7ª etapa – ESCATRÓN à QUINTO – 36 quilômetros

7ª etapa – ESCATRÓN à QUINTO – 36 quilômetros

Não tenha medo, tenha fé!

A primeira indicação do caminho nesse dia.

A etapa seria de razoável extensão, de forma que optei por sair bem cedo novamente.

Transitando diante do Hostal e Restaurante El Embarcadero.

Assim, às 6 horas eu deixei o local de pernoite e descendi por ruas frias e ventosas em direção ao Hostal El Embarcadero.

Na sequência, acessei a rodovia A-221, ultrapassei o rio Ebro por uma ponte e logo girei à direita.

Segui, então, em direção ao Monastério de Rueda, pois o Caminho passa diante de suas portas e muralhas.

Caminhando em direção ao Monastério.

Ocorre que, segundo soubera no dia anterior, ele se encontra fechado para visitação e as obras que estavam em curso, visando sua total recuperação, foram paralisadas há aproximadamente um ano.

De qualquer maneira, ainda estava escuro e, face à distância, nem fotos tirei.

De se ressaltar que esse importante cenóbio nasceu por doação de Alfonso II, iniciando-se em seguida a construção do majestoso monastério, concluído em 1225, no tempo do abade cisterciense Martíns de Nogarol, que consagrou em 1238, a igreja ali existente.

Eu prossegui em forte ascenso, com a lanterna na mão, e depois de caminhar 5 quilômetros, me reencontrei com a rodovia, já no topo do morro.

Placa indicativa do "Mirador de los Meandros".

Seguindo as flechas amarelas, eu fui em direção ao “Mirador de los Meandros”, de onde se tem uma visão privilegiada do rio Ebro, que nessa região faz várias curvas em seu leito.

Porém, o dia ainda estava nascente e a luminosidade não era tão forte, de maneira que nem fotos registrei do local.

Lentamente, amanhece..

Prosseguindo, verifiquei que o roteiro segue em fortíssimo descenso, através de algumas escadarias escavadas diretamente num terreno nu.

Havia chovido recentemente no local e encontrei os degraus bastante escorregadios.

E um simples tombo ali proporcionaria uma queda espetacular, pois não vi local para segurar, se necessário fosse, nas laterais do caminho.

Sinceramente, fiquei com medo de descender por ali, afinal, a segurança física era o que mais contava, eu estava sozinho no caminho e se algo me ocorresse não encontraria socorro tão facilmente.

Dessa forma, eu resolvei descender diretamente pela rodovia que, apesar de acrescer 1 quilômetro no itinerário, me deixou mais tranquilo quanto ao percurso.

Torre El Tambor.

Enquanto descia, passei ao lado da Torre El Tambor, uma torre de vigia com estrutura defensiva, de planta circular, característica do século XIX.

Dali, seus sentinelas, podiam observar o fluxo das embarcações pelo rio.

Pela ponte, ultrapassando o rio Ebro em direção à cidade de Sástago.

Já abaixo, no plano, ultrapassei o rio Ebro por uma imensa ponte de cimento, e logo adentrei na zona urbana de Sástago.

Caminho muito bem sinalizado nesse trecho.

A cidade, com uma população de 1600 habitantes, dedica-se fundamentalmente a agricultura, com ênfase para o cultivo de pêssegos, amêndoas e oliveiras.

Caminho solitário e silencioso.

Apesar da importância histórica dessa simpática urbe, a quem pertence, por exemplo, o próprio Monastério de Rueda, o Caminho do Ebro não entra na povoação.

Uma da grutas onde a população da cidade se escondia durante a Guerra Espanhola.

As setas me levaram a bordejar a parte urbana e, mas acima, eu girei à esquerda, e prossegui caminhando por uma larga estrada de terra, tendo rio Ebro a minha direita, e um canal de irrigação do lado esquerdo.

Foi um trajeto solitário mas arejado, pois uma brisa amena agitava a vegetação existente ao meu redor.

O sol nasceu e coloriu intensamente o ambiente. O rio Ebro corre à direita.

O sol finalmente saiu e deu maior brilho ao entorno.

Caminhando junto a um canal de irrigação.

Mais adiante, eu acessei novamente a rodovia e, por uma ponte, ultrapassei pela terceira vez nesse dia o rio Ebro.

Depois adentrei à esquerda e segui caminhando entre extensos trigais.

No caminho, em direção a Alborge.

Um trajeto fresco e agradável, que me proporcionou momentos de intensa introspecção.

Três quilômetros depois, eu transitei pela cidade de Alborge, minúscula vila onde vivem aproximadamente 300 pessoas.

A localidade, que historicamente foi terra de granjas pertencentes ao Monastério de Rueda, estava habitada por moriscos até a sua expulsão de Aragón, em 1610.

Igreja matriz da cidade de Alborge.

Eu passei diante de sua igreja matriz, dedicada a São Lourenço, depois subi umas escadarias e caminhei por sua “Calle Mayor”.

Em seguida, virei à esquerda e deixei a cidade por sua parte alta, através de uma rodovia que, em descenso, lentamente foi se aproximando do rio Ebro.

Rumo à cidade de Alforque, sob piso asfáltico. O rio Ebro está a frente.

De escasso tráfego, me permitiu fazer fotos, apreciar o maravilhoso entorno, visto que do meu lado direito, durante todo o trajeto, havia grandes paredões rochosos.

No horizonte, a cidade de Cinco Olivas. No céu, um festival de cores.

Uns três quilômetros depois, observando à sinalização, eu deixei a rodovia e passei a caminhar por uma senda matosa, localizada junto ao Ebro.

O trecho fresco e arborizado, trouxe-me alguma preocupação pois, em determinados trechos, eu encontrei mato alto e não tinha como verificar por onde caminhava.

Caminho perigoso à beira do rio.

Bem sei que cobras gostam de água e eu estava receoso de encontrar alguma em meu caminho, por isso observava atentamente onde punha meus pés.

Trecho plano, arejado e sombreado.

Uns 500 metros depois, eu saí em campo aberto, junto a imensos trigais, então minha tensão se esvaiu.

Dois quilômetros à frente, eu girei à direita e logo adentrei à Alforque, outra minúscula povoação, onde reside uma centena de pessoas.

Chegando à cidade de Alforque,

O caminho antigamente cortava a pequena vila e depois seguia à esquerda, porém o traçado foi modificado, porque o antigo roteiro teve seu curso fechado mais adiante.

Assim, eu segui até uma rotatória existente na entrada da cidade, e ali prossegui pela rodovia situada entre imensos trigais e terras aradas, prontas para serem semeadas.

Acessando o rodovia, para seguir em direção à cidade de Velilla de Ebro.

Seriam 7 quilômetros até Velilla do Ebro, porém meu guia dizia que após caminhar 4 quilômetros, eu encontraria sinalização me remetendo à esquerda, para uma estrada de terra.

E isto ocorreria próximo de um local onde subsistem restos de um castelo árabe, antigo vigilante do rio Ebro.

No caminho, em direção à Velilla de Ebro.

Eu segui atento e compenetrado, olhos fixos no horizonte, porém não encontrei a saída prometida, nem as ruínas anunciadas.

Dessa forma, e sem alternativa, segui caminhando pelo acostamento da rodovia e, pouco mais de uma hora depois, adentrei em Velilla de Ebro, outro pequeno núcleo urbano, onde residem 300 pessoas.

Descendendo em direção à cidade de Velilla de Ebro.

Próximo dali, no alto de uma colina, estão as ruínas da cidade romana Celsa, que foi fundada em 44 a.C, e cresceu de maneira rápida, com mansões e ruas quadriculadas.

Seu abandono se deu no ano 60 d.C, devido ao desaparecimento de uma ponte que, supostamente, cruzaria o rio Ebro e, por conta disso, ela perdeu comunicação com o restante do território ibérico.

Igreja matriz de Velilla de Ebro.

Eu atravessei a pequena vila, tomei informações com um senhor, fotografei sua igreja matriz dedicada à Nossa Senhora de Assunção e, sempre em descenso, cheguei próximo do rio.

Ali me reencontrei com as tranquilizadoras flechas amarelas.

Reencontro com os sinais jacobeus.

Então, fiz uma pausa para descanso e hidratação, pois o sol já brilhava com intensidade, embora a temperatura permanecesse agradável.

Aproveitei, ainda, para renovar meu protetor solar.

Caminho agradável, situado entre imensos trigais, em direção à Gelsa.

Prosseguindo, logo adentrei numa senda à esquerda que, mas adiante, se transformou num largo caminho de terra, situado entre infinitos trigais.

Sem maiores novidades, mais 4 quilômetros percorridos em bom ritmo, passei por Gelsa, pequena cidade onde habitam aproximadamente 1.000 pessoas.

Fundada pelos árabes, sua origem andaluz pode ser conferida nas ruas dessa localidade, pois são estreitas e com casas de fachadas largas, mormente em seu centro antigo.

O roteiro passa ao lado de sua igreja matriz, dedicada à Nossa Senhora do Bonsucesso, e eu aproveitei para fotografá-la.

Igreja matriz de Gelsa.

Eu atravessei a cidade no sentido norte a sul, e logo as flechas me encaminham à rodovia A-1105, e por ela segui mais um quilômetro.

Por uma moderna ponte metálica, ultrapassei o rio Ebro pela quarta vez nesse dia.

Então, por uma ponte, e pela quarta vez naquele dia, eu cruzei novamente o rio Ebro que, nesse local, tem um considerável volume de água.

Já do outro lado, passei sob a “carretera”, por um viaduto e, segui ao lado das vias férreas mais 4 quilômetros, por uma estrada plana e de terra batida, num percurso fácil e agradável.

No caminho, em direção à cidade de Quinto.

E logo cheguei a Quinto, uma povoação que é cortada ao meio, pela movimentada rodovia N-232.

Na cidade fiquei hospedado na Pensão Plaza, onde havia feito reserva.

Ali, por 25 Euros, pude dispor de um excelente e confortável apartamento.

Depois de lavar as roupas, fui almoçar no Restaurante Mallor, onde paguei 10 Euros por um supimpa “menu del dia”.

Em seguida, retornei ao quarto e deitei para descansar.

Igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Quinto.

Quinto de Ebro é uma vila bem equipada, onde vivem mais de 2000 pessoas.

De provável origem medieval, seu nome de nacionalidade romana, possivelmente, marca o quinto miliário contado a partir da aldeia de Gelsa.

Depois da expulsão dos muçulmanos, em 1118, foi propriedade de diversos senhores e barões espanhóis.

Igreja de "El Piquete", localizada no alto do morro.

Sua igreja matriz mudéjar, é dedicada à Nossa Senhora da Assunção (século XV), e é conhecida popularmente como “El Piquete”.

Para adentrar em seu casco antigo, encontramos três portas medievais e, em seu interior, um traçado urbano sinuoso e com ruas estreitas, em estilo muçulmano da época.

Ayuntamiento de Quinto. Prédio maravilhoso!

Mais tarde, dei um giro pela povoação e aproveitei para conferir o local por onde deixaria a cidade no dia seguinte.

Depois resolvi visitar a igreja matriz, que foi edificada no alto de um morro.

Para tanto, precisei subir por escadarias, onde contei 167 degraus.

Como de costume, pude apenas fotografar o belíssimo templo externamente, mas sem conhecer seu interior, pois ele se encontrava fechado.

A famosa Igreja de "El Piquete".

Sua torre, de maravilhosa textura, é um dos belos exemplos de arte mudéjar

Essa construção foi duramente castigada durante a Guerra Franquista, em 1936, porém nela foi executada uma excelente restauração e sua fachada permanece intacta.

Do topo do outeiro, eu tinha uma vista privilegiada da cidade, podendo observar seu “casco viejo”, o telhado das casas e uma vista que se alongava até o infinito.

No retorno, passei num supermercado, e à noite optei por fazer um lanche no quarto pois, para variar, fazia muito frio, algo em torno de 7 °C.

A cidade de Quinto vista do cimo do morro.

Eu já estava caminhando a uma semana e, concernente ao fato, aproveitei para fazer um breve balanço do que ocorrera até ali.

Um brinde ao Caminho do Ebro!

Com alegria, constatei que apesar da inexistência de sinalização nas cidades e em alguns trechos do roteiro, eu ainda não havia me perdido.

Até ali já percorrera aproximadamente 225 quilômetros e, em termos de saúde, tudo ia bem, pois ainda não tivera resfriados, dores e nem bolhas.

Hora de agradecer a Deus e a Santiago pelas bençãos que vinha recebendo em meu Caminho.

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