28ª Jornada

28ª Jornada - Castro Dozón à Silleda – 29 quilômetros – “Um Domingo Festivo”:

  

O tempo reinante que findara ensolarado no sábado, mudou novamente.

Choveu a partir da madrugada e fez muito frio à noite. 

Por sorte, a calefação permaneceu ligada, ininterruptamente.

No entanto, quando levantei-me, às 5 h, para beber água, pude sentir que a temperatura externa beirava zero grau.

Parecia que ninguém tinha pressa naquele domingo, pois, todos dormiam sono profundo. 

Não queria fazer barulho, por isso fui me agüentando na cama.

Finalmente, às 7 h, resolvi me levantar e logo depois, às 7 h 30 min, solitário, iniciei minha jornada, enquanto alguns peregrinos ainda se espreguiçavam nos beliches.

O céu da manhã, em sintonia com a previsão, se apresentava nublado e caía um chuvisco fino e frio.

 

O trajeto inicial seguiu alternando caminhos rurais e o acostamento da rodovia uns 10 quilômetros.

A mansa e impertinente garoa, finalmente. cessou quando cheguei à cidade de Puxallos.

A partir dali o roteiro prossegue em meio aos bonitos vales que cercam o rio Deza e, em seqüência,  passei por Pontenoufe e Gesta.

Nessa região a vegetação é densa e, em alguns trechos existem altos carvalhos de ambos os lados do caminho.     

Por isso, há ocasiões que acorre a sensação de estarmos caminhando dentro de um enorme túnel construído pela exuberante natureza a nos envolver.

    

Em duas oportunidades avistei ao longe cervos pastando, por sinal, eles são abundantes nessa região.

Finalmente, às 10 h 30 min, 13 quilômetros percorridos, cheguei à Estación de Lalin, pequena vila que abriga uma grande estação destinada à baldeação dos trens que servem o percurso entre Orense e La Coruña.

O tempo permanecia ventoso e caia leve garoa. Assim, molhado e faminto, parei num bar local, onde aproveitei comer algo e ingerir duas “generosas” doses de café com conhaque, espantando o frio que sentia.

Com as forças recuperadas, prossegui em frente e, na seqüência, sempre por estradas vicinais asfaltadas, passei por inúmeros “pueblos” como Baján, Bousa, Botos e Donsión. Depois, Laxe, onde existe um albergue novo e vanguardista.

    

Ultrapassei, a seguir, Empedrada, Vilasoa e Jubín. Ao chegar em Prado a chuva retornou com força, obrigando-me a vestir a capa, novamente.

O roteiro seguiu pelo asfalto até próximo das Indústrias Hoxe. 

Ali o caminho segue novamente em direção ao rio Deza, numa preciosa trilha que transcorre sob grandes árvores e carvalhos centenários.

Sigo caminhando compenetrado, desfrutando de cada momento, pois, depois de tantos dias em marcha, imprescindível “saborear” os derradeiros passos.

Em seqüência, o caminho me conduziu a uma bonita ponte de pedra medieval, denominada de “Taboada”, por sob a qual as águas correm rápidas e encachoeiradas, após a passagem entre grandes rochas, situadas no leito da caudalosa torrente líquida.

Numa pedra próxima existe curiosa inscrição gravada do século X, em estranho dialeto, cujo significado ainda não foi desvendado pelos hierógrafos europeus.

Mais à frente, em uma zona de descanso junto à rodovia, existe uma interessante igrejinha dedicada à Santiago, onde há presença de restos românticos do século XIII.

Um relevo na porta principal sobressai aos olhos, é a figura de Sansão com sua força sobre-humana, abraçando um leão. 

Segundo me informou um morador local, nessa região existe uma densidade maior de cães do que pessoas, por quilômetro quadrado. 

Impossível ultrapassar uma habitação sem avistá-los, quase sempre aos bandos.

Já deixando o local, cruzei com um senhor idoso que tangia um rebanho de vacas para um pasto mais acima e, ao cumprimentá-lo, o bom homem prontamente se acercou e me apertou a mão como se nos conhecêssemos há anos.

Incontinenti, se interessou em saber de onde eu vinha, para onde seguia, a razão de minha peregrinação, etc... Foi difícil me desvencilhar do bom homem.

  

A partir dali o roteiro seguiu entre grandes fazendas de gado até Transfontao, um bonito “pueblo” e, logo depois, às 14 h, adentrei em Sileda, importante e progressista, centro de gado leiteiro, minha meta naquele dia.

Na cidade fiquei hospedado no confortável Hotel Ramos (30 Euros), o primeiro local para pernoite que encontrei.

Porquanto, o albergue mais próximo ficava em Bandeira, a 8 quilômetros dali.

A garoa ainda persistia, assim, por comodidade, fui almoçar num estabelecimento localizado em frente ao alojamento, o bar Ricardo.

Um tanto desatento e emocionado de ter vencido a penúltima etapa de minha peregrinação, não me preocupei em solicitar informações acerca do “menu del dia”, ao contrário, escolhi aleatoriamente os pratos que desejava comer, sem verificar os preços estipulados.

Na hora de acertar a conta, tive desagradável surpresa: gastei 27 Euros, seguramente, a refeição mais cara que fiz em todo o meu périplo.  

  

Por volta das 19 h, a chuva finalmente cessou e, então, calmamente pude visitar a igreja matriz da cidade, cuja padroeira é Santa Eulália e está edificada nas proximidades do Monastério de Carboeiro, uma bonita construção em estilo romântico, do século XV.

 

 

 

Resumo: Tempo gasto: 6 h 30 min – Sinalização: Normal - Clima: Tempo nublado e/ou chuvoso, com temperatura variando entre 1 e 10 graus.

 

Impressão pessoal: Uma etapa sem maiores dificuldades, quase toda plana, com poucos acidentes geográficos importantes para sobrepujar. A lamentar, apenas,  salvo raras exceções, ser feita integralmente por asfalto.