2ª etapa – SANT CARLES DE LA RÁPITA à TORTOSA – 28 quilômetros

2ª etapa – SANT CARLES DE LA RÁPITA à TORTOSA – 28 quilômetros

Nunca deixe de lutar por medo de errar ou de se machucar. As feridas com o tempo se curam, mas as oportunidades não voltam.

A etapa seria de razoável extensão e, como a primeira, praticamente sem sinalização.

Ademais, na metade da jornada teria eu que atravessar, “no escuro”, a cidade de Amposta, que possui um tamanho razoável.

Ainda, sabia que o sol não daria trégua após as 11 horas, de forma que preparei para sair o mais cedo possível.

Face à recente adoção do “Horário de Verão” na Europa, o dia estava clareando ao redor das 7 horas.

Assim, às 6 horas deixei o local de pernoite, refiz o trajeto do dia anterior e logo acessei a rodovia TV-3408.

Mais um dia amanhece...

Fazia bastante frio naquele horário, algo em torno de 6 graus, e um vento frio sibilava ao meu redor.

Observando atentamente ao GPS, reconferi o meu rumo, e segui adiante utilizando minha potente lanterna de led.

Duzentos metros depois, exatamente como constava no guia que eu portava, encontrei uma saída lateral à esquerda, por onde prossegui.

No caminho, em direção a Amposta. Tudo plano e retilíneo.

Na sequência, por uma pequena ponte, eu ultrapassei um canal de irrigação e abriu-se a minha frente um caminho de terra largo e plano, por onde segui animado e escoteiro.

Como por obra de um milagre, numa pedra situada à minha direita, encontrei uma seta amarela.

Pronto, eu estava encaixado no caminho novamente!

Ainda estava escuro, de forma que aproveitei o silêncio da nova manhã para externar preces e agradecer a Deus por mais aquela jornada.

O sol finalmente dá as caras..

À minha direita, o céu foi ficando rubro e a luminosidade crescente ia espancando de vez a escuridão reinante.

O caminho prosseguia retilíneo, rumo ao infinito, e ao longe já podia avistar a cidade de Amposta no horizonte.

Caminho arejado e plano. Amposta já aparece no horizonte.

Prossegui em bom ritmo, observando o entorno, respirando o ar puro, curtindo minha solidão, enfim, eu estava alegre e vibrante, marchando firme em direção ao meu objetivo.

Muito próximo da civilização, o caminho se desviou à direita e segui por uma senda matosa.

Senda matosa, já próximo da zona urbana de Amposta.

Por um viaduto, passei sob a Autovia Nacional e logo estava em zona urbana.

Fui tomando informações com transeuntes, e logo passei por uma passarela larga e protegida por grades, situada em boa altura, então, pude ver abaixo o curso do fabuloso rio Ebro.

Transitando pela zona urbana de Amposta.

Considerada a capital do delta do Ebro, a cidade de Amposta, atualmente com 20 mil habitantes, está capitaneada pela Torre militar de São João, na baía de los Alfaques, que data do ano de 1576.

Igualmente, outra torre, a de La Carrova, é outro exemplo de defesa medieval (século XIV), que eu observei mais adiante, seguindo o caminho.

É medieval também, a origem do Castelo de Amposta (século X), construído pelos árabes.

Escultura existente numa praça de Amposta.

A base de sua economia são os setores agrícolas e turísticos.

O símbolo da cidade é a ponte colgante, edificada sobre o Ebro.

Construída em 1915 pelo engenheiro Eugênio Ribera, ela se eleva sobre duas torres de 24 metros de altura e tem um comprimento de 138 metros, tendo sido inaugurada em 1921, em plena ditadura de Primo de Rivera.

A famosa ponte colgante da cidade de Amposta.

Bombardeada durante a Guerra Civil Espanhola, foi reconstruída no triênio 1939/41, sofrendo nova restauração no final dos anos 50, e seu estilo é modernista.

Utilizando meu GPS, rapidamente acessei à rodovia C-12, e segui em direção à cidade de Tortosa.

Placa e seta amarela indicam o local do prosseguimento do roteiro do Ebro, logo depois de Amposta.

Tal como constava em meu guia, já deixando a cidade de Amposta, e em frente a um posto de gasolina da BP, encontrei flechas me remetendo à direita.

Caminho plano, junto a um grande canal de irrigação.

Então, ultrapassei um canal de irrigação por uma ponte metálica, e encontrei uma larga e plana estrada cimentada, por onde prossegui tranquilo, pois estava novamente no caminho.

À minha direita, avistei mais de uma centena de propriedades, separadas por baixas cercas, quase todas de pequena dimensão e com aproximadamente 100 metros de fundura, pois depois delas passava o rio Ebro.

Muitas hortas e pomares nesse trecho.

Ali pude visualizar hortas, plantações de pêssegos, pés de oliveira, enfim, uma miscelânea saudável de culturas agrícolas.

Um magnífico visual se descortinava a minha frente, e o caminho por onde eu seguia era integralmente plano e retilíneo.

No caminho, em direção a Tortosa.

Um céu de azul intenso e uma cadeia de montanhas, que eu avistava ao longe, compunham uma paisagem de sonhos, um cenário mágico.

Eu seguia em ritmo uniforme por um caminho cimentado que, mais à frente, transformou em piso empedrado.

No caminho, em direção a Tortosa. Do lado esquerdo, a famosa Torre da la Carrova.

Uns 4 quilômetros adiante, eu passei próximo da Torre de la Carrova, uma bela torre fortaleza, em estilo gótico, edificada no século XIV, donde se vigiava o tráfico pelo rio.

Trigo e ruínas antigas, ao lado do caminho.

O silêncio era quase absoluto e não encontrei vivalma nesse trajeto.

No caminho, em direção a Tortosa. Início de trecho em terra.

Porém, eu não estava desconectado da civilização, porque eu podia avistar, distante uns 300 metros a minha esquerda, a rodovia que seguia em direção à Tortosa.

Caminho arejado, plano, mas sem sombras.

Porém, o som dos caminhões e demais veículos, que por ali transitavam, chegavam aos meus ouvidos bastante enfraquecidos.

O caminho é belíssimo nesse trecho.

Em determinado trecho fiz uma pausa para descanso e hidratação, visto que o calor já estava opressivo.

Flores para alegrar o meu dia.

Quando voltei a caminhar, liguei meu rádio de pilhas e segui ouvindo música da terra, uma forma de aumentar meu vocabulário em espanhol.

O trajeto prossegue infinitamente plano e arejado.

Depois de dez quilômetros vencidos, eu atravessei a rodovia C-12 com muita atenção, depois prossegui caminhando ainda junto ao canal de irrigação.

Próximo de via de Roquetes, grandes pomares à minha direita.

Dois quilômetros à frente, sempre em ótimo e animado ritmo, já próximo da vila de Roquetes El Rayal, flechas amarelas me remeteram, radicalmente, à direita, em direção a uma grande rotatória.

No caminho, em direção a Tortosa. Atravessando grande rotatória.

Como ali não avistei mais flechas amarelas, eu conferi meu rumo pelo GPS, depois, seguindo adiante, por uma extensa ponte metálica, eu atravessei o rio Ebro e logo adentrava em Tortosa, minha meta para esse dia.

Ultrapassando o rio Ebro, por uma imensa ponte metálica.

Eu prossegui pela belíssima Avenida del Generalit, e logo encontrei o Hostal Virgínia, local onde eu havia feito reserva.

Ali, por 33 Euros, pude dispor de um excelente quarto para passar a noite.

Depois das providências de praxe, desci para almoçar e, para tanto, utilizei os serviços do Restaurante Nou, onde paguei 10 Euros, por um excelente “menu del dia”.

Em seguida, retornei ao hotel e deitei para descansar.

Avenida del Generalit, a principal artéria de Tortosa.

Tortosa, a capital da comarca do Baixo Ebro, está situada na província de Tarragona, Catalunha (Espanha), e conta atualmente com 35 mil habitantes.

Ela foi, possivelmente, a cidade de Hibera, capital do território ibérico de la Hercavonia.

Esteve sob o império romano, primeiramente, depois foi ocupada pelos árabes no ano 714, ficando sob seus domínios até 1148, quando foi reconquistada pelo conde Ramón Berenguer, na idade média cristã.

Tortosa, cidade antiga e muito progressista.

No interior da igreja “Capilla de la Cinta”, há uma imagem da Virgem Maria, por conta de sua aparição que, segundo conta a tradição, teve lugar na noite de 24/25 de março de 1178, a um sacerdote que havia ido rezar o terço.

Seu Palácio episcopal foi construído no século XIII, e o Castelo de la Suda, século X, de origem árabe, atualmente é um Parador Nacional.

A cidade é também uma antiquíssima sede cristã, pois seu bispado é conhecido desde o século IV.

Numa das praças da belíssima cidade de Tortosa.

A sua igreja matriz, a Catedral da Assunção da Mãe de Deus, foi edificada sobre a anterior, um edifício datado de 1158, e sua construção que teve início no século XIV, levou 412 anos para ficar pronta.

Seu claustro, do século XIII, era o local de reunião do Conselho da cidade, durante a Idade Média.

Próximo dela, está localizada a “Porta dos Romeiros”, em cujo interior se podem ver imagens de Santiago e São Cristóvão, local oficial da partida dos peregrinos que iniciam o Caminho nessa cidade e seguem em direção a Santiago.

Porém, tal monumento está situado junto ao “casco histórico”, distante mais de 1 quilômetro do local de onde eu estava hospedado e não tive ânimo, nem pernas, para conhecê-lo.

Passeio localizado junto ao rio Ebro.

Na verdade, eu estava preocupado com o trajeto do dia seguinte, porque na cidade Xerta, que seria o final da etapa sequente, não havia locais de pernoite, apenas um albergue de peregrinos.

Eu telefonei várias vezes para o hospitaleiro sem conseguir confirmar se o local estava funcionando ou não.

Na Oficina de Turismo de Tortosa, onde fui carimbar minha credencial, também não consegui maiores informações sobre o assunto.

Apreensivo, fui rever o local por onde deixaria a cidade no dia seguinte, pois dentro da povoação não existem sinais jacobeus.

Início da Via Verde, em Tortosa.

Utilizando um mapa da cidade, por uma ponte metálica, onde antigamente transitavam os trens, eu ultrapassei o rio Ebro e, já do outro lado, pude ver o início da Via Verde, uma pista cimentada muito utilizada pelos ciclistas e caminhantes, e que passa ao lado do Santuário de Fontcalda.

Ou seja, na mesma direção que eu seguiria.

Ponte para pedestres, sobre o rio Ebro, por onde antigamente passava o trem.

Tomei informações com transeuntes e fiquei sabendo que poderia seguir esse trajeto na manhã seguinte, mas eu estava em dúvida, pois ela não faz parte do caminho oficial, ao menos até a cidade de Xerta.

Já no hotel, repensando o assunto e estudando meus mapas e apontamentos, resolvi fazer jornada dupla, indo pernoitar em Gandesa no dia seguinte, onde fiz reserva para o pernoite sequente.

Ao fundo, a ponte por onde eu prosseguiria meu caminho no dia seguinte.

Seria uma jornada longa e duríssima, destinada apenas aos intrépidos, segundo alertava o guia que eu portava.

Mas, me sentia confiante e preparado para vencer esse grande desafio, que efetivamente acabou por me exaurir as forças completamente.

Hostal onde fiquei hospedado em Tortosa. Recomendo!

Isto decidido, mais tranquilo, segui até um supermercado, onde comprei víveres para o lanche da noite, além de frutas e barras de chocolate, para consumo na trilha.

E logo fui dormir, pois sairia o mais cedo possível na manhã seguinte.

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