Perfil

No Porto Itaguassú

Perfil dos Romeiros de Nossa Senhora Aparecida

Milhares de romeiros visitam o Santuário Nacional de Aparecida todo ano, muitos trazem consigo angústias, outros tantos, esperança. Esperança de cura, de conseguir emprego, de melhores dias, de paz.

Eles chegam de ônibus, de carro, de trem (em tempo passado), de moto, de bicicleta, a cavalo e a pé. São pobres e ricos, cultos e ignorantes, homens públicos e cidadãos comuns.

Lá estiveram o Papa, príncipes, presidentes, poetas, padres, bispos, priores, patrões e empregados. 

Muitos cumprem um ritual que começou com seus avós e persiste até hoje. Outros vão pela primeira vez. Ficam perplexos ou deslumbrados diante do tamanho do Santuário e de sua beleza.

A fé leva o romeiro a Aparecida e o conduz a comportamentos de pincéis famosos, câmaras e versos imortais. 

Olhos que buscam, vasculham ou se fecham para ler as mensagens secretas que trazem na alma. Lábios que balbuciam ave-marias, atropeladas pela pressa das muitas intenções.

Mãos que seguram as contas do rosário, a vela, o retrato, as flores, o chapéu. Joelhos que se dobram e se arrastam, em atitude de total despojamento. Pés cansados pela procura de suas certezas.

Coração nas mãos em forma de oferenda. Na alma, profundo senso do sagrado. 

O chão que pisam, a porta que transpõem, as pessoas que lá encontram, tudo tem para eles significado transcendente.

Este é o romeiro de Nossa Senhora Aparecida. Alma pura, simples, do devoto que acredita, que se entrega à proteção dos céus, sem dúvidas ou restrições.

Defronte à Basílica Velha - Aparecida - 29/04/2005

Na passarela em Aparecida

PERFIL DO PEREGRINO DO CAMINHO DA FÉ

O povo do interior de Minas Gerais, pessoas que moram nos locais por onde passa o Caminho da fé é, além de extremamente hospitaleiro, profundamente religioso, e encara o caminhante como um ser especial, alguém que está espiando pecados, cumprindo alguma promessa, ou tentando alcançar uma graça. Como fazem os romeiros. Assim, muitos deles indagavam, com extrema curiosidade, o motivo de minha peregrinação.

Foi difícil explicar-lhes que, embora sonhasse chegar à Aparecida com saúde e sob a proteção da Virgem Maria, eu era, acima de tudo, peregrino, ou seja, simplesmente alguém que se movimenta em direção a algum local sagrado, sem pressa ou preocupação.

E que minha motivação principal consistia, primeiramente, num rejuvenescimento espiritual, na tentativa de encontrar respostas para algumas incertezas que habitam meu ser.

Depois, pelo prazer da caminhada em si, que além do benefício físico, favorece a expansão de conhecimentos, através do contato diário com a natureza, os animais, e os habitantes ao longo da Rota.

Todavia, sem penitências, sofrimentos ou privações. Dentro de um período de tempo programado, utilizando materiais e equipamentos adequados, com escalas adredemente projetadas, em locais de relativo conforto, sem a urgência da chegada.               

Muito embora o aporte final seja o coroamento de uma meta, nem sempre é o objetivo mais importante da viagem. Porque o que atrai, marca, mimetiza, sublima e transcende, na verdade, são as experiências vivenciadas diariamente ao longo do caminho.

E nesse mister, fui privilegiado com amizades e ocorrências enaltecedores, que me marcaram profundamente. Como a emoção do conviver, diuturnamente, com as manifestações calorosas, externadas com extremo carinho, de apoio e incentivo à minha jornada. Alguns, espontaneamente, me desejavam boa viagem.

Outros, respeitosamente, diziam, à minha passagem: “Vá com Deus peregrino!”, “Que Nossa Senhora lhe proteja!” “Que o Anjo da Guarda lhe acompanhe”, “Reze por mim em Aparecida, diga que no final do ano estarei lá novamente!”, e outras similares.

Sem dúvida, trilhar o Caminho da Fé evidenciou-se, para mim, como uma sinergia de acontecimentos dignificantes e subliminares.