FINAL

Nem todas as pedras que você encontrar no seu caminho serão obstáculos... Às vezes, elas também podem ser pontes que te levam ao seu objetivo. Pense nisso!” (Priscilla Rodighiero) 

A autora, clicada às margens do rio Beija Flor, um afluente do rio Amazonas - (Créditos: Sérvula Soares)

DEAMBULANDO POR AÍ...

(Autora: Sérvula Soares)

Aconteceu de um dia eu estar meio tonta, e fui ao hospital, para investigar aquele mal-estar. Como de praxe, passei primeiro na sala de triagem, para aferir pressão, batimentos cardíacos, pulsação, enfim...aquele primeiro atendimento com o corpo de enfermagem.

Aí uma palavrinha no meu prontuário ficou martelando na minha cabeça: lá eles preenchem esses dados colhidos e tem um campo onde está escrito estado do paciente, e ele preencheu “deambulante”...???? como assim? Pensei...o que significa isso? Será que entrei aqui cambaleante (foi a palavra que logo associei, pois estava tonta).

Mas tinha certeza que não. Minha tontura não chegava a tanto. Será que ele achava que eu tinha bebido? Sabia que não, estava inclusive trabalhando (nessa época ainda estava na ativa).

Voltei para a sala de espera e aguardei ser chamada pelo médico. Uns 30 minutos depois entrei, passei pela consulta, sala de medicamentos, furadas, etc....o mesmo de sempre. Mas a palavrinha não saia da minha cabeça. 

A autora, "deambulando" por Macapá, sua terra natal, tendo ao fundo o rio Amazonas.

Lógico, que quando cheguei em casa, wi-fi, (“lar é o lugar onde seu celular conecta automaticamente”...rsrsrs), corri pro Aurélio: deambular: Vaguear ou passear; andar sem rumo certo; caminhar sem destino; passear sem direção determinada.

Sorri e pensei: esse cara é maluco!!! De onde ele tirou essa conclusão??? Como alguém pode chegar em um hospital assim, sem querer, à toa, sem destino??? Passeando??? Morri de rir depois, sozinha. Será que é algum protocolo médico? Não sei. Nem procurei saber, só sei que a última coisa que eu poderia estar fazendo ali, naquele recinto lotado de bactérias era estar à toa, vagueando, passeando....cada maluco, eu hein!!!

Mas confesso que gostei da palavrinha nova que aprendi. Já fazia isso sempre e não sabia. Menos em hospital, é claro!!! Adoro deambular por aí, sem destino, sem hora pra voltar, sem pressa...só pelo prazer de olhar, observar, ver coisas que às vezes passam despercebidas. E algumas vezes faço isso unindo o prazer desses momentos de ócio, com o prazer de eternizá-los, através da fotografia. Umas das grandes paixões da minha vida. Não tenho técnica. Só o olhar...

Mas enfim, deambular para mim tem um gosto de liberdade, principalmente agora que tenho todo o tempo do mundo a minha espera. Aproveito para colocar os pensamentos em ordem, ou então para não pensar em nada. Às vezes entrando em uma loja, ou apenas olhando suas vitrines; outras vezes, sentada em um banco de uma praça (das poucas que dá pra sentar); outras vezes rodando dentro do meu carro, sem destino, ouvindo minhas músicas, enfim...horas que para alguns seriam perdidas, mas que para mim me energizam. 

A natureza, coisa mais linda, sempre nos surpreendendo.. (Créditos: Sérvula Soares)

É um exercício de espiritualidade, de ficar em paz comigo mesma. Como é bom deambular por ai, exercendo o ócio criativo. Sim, idéias brotam nesses momentos, nada melhor para a mente do que esses encontros comigo mesma. Volto pra casa plena, feliz, cheia de ideias.

Um dia desses vou sugerir para um médico que me atender, numa dessas situações de emergência, que ao invés de usar o termo no prontuário, ele prescreva aos seus pacientes para deambular pelo menos umas três vezes por semana, para o resto de suas vidas.

Garanto que ela será longa, criativa e muito mais saudável!

(Sérvula Soares – viajante, peregrina e cronista, ou melhor, como ela mesmo se define: "..apenas alguém que coloca pra fora seus sentimentos em forma de textos".)

Mãe Aparecida, peço a vossa benção e proteção. Amém!

EPÍLOGO

Um pássaro não é guiado pelo vento e sim pelas suas próprias asas. Para onde? Para onde ele desejar, basta querer. Assim, eu também moro em todos os espaços e em nenhum lugar ao mesmo tempo. Sou peregrino em busca de mim mesmo.” (A. Melo)

Os desafios aos quais me proponho no âmbito da peregrinação ou resistência obedecem, como parâmetro fundamental, ao propósito de atingir o limite que minha própria condição física me permite, no momento.

Apesar das restrições físicas que a idade cronológica me impõe, tenho priorizado, sempre que possível, caminhar sozinho.

Nem é preciso afirmar que a solidão involuntária é dolorosa, mas a que responde a uma decisão voluntária é muito expansiva e nos permite experimentar sensações muito interessantes e íntimas, mergulhando em nosso interior.

E dentro de nós mesmos, encontramos sempre um espaço mais vasto do que o mundo ou o universo; um território interminável, infinito, ou, pelo menos, que nós nunca conseguiremos percorrer por completo em toda a nossa existência.

Há muitas coisas para descobrir nos mapas de todo o planeta, mas também em nosso invólucro íntimo.

Viajar pelo nosso interior, fazer a travessia dos sentidos, é altamente recomendável e emocionante, e pode constituir, por si só, uma grande aventura.

Concernente ao tema, me senti extremamente jubiloso ao encerrar mais um Caminho da Fé, integralmente solitário, embora num percurso de pequena amplitude.

No entanto, essa travessia foi marcada por duas surpresas, que muito me alegraram, pois caminhos inéditos sempre me motivam: o trajeto que envidei, a partir de Luminosa, e a “passagem” pela imensurável “Trilha das Borboletas”, intentos que me inebriaram pelo sabor da novidade.

Por sorte, mais uma vez fui aquinhoado com as benesses divinas e pude concluir minha odisseia a bom termo.

Final de mais um Caminho da Fé! Um roteiro belíssimo! Recomendo!

Finalizando, diria que o Caminho da Fé é um roteiro maravilhoso, que persiste místico e abençoado.

E, em minha opinião, no Brasil, é a Rota que melhor se assemelha ao Caminho de Santiago espanhol.

Assim, aqueles que sonham um dia caminhar na Península Ibérica, devem projetar percorrê-lo, lembrando que ele detém irrepreensível sinalização, além de oferecer uma ótima estrutura aos peregrinos.

No meu caso, ano vindouro espero repeti-lo, desde Águas da Prata e, para tanto, conto com as bênçãos da Mãe Aparecida.

Bom Caminho a todos!

Setembro/2018