EPÍLOGO

Para que algo chegue é necessário que algo termine. Não devemos ter medo do fim, porque cada fim é um novo começo.” (Mario Pugliese) 

ENVELHECER 

(Albert Camus) 

Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.

A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.

O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido… é sim não poder voltar a cometê-las.

Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.

Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.

Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.

O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio…

Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.

Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.

A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.

Nada passa mais depressa que os anos.

Saúde a todos!

Quando era jovem dizia:

“verás quando tiver cinqüenta anos”.

Tenho cinqüenta anos e não estou vendo nada.

Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.

A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.

Sempre há um menino em todos os homens.

A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.

Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.

Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.

Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.

Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los.” 


FINAL 

Por que estou aqui? As respostas não vieram. Só ouvia o silêncio dentro de mim. Um silêncio inusitado e profundo. Então desisti. Que importava saber por que fui, importava apenas o Caminho e seus peregrinos. Suas pequenas lições muito humanas e simples. Suas dificuldades e descobertas. Se não sei porque fui, isso já não me importa. Sei que fui e isso basta. Fui e voltei. E estou de volta ao mundo real como sempre. Se aprendi algo isso vai surgir com o tempo. O que se ganha muitas vezes se dilui no corpo, mente, alma da gente de tal maneira, que como as claras em neve da receita, se incorpora aos outros ingredientes docemente, levemente, sutilmente. E de modo definitivo.” (Nadia Daher) 

Chegar a Santiago pelo Caminho Português, ultrapassar a Porta Faxeira, seguir pela Rua do Franco, passar diante da fonte onde diz a lenda que os touros que transladavam o corpo de Santiago mataram a sede, depois, por escadarias, ascender à Plaza del Obradoiro, bater fotos e, na sequência, perceber que o Caminho acabou.... 

Não sei se de alegria ou tristeza, talvez pelos dois sentimentos, mas meus olhos, repentinamente, nublaram e umedeceram... 

Então, me encostei num dos pilares que sustenta o Palácio neoclássico francês Paço de Raxoi, e me senti completamente vazio e infinitamente sozinho no meio da multidão de turistas e peregrinos que perambulava pelo local.

Mais uma Compostela, a 15ª... Deus permitindo, que venham outras...!!!

Iniciara minha peregrinação em Salamanca e por 21 dias caminhara escoteiro por muitas horas, dera milhares de passos, contudo, o sentimento de solitude nunca me aguilhoou tão profundamente quando aportei a esse lugar.

Na verdade, o Caminho de Santiago é um mistério que nunca cheguei a decifrar por inteiro, contudo, depois de realizar o meu primeiro itinerário, em 2001, como tantos outros peregrinos, fiquei embriagado de emoção e passei ver a vida sob um prisma diferente. 

Minha experiência pessoal é a pergunta que sempre faço a mim mesmo: qual a magia do Caminho de Santiago, que tanto me aprisiona e, anos após ano, me faz voltar aqui novamente?

Porque, quando chego ao “Obradoiro”, sinto uma imperiosa necessidade de me aquietar, em pé ou sentado no chão da praça, e contemplar largamente a Catedral do Apóstolo.

E depois de um transcurso de tempo, eu já me sinto feliz, relaxado e pleno de expectativas pelo próximo Caminho.

Mais tarde, adentro ao templo, e se lá fora eu já sentia a necessidade de ficar calado, uma vez em seu interior, meu desejo é “escutar” o silêncio, conversar intimamente com as pedras das paredes, sentir o calor das colunas e olhar fixamente para o altar-mór, sem pestanejar... 

Adeus Santiago e, Deus permite, quiçá, apenas um até breve ...

Então, quando me dou conta de que o Caminho é uma metáfora inexplicável, sobrevêm uma comoção interior que me deixa jubiloso e em paz.

Por isso, todo Roteiro que me encerro traz um sentimento de intensa felicidade e, por conta disso, a premente necessidade de retornar outras vezes.

Então, depois de abraçar o Santo Apóstolo, quando sinto meu coração sereno, anônimo, deixo-me perder na aglomeração de pessoas que vagueia, embasbacada, pelas ruas dessa milenar cidade chamada Santiago de Compostela.

Bom Caminho a todos! 

Abril / 2019