeria uma banana, observava atentamente o entorno.

E, confesso, foi bom ouvir o silêncio, às vezes interrompido pelo voo de uma abelha, formigas trabalhando sem cessar, com sua pesada carga, cumprindo a sina, pássaros trinando ao derredor, árbustos crescendo.

Quanta coisa podemos ver no mundo, se nos dispormos a ir devagar, sem pressa ou horário para chegar.

Trecho integralmente solitário e silencioso...

Pois, as sementes germinando estão apenas obedecendo uma ordem superior, e isto não seria possível se não houvesse um plano cheio de esperança para o universo.

É lamentável que a correria e a competição impostas pelo sistema capitalista, venham nos usurpando a sensibilidade de ver tanta beleza.

Dez minutos depois, reenergizado, segui adiante e o restante do trajeto foi, efetivamente, um passeio dentro da mata nativa, que nesse trecho está integralmente preservada.

Aliás, a floresta ali, como nos trechos precedentes, é vasta e irradia um harmonioso equilíbrio.

Dava, até, para imaginar um cosmos inteiro de pequenos seres fervilhando naquele local, entre bromélias, raízes e orquídeas.

Trilha com bastante mato nesse trecho.

Foi, no entanto, preciso algum esforço para manter os pés secos e, em alguns pontos, somente uma série de pedras estrategicamente posicionadas viabilizou a travessia de outros dois pequenos córregos.

Vencidos, aproximadamente, 3 quilômetros, aflorei definitivamente em locais abertos, de onde detinha longa vista do horizonte, inclusive, dos locais por onde eu ainda caminharia.

Assim, fui vencendo o trecho restante com serenidade e atenção, porque ele é todo descendente e, em alguns locais específicos, extremamente inclinado.

Finalmente, como desafio derradeiro, precisei transpor o ribeirão das Borboletas sem molhar os pés, utilizando, para tanto, as pedras alocadas em seu leito.

Observei, depois, um monte de paus empilhados próximo dali, o que me leva a inferir que em breve haverá uma pinguela nesse local, para auxiliar a passagem dos peregrinos, pois acredito que na época das intempéries esse córrego apresente expressivo volume.

O ribeirão das Borboletas, que se atravessa pisando nas pedras.

Finalmente, percorridos 18 quilômetros, acabei por desaguar numa estrada rural, onde uma flecha amarela, me indicava prosseguir à direita.

CONSELHOS ÚTEIS

Resumindo, um pouco do que vivenciei na “Trilha das Borboletas”, diria que em termos altimétricos, ela representa um grande pesadelo, pois seu descenso é contínuo e, em alguns locais, abruptos e tão intensos que, em épocas chuvosas, não se recomenda ser ela acessada, pelos riscos que representa.

Ainda, em seu curso é possível visualizar marcas de pneus de motos e pegadas de cavalo que, dia a dia, vão deixando seu leito extremamente erodido e perigoso.

Diria ainda, que esse imenso declive contempla locais escorregadios, penhascos abruptos, localizados ao lado da vereda, córregos intermediários, onde a transposição se faz sobre pedras alocadas em seu leito, mata fechada em quase toda a extensão, aliada a alguns espaços abertos e arejados.

Para vencer esse intermeio com segurança, recomendaria que o peregrino vá de botas, calças compridas, camisetas de manga longa, não esquecendo de portar o celular com a bateria carregada, luvas e, principalmente, cajado, instrumento de apoio essencial para ultrapassar os ríspidos descensos que se intercalam ao longo do trajeto.

Também, não se deve acessar essa trilha em dias de chuva ou depois das 13 horas, pelo perigo iminente de se perder na mata.

Dia nublado, mata silenciosa.

Infelizmente, em muitos pontos há forte erosão na trilha, provocada pelas motos-trilheiras, que forçam o desprendimento de pedras e terra, fazendo surgir, face às chuvas, enormes canaletas, onde só cabe um pé do caminhante cada vez.

Imperioso, ainda, avisar o próximo local de hospedagem que você utilizará, posto que assim eles poderão monitorar o horário de sua chegada.

No global, recomendaria que essa trilha seja vencida com muita calma e extrema concentração, mas, como ponto alto, diria que todo o trajeto se encontra limpo e com excelente manutenção.

Ainda, desde a entrada na mata, observei que uma mão abençoada amarrou fitas azuis ao longo de toda a extensão do percurso e elas servem como um excelente ponto de referência para confirmar que o caminhante está no rumo certo.

Para finalizar, diria que não avistei vivalma ao longo de toda a senda, apenas ouvi o barulho do vento, o gorjeio de aves e o som de pequenas cachoeiras existentes no ribeirão das Borboletas, que me acompanhou o tempo todo pelo lado esquerdo.

E, com relação ao inseto que dá nome a essa trilha, avistei apenas um exemplar, de cor vermelha, quase no final do percurso, mas, por ironia do destino, quando tentei fotografá-la, ela voou para longe e me deixou na saudade.

PROSSEGUINDO EM FRENTE...

Retornando a caminhar em estradas.

Bem, após deixar a Fazenda das Borboletas eu caminhei por uma estrada plana e quase sempre retilínea, que me levou a transitar diante de muitas chácaras e imensas pastagens de gado leiteiro.

Um trajeto tranquilo e bucólico, de intensa beleza plástica.

Tendo sempre a serra da Mantiqueira a me ladear pelo lado esquerdo e o morro dos Macacos do lado direito.

O clima prosseguia fresco e o céu nublado, ideal para caminhar.

Estrada plana, locais belíssimos.

Mais 5 quilômetros percorridos em agradável toada, eu ultrapassei o Ribeirão Grande por uma ponte e, na sequência, passei ao lado do Restaurante do Edmundo, um excelente local de apoio, porém eu preferi seguir adiante.

Ponte sobre o Ribeirão Grande.

Porquanto, ainda me restava caminhar 6 quilômetros até o final da jornada, além do que, mais tarde, eu retornaria ali para almoçar.

O belíssimo Ribeirão Grande.

Prosseguindo, transitei 200 m por uma rodovia asfaltada, mas logo uma flecha amarela me remeteu à esquerda, onde acessei uma estrada de terra ascendente, localizada entre belas fazendas.

Ainda em aclive, caminhei um bom tempo tendo a me escoltar, por ambos os lados, um frondoso bosque nativo, que perdurou até o cimo da serra.

Trecho entre a mata nativa, já quase no final da etapa.

Daquele local privilegiado eu detinha ampla visão do entorno, podendo ver, ao longe, inclusive, a cidade de Aparecida e o Santuário Mariano, para onde eu me dirigia.

No topo do morro é possível se avistar, ao longe, a cidade de Aparecida. Nesse dia, tempo nublado.

Depois, teve início desabalado descenso que, em seu final, me levou até a Chácara Dois Leões, onde me hospedei nesse dia.

O local, situado muito próximo da maviosa serra da Mantiqueira, mostrou-se acolhedor e nele passei momentos de grande satisfação e alegria.

Seus proprietários, o Jorge e a Tatiane, me trataram com carinho e atenção, e tudo fizeram para que eu me sentisse em casa, colocando toda a estrutura do estabelecimento à minha disposição, visto que eu era o único peregrino hospedado ali naquele dia.

Local de nosso almoço nesse dia..

Depois de revigorante banho, adentrei em um veículo e fomos os três almoçar num restaurante situado próximo dali, onde a comida preparada em fogão à lenha, acompanhada por uma especial cachaça da casa, mostrou-se extremamente saborosa.

Aliás, esse estabelecimento (Restaurante do Edmundo) também serve de apoio aos peregrinos, visto que a recém-inaugurada “Trilha das Borboletas”, que liga a Estação Piracuama a Chácara 2 Leões, sempre por terra, passa por esse fantástico lugar.

A Pousada Dois Leões, local imperdível!

Durante a tarde e a noite utilizei o tempo para descansar e conversar longos papos com o Jorge e a Tati, pessoas que conheci recentemente, mas que passei a admirar de imediato, pelo desprendimento e respeito com que acolhem os peregrinos.

Por isso, recomendo a Chácara Dois Leões a todos, com grande louvor.

E, Deus permitindo, tenho firme intenção de nela retornar brevemente!

Com o Jorge e a Tatiane, proprietários da Pousada Dois Leões. Duas pessoas especialíssimas!

RESUMO DO DIA - Tempo gasto, computado desde a Estação Piracuama (Pindamonhangaba/SP), até a Chácara Dois Leões (Pindamonhangaba/SP): 6 h 30 min;

Pernoite: Chácara Dois Leões: Excelente! – Alojamento conjunto, com café da manhã e jantar - Preço: R$85,00.

Almoço no Restaurante do Edmundo, localizado próximo dali: Excelente! Preço: R$40,00 o quilo, no sistema self-service.

AVALIAÇÃO PESSOAL: Uma etapa difícil e longa, com o inesquecível trânsito pela incrível “Trilha das Borboletas”, mas praticamente toda feita sobre terra, um bálsamo para os pés do peregrino. Como ponto alto, não poderia deixar de ressaltar o longo e intenso descenso a ser feito pela novel trilha, de inimaginável beleza. Depois da passagem pelo restaurante do Edmundo, ainda há um difícil trecho a ser sobrelevado, serra acima. Contudo, o pernoite na Chácara Dois Leões é espetacular e a fraternidade de seus proprietários, o Jorge e a Tatiane, compensa, com folga, todo o cansaço da viagem. Por sinal, recomendo esse alojamento com efusão!