MINHA VIAGEM

Quando um caminho inflama a alma, não há como permanecer no lugar. Os pés ainda tocam o chão, mas não por muito tempo.“ (Hakim Sanai)

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Minha aventura começou numa segunda-feira à tarde, final de março, quando embarquei em São Paulo rumo à Espanha.

No dia seguinte, após breve translado pelo aeroporto de Madri, tomei um trem que, depois de 2 h de viagem, me deixou em Salamanca, início do Caminho Torres.

Já passava das 12 h, assim, rapidamente, me alojei na Pensão Salamanca, de localização cêntrica, onde paguei 25 Euros por um excelente quarto individual.

Para almoçar, utilizei os serviços de um dos inúmeros restaurantes existentes no centro histórico da cidade, onde despendi 12 Euros por um fabuloso “menu del dia”.

A famosa Plaza Mayor de Salamanca!

À tarde, após breve descanso, fiz um “tour” pelo centro da urbe, que recebeu da Unesco o título de “Patrimônio da Humanidade”.

Essa famosa povoação era conhecida na antiguidade como “Helmantike”, Helmantica” e “Salmantica”, foi conquistada por Aníbal no século III a.C e, depois, esteve sob o domínio dos romanos.

Também, foi ocupada pelos muçulmanos que, posteriormente, foram derrotados por Raimundo de Borgoña, no ano de 1.085, para, depois, integrá-la definitivamente aos reinos cristãos.

A famosa Casa das Conchas. Ao fundo, a Universidade de Salamanca.

Pude visitar, então, alguns prédios que fazem parte de seu conjunto monumental, como a Casa das Conchas, sua Universidade, fundada pelo rei Alfonso IX, em 1.218, bem como o Convento das Dueñas e o Palácio de Anaya, dentre outros.

Depois, segui para a Plaza Mayor, considerada a mais bonita entre todas existentes na Espanha, em razão de sua esmerada configuração.

Realmente, a construção, datada de 1.729, nos impressiona pela simetria e beleza, posto que contém 88 arcadas e é adornada por 96 obeliscos, 112 luminárias de época e, exatas, 247 varandas.

De volta ao hotel, ingeri singelo repasto, regado a um encorpado vinho tinto, enquanto ultimava os preparativos, tendo em vista minha iminente partida.

Ponte romana sobre o rio Tormes. Ao fundo, a Catedral de Salamanca.

Um novo Caminho se abria a minha frente, e com isso repensava os desafios a enfrentar e me sentia privilegiado, posto que estava com boa saúde, dispunha de tempo e  condições físicas adequadas, enfim, era um ser abençoado por estar no local certo e vivenciar um momento consentâneo.

Claro, sabia que muitas provações me aguardavam, como o sol, a chuva, o vento, a poeira, a lama, o embaraço do idioma, a saudade dos familiares e a solidão, dentre outros desconfortos.

Mas, tinha certeza, que minha força de vontade, fé, disciplina, persistência e intrepidez me auxiliariam a sobrepujar tais entraves, além, por óbvio, de contar com a proteção imorredoura de “Tiago Maior” a me aguardar em sua majestosa Catedral, para o abraço amigo.

Enquanto anotava minhas rememorações desde a partida, bocejei várias vezes, afinal, o dia fora longo, era hora de dormir.

Porém, antes de me deitar, meditei sobre o grande desafio que me propusera, bem como externei pleitos de auxílio a Santiago, meu protetor, a quem esperava encontrar, baseado em meu cronograma de viagem, dentro de 21 dias.

Em sequência, recitei a “Oração pelos Peregrinos”, pedindo luz e proteção:

Para os montes levanto os olhos:

De onde me virá o socorro?

O meu socorro virá do Senhor,

Criador do céu e da terra

Ele fará com que meus pés sejam firmes;

Há de zelar e vigiar-me.

Não dormirá aquele que me guarda.

O Senhor é meu abrigo, sempre a meu lado.

De dia, o sol me fará bem,

À noite o sono me reconfortará.

O Senhor me resguardará de todo o mal.

Ele velará sobre minha alma,

Guardará meus passos

Agora e sempre.

Amém!

Diante da Universidade de Salamanca, fundada em 1218. A mais antiga da Península Ibérica e a 4ª da Europa em vetustice, perdendo apenas para a de Bolonha, Oxford e Paris.

APRESENTAÇÃO DO CAMINHO TORRES

"Caminhar por lugares novos com os instintos de uma criança de cinco anos é libertador. Você não se encontra mais ligado ao seu passado. Ao viver tão afastado do seu lar, você logo se verá segurando um livro com páginas em branco. Não há melhor oportunidade para livrar-se de velhos hábitos, encarar medos latentes e testar as facetas reprimidas da sua personalidade. Socialmente, você verá que é fácil se entrosar com as pessoas e manter a mente aberta. Mentalmente, você se sentirá engajado e otimista, pronto pela primeira vez a ouvir e aprender. E, mais do que tudo, você vai encontrar-se alvoroçado com aquele sentimento peculiar de ter o poder de escolher seguir (literal e figurativamente) para qualquer direção no momento que você mesmo determinar." (Rolf Potts)

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Se você quiser experimentar a aventura de caminhar desde Salamanca até Santiago de Compostela, seguindo o caminho que Dom Diego de Torres Villarroel percorreu em 1737, um Professor de Matemática que lecionava na Universidade de Salamanca, nesta página você encontrará tudo o que precisa.

Ao longo de 570 quilômetros, você percorrerá estradas ancestrais, situadas na Espanha e em Portugal, como a Cañada Real de Extremadura, a Rota Romana XIX, do Itinerário de Antonino, e o Caminho Português para Santiago de Compostela.

Atravessará zonas de pastagem da Província de Salamanca, a Beira Alta, as terras dos rio Douro, Tâmega, Lima, Minho e, finalmente, os estuários galegos.

Você sabia que dentre as cidades desse roteiro, como Salamanca, Ciudad Rodrigo, Almeida, Pinhel, Trancoso, Sernancelhe, Lamego, Amarante, Guimarães, Braga, Ponte de Lima, Tui, Redondela, Pontevedra e Santiago de Compostela, três delas são classificadas como “Cidades Patrimônio Mundial” e todas são dignas de uma visita?

Assim, você pode enfrentar esta aventura, pois nesta página há uma descrição detalhada das 23 etapas desse Caminho e tentar recriar, o mais fielmente possível, a rota que Diego de Torres Villarroel fez há quase 300 anos, para peregrinar de Salamanca a Santiago de Compostela.

A famosa Plaza Mayor de Salamanca, vista de outro ângulo.

Como você supõe, muitas coisas mudaram nesses três séculos, nas rotas de comunicação que conectam essas duas cidades através de Portugal.

Assim, cada jornada foi objeto de um estudo detalhado e extensa pela história, geografia e nível cartográfico, e tanto quanto possível, foi respeitado os locais de passagem que Torres Villarroel menciona em seu livro nominado “Peregrinação ao Glorioso Apóstolo Santiago de Galícia”.

Posteriormente, cada trajeto foi avaliado no solo, passo a passo, para verificar sua viabilidade, sempre caminhando por vias públicas, para que agora você possa se deslocar sem problemas e desfrutar de tudo o que lhe é oferecido nesse roteiro.

Por fim, esperamos que aproveite essas páginas, que as fotografias façam-no sonhar com os lugares por onde passará e que, finalmente, decida e realize o seu sonho.

Bom caminho!

(Extraído / traduzido do site: http://caminosantiago.usal.es/torres/)