2023 – CAMINHO SAGRADO/SC – 176 QUILÔMETROS

 

 Ao dispensar as atribuições do cotidiano e partir rumo ao desconhecido, sem predeterminar o que espera receber do mesmo, o caminhante abre o portal da consciência de si próprio, onde é possível encontrar-se com a essência que em si habita, posto que a caminhada contemplativa e de fé busca se reencontrar e reconectar com as riquezas da vida e de si.

 

Iniciado em 8 de abril de 2022, por seus dois primeiros peregrinos, o Caminho Sagrado é uma das mais recentes Rotas de Peregrinação do Brasil. Localizada na região sul de Santa Catarina, o CS é inspirado em muitas trilhas famosas do planeta, com destaque para o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

Sonhado, criado e mantido por peregrinos voluntários, o Caminho Sagrado é um circuito de, aproximadamente, 175 quilômetros de extensão, que parte de Nova Veneza/Siderópolis, com pernoites em Treviso, Urussanga, Pedras Grandes (Azambuja), Morro da Fumaça, Içara, Criciúma, atravessando, ainda, as cidades Treze de Maio e Forquilhinha, retornando ao ponto de partida, 7 dias depois.

Animado, em conhecer mais um roteiro inédito, convidei o amigo Vinícius para me acompanhar e, então, viajamos para o lindo Estado de Santa Catarina, nos hospedamos na cidade de Criciúma, e no dia sequente demos início a mais uma aventura, cujos detalhes conto abaixo.

1º dia: OIKOS (CRICIÚMA) a NOVA VENEZA – 18 QUILÔMETROS

 

Pensamentos, palavras… Tudo isso nos consome, se não nos cuidarmos, passamos a maior parte de nossas vidas só com ideias, parece que o corpo serve apenas de veículo de alguns pensamentos e muitas ideias complexas.” (Beto Colombo, em “Todo Caminho é Sagrado”)

 

O “Marco Zero” desse roteiro tinha início em Oikos – Lar dos Encontros e Pousada, situado num bairro rural de Criciúma, no entanto, face recentes mudanças, o local de partida passou a ser na cidade de Nova Veneza. Porém, como o Caminho é circular e nós pernoitamos em Criciúma, resolvemos partir de lá mesmo, como forma de agilizar nosso deslocamento.

Isto decidido, contratamos um táxi no centro da cidade, apeamos no Oikos, recebemos nossa Credencial Peregrina, fizemos algumas fotos junto à escultura de “O Guardião do Caminho Sagrado” e, às 8 h, demos início à jornada desse dia.

Choveu muito à noite e uma renitente e fria garoa nos acompanhou nos primeiros quilômetros percorridos sobre piso duro, ao longo de rodovias e, mais à frente, cortando bairros periféricos, enquanto nos afastávamos da metrópole.

O clima se encontrava frio e ventoso, temperatura na casa dos 11Cº, ideal para caminhar, porém, infelizmente, a chuva não dava trégua e sob um céu plúmbeo, impávidos, prosseguimos adiante.

Percorridos 6 quilômetros, passamos a pisar sobre terra e, sempre em ascenso, logo atingimos o topo do morro da Cruz, onde fizemos uma breve parada para orar junto a um enorme cruzeiro de concreto, ali fincado em 05/05/1946, onde uma inscrição diz: “SALVA A TUA ALMA!”

Seguindo adiante, logo voltamos a caminhar sobre piso asfáltico e após transitar pelo lindo bairro Industrial do Distrito de Caravaggio, depois de percorrer 11 quilômetros, chegamos ao belíssimo Santuário de Caravaggio, onde fizemos uma longa pausa para carimbar nossa credencial, tirar fotos, visitar o complexo religioso e orar, enquanto lá fora desabava um forte temporal.

Meia hora depois, assim que a borrasca amainou, prosseguimos adiante e no 15º quilômetro, fizemos outra pausa para conhecer e fotografar as famosas “Casas de Pedra”, que contam com mais de 120 anos, disponíveis para visitação, e que estão tombadas como Patrimônio Histórico Nacional e Patrimônio Arquitetônico do Estado de Santa Catarina. O Conjunto de Pedra, como é conhecido, pode ser considerado o mais excepcional agrupamento de edificações em taipa de pedra de Santa Catarina e foi construído entre 1892/1915; é composto de 3 casas, utilizadas como cozinha e adega, dormitório e estábulo.

Seguindo adiante, após transitar por bosques nativos, em descenso, aportamos ao local de pernoite nesse dia, onde fomos estupendamente acolhidos pela Irmã Líbera, pois a Irmã Zélia, que realiza tal missão, estava acompanhando uma enferma.

Após o lauto almoço e a necessária soneca, aguardamos a chuva cessar de vez e, então, fizemos um giro pela belíssima povoação onde, além de visitar e fotografar sua igreja matriz, o coreto, a rua coberta e a Ponte dei Morosi (ponte dos namorados), pudemos conhecer sua grande atração: a famosa gôndola, de nome Lucille, que chegou em 2006, fica em um lago artificial no centro da cidade e foi presente do Governo da Província do Vêneto, como forma de aproximar os laços entre Veneza, na Itália e Nova Veneza, no Brasil.

 

Nova Veneza é uma pequena e aconchegante cidade da região de Criciúma, no Sul de Santa Catarina. É um verdadeiro pedacinho da Itália em terras catarinenses. A cidadezinha colonizada por imigrantes italianos é um lugar charmoso e com uma ótima culinária, repleta de bons restaurantes. É um ótimo destino para curtir um final de semana romântico, ao estilo de Gramado e Canela, na Serra Gaúcha. O município situado nas encostas da Serra Geral também se destaca no ecoturismo, repleto de grandes cachoeiras. População: 13.700 habitantes. (Fonte: www.caminhosagrado.org)

 

RESUMO DO DIA - Pernoite no Instituto Sagrada Família, com café da manhã (atendimento nota 10!) – Apartamento individual excelente – Preço: R$120,00 /// Almoço no Restaurante Alpino: Excelente! -

IMPRESSÃO PESSOALUma jornada de pequena extensão, expressiva beleza e onde prevalece o piso asfáltico, mas coroada pelas visitas ao Santuário de Caravaggio e às famosas Casas de Pedra. Infelizmente, o clima se manteve fechado e a chuva não deu trégua em todo o percurso. A cidade de Nova Veneza é linda e empolga: vale muito a pena conhecê-la!

Algumas fotos do percurso desse dia:

Diante do "Marco Zero", iniciando mais um Caminho. 

Diante do Santuário de Caravaggio.

A belíssima igreja matriz de Nova Veneza/SC.

Na gôndola "Lucille", em Nova Veneza/SC.

2º dia: NOVA VENEZA a TREVISO – 28 QUILÔMETROS

 

O caminho é marcado por seus portais e seus mistérios inexplicáveis, como também nossa jornada pessoal e coletiva é plena de eventos transversais que abrem passagens conduzindo-nos de um estado existencial a outro.” (Beto Colombo, em “Todo Caminho é Sagrado”)

 

Partimos às 6 h, sob um clima ventoso e frígido, temperatura na casa de 10ºC, depois de ingerir o farto e variado café da manhã que nos foi oferecido pela simpática Irmã Líbera. Os 4 quilômetros iniciais foram sobre piso asfáltico, depois, adentramos à esquerda numa larga estrada de terra, onde seguimos ladeados por imensas plantações agrícolas, com destaque para o cultivo de uva.

Após transitarmos diante da Pousada L’Amore, edificada num local de paradisíaca beleza, mas já no município de Siderópolis, teve início um trecho estupendo, onde o silêncio, a ermosidade e a beleza das paisagens circundantes foram a tônica, visto que caminhávamos em direção à magnífica Serra Geral, um paredão de rochas que se prolongava no horizonte sem fim.

Depois de percorrer 10 quilômetros, nós passamos diante da cachoeira dos Bianchini, e no 15º quilômetro, situado a 246 m, o ponto de maior altitude dessa etapa, defronte à igreja Santa Bárbara e do Sítio Pé do Morro, fizemos uma pausa para descanso, hidratação e lanche.

Quando nos levantamos para partir, uma caminhonete parou e um senhor que a dirigia perguntou sobre o que fazíamos e para onde nos dirigíamos, além de oferecer-nos condução. Após um interessante diálogo e muitas risadas, ele partiu, não sem antes nos desejar um “Bom Caminho!”

Prosseguimos em leve descenso, ladeados por imensas pastagens e múltiplas belezas naturais, até a Cachoeira do Rio Manin, onde giramos à esquerda e seguimos até a Comunidade São Vitor, onde também se encontra o Horto Florestal da cidade.
O trecho final, integralmente plano, nos levou a adentrar em Treviso, uma minúscula povoação, mas de maviosa beleza e estupenda hospitalidade .

Então, seguimos em frente por 1.500 m até a Pousada Ferrero, onde nos hospedamos, com destaque para o casal Valdeir e Lúcia, proprietários do local, uma casa com mais de 100 anos e muita história, que nos receberam com extremo carinho e afabilidade.

Depois de um reconfortante banho, retornamos à cidade para almoçar e nos prover de víveres para o jantar e café da manhã do dia seguinte; aproveitando a ocasião, demos um giro pela povoação e pudemos visitar/fotografar a igreja matriz da localidade, cujo padroeiro é santo Alexandre.

À noite, a temperatura despencou para 9ºC e nos socorremos dos cobertores e aquecedores existentes na pousada, para dormir com conforto e tranquilidade.

 

Treviso é uma pequena cidade do sul de Santa Catarina que se destaca no turismo pelas belas paisagens naturais no costão da serra e está situada numa planície a apenas 147 m de altitude. Porém, em poucos quilômetros começa a área da serra que faz a transição com os campos de Cima da Serra, a quase 1500 m. Entre a planície e a serra estão as principais atrações naturais da cidade. Cachoeiras, formações rochosas e belíssimas paisagens naturais, são as opções de turismo ecológico, além de atividades como rapel. A área atual do município começou a ser colonizada a partir de julho de 1891, com o nome de Núcleo Treviso. O imigrante italiano Arcangelo Bianchin iniciou sozinho a civilização do local. Hoje a população de Treviso SC é de aproximadamente 3.600 habitantes. (Fonte: www.caminhosagrado.org)

 

RESUMO DO DIA:  Pernoite na Pousada Ferrero: Apartamento individual excelente! – Preço: R$90,00; mas sem café da manhã. // Almoço na Cantina Sabor de Mãe : Excelente!

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa de razoável extensão e com apenas um pequeno entrave altimétrico situado, exatamente no meio da jornada. Porém, com paisagens de soberba beleza, destacando-se a serra do rio do Rastro, que nos acompanhou o tempo todo pelo lado esquerdo. No global, uma jornada fácil, quase toda sobre terra e, como as demais, muito bem sinalizada.

Algumas fotos do percurso desse dia:

No Caminho: dia frio e nublado....

Um dos trechos mais belos do Caminho...

Sítio Pé do Morro, situado defronte à igreja de Santa Bárbara, exatamente, no meio da jornada deste dia.

A bela igreja matriz de Treviso/SC.

3º dia: TREVISO a URUSSANGA – 30 QUILÔMETROS

 

Entre mim e o outro existe um infinito sagrado. Diante do outro, nada sei. Quando digo que o conheço, nego o outro, o outro é sacralidade, é religião.” (Beto Colombo, em “Todo Caminho é Sagrado”)

 

Partimos cedo, para vencer aquela que seria a etapa mais longa deste Circuito. A chuva havia cessado definitivamente, contudo o frio grassava sem dó e fazia 6°C quando deixamos a Pousada Ferrero e seguimos à esquerda, sobre piso asfáltico.

Mais abaixo, transitamos diante da Pousada Rio Ferreira e algum tempo depois, passamos pela Pousada da Figueira; na sequência, ultrapassamos o rio Ferrero por uma ponte e, então, principiamos a ascender, primeiramente, sob a fronde de um imenso bosque de eucaliptos, depois, em meio a mata nativa, num ambiente de extremo silêncio e ar puro.

Em alguns locais, face às chuvas recentes, encontramos muita lama, porém, com muito denodo e coragem fomos sobrepujando os obstáculos naturais e quando o sol, finalmente, apareceu, confluímos com a rodovia Treviso x Urussanga, depois de percorrer 7 quilômetros.

Então, giramos à esquerda e prosseguimos ascendendo, por uma estrada arejada e de piso socado, tendo a fantástica serra catarinense a nos ladear, o tempo todo, pelo lado esquerdo. Depois de transitar por Belvedere, uma minúscula povoação, ultrapassamos as localidades de Coxia Rica e Santaninha, onde também não há comércio.

Finalmente, no 15º quilômetro, diante da igreja de santa Bárbara, atingimos 234 m de altitude, o ponto de maior altimetria dessa jornada, de onde se descortinava uma linda visão do entorno. A partir daí se iniciou forte e contínuo descenso que, mais abaixo, no propiciou caminhar em meio a locais onde ainda se extrai carvão a céu aberto.

Numa curva triste e emblemática, passamos diante de uma velha coqueria (produzia coque) e entrada para a antiga mina Santana, onde morreram 31 mineiros em um acidente no dia 10 de setembro de 1984, quando ocorreu uma explosão no Painel Seis, possivelmente, por acúmulo de gás metano.

Na sequência, transitamos pela Comunidade de Rio América onde, num bar, fizemos uma pausa para adquirir água e descansar. Seguindo adiante, já sob um céu azul e temperatura agradável, logo acessamos a zona urbana de Urussanga, depois, sem pressa, prosseguimos em direção ao nosso local de pernoite nesse dia.

Quase chegando à povoação, 3 simpáticos ciclistas nos alcançaram e passamos um tempo dialogando, alegremente. Tratava-se dos bicigrinos Sartori, Dani e Furlan, de Criciúma, que pretendiam percorrer o Caminho Sagrado em um único dia e, como ficamos sabendo posteriormente, conseguiram tal intento. Depois de emocionante despedida, eles seguiram adiante e desejamos-lhes “Boas Pedaladas” e sucesso na empreitada.

 

Acolhedora, simpática, rica em raízes históricas preservadas e produtora de vinhos excepcionais. Assim podemos resumir Urussanga nesses principais termos, mas ainda há muitos outros que a descrevem, dignos de suas qualidades. Essa terra privilegiada ao sul de Santa Catarina reserva passeios intensos e imperdíveis. Uma das cidades mais encantadoras do Brasil, começou sua história em 26 de maio de 1878, com a vinda dos primeiros imigrantes da Itália ao país. Desenvolvendo sua cultura, e principalmente a produção de vinhos, os italianos impulsionaram a pequena localidade, que hoje têm cerca de 21 mil habitantes, à destino turístico disputado. Além de todos os lugares históricos do município, Urussanga ainda é polo dos eventos mais tradicionais da enogastronomia brasileira. (Fonte: www.caminhosagrado.org)

 

RESUMO DO DIA: Pernoite no Hotel Contessi: Apartamento individual excelente! – Preço: R$120,00  //  Almoço no Sabor de Casa Restaurante: Muito bom!

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma etapa muito agradável, uma das mais belas de todo o trajeto, todavia, um tanto árdua no final, face ao excesso de piso asfáltico, exatamente, quando o peregrino já se encontra desgastado pela longa jornada cumprida. No entanto, há intermeios de extrema plasticidade e onde a natureza está integralmente preservada como, por exemplo, a trilha superada logo no início do percurso. Também, há imensas pastagens e múltiplos córregos que vertem da serra, dando um toque especial a essa jornada.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Ao fundo e ao longe, o paredão da Serra Geral.

Paisagens belíssimas nesse dia.

Muito verde, para onde se olhe...

A bela igreja matriz de Urussanga/SC.

4º dia: URUSSANGA a AZAMBUJA (PEDRAS GRANDES) – 25 QUILÔMETROS

 

Se, existencialmente, você não se sente bem no seu lugar, possivelmente aquele não é o seu lugar.” (Beto Colombo, em “Todo Caminho é Sagrado”)

 

Partimos bem cedo, após o lauto café da manhã, pois era um domingo e queríamos aproveitar bem o dia. O ar se encontrava frigidíssimo e num termômetro analógico instalado no centro da cidade, constamos que a temperatura ambiente era de 2°C, algo avassalador para quem reside na região sudeste.

O trecho inicial foi sobre piso asfáltico, depois, acessamos uma larga estrada de terra que a partir do 5º quilômetro se tornou erma e silenciosa, quando passamos a transitar em um imenso bosque de mata nativa integralmente preservado, um dos trechos mais espetaculares que encontramos nesse roteiro.

No 10º quilômetro, nós atravessamos a Comunidade de Armazém, onde sobressai sua belíssima igreja, e o forte desse enclave são as imensas plantações de fumo, em alguns locais, a perder de vista. Ali, nós fletimos à direita e acessamos uma estradinha ascendente, situada ao lado de um rumorejante riacho, onde vivenciamos outro trecho imperdível.

No topo do morro, acabamos por sair num local amplo e arejado, onde as plantações de fumo se estendiam até onde nossas vistas alcançavam, entremeados por frondosos trechos de mata nativa e ciliar. Num local abrigado, porque um vento cortante nos açoitava, fizemos uma pausa para hidratação e ingestão de carboidratos.

O trecho sequente também se mostrou soberbo em termos de cobertura vegetal e quando emergimos numa planície, passamos por uma imensa plantação de pêssegos, depois, transitamos diante do cemitério da Comunidade de Canela Grande, um enclave onde avistamos inúmeras videiras, todas ainda em floração. Prosseguindo, enfrentamos um forte descenso, depois, um longo retão, porém surpreendentemente, no 20º quilômetro, obedecendo à sinalização, fletimos radicalmente à direita, ascendemos por uma trilha orlada de frondosas árvores, depois, em descenso, transitamos pela Comunidade de Sertãozinho.

Então, novamente em ascenso, atravessamos um fresco e frondoso reflorestamento de eucaliptos, passamos diante de uma centenária e famosa Casa de Pedras, e logo chegamos ao nosso destino do dia, onde fomos muito bem recepcionados pela Vanize, a gerente da Pousada Imigração, uma pessoa agradabilíssima.

À tarde, após o lauto almoço e a imprescindível soneca, fomos visitar minúscula povoação, cuja história assim se resume: 

“Fundada em 28 de abril de 1877 pelo agrimensor Joaquim Vieira Ferreira, a Colônia Azambuja foi administrada pelo governo imperial brasileiro, assim, o atual distrito de Pedras Grandes, Azambuja exerce protagonismo na História da Imigração Italiana no Sul de Santa Catarina. Construída em 1919, a Igreja São Marcos é uma das marcas da italianidade predominante nesse enclave, assim como a antiga casa do correio. Aqui se fala o dialeto Vêneto e cerca de 95% dos moradores possuem sobrenome italiano. Chamada de “berço da colonização italiana”, Azambuja é um dos lugares mais aprazíveis para se visitar e conhecer a História.” (Fonte: wiki)

 

Localizada no Vale do Rio Tubarão, Pedras Grandes já foi ponto de parada dos tropeiros que faziam a ligação comercial entre os campos de Lages e Tubarão. Fundada em 28 de abril de 1877, com a chegada das primeiras 90 famílias de italianos, a cidade viveu um período de extremo desenvolvimento depois da descoberta das minas de carvão em Lauro Müller e da construção da estrada-de-ferro Dona Thereza Christina, quando foi erguida no município uma estação ferroviária – hoje transformada em Museu da Cultura Italiana. Foi elevada a distrito em 1888 e a município em 1961, quando se desmembrou de Tubarão. (Fonte: www.caminhosagrado.org)

 

RESUMO DO DIA

Pernoite: Pousada da Imigração: Excelente! – Apartamento para 2 pessoas, com quarto, cozinha, sala, banheiro, etc..  – Preço R$290,00  //  Almoço: Restaurante da própria Pousada: Espetacular!

AVALIAÇÃO PESSOAL – Uma jornada de razoável extensão e com alguns ascensos e descensos de média intensidade. Há que se ressaltar, entretanto, a beleza incomum das paisagens com que fomos brindados durante todo o trajeto em comento. No percurso, transitamos por bosques ermos e silenciosos, onde a natureza está integralmente preservada. A massiva cultura do tabaco faz parte da tradição nesse trecho, contudo, visualizamos também construções, bosques e plantações sazonais de incrível plasticidade. Por isso, sem dúvida, considero esta a etapa mais bela dentre todas as que trilhamos neste magnífico roteiro.

Algumas fotos do percurso desse dia:

A massiva cultura de fumo, nesta etapa, a perder de vista...

Descendendo em direção à Comunidade de Canela Velha.

Casa de Pedras centenária, localizada perto de Azambuja (Pedras Grandes/SC).

A réplica da Torre de Pisa, em Azambuja/SC.

A bela igreja de São Marcos (de 1919), em Azambuja/SC.

5º dia: AZAMBUJA (PEDRAS GRANDES) a MORRO DA FUMAÇA – 29 QUILÔMETROS

 

Para viver neste mundo, nada melhor do que um dia após o outro e uma noite bem dormida entre eles, e vivenciando isso na prática mais de uma vez.” (Beto Colombo, em “Todo Caminho é Sagrado”)

 

A jornada seria longa, assim partimos logo após ingerir o profícuo café da manhã que a Vanize, em nome da Pousada, nos proporcionou. A temperatura, na casa de 4ºC, agiu como uma chicotada em nosso ânimo, assim, estugamos os passos para aquecer corpo/membros e, percorridos 2 quilômetros em agradável toada, giramos à esquerda e prosseguimos em leve mas perene ascenso.

A estrada larga, arejada e muito bem pedregulhada, nos proporcionou excepcionais vistas, enquanto galgávamos intimoratos os aclives que se apresentavam à nossa frente. O sol logo apareceu e concorreu para deixar nosso “passeio” andante mais límpido e agradável.

Assim, sem grandes dificuldades, no 8º quilômetro atravessamos a Comunidade de Ribeirão de Areia, onde há uma estilizada igreja que, infelizmente, se encontrava fechada. Após breve descenso, um quilômetro adiante, transitamos diante da “Porta do Horizonte”, um local incrível, de onde se avista inúmeras cidades no horizonte, como Içara, Criciúma, Siderópolis, Cocal do Sul, Urussanga, Morro da Fumaça e, ainda, no canto esquerdo, uma nesga do mar, no Balneário Rincão.

Assim, após uma pausa para contemplação e fotos, prosseguimos adiante, ainda em ascenso, e no 10º quilômetro atingimos 382 m de altitude, o ponto de maior altimetria dessa jornada e de todo o Caminho. Então, mergulhamos em desabalado descenso e no 13º quilômetro transitamos pelo bairro de São Sebastião, onde há comércio. Depois, por uma estrada larga e descendente, enfrentamos, na minha opinião, a pior parte do percurso, transitando por locais de trânsito intenso, onde aspiramos muita poeira.

No 17º quilômetro, fizemos uma pausa diante a da igreja de São João, localizada na Comunidade de Urussanguinha baixo, que pertence ao município 13 de maio. Dali podíamos divisar nitidamente a magnífica imagem de Nossa Senhora Aparecida, fincada no alto de um morro, marco de importantes peregrinações a pé, envidada por penitentes e residentes locais.

Seguindo adiante, acessamos outra larga estrada de terra, que seguiu margeando uma imensa planície, onde o a tônica era o plantio massivo de arroz. No 21º quilômetro, já sob sol escaldante, nós giramos à direita, passamos diante do portão da Jazida Ouro Branco, ultrapassamos o rio Urussanga por uma ponte, depois, transpusemos movimentada rodovia, giramos à esquerda e prosseguimos sobre terra, até atingir a zona urbana de Morro da Fumaça, um povoado muito simpático.

Então, seguimos confiantes até nosso local de pernoite, onde fomos muito bem recepcionados pela Mirela. Após delicioso almoço, imergimos num sono reparador, pois a jornada fora árdua. Mais tarde, fomos conhecer e fotografar a igreja matriz dessa pacata localidade, cuja padroeiro é São Roque. Depois, fizemos uma pausa numa praça localizada ao lado de uma linha férrea e logo uma potente locomotiva capitaneando longa composição de vagões carregados de carvão transitou pelo local, em direção ao litoral, para alegria do meu parceiro Vinícius, grande entusiasta de artefatos ferroviários, que tudo filmou.

 

Morro da Fumaça é um município brasileiro do estado de Santa Catarina. Localiza-se ao sul do estado, a cerca de 180 km da capital, Florianópolis. Segundo historiadores, o nome se deve à neblina formada no morro onde hoje se localiza o Hospital de Caridade São Roque, sempre que o Rio Urussanga subia. Uma outra versão conta que, devido a esta neblina, tropeiros que por ali se instalavam precisavam acender fogueiras em seus acampamentos, causando a emissão de fumaça. População: 18 mil habitantes (Fonte: www.caminhosagrado.org)

 

RESUMO DO DIA: Pernoite: Hotel Parati – Apartamento individual excelente - Preço: R$120,00  //  Almoço: no Restaurante do próprio hotel – Espetacular! 

AVALIAÇÃO PESSOAL – Uma jornada de grande extensão e com alguns ascensos e descensos de intensidade razoável. Porém, fomos aquinhoados com uma disparidade alarmante na temperatura, tanto na saída (4ºC), quanto na chegada (21ºC), o que fez dessa etapa a mais cansativa de todas. Além disso, na parte final nós enfrentamos muita poeira, barulho e perigo, face ao trânsito massivo de caminhões que transportam areia, desde o porto do rio Urussanga. No entanto, até o 13º quilômetro (Comunidade de São Sebastião), fomos premiados com silêncio, ermosidade e belas vistas do horizonte.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Uma bela e estilizada igreja existente no 8º quilômetro.

Em descenso, belas paisagens..

Foto desde a "Porta do Horizonte", podendo se avistar várias cidades e a serra, ao fundo.

Flores, sempre bem-vindas!

6º dia: MORRO DA FUMAÇA a IÇARA – 19 QUILÔMETROS

 

Gratidão tem me deixado mais humano.” (Beto Colombo, em “Todo Caminho é Sagrado”)

 

A etapa seria de pequena extensão, assim, levantamos mais tarde, calmamente, ingerimos o café da manhã e partimos às 7 h, já com dia claro, sob a temperatura de 10ºC. Superado o trecho urbano, 3 quilômetros à frente, nós passamos a caminhar numa larga estrada de terra, onde o trânsito de veículos se mostrou intenso, face ao horário matutino.

Prosseguindo, passamos diante de algumas olarias e cerâmicas e, mais adiante, transitamos ao lado de fazendas, onde o forte era o gado leiteiro e a rizicultura. Também, observamos imensos espaços ocupados pelas culturas de milho e fumo.

Percorridos 8 quilômetros, fizemos uma pausa para hidratação, diante da igreja existente no bairro Esperança. O percurso sequente, sobre piso asfáltico, foi plano e silencioso. Então, adentramos à esquerda, e passamos a transitar, novamente, entre imensas plantações de fumo e milho, o forte nessa jornada, num trecho onde imperava o silêncio e o som do vento.

Depois de passar pela Comunidade de Santa Cruz, num determinado local, olhando em frente, podíamos avistar no horizonte toda a extensão da Serra Geral, exatamente, os locais por onde havíamos transitado nos primeiros dias do percurso. E, seguindo em frente, logo adentramos em zona urbana,

O restante do trajeto foi feito sobre um calçadão lateral, situado ao lado das linhas férreas, e sem maiores novidades nós ultrapassamos a área central e comercial da cidade, depois, seguimos para nosso local de pernoite. À tarde, quando o sol amainou, retornamos sobre nossos passos para visitar e fotografar a igreja matriz de Içara, dedicada a São Donato.

 

Içara é um município do Estado de Santa Catarina, estando a uma altitude de 48 m. Sua população no verão costumava triplicar, passando dos 60 mil para quase 200 mil veranistas oriundos da região, principalmente, da cidade de Criciúma. Mas com a emancipação do distrito de Balneário Rincão, que foi elevado à categoria de município em 2013, isso deixou de ocorrer, visto que o município de Içara perdeu o acesso ao mar e foram lhe subtraídos em torno de 12 mil habitantes. Içara pertence à Região Metropolitana Carbonífera (Criciúma). (Fonte: www.caminhosagrado.org)

 

RESUMO DO DIA: Pernoite: Vob Hotel – Apartamento individual excelente - Preço: R$130,00  //  Almoço no Restaurante dos Pampas: Ótimo! 

AVALIAÇÃO PESSOAL – Uma jornada de pequena extensão e integralmente plana. O trajeto, como não podia deixar de ser, por estar ladeando grandes localidades, é bastante urbano, contudo, há enclaves rurais, onde se caminha ao lado de imensas plantações de milho e fumo. No global, uma etapa tranquila e de transição, pois já se começa a imaginar o final e como será o “pós-caminho!”

Algumas fotos do percurso desse dia:

Igreja situada no bairro Esperança.

Grandes retões, a perder de vista...

Caminhando entre plantações de fumo e milho.

A igreja matriz de Içara/SC.

7º dia: IÇARA a OIKOS (CRICIÚMA) – 27 QUILÔMETROS

 

Prometi para mim mesmo, na volta para a casa, reduzir o peso da minha mochila existencial.” (Beto Colombo, em “Todo Caminho é Sagrado”)

 

A jornada seria longa, assim partimos às 5h30, sob uma temperatura de 10ºC, agradável para caminhar. O primeiro trecho, todo urbano, nos levou, depois de 6 quilômetros percorridos, ao Santuário Sagrado Coração Misericordioso de Jesus, um local maravilhoso, onde se respira ar puro e abençoado.

Trata-se de um enorme complexo religioso inaugurado em 2017, que foi construído em um terreno de 13,5 hectares, onde acolhe praças, caminhos e demais edificações. Todo o conjunto arquitetônico promove um ambiente de peregrinação e reverência, tendo como inspiração toda a mística e simbologia dos últimos momentos de Jesus Cristo, antes de sua entrega na cruz.

Ali fizemos uma profícua e demorada visita ao templo para externar orações e agradecer o dom da vida. Também, conhecemos as demais instalações e aproveitamos a ocasião para fotografar o belíssimo conjunto das obras, algumas ainda em execução.

Deixando o Santuário, retornamos sobre nossos passos, contudo, logo adentramos à direita e passamos a caminhar sobre terra, tendo a nos ladear por ambos os lados, imensas culturas de fumo. No 9º quilômetro, nós giramos à direita e seguimos caminhando sobre piso asfáltico que, bem mais adiante, mudou para terra, e onde avistamos extensos bananais.

O trecho sequente, ainda sobre terra, no levou a passar pela Comunidade Morro Esteves, mais conhecido como Morro da Bananeira. A partir dali, por uma estrada que contém ascensos e descensos moderados, transitamos diante de inúmeras e bem-cuidadas chácaras e vivendas, um colírio para nossos olhos. Depois, retornamos definitivamente sobre asfalto e logo transitamos pelo bairro Cidade Alta, que pertence ao município de Forquilhinha.

Por fim, acessamos a concorrida rodovia Antônio Just, e foi caminhando pelo acostamento, no sentido contrário ao fluxo de veículos, num trajeto tenso e barulhento, que aportamos em Oikos, local de onde partíramos há 7 dias.

Ali nos confraternizamos, batemos algumas fotos junto a escultura de “O Guardião do Caminho Sagrado”, recebemos nossa Diplomação de Participação, o “Júbilo”, e demos por encerrado nosso périplo. E no dia sequente, retornamos aos nossos lares.

 

Criciúma é a maior cidade do Sul de Santa Catarina, reconhecida como a Capital Brasileira do Carvão e do Revestimento Cerâmico. A localidade é conhecida também no futebol pelo Criciúma Esporte Clube. A povoação cresceu junto com a exploração do carvão e, mais recentemente, da indústria cerâmica. Hoje, tem em torno de 220 mil habitantes e apesar de sua vocação para negócios, possui belas atrações turísticas. (Fonte: www.caminhosagrado.org)

 

AVALIAÇÃO PESSOAL – Uma jornada de grande extensão, contudo com ascensos e descensos de baixa intensidade. Porém, e como esperado, pois a região metropolitana de Criciúma é ampla, a etapa contempla bastante trechos em asfalto, um tormento para os pés do peregrino que calça botas, como eu. No entanto, há intermeios desertos, com parco trânsito de veículos, onde é possível vivenciar o silêncio e a introspecção. E a chegada em Oikos, ponto final de nossa caminhada, como todos os demais em minha extensa vida peregrina, foi emocionante e gratificante!

Algumas fotos do percurso desse dia:

O fabuloso Santuário do Sagrado Coração de Jesus.

Ao fundo, o Santuário do Sagrado Coração de Jeus.

O Caminho na derradeira etapa já vai deixando saudades... em algum lugar entre Nova Veneza e Treviso.

A fabulosa Serra Geral, que avistamos em todas as etapas, nos mais variados ângulos.

Depois de percorrer 176 quilômetros,  nosso retorno ao "Marco Zero".

FINAL

 

Também se caminha para acabar com tudo e se desenraizar: acabar com o fragor do mundo, o acúmulo de tarefas e o desgaste. E não há nada melhor para esquecer, para não estar mais aqui do que o grande tédio das estradas, a monotonia sem limites das trilhas de floresta. Caminhar, desligar-se, partir, abandonar...” (Frederic Gros)

 

Que motivo estaria levando tantas pessoas no planeta a conhecer Caminhos novos, numa andança tão irrelevante?

Talvez elas estejam enxergando a clareza e a sabedoria contidas nas palavras daqueles que percorreram quaisquer roteiros, passo a passo, em silêncio, objetivando encarar as verdades do mundo e de si mesmas; o que não se consegue encontrar em outros lugares.

Na realidade atual, onde impera a velocidade, nada é mais revigorante do que ir devagar.

Numa época de distração, nada é mais enriquecedor do que observar, atentamente, o horizonte e a natureza exuberante.

E numa fase de movimento constante, nada é mais estimulante do que permanecer na calmaria.

Você pode ir de férias para Paris, Havaí, Itália, Ilhas Gregas e tantos outros locais, e vai se divertir muito.

Mas, se quiser retornar ao seu lar se sentindo diferente, vivo, cheio de esperança e apaixonado pelo mundo, creio que o melhor local para visitar é um lugar onde possa ficar consigo mesmo.

Nesse sentido, o Caminho Sagrado representou para mim um desafio interessante e de infinita beleza, embora o entorno, quase sempre plano, em algumas etapas, possa causar uma certa monotonia ao peregrino.

Além disso, o trânsito pelos arrebaldes de Criciúma, extremamente urbana e sobre piso duro em quase a sua totalidade, empanaram, de certa forma, nosso périplo em alguns momentos.

No entanto, ao aportar em Oikos – Lar de Encontros, após caminhar 176 quilômetros em 7 dias, observo que toda “viagem”, ainda que de reduzida amplitude, como essa que fiz, é uma ótima oportunidade para reciclar sentimentos, professar a fé, além de proporcionar a oportunidade única de conhecer novos lugares e fazer amizades.

Posto que há muitas coisas para descobrir nos mapas de todo o planeta, mas, também, o que há em nosso catálogo interior.

Com efeito, viajar pelo nosso âmago, fazer a travessia dos sentidos, é altamente recomendável e emocionante, e pode constituir, por si só, uma grande aventura.

Ainda, e como bem pontuou Beto Colombo, filósofo, empresário e mentor deste Caminho, em seu best-seller “Todo Caminho é Sagrado”: Atravessando o sufocante concreto, em cada caminho aprendo a valorizar ainda mais o ar puro, a calma do interior pacato e verde.

Por derradeiro, cumpre ressaltar que o Caminho Sagrado se encontra muito bem sinalizado e seu traçado abarca enclaves de fantástica e imorredoura beleza.

Ainda, um agradecimento especial ao amigo Vinícius, meu parceiro de trilha, pela alegria, auxílio e extremo companheirismo.

 

Bom Caminho a todos!

 

Setembro/2023

Meu Diploma do CAMINHO SAGRADO.