03º dia: VILA POUCA DE DAIRE à LAMEGO – 28.280 metros

03º dia: VILA POUCA DE DAIRE à LAMEGO – 28.280 metros

“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher". (Cora Coralina)

Levantei no horário costumeiro, fiz minhas abluções matinais, e deixei o local de pernoite às 6 h 30 min, quando o dia ameaçava clarear.

Primeira flecha do dia.

Segui por um quilômetro aproximadamente pelo acostamento da rodovia N-2, até um cruzamento, quando as flechas me direcionaram para a esquerda.

Ponte sobre riozinho.

Ali, uma senda matosa me levou a atravessar pequeno riacho utilizando as pedras alocadas em seu leito, depois prossegui por um caminho pedregoso, situado em meio a intenso verde.

Caminho pedregoso e fresco.

Havia árvores dos dois lados da vereda, e eu não conseguia visualizar o entorno, porém esse trecho está muito bem sinalizado e, apesar da luz incipiente, não tive dificuldades em encontrar meu rumo.

Muita cerração no entorno.

Com certeza, pelos excrementos encontrados nesse trecho, essa rústica trilha é frequentada apenas por pastores, gado e ovelhas.

Ponte Velha, cuja origem é incerta.

Uns dois quilômetros adiante, eu atravessei um riacho pela “Ponte Velha”.

Trata-se de uma construção bastante antiga, de origem incerta, construída possivelmente pelos romanos e refeita na Idade Média.

Aclive em direção à Moura Morta.

Depois, prossegui à direita, por uma estrada situada entre muros de pedra.

E logo passei por Moura Morta, uma pequena aldeia, encravada numa encosta, com vista para a ribeira que corre no fundo de um verdejante vale.

A pequena aldeia de Moura Morta.

Ali cumprimentei apenas um senhor que carregava uma sela de montaria às costas e que, certamente, se encaminhava para a lida do dia.

Afora ele, não vi ninguém circulando e, já quase deixando a povoação, passei diante da capela de Santiago, situada ao fundo de um caminho que circunda o cemitério.

Depois da cidade, o caminho prossegue sobre pedras.

Prosseguindo, acessei outro caminho calçado com paralelepípedos, que seguiu em meio a muito verde.

O forte nesse trecho foram os campos de pastagem, caprichosamente cercados por fios de nylon, mas não vi animais em seu interior.

Trecho arejado e com pastagens.

Trata-se de uma zona muito bonita, com múltiplos arvoredos e vegetação intacta.

Muito verde no entorno.

O piso, bastante irregular, é formado em quase toda a extensão por granito, e situado entre giestas, uma planta típica da região.

Flores para alegrar o dia.

Mais acima, ainda em ascendência, ultrapassei o topo do morro e, já em leve descenso, transitei por Mézio

Passando por Mézio.

A aldeia me pareceu estar dividida em duas partes: a mais antiga e típica fica na encosta, e mantém ainda as tradicionais casas da serra de Montemuro, com telhados de colmo.

A outra, já no vale, onde passei descendendo, é mais moderna, apesar de estar nela erguida a igreja paroquial, de data incerta, mas reconstruída no século XVIII.

Uma das muitas fontes existentes na pequena vila.

Ali encontrei 3 fontes de água potável e, numa delas, matei a minha sede.

E logo as flechas me encaminharam para uma estrada de terra bem demarcada, que seguiu em ascendência, na direção da montanha.

Subindo em direção ao topo do moto, caminho matoso.

Mais acima, passei a caminhar por uma trilha de piso matoso, situada num local fresco e arejado, mas sempre em ascenso em direção ao cume de um morro.

Quando ali cheguei, fiz uma pausa para ingerir uma banana e apreciar o entorno.

O caminho segue subindo e direção às torres de captação eólica.

Ao longe eu avistava torres de captação de energia eólica, situadas no ponto mais alto de uma colina, para onde o caminho se dirigia.

Novamente refeito, segui adiante e, mais acima, voltei a transitar pela rodovia N-2 e, foi por ela, que aportei em Bigorne, outra pequena povoação.

Chegando em Bigorne.

Na verdade, o caminho não adentra a essa modesta e simpática aldeia, considerada uma das menores freguesias de Portugal.

No entanto, ela foi considerada durante centenas de anos como um porto comercial, por se encontrar na estrada que liga Lamego a Castro Daire.

Igrejinha de Santiago, em Bigorne.

O roteiro do CPI gira à direita logo na entrada da povoação, e passa diante da Igreja de Santiago.

Pausa para descanso e hidratação nessa fonte.

Ao lado dela existe uma fresca fonte, onde fiz uma pausa para hidratação, enquanto recuperava minhas forças.

Já partindo, quando ia passa sob a Autovia Nacional por um túnel, encontrei um rebanho de ovelhas, acompanhadas de seu pastor, que se dirigiam a um sítio próximo.

Encontro com um rebanho de ovelhas.

Eu me postei ao lado do caminho e pude fotografá-los sem pressa ou perigo, pois existiam 3 grandes cães acompanhando o diferenciado cortejo.

Já do outro lado, eu segui ascendendo e, no topo do morro, ao lado de uma torre de captação eólica, eu alcancei a altitude de 1.050 metros.

Nesse ponto, junto a torre, está localizado o ponto de maior altimetria do CPI.

Nesse local se localiza o ponto de maior altimetria do Caminho Português Interior.

Caminhando pela borda da montanha.

Então, por uma larga estrada de terra, caminhei um bom tempo pela borda da montanha até que, mais abaixo, já descendendo, eu ultrapassei a pequena vila de Ribabelide.

Então, acessei a rodovia N-2 e segui por ela alguns quilômetros, até que atravessei uma grande ponte erigida sobre o rio Balsemão.

Ponte localizada sobre rio Balsemão.

Já do outro lado, as flechas me direcionaram para as montanhas novamente.

Subindo novamente.

Primeiramente por asfalto, depois em terra batida, fui ascendendo em direção ao topo da serra, ladeado por campos de pastagem e muitas flores.

Caminho colorido.

Já bem próximo das torres de captação eólica, inopinadamente, a sinalização me fez girar à direita e prossegui por uma erodida senda.

Caminhando no topo do morro.

Então, observando abaixo e ao longe, vi descortinar um grande vale, pleno de pequenas aldeias, todas interligadas por rústicos caminhos de terra.

Vista do vale por onde eu descenderia a montanha.

Com extremo cuidado, principiei a descender, porque o piso empedrado e coberto de relva estava escorregadio e úmido, podendo me levar a uma queda.

Caminho empedrado e liso.

Assim, mais abaixo, passei por inúmeras aldeias, a maior parte delas, silenciosas e vazias.

Nesse trecho, caminhei por inúmeras e minúsculas aldeias.

Transitei também diante de duas igrejas, e em uma delas havia pessoas saindo da missa dominical.

Por coincidência, tratava-se de uma ermida cujo padroeiro era Santiago, situada em vila homônima.

Flores para alegrar o dia.

E, embora eu tenha feito inúmeras voltas, algumas vezes por becos e ruelas, a marcação nesse trecho está perfeita e não me perdi em nenhum momento.

Fonte, com pequeno oratório, onde matei minha sede.

Muito tempo depois, vários quilômetros superados, encontrei uma bica de água, onde existia um copo para ser utilizado pelos peregrinos, e pude matar minha sede que já não era pouca, em face do horário e do sol forte.

Depois de rude descenso, acabei por desaguar na rodovia N-2, seguindo adiante por seu acostamento.

Passagem por Penude.

Mais abaixo, transitei pela Freguesia de Penude, onde existe um albergue de peregrinos, conforme consta no site do CPI, porém não consegui localizá-lo.

Então, numa rotatória, eu deixei a N-2 e segui à direita, por uma estrada vicinal asfaltada, praticamente deserta.

Mais flores no Caminho.

Nesse trecho, eu passei diante do Centro de Treinamento de Operações Especiais de Portugal, uma unidade destinada a formar militares na área das Operações não Convencionais e Especiais.

Caminho em descenso, quase chegando em Lamego.

Mais adiante, ainda em asfalto, obedecendo a sinalização, eu adentrei à esquerda, acessei uma estrada de terra e, já em franco descenso, depois de mais dois quilômetros, cheguei a Lamego.

Na verdade, aportei primeiramente diante da igreja dedicada à Nossa Senhora dos Remédios, um templo erigido no alto de um morro, de onde domina a cidade, situada num vale abaixo.

Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego.

Esse Santuário começou a ser construído em 1750, para ser terminado em 1905, ocupando o monte onde existia desde o século XIV, uma capela dedicada a Santo Estêvão.

No século XVI, esta ermida ameaçava ruir e foi mandado erigir uma nova igreja pelo bispo da cidade, onde foi colocada também a imagem da virgem com o menino ao colo.

Com o tempo, a devoção a Santo Estêvão foi decaindo e cresceu a dedicação à virgem, que era o alvo das preces de quem padecia de males e necessitava de ajuda, dando origem, desta forma, à devoção à Senhora dos Remédios.

Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego. Foto mais abaixo.

Este templo, cujas festas principais de realizam nos dias seis a oito de setembro, tem sua fachada em estilo barroco, e é ladeada por torres sineiras.

Em seu interior, o altar-mor ostenta a imagem da Nossa Senhora dos Remédios esculpida em madeira, e três vitrais apresentam as imagens de Nossa Senhora da Conceição, do Sagrado Coração de Jesus e da Anunciação.

Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego. Foto em um local já abaixo de algumas escadarias.

Os altares laterais são dedicados aos pais da virgem, e as paredes são cobertas por azulejos com imagens da vida de Nossa Senhora.

A escadaria de acesso ao santuário, com 686 degraus, tem vários patamares, onde se encontram os reis de Israel, e na base da escadaria, quatro figuras representam as quatro estações do ano.

Cidade de Lamego, abaixo e ao fundo.

Dali se tem uma vista maravilhosa de toda a urbe, bem como das serras que ladeiam o vale do Douro, por onde eu transitaria nas jornadas sequentes.

Infelizmente não pude adentrar ao templo que estava lotado, pois era um domingo e havia uma missa em andamento.

Praça central de Lamego.

Fiz algumas fotos do entorno, depois desci as escadarias e acabei por sair na enorme praça central, onde tomei informações com passantes.

Então, seguindo as instruções, eu logo aportei ao Hotel São Paulo, onde havia feito reserva.

Ali paguei 20 euros por um excelente quarto individual.

Hotel São Paulo, onde me hospedei nesse dia.

Mais tarde, após o banho e lavagem de roupas, fui almoçar no restaurante A Nave, onde ingeri o “menu del dia”, por 10 euros.

Monumento homenageando os Bombeiros de Lamego.

Situada no sopé nordeste da serra de Montemuro e a 12 quilômetros do rio Douro, Lamego é a capital da Região de Turismo do Douro Sul.

Excelente epicentro na produção de vinhos licorosos e espumantes, é em Lamego que vamos encontrar as raízes do famoso vinho do Porto, pois foi nesta cidade que, no século XVI, um mercador inglês tomou conhecimento do precioso néctar, levando a sua fama para Inglaterra.

Praça central de Lamego.

Mas não são só os vinhos que atraem gente a Lamego, pois mal chega o mês de setembro e a cidade é tomada por milhares de romeiros movidos pelo culto a Nossa Senhora dos Remédios.

Desde há longo tempo que o santuário em sua honra é um dos principais motivos de visita desta cidade.

Igreja de Santa Maria de Almacave.

Por ela passaram povos que foram deixando alguns vestígios.

Primeiro os romanos, seguidos posteriormente pelos visigodos, que a tornaram uma cidade importante.

Monumento aos heróis da Primeira Guerra Mundial, que morreram em combate.

Mais tarde, em 1057, após quatro séculos de lutas entre cristãos e muçulmanos, foi conquistada aos mouros pelo leonês Fernando Magno.

Dos tempos medievais dão testemunho o castelo, no alto da cidade, a Sé e a pequena igreja de Santa Maria de Almacave.

A predominância da influência da Igreja ao longo de muitos séculos, que a extinção das Ordens Religiosas em 1834 viria a restringir, dotou Lamego de numerosos templos que revelam a influência clássica do tempo da sua construção nos sécs. XVI e XVII.

Também a nobreza e a alta hierarquia da Igreja erigiu aqui os seus palácios de fausto para perpetuação do seu poderio e glória: a Casa do Poço, que conserva belíssimas janelas geminadas, uma do séc. XII e outra do séc. XVI; a Casa das Mores, a Casa das Brolhas, ambas do séc. XVII, para referir algumas.

Uma das ruas de Lamego.

Do alto dos seus 700 degraus, o mais belo Santuário barroco de Portugal dialoga com uma enigmática Torre medieval.

São dois tempos de uma antiga cidade escondida nas montanhas, onde mouros e cristãos lutaram ferozmente pela sua posse.

Foi em Lamego que teriam decorrido as lendárias Cortes de Lamego, onde teria sido feita a aclamação de D. Afonso Henriques como Rei de Portugal e se estabeleceram as "Regras de Sucessão ao Trono".

A cidade é afamada também pela sua gastronomia, na qual se destacam os seus presuntos, o "cabrito assado com arroz de forno" e pela produção de vinhos, nomeadamente vinho do Porto, de cuja Região Demarcada faz parte, e pelos seus vinhos espumantes.

Conta atualmente com 12.300 habitantes.

Igreja da Sé de Lamego.

Depois de merecido descanso, dei um grande giro pelas imediações e fui visitar e fotografar a igreja de Santa Maria de Almacave.

O templo, de estilo românico, foi construído ainda na primeira metade do século XII, estando documentado como sendo em 1145.

Infelizmente, pouco mais se sabe acerca desta primeira edificação, uma vez que, algum tempo depois, o monumento foi integralmente refeito.

Muito modificada nos séculos XVI a XVIII, altura em que se abriu a capela do Santíssimo Sacramento, se realizaram as máquinas de talha dourada e se deu corpo ao coro alto.

Trata-se de um edifício de planta longitudinal, composto por nave única e capela-mor, tendo adossada ao corpo, pelo lado direito, uma torre sineira de secção quadrangular, edificada muito depois.

Por seu feitio diferenciado, mantém-se como um notável testemunho da excepcionalidade do Românico da zona de Lamego.

Interessante placa recordando acontecimento do ano de 1143.

Por sinal, próximo dali existe uma placa que diz: “De regresso de Zamora aonde em setembro de 1143, assinou o tratado de independência de Portugal, o rei D. Afonso Henriques passou no mesmo mês pela cidade de Lamego e aqui reuniu a sua cúria na igreja de Almacave”.

Monumento em homenagem aos mortos no ultramar.

Depois pude fotografar um monumento erigido no centro da cidade, em homenagem aos combatentes portugueses residentes nesse Concelho, mortos durante a primeira grande guerra mundial e durante a guerra colonial.

Em seguida fui conferir o local por onde deixaria a cidade na manhã seguinte.

Marco do CPI em Lamego.

Próximo da saída da cidade, encontrei o marco do Caminho Português Interior, que me informava restarem 309 quilômetros até Santiago.

Por sinal, esse monólito foi erigido bem diante da entrada que dá acesso ao Castelo de Lamego, mas para lá aportar eu precisaria subir algumas escadarias e, face ao trajeto do dia, meus pés se recusaram a dar mais um passo, mormente na direção de ladeiras.

Agora só restam 309 quilômetros até Santiago.

Depois, passei num supermercado e me provi de víveres para o lanche noturno e a jornada sequente.

Em seguida fui dormir, pois fazia muito calor naquele dia.

Uma das inúmeras praças bem cuidadas existentes em Lamego.

IMPRESSÃO PESSOAL: Outra etapa de razoável extensão, onde se faz necessário vencer algumas elevações, bem como sobrelevar o ponto culminante do CPI, localizado na aldeia de Bigorne. Porém, uma etapa muita bela, com um entorno maravilhoso, onde o verde está sempre presente. Também, para tranquilidade dos peregrinos, ela se encontra muito bem sinalizada. Em termos de comércio, à exceção da passagem por Penude, já na rodovia N-2, não visualizei padaria, bar ou restaurante aberto durante o trajeto.

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