10 – MOIMENTA DA BEIRA a LAMEGO – 28 quilômetros

Nós nunca podemos julgar a vida dos outros, porque cada pessoa conhece sua dor e seus sacrifícios. Uma coisa é sentir-se no caminho certo, mas outra bem diferente é pensar que o seu caminho é o único.” (Paulo Coelho) 


Quando levantei, a chuva dera uma trégua, porém, prometia voltar no final da tarde, com grande intensidade.

Ainda assim, às 6 h 45 min, quando deixei o local de pernoite, persistia uma fina garoa, o que me obrigou a colocar a capa na mochila, como forma de prevenção.

Inicialmente, sob baixa temperatura, caminhei por estradas largas até a tranquila povoação de Beira Valente, contudo, a sequência me levou a superar um desnível de uns 800 m, até chegar à minúscula vila de Sarzedo.

Ali me surpreendi com sua riqueza arquitetônica, representado por 2 templos: o Solar de São Domingos de Sarzedo e a igreja matriz da localidade.

A seguir, prossegui algum tempo por asfalto, contudo, mais adiante, acessei trilha agradável que me levou a transitar por Monte Coelho.

Na sequência, caminhando em meio a extensos parreirais, podia ver ao longe, do meu lado esquerdo, a serra do Marão, onde, incrivelmente, nevava momento momento, e alguns flocos, trazidos pelo forte vento que soprava, coberto cair sobre mim.

Mais adiante, depois de um longo descenso, cruzei a Ponte de Tábuas sobre a Ribeira de Salzedas e, finalmente, entre árvores frutíferas, cheguei a Granja Nova, onde há farto comércio.

Ali fiz uma pausa na praça central para me hidratar, descansar e ingerir uma banana.

Na sequência, enfrentei um longo e escorregadio descenso, que culminou no vale do rio Varosa, cujo leito atravessei pela formosa ponte medieval de Ucanha, com sua torre fortificada, símbolo do poderio do convento cisteciense de Salzedas, situado próximo desse local estratégico.

Esse intermeio foi, natural, maravilhoso, porque o roteiro serpenteia entre árvores frutíferas, vinhedos e, em alguns locais, por estreitas trilhas pedregosas.

O trecho sequente mesclou ascensos e baixadas, passando pelas aldeias de Gouviães, Eira Queimada e Várzea de Abrunhais, onde encontrei inumeráveis ​​vinhedos, a perder de vista no horizonte.

Os derradeiros milhas foram caminhados sobre o piso asfáltico, com extremo cuidado, porque todo ele em brusco descenso, um tormento para os pés, tornozelos e joelhos.

E, já quase no final da jornada, precisei atravessar o rio Balsemão, por uma ponte.

Depois, enfrentei outro forte mas rápido ascenso que me levou, ao seu final, até a rua Sr. Dos Meninos, pela qual adentrei em Lamego, minha meta para esse dia.

Após o almoço e um necessário descanso, saí passear e fotografar a cidade, mas a chuva chegou com violência, me obrigando a retornar, rapidamente, ao local de pernoite.

Algumas fotos do percurso desse dia:

Piso agradável na primeira parte do percurso desse dia.

Tempo fechado. À esquerda, na serra de Marão, estava nevando...

Flores no caminho... pés de pessegueiros.

Praça central de Granja Nova.

Em descenso para Ucanha.

Trecho belíssimo e fresco.

Ainda em forte e liso descenso.

A Ponte fortificada de Ucanha, século XIII.

Placa explicativa.

Caminhos ermos no trecho final.

Forte descenso em direção à cidade de Lamego.

O Castelo de Lamego, no topo do morro. Tempo se fechando...

Situada no sopé nordeste da serra de Montemuro e a 12 quilômetros do rio Douro, Lamego é a capital da Região de Turismo do Douro Sul.

Excelente epicentro na produção de vinhos licorosos e espumantes, é em Lamego que vamos encontrar as raízes do famoso vinho do Porto, pois foi nesta cidade que, no século XVI, um mercador inglês tomou conhecimento do precioso néctar, levando a sua fama para Inglaterra.

Mas não são só os vinhos que atraem gente a Lamego, pois mal chega o mês de setembro e a cidade é tomada por milhares de romeiros movidos pelo culto a Nossa Senhora dos Remédios.

Desde há longo tempo que o santuário em sua honra é um dos principais motivos de visita desta cidade.

A espetacular Catedral de Lamego, século XIII.

Por ela passaram povos que foram deixando alguns vestígios.

Primeiro os romanos, seguidos posteriormente pelos visigodos, que a tornaram uma cidade importante.

Mais tarde, em 1057, após quatro séculos de lutas entre cristãos e muçulmanos, foi conquistada aos mouros pelo leonês Fernando Magno.

Dos tempos medievais dão testemunho o castelo, no alto da cidade, a Sé e a pequena igreja de Santa Maria de Almacave.

A predominância da influência da Igreja ao longo de muitos séculos, que a extinção das Ordens Religiosas em 1834 viria a restringir, dotou Lamego de numerosos templos que revelam a influência clássica do tempo da sua construção nos sécs. XVI e XVII.

Ao fundo, sobre o morro, o famoso Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.

Também a nobreza e a alta hierarquia da Igreja erigiu aqui os seus palácios de fausto para perpetuação do seu poderio e glória: a Casa do Poço, que conserva belíssimas janelas geminadas, uma do séc. XII e outra do séc. XVI; a Casa das Mores, a Casa das Brolhas, ambas do séc. XVII, para referir algumas.

Do alto dos seus 700 degraus, o mais belo Santuário barroco de Portugal dialoga com uma enigmática Torre medieval.

São dois tempos de uma antiga cidade escondida nas montanhas, onde mouros e cristãos lutaram ferozmente pela sua posse.

Praça central de Lamego.

Foi em Lamego que teriam decorrido as lendárias Cortes de Lamego, onde teria sido feita a aclamação de D. Afonso Henriques como Rei de Portugal e se estabeleceram as "Regras de Sucessão ao Trono".

A cidade é afamada também pela sua gastronomia, na qual se destacam os seus presuntos, o “cabrito assado com arroz de forno' e pela produção de vinhos, nomeadamente vinho do Porto, de cuja Região Demarcada faz parte, e pelos seus vinhos espumantes.

Conta atualmente com 12.300 habitantes.

Festejando minha passagem pela cidade ... de LAMEGO!

RESUMO DO DIA: Clima: Frio e úmido de manhã, depois nublado, variando a temperatura entre 4 e 15 graus.

Pernoite no Residencial Solar da Sé - Apartamento individual excelente! Preço: 24 euros

Almoço no Restaurante Trás da Sé: Muito bom! - Preço: 12 Euros o “menu del dia”.

IMPRESSÃO PESSOAL: Uma etapa de extensão razoável, com importantes desníveis altimétricos, um verdadeiro “sobe e desce”, além do que, o descenso a Ucanha representa um fortíssimo risco para os membros inferiores. Por sorte, o dia se manteve nublado e fresco, ótimo para caminhar. A região é dominada por vinhedos, mas também visualizei culturas de pêssego e maçã, Já a sinalização deixou bastante a desejar, mormente nos derradeiros 5 quilômetros do percurso. No global, uma jornada difícil, mas permeada de locais históricos e paisagens cinematográficas.