06º dia – BAIONA a VIGO – 27 quilômetros

06º dia – BAIONA a VIGO – 27 quilômetros

Duvide do que vem fácil e não desista do que é difícil.

Seria uma jornada de média extensão e, segundo a meteorologia, sem chuvas.

Dessa forma, sem muita pressa, deixei o local de pernoite às 7 h 30 min e segui por ruas feericamente iluminadas, junto à orla marítima.

Posteriormente, prossegui em ascendência, depois, acessei larga avenida, transitei por Sabaris e, percorridos 4 quilômetros, por uma ponte medieval, que possui dez arcos e foi edificada no século XIII, eu atravessei a foz do rio Minor, e adentrei em Ramallosa, onde existe um concorrido albergue de peregrinos.

A partir dessa localidade, há duas possibilidades para o peregrino prosseguir até Vigo: o roteiro oficial, que segue pelo interior, mas que avança, quase sempre, em piso asfáltico, um tormento para os pés.

Porém, há outro trajeto, também sinalizado com flechas amarelas e verdes, que segue à beira mar e foi por este que eu escolhi prosseguir.

Dessa forma, eu girei à esquerda e, uns mil metros adiante, ultrapassei 3 peregrinos que caminhavam lentamente, em agradável conversação.

Sem maiores problemas, sempre à beira mar, eu transitei por Panxon, depois, por Patos, em seguida, por uma ciclovia, após caminhar 12 quilômetros, eu passei por Saiáns, onde encontrei farto comércio aberto.

O trajeto prosseguiu sem dificuldades altimétricas, bem sinalizado e, em alguns trechos curtos, eu caminhei sobre a areia da praia, outras vezes, à beira de rodovias vicinais, mas, salvo raras exceções, sempre por locais urbanizados.

Dois quilômetros à frente, passei ao lado da praia de Canido e, logo em sequência, pela praia do Vao, de belíssima areia branca; dali eu já avistava a ponte que une o litoral à ilha de Toralla, um enclave idílico, contudo, incompreensivelmente, de propriedade privada.

Seguindo em frente, caminhei um bom tempo sobre passarelas de madeira, até transitar pela imensa praia de Samil, a mais popular e utilizada pelos vigueses.

Nela, num bar, tomei café e comprei água, pois ainda me restavam 7 quilômetros até o destino final.

E eles foram vencidos com calma, sempre sobre piso duro e quanto mais eu avançava, mais intenso e barulhento se tornava o entorno e o tráfego.

No trecho final, transitei largo tempo diante de imensos estaleiros navais, onde a lida diária estava a todo vapor.

Há de se lembrar que apesar de não ser capital de província, Vigo é a maior cidade de toda a Galícia, então, é necessário paciência para atravessá-la.

Assim, sem grandes dificuldades, acessei o “casco viejo” dessa milenar urbe, depois segui em direção à Porta do Sol, local onde me hospedei nesse dia.

Vigo foi cenário de vários filmes, inclusive, “Los lunes al sol”, película de 2002, de Fernando León de Aranoa, onde há cenas inesquecíveis de Javier Bardem e Luís Tosar.

Em sua parte central, há muitas esculturas urbanas, sendo que, na praça da Porta do Sol, está o “Sireno”, meio humanoide, meio peixe, empoleirado no alto de uma coluna.

Há também o “Dinoseto”, uma escultura vegetal, com forma de dinossauro, muito querido dos vigueses, especialmente, pelas crianças.

No cais do seu porto há outra escultura interessante, dedicada ao escritor Júlio Verne (1828-1905), que ambientou na “ría de Vigo" um capítulo da novela “20.000 léguas submarinas”, onde o misterioso Capitão Nemo buscava com seu Nautilus, os tesouros submersos nos galeões espanhóis afundados em 1702, pela frota anglo-holandesa, durante a Guerra da Sucessão.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Ponte medieval em Ramallosa, sobre o rio Minor.

Transito pela vila de Panxon.

A praia de Patos...

Sinalização excelente, com flechas verdes e amarelas.

Nesse pequeno trecho, eu caminhei sobre a areia.

Sinalização estilizada..

Outro pequeno trecho, onde se caminha sobre a areia da praia.

Ao longe, a ponte que liga o continente à ilha de Toralla.

Aqui também há passadiços de madeira...

Um solitário cruzeiro. Ao longe, a cidade de Vigo aparece no horizonte.

Calçadão na praia do Samil.

Trecho bucólico, por um bosque de pinheiros, quase adentrando na zona urbana de Vigo.

A praça da Porta do Sol, fotografada desde o local onde eu estava hospedado.

Vigo e a sua comarca estiveram povoadas desde tempos remotos. Entretanto, até o momento, não se localizou nenhuma comprovação da era paleolítica e os poucos achados são da Idade da Pedra, e estas peças encontram-se no Museu Municipal de Castrelos.

Como outros muitos lugares da Península Ibérica, Vigo foi ocupada pelo exército francês em 1809. A resistência popular a esta invasão provoca um levantamento dirigido pelos militares Pablo Morillo e Bernardo González "Cachamoinha" que, com a ajuda inestimável do Conde de Gondomar, sem cuja ajuda não teriam podido fazer frente ao exército invasor, terminam com um assalto às muralhas e com a expulsão do exército francês. Este episódio motivou a concessão a Vigo do título de cidade Fiel, Leal e Valorosa.

A Catedral de Vigo.

Em 1833 foi construído o caminho real, que levava a Madrid, conhecido como estrada de Castilla ou de Villacastín. Um ano depois, foram terminadas as obras de construção da Colegiata por Melchor de Prado, já que o antigo templo havia sido destruído em um dos numerosos saques sofridos pela vila. A cidade cresceu e seus governantes concordaram em demolir as muralhas para facilitar sua expansão.

A segunda metade do século XIX foi um período de contínuo crescimento da cidade, propiciado, entre outras coisas, pelo incremento das relações com a América. Neste tempo, continuaram abrindo-se fábricas, o que provocou o crescimento da população assalariada e também de uma burguesia financeira. Vigo se expande extramuros com a abertura de novas ruas e a construção de nobres edifícios.

Com a entrada no século XX, a burguesia liberal viguesa toma em suas mãos os mecanismos de poder econômico e político. Instalam-se novas indústrias ao mesmo tempo que melhoram as comunicações. Em pouco mais de dez anos, a população é duplicada (em 1910 havia 30 000 habitantes).

O "Sireno", metade homem, metade peixe...

No primeiro terço do século XX, o porto de Vigo está unido à imagem de vários galegos que embarcaram rumo à emigração americana. Outro símbolo é o elétrico, que começou a funcionar em 1914. Todo este dinamismo ficou neutralizado com o início da Guerra Civil Espanhola.

Nas décadas de 1960 e 1970, Vigo sofreu um crescimento urbano acelerado e, por vezes, desordenado, motivado pelo desenvolvimento industrial.

População atual: 300 mil habitantes.

O famoso "Dinoseto"...

RESUMO DO DIA - Tempo gasto, computado desde o Hotel Pinzón, em Baiona, até o Hotel Porta do Sol, em Vigo: 5 h 30 min.

Clima: nublado e frio, variando a temperatura entre 11 e 20 graus.

Pernoite no Hotel Porta do Sol: Ótimo!

Almoço no Restaurante Tus Bocatas: Muito bom! - Preço: 10 Euros.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma etapa de média extensão, mas sem nenhum entrave altimétrico. Infelizmente, salvo raras exceções, o trajeto foi todo urbano, apesar de oferecer belas paisagens marítimas. Por sorte, o clima fresco me favoreceu, pois não choveu e nem fez sol, o que proporcionou uma caminhada tranquila e contemplativa, embora o excesso de piso duro tenha me prejudicado bastante. No global, uma jornada de transição, pois foi a derradeira à beira mar, já que no dia seguinte eu caminharia rumo ao interior da Península. Contudo, como as anteriores, de grata recordação.