7ª Jornada

7ª Jornada - Villafranca de los Barros a Mérida – 44 quilômetros – “Um Domingo Festivo!”:

   

 

Era Domingo de Páscoa e resolvi chegar cedo ao meu destino a tempo de almoçar. Assim, parti por volta das 6 h 30 min, sob um frio implacável, que beirava zero grau. Na saída da cidade, por sorte, encontrei um bar aberto e nele pude fazer proveitoso desjejum.Passei depois nas proximidades do Colégio dos Jesuítas, e saí pelo “caminho velho”, uma estrada de terra larga e plana, entre imensas extensões de vinhas a perder de vista, o que me lembrou um verdadeiro mar verde.

Depois de algum tempo a paisagem tornou-se monótona, contudo, vale ressaltar o sentimento de liberdade que o derredor oferece, devido ao espaço aberto, sem uma única cerca. 

É algo incomensurável.

Desse modo, o trajeto seguiu fácil e agradável, sobre uma estrada larga de solo argiloso. 

Assim, às 10 h e 18 quilômetros percorridos, parei defronte à entrada de acesso a Almendralejo, localidade famosa por seu vinho e vindimas.

Solitário, fazia minhas anotações próximo de uma caixa d’água, em frente à rotatória de acesso à urbe, quando um casal de ciclistas espanhóis me ultrapassou. 

Foram estes, os únicos peregrinos que avistei nesta jornada.         

É importante enfatizar que a cidade está situada à beira da rodovia “N-630” e se encontra há quase 4 quilômetros de distância do Caminho. 

Portanto, para pernoite, somente é recomendada em caso de emergência ou extrema necessidade. 

Cumpre frisar que, a partir dela, os vinhedos dividem espaço com pés de oliveiras e grandes campos de plantação de cereais.

Naquele horário, o sol havia aparecido, a temperatura estava agradável e eu bastante animado. 

Assim, segui adiante e 10 quilômetros depois, exatamente às 12 h, adentrava em Torremegia, minha meta naquele dia, sob o espoucar de uma salva de rojões, evocando a data festiva de Páscoa.

A cidadezinha, fundada por Don Gonzalo Mejia, uma das mais estranhas pelas quais atravessei em todo o Caminho, é formada por uma vila de origem medieval, porém, chama a atenção o fato de que todas suas ruas são perpendiculares. 

É evidente que ocorreu um fenômeno anômalo, ao inverso daquilo que se conhece de outras povoações, cujo crescimento se deu em círculos, ao redor de templos católicos.

No entanto, no caso vertente, sucedeu algo inédito, visto que a Igreja de “N. S. de la Concepción”, do século XIV, a padroeira da urbe, está situada num de seus extremos, ao final de uma grande rua, sendo ela, a última edificação deste surpreendente “pueblo”.

 

A temperatura marcava 11 graus, fazia frio e, apesar de já ter percorrido 28 quilômetros, não me sentia cansado. 

Assim, na dúvida entre ficar ou seguir adiante, sentei-me numa arborizada praça para lanchar. 

Enquanto isso aproveitei para estudar o Guia que portava. Por sinal, o casal de ciclistas que me ultrapassara anteriormente, também descansava num banco ao lado.

Mérida estava próxima, apenas 16 quilômetros à frente. Revigorado, após a refeição, resolvi partir. 

Antes porém, numa loja de conveniência instalada num posto de combustível à beira da “N-630”,  adquiri água e chocolates.

O trajeto inicial se faz pela “carretera”, no entanto, após uns cinco quilômetros adentrei à direita, numa estrada rural arborizada, em franco descenso, entre vinhedos e olivais, e, por ela, cheguei ao meu destino, exatamente às 16 h.

O acesso à cidade é feito por uma enorme “puente medieval”, sobre o rio Guadiana. 

Segundo os Guias editados, trata-se da maior de todas as pontes construídas durante o império romano, com 792 m de extensão e ornada com 60 arcos.

Fundada pelo imperador Octávio Augusto, no ano 25 a.C., e tombada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, 

Mérida é famosa pelas suas inúmeras construções e monumentos, impecavelmente preservados.

A exemplo de seus Teatro e Anfiteatro Romanos, Templo de Diana, Arco de Trajano, O Circo o Hipódromo, Aqueduto de los Milagros, Casa do Mitreo, Columbários, Basílica de Santa Eulália, dentre outras relíquias conservadas desde a época da invasão romana.

É imperioso ressaltar que Mérida talvez seja a cidade mais emblemática de toda a Via de la Plata. 

Para muitos, ponto de partida em direção à Santiago e, quiçá, aquela com mais história de todo o roteiro.

Ali, fiquei hospedado no Hostal Senero (28 Euros), próximo de La Plaza Mayor, onde almocei no Restaurante Nano (11 Euros) e, num “cyber-café”, cujos proprietários eram de nacionalidade equatoriana, pude acessar e remeter notícias pela internet.

As ruas da urbe se encontravam movimentadas e o fluxo de turistas era intenso, até porque, no dia seguinte seria feriado, em comemoração da “Pascoela” em toda a Europa. 

Assim, tive a idéia de me juntar a um grupo, a fim de conhecer e visitar algumas das inúmeras atrações arqueológicas oferecidas por essa inesquecível “metrópole”.

Mais tarde, adquiri víveres e, à noite, fiz apenas um lanche rápido em meu quarto, enquanto estudava mapas e anotações, já me preparando para a dura jornada que enfrentaria no dia seguinte.

Resumo: Tempo gasto: 9 h - Sinalização: Ótima - Clima: Ensolarado, com temperatura variando entre 3 e 13 graus.

 

Impressão pessoal: Trajeto fácil, agradável, plano e feito em chão de terra, por excelentes e bem cuidadas estradas rurais, exceto os 5 quilômetros percorridos em asfalto, logo após a saída da cidade de Torremegia.