15ª Jornada - LHANES a RIBADESELLA

15ª Jornada – Lhanes a Ribadesella - 29 quilômetros: “O mar continua!” 

O percurso seria relativamente longo e novamente eu teria muito asfalto para vencer, pois essa região das Astúrias está por demais urbanizada.

Em compensação, a chuva havia se afastado para o norte, de forma que o sol retornaria com intensidade.

Essa era a previsão meteorológica para aquele dia.

E como os dez primeiros quilômetros seriam feitos pelo acostamento da rodovia, resolvi sair o mais cedo possível.

Dessa forma, levantei às 5 h e, exatamente, às 6 h, deixava o local de pernoite, seguindo por uma longa avenida, bem iluminada, até acessar, mais acima, a rodovia AS-263, onde avistei as flechas amarelas, em grande destaque.

Na sequência, ainda no escuro, prossegui pelo acostamento da “carretera” por 5 quilômetros e uma hora depois chegava em Celório, uma localidade de veraneio, bem próxima do mar.

Porém, face o horário, não avistei movimento nem localizei algum comércio aberto, e embora estivesse sequioso por um café, precisei seguir adiante.

Logo à frente, ultrapassei o interessantíssimo monastério de San Salvador, construído em 1.017 e que pertenceu à ordem dos Beneditinos, onde avistei uma jovem monja preocupada em limpar a entrada desse antiquíssimo convento.

Na sequência, passei pelo povoado de Posada e logo acessei um caminho de terra, em meio a muitas árvores, porém extremamente embarreado e com grandes poças de água em seu leito.

No final de pequena baixada, adentrei em Niembro, outra povoação minúscula, contendo uma dúzia de casas esparsas, além de um incipiente comércio que àquela hora, também se encontrava fechado.

Prosseguindo, ultrapassei a Autovia Nacional por um túnel e mais abaixo, passei defronte às ruinas do monastério de San Antolín de Bedón.

Ali só resta a igreja, um templo romântico tardio do século XII.

Depois de vencer pequena ladeira, passei a caminhar à beira mar, por uma calçada construída especialmente para pedestres e dali tinha total visão da bela praia de San Antolín, localizada na foz do rio Bedón, que deságua no mar.

Na sequência, prossegui pela rodovia e mais adiante, passei sob a Autovia Nacional, girei à esquerda e logo chegava a Naves, outro povoado minúsculo, onde avistei apenas um bar aberto em sua praça central.

Era 9 horas e meu estômago estava reclamando, de maneira que fiz uma pausa para ingerir um café, além de comprar chocolates e água.

Prosseguindo, logo deixei a pequena vila e segui por um caminho estreito, barrento e bastante arborizado, rodeado por grandes eucaliptos, que refrescavam e perfumavam o ambiente em derredor.

Um quilômetro depois, ultrapassei o povoado de Villahormes, mas, por sua lateral, sem adentrar em zona urbana, passando ao lado de uma capela erigida em homenagem a Santo Antônio.

O roteiro prosseguiu em asfalto, por uma estrada vicinal bastante silenciosa e com inexpressivo tráfego de veículos, até que aportei em Nueva, um povoado de médio porte, se compararmos com aqueles que eu tinha encontrado antes.

Ali observei um expressivo comércio, bem como inúmeras pousadas e hotéis, em razão da proximidade do mar, que a torna bastante movimentada na época do verão.

Em seguida, prossegui pela rodovia AS-263, passei novamente sob a Autovia Nacional e caminhei em direção ao Camping Villanueva de Pría.

Nesse local, observei construções espaçadas e praticamente sem nenhum comércio, de forma que, com o sol já incomodando, segui adiante, sempre pela rodovia, num local em que discorre entre o mar, à direita, e uma grande serra, à esquerda.

Realmente, um local de profunda beleza, com muito verde e extensas planícies, onde avistei muito gado pastando e grandes manadas de ovelhas.

Quando ainda restavam 6 quilômetros para encerrar a jornada, ocorreu um fato extremamente gratificante, pois superei a metade da jornada, qual seja, ultrapassei o 424º quilômetro de caminhada e, nesse inolvidável instante, meu coração pulsou jubiloso.

Ante a grandiosidade do momento, fiz uma pausa para orar, refletir e hidratar a pele, pois o sol já castigava sem dó, embora um vento cortante, descendo das montanhas ao redor, inibisse meu ato de desvestir o casaco.

Na sequência passei por Cuerres, outro pequeníssimo povoado situado à beira da “carretera” e depois de um final duríssimo, por um asfalto quente e ascendente, aportei em Ribadesella, em sua parte superior.

Então, segui por ruas bem sinalizadas e dotadas de confortáveis calçadas, já em descenso, até adentrar em seu “casco viejo”, exatamente, às 13 h, e com muitas dores nos membros inferiores.

A cidade, uma vila marinheira erigida no estuário do rio Sella, tem como primeira citação histórica o ano de 834, contudo a carta proclamando sua criação é datada de 1.270, e foi assinada por Alfonso X (“O Sábio”), sendo ele quem ordenou a união dos territórios de Melorda e Leduas.

Na verdade, desde os tempos pré-históricos este território já era ocupado, conforme demonstram os diversos registros arqueológicos colhidos em inúmeras cavernas e abrigos naturais existentes no município.

No entanto, as primeiras referências escritas datam do Século I a.C., as quais citam o rio de Noega, que separava a Província das Astúrias e da Cantábria.

Tais documentos são obra do grego Estrabão.

Na época, os Ribasellanos (Riosellanos) eram denominados Salaenos e dominavam vários territórios, inclusive Llanes, que foram subdivididos após a vitória romana.

Durante a Idade Média a “villa” passou por momentos de esplendor, graças ao tráfico de madeira, que utilizava o rio Sella como meio de transporte do comércio marítimo de sal.

Porém, as atividades mais rentáveis, à época, eram a captura de salmões e a caça de baleias, fato que perdurou até o Século XIX.

Em 1865 foi construída a ponte de madeira sobre o rio Sella, substituída por aço em 1.892 (destruída pela guerra civil espanhola em 1.937), e reconstruída em concreto em 1.940, tal como existe até hoje.

Durante as décadas de 60 e 70 urbanizou-se o Arenal da praia de Santa Marina, configurando a urbe como está agora.

A construção de vivendas, o turismo, o consumismo, os novos costumes e as tecnologias fazem de Ribadesella uma “villa” moderna.

Atualmente, ela se divide em duas zonas: a oriental, com o casco histórico e as ruas centrais de “Gran Via e Comércio” e a parte ocidental, mais nova, localizada do outro lado do rio e unida por larga ponte, onde se encontram construções recentes, de estilo afrancesado e voltadas ao veraneio.

Segundo as estatísticas que, li a respeito dessa cidade de 6.000 habitantes, em época de temporada ela abriga quase 50 mil pessoas.

Ali fiquei hospedado no hotel Patiño e para almoçar utilizei um dos restaurantes instalados ao lado da praça onde se localiza o prédio do “Ayuntamento”.

Mais tarde, após um bom descanso, fui conhecer a igreja Paroquial dedicada à Santa Maria Madalena, uma construção datada do século XV.

Aproveitei, ainda, para caminhar no calçadão localizado junto à foz do rio que banha a cidade, porque por ali eu deixaria a cidade no dia seguinte.

O tempo principiou a mudar no instante em que eu adentrava ao local de pernoite, e logo uma chuva fina começou a cair e varou noite à dentro, prenunciando uma mudança no clima para o dia seguinte, fato que não me deixou muito feliz, como adiante explicarei.

Depois de singelo lanche no quarto, fui dormir, pois estava preocupado com uma bolha que surgiu debaixo do meu pé esquerdo, e pela larga jornada que enfrentaria no dia seguinte.           

IMPRESSÃO PESSOAL – Uma etapa de razoável amplitude e praticamente toda feita em asfalto, salvo breves exceções, quando enfrentei estradas extremamente lamacentas. No entanto, como as anteriores, em meio a muito verde e plena de exuberantes paisagens.

 16ª Jornada - RIBADESELLA a VILLAVICIOSA