5º dia: SIGÜEIRO à SANTIAGO DE COMPOSTELA – 17 quilômetros “As viagens são parteiras do pensamento”. (Alain de Botton) O dia amanheceu chuvoso, intensamente nublado, e quando deixei o local de pernoite ainda caía uma leve, porém persistente garoa. Por isso, eu protegi a mochila e coloquei minha capa de chuva. Saí às 7 horas, conforme combinado com o grupo português, mas como estávamos em estabelecimentos distintos, não visualizei nenhum peregrino deixando a cidade, de maneira que, como de praxe, prossegui sozinho. Após atravessar a ponte medieval sobre o rio Tambre, ainda em Sigüeiro, adentrei ao Concelho de Santiago de Compostela e, por um agradável caminho pavimentado e orlado por carvalhos, logo ultrapassei a igreja de San Andrés de Barciela, local até onde eu caminhara no dia anterior quando conferia o roteiro desse dia. Prossegui ascendendo por um outeiro, depois, por um túnel, atravessei a rodovia AC-250. Na sequência, fiz um giro de noventa graus e, utilizando uma passagem subterrânea, ultrapassei a Autovia Nacional. Prossegui por asfalto em meio a algumas aldeias e, nesse trecho, passei por San Vicente de Marantes e A Rua Travesa. Na sequência, já em A Torre, transitei pela parte de trás do Hotel San Vicente, onde, na véspera, eu o tinha como alternativa para pernoite. Deixei à minha esquerda o cruzeiro e a capela de Nossa Senhora de Agualada e, por uma passagem inferior, ultrapassei novamente a rodovia N-550. Então, percorridos 5 quilômetros ainda debaixo de fria garoa, e que não dava trégua, adentrei a um caminho de terra batida, rodeado de árvores. A partir daí, o dia ficou realmente interessante, porquanto voltei a transitar em plena e exuberante natureza. Em alguns entremeios, caminhei por bosques, onde os renques de árvores formavam verdeiros túneis. Mais à frente, enfrentei estradas planas e longos estirões retilíneos. Em alguns locais a primavera mostrava o seu vigor, com flores desabrochando exuberantes no entorno de onde eu caminhava. Durante esse trecho não encontrei e nem vi alma viva, apenas o verde ambiente, em todas as suas gradações. Foi, realmente, um final de peregrinação dos mais belos e interessantes que vivi, pois nesse tempo todo segui contemplativo e, ao mesmo tempo, extremamente gratificado pois, em breve, iria rever novamente o Santo Apóstolo. Mais à frente, por uma ponte, atravessei o rio Sionella para, depois de breve ascenso, aportar em O Barral, uma minúscula aldeia da paróquia de San Caetano. Percorridos 10 quilômetros em bom ritmo, num abrigo de ônibus, fiz uma pausa para hidratação e ingerir uma banana. Enquanto ali permanecia descansando, passaram dois portugueses do grupo com quem havia conversado na noite anterior, me cumprimentaram, depois seguiram apressados, porque estavam ávidos por tomar o “pequeno-almoço”, para nós brasileiros, o café da manhã. E quando me preparava para partir, surgiu outro luso, o Antônio, então, seguimos juntos conversando. Percorridos 11 quilômetros, adentramos ao Polígono Industrial do Tambre, onde está localizado o Café-Bar Polígono, para onde também se encaminhou o meu amigo, pois na porta do estabelecimento, do lado de fora, estavam depositadas num banco as duas mochilas de seus amigos. Ele me convidou para acompanhá-lo ao interior do bar, mas recusei, pois estava bem alimentado e não queria parar vez que, face ao frio e a umidade reinante, poderia desacelerar meu ritmo e desaquecer meu corpo. Assim, segui adiante e logo adentrei em zona urbana. A sinalização nesse trecho também está soberba e apesar de fazer várias curvas, não me perdi. Numa praça, já próximo do “casco viejo” localizei o derradeiro “mojón” desse roteiro. Então, tomei a avenida Xoan XXIII e, em franco descenso, caminhei até o início do Centro Histórico de Santiago de Compostela. Como de costume, a chegada foi em clima de emoção, temor e curiosidade, porquanto eu estava novamente aportando numa cidade mística, onde peregrinos se contam aos montes. Em seguida, passei diante da igreja de São Francisco, onde existe um monumento homenageando esse Santo. Mais alguns metros percorridos, e adentrei à imensa e agitada Praça do Obradoiro que, por conta da chuva e do horário matutino, estava quase deserta. E, pela primeira vez, aportava naquele local sacro debaixo de fina garoa, que não me permitiu desvestir a capa de chuva. Ali posei para fotos, fiz minhas orações e agradecimentos, depois fui até a Oficina de Peregrinos retirar minha Compostelana. Em seguida, me encaminhei para o Hotel Hórreo, de excelente qualidade, onde havia feito reserva. No dia seguinte assisti à missa dos Peregrinos, às 12 horas, com direito a botafumeiro. E na madrugada sequente, retornei ao nosso querido Brasil. Plaza de Platerias. IMPRESSÃO PESSOAL: Uma etapa de pequena extensão, que percorri sem nenhuma dificuldade. De ressaltar que os primeiros dois terços da jornada transcorreram por zonas rurais e bosques florestais agradáveis, ao lado da Estrada Nacional N-550. Os derradeiros 5,3 quilômetros são em zonas industrial e urbana: num primeiro momento, pelo Polígono Industrial do Tambre; depois, ao longo das ruas dos bairros do norte da cidade, até se entrar no Centro Histórico de Santiago de Compostela. E, só depois de percorridos 11,4 quilômetros, é que encontrei bar/cafeteria, na zona do Polígono Industrial do Tambre. Contudo, além do entorno paisagístico, o que contou mesmo nesse trajeto foi a chegada à capital da Galícia, com a monumentalidade dos seus edifícios históricos. |
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