6ª Jornada

6ª Jornada - Fuente de Cantos a Villafranca de los Barros – 47 quilômetros: “A Etapa Mais Larga!”

 

A previsão metereológica indicava chuvas para a tarde daquele sábado, de forma que resolvi sair bem cedo, sem tomar o desjejum, visto que o mesmo somente seria servido às 7 h 30 min. 

Para tanto, combinei com o Bito, na noite anterior, que partiria às 6 h. 

Assim, pedi a ele que abrisse o portão principal do albergue nesse horário, pleito com o qual concordou de imediato.

Desse modo, levantei-me às 5 h e tive tempo de lentamente me preparar para a jornada do dia. 

Depois, postei-me no aguardo do prestativo hospitaleiro. 

Contudo, o relógio da torre do mosteiro badalou 6 h 30 min, e não visualizei nenhuma movimentação de pessoas dentro do recinto.

Sem saber a quem recorrer, não me restou alternativa a não ser escalar o enorme portão de aço que guarda o Convento. 

Com a mochila nas costas, subi pela grade, descendo do lado oposto e, ato contínuo, principiei minha jornada pelas silenciosas ruas da urbe.

A manhã apresentava-se fria e neblinosa, o que dificultava a visibilidade.

No entanto, havia verificado no dia anterior o roteiro para melhor me orientar sobre a saída da cidade. 

Assim, tranqüilamente, localizei as flechas e logo depois deixava a zona urbana, seguindo por uma plana e larga estrada de terra batida.

 

Uma hora mais tarde, quando o dia principiou a clarear, pude observar algumas plantações de uvas, as primeiras das muitas que encontraria dali para frente.

Às 8 h, 7 quilômetros percorridos, passei por Calzadilla de los Barros, pequena povoação que ainda dormia, pois, não avistei alma alguma se movimentando pelas ruas. 

À frente, na imensa planura, o sol começava vagarosamente a aparecer e, em seguida, a imensa bola amarela explodiu em raios de luz, ao levantar-se na linha do horizonte, num espetáculo único em que poucas ocasiões tive o privilégio de contemplar. 

Fiz ali uma pausa e observei a imponente igreja do Divino Salvador, empedrada em sua abside, o que lhe dá um aspecto de fortaleza. 

Sua construção se iniciou no século XV e possui um dos melhores retábulos gótico-renascentista que, infelizmente, não pude apreciar, vez que se encontrava fechada.

Nesta cidade existe um albergue, porém, fica a uns 2 quilômetros do centro da urbe, na “Pradera de San Isidro”. 

Trata-se, é bem verdade, de um alojamento juvenil, instalado numa fazenda onde existem lagos, igreja e dois amplos edifícios, com espaço suficiente para abrigar, aproximadamente, 60 pessoas. 

Contudo, obtive informações, no dia anterior, de que todo o complexo passava por amplas reformas. 

O caminho seguiu agreste, por trilhas bem sinalizadas, até encontrar à frente a rodovia “N-630”. 

Caminhei uns quinhentos metros pelo acostamento e logo dobrei radicalmente à esquerda por uma estrada de terra, tendo, por ambos os lados, inicialmente, fazendas de criação de gado, depois, plantações de oliveiras e imensos campos agricultáveis a perder de vista.

No trajeto, praticamente todo plano, cruzei alguns riachos e pude contemplar duas grandes lagoas à minha esquerda. 

Também, inúmeras cegonhas buscavam alimentos no solo, próximo à trilha, saltitando grotescamente, de quando em quando, à minha passagem.

Às 11 h, mais 15 quilômetros percorridos, entrei em Puebla de Sancho Perez, pequena vila, onde encontrei inúmeros bares abertos. 

Num deles, fiz providencial pausa para repasto e café. 

Aproveitei para observar o templo paroquial de Santa Lúcia, padroeira da cidade, construída em estilo mudéjar, que, no século XVI, passou a chamar igreja de Nossa Senhora de Belém.

 

Depois, segui à beira da linha férrea, e embora a sinalização nesse trecho esteja bastante confusa, não me perdi. 

Assim, entrei em Zafra pela estação ferroviária local e acessei, então, a grande e larga avenida denominada “Paseo de la Estación”, por onde segui até o centro dessa linda e simpática cidade.

A urbe encontra-se encravada nas proximidades da Serra do Castellar, sobre um amplo e suave vale. O seu nome deriva do árabe Safra. 

Historicamente, foi reconquistada à dominação mourisca pelo exército de Fernando III, em 1.241, sendo, à época, incorporada definitivamente à coroa de Castilla e León.

Sem dúvida, esta foi a primeira “grande” urbe por qual passei desde a partida de Sevilha. Conta hoje com 15.000 habitantes, sendo um dos maiores povoados da Província de Badajoz.

É famosa por sua estratégica localização e foi conhecida, na época dos romanos, como “Restituta Lulia Imperial” e, posteriormente, durante a dominação árabe, passou a chamar “Safar y Sarga”. 

Nesse local é realizada todos os anos, em outubro, a Feira Internacional de Gado, sendo considerada uma das mais importantes de toda Espanha.

 

No entanto, apesar da beleza reinante em suas praças, monumentos e construções, não me senti tentado a permanecer naquela localidade, pois, ainda era muito cedo. 

Então, tomei café num bar próximo a igreja matriz e consultei os mapas que portava, onde verifiquei que a saída da urbe apontava como referência as enormes torres do templo dedicado à São Francisco.    

Assim, continuei seguindo as flechas e mais tarde deixei a parte urbana por uma estradinha de terra, em direção à pequena elevação. 

Do alto, pude observar, a uns 2 quilômetros dali, a cidade de Los Santos de Maimona, minha meta naquele dia.

Atravessei a extensa zona urbana e notei que o local era lindo e agradável. 

Segui até  próximo da igreja matriz desse antiqüíssimo povoado, cuja fundação registra os anos 50, onde pude colher informações de um morador que se mostrou gentil às minhas indagações.

Disse-me que existia um albergue na cidade, contudo, eu precisaria apanhar as chaves no prédio do “Ayuntamento” e depois retornar por onde eu viera. 

Desse modo, precisaria subir o morro por um 1 quilômetro, e, numa porteira, adentrar a esquerda, pois, o refúgio está localizado no pico da elevação, cercado de um portentoso bosque de pinheiros.

 

Numa “tienda” próxima, comprei água, frutas e chocolate. 

Depois, desanimado e indeciso, sentei-me na praça para repensar a situação. Enquanto lanchava, estudei meus mapas. 

Já havia caminhado 33 quilômetros e o relógio marcava 13 h. 

Achei muito cedo para encerrar a jornada, sem contar que o dia mantinha-se nublado, o clima fresco e eu não me sentia cansado.

Resolvi, então, seguir em frente e, depois de cruzar o rio Robledito por graciosa ponte, prossegui  numa estrada rural, plana e deserta. 

Em seqüência, passei próximo a um imenso olival e, mais à frente, por interessante plantação de amendoeiras.

A trilha cortava terrenos cercados, tanto à esquerda como à direita, onde grossa malha metálica se estendia por vários quilômetros, sempre sobre um infinito planalto. 

Mais adiante, observei uma grande placa, cujo texto continha um protesto ameaçador contra a possível instalação de uma refinaria petrolífera naquele local.

O roteiro seguiu à direita, pelo Caminho de los Moros, cruzou a linha férrea e, mais à frente, sob a rodovia “N-630”. 

Às 16 h 30 min, depois de percorrer mais 15 quilômetros, cheguei à Villafranca de los Barros.

 

Esta belíssima e hospitaleira cidade teve grande expressão no período das peregrinações religiosas, pois, chegou a pertencer à Ordem de Santiago, obtendo em meados do século XIV, a categoria de “cabeza de la Encomienda”, importante galardão, à época.

Ali me hospedei no excelente Hotel Diana (32 Euros), visto que o albergue turístico existente na localidade já estava lotado de “peregrinos”, por conta da Semana Santa.

Na verdade, era sábado de Aleluia e haja vista os festejos inerentes à data, o comércio se encontrava quase integralmente cerrado. 

Mesmo assim, numa padaria comprei água e mantimentos para o dia seguinte, vez que a jornada até Torremegia seria de 28 quilômetros e sem nenhum “pueblo” intermediário.

Aproveitei, ainda, para conhecer o interior sacro da igreja matriz local, dedicada a “Virgen del Valle”, cuja edificação data do século XVI. 

A majestosa construção possui planta retangular e três naves, onde sobressai sua porta principal, chamada “del Perdón”, cujas figuras talhadas em pedra demostram excepcional obra de arte.

 

    

Por fim, a chuva anunciada para aquele dia chegou às 19 h e entrou noite a dentro. 

Contudo, já me encontrava devidamente abrigado.

Mais tarde, visto que não havia almoçado, desci para jantar no restaurante do próprio hotel, onde foi servido um excelente “menú” festivo, pelo qual paguei 12 Euros.

          

Resumo: Tempo gasto: 10 h - Sinalização: Excelente - Clima: Nublado e frio, com temperatura variando entre 3 e 10 graus.

Impressão pessoal: Trajeto fácil e plano e, tirante a parte urbana das cidades, todo feito em terra, por agradáveis estradas rurais.