4º dia: QUIROGA a MONFORTE DE LEMOS – 36 quilômetros

O futuro tem muitos nomes: para o fraco, significa o inatingível; para o temeroso significa o desconhecido; para o corajoso, significa oportunidade.” (Victor Hugo) 

Segundo o guia inserto na página do Gronze.com, esta é considerada a “Etapa-Rainha” desse roteiro, em face de sua extensão e entraves altimétricos a serem sobrepujados, assim, como teria um grande percurso sobre asfalto no início, parti às 6 h, a uma temperatura de 10°C.

Deixando Quiroga, o rio Sil me acompanhou por um pequeno trecho, até um lugar chamado Nocedo, onde o abandonei para acessar a rodovia LU-933, que empreendeu um forte aclive em sua parte inicial.

Percorridos 6.300 m, obedecendo à sinalização, eu deixei o asfalto e adentrei à direita, numa estrada de terra, que prosseguiu em íngreme ascenso, pelo interior de um imenso bosque de pinheiros.

Esse tramo inicial, até alcançar o cume, é um dos mais duros do caminho, porém, me permitiu gozar a solidão da natureza e de um precioso bosque, na verdade, um local adequado para alguém encontrar-se com si mesmo.

Caminhados, exatos, 9 quilômetros, já no topo do morro, eu acessei outra larga estrada de terra, situada à minha esquerda, e principiei a descender pelo interior de um sombrio bosque, num trajeto fresco e extremamente agradável, por onde segui ladeado por pinheiros de um lado e castanheiros e samambaias do outro.

Mais abaixo, passei diante da “Capilla de los Remedios” (século XVII), outra igrejinha singular, situada num local ermo e extremamente distante da civilização, que é um ponto de peregrinação religiosa na região, mormente em sua data festiva, comemorada, anualmente, no dia 8 de setembro.

Ainda, mais à frente, eu passei pela vila de Carballo de Lor, depois prossegui em forte descenso e, percorridos 15 quilômetros, eu ultrapassei o rio Lor por uma ponte medieval, de origem romana, num povoado conhecido por Barxa de Lor, outro ponto dos mais apreciados do Caminho de Inverno, que convida a uma pausa..

Trata-se, na verdade, de um local estratégico, por onde discorria a antiga calzada romana, que unia A Rúa de Valdeorras com Monforte de Lemos, e que mais tarde seria conhecido como Caminho Real.

Prosseguindo, já em forte ascenso, passei diante da igreja matriz do povoado, ainda caminhando sobre asfalto.

Porém, logo as flechas me direcionaram para uma trilha úmida e lisa, situada à esquerda, por onde segui em fortíssimo e breve ascenso, com belíssimas vistas panorâmicas do entorno.

Já no topo da elevação, voltei a ascender, contudo, bem mais lentamente, depois, mais acima, quando o caminho se nivelou, caminhei um bom tempo pelo cimo do morro, atravessando campos agriculturados, bosques e trigais, num trajeto fresco, silencioso e extremamente ermo, de onde eu detinha privilegiada visão do vale por onde discorria o rio Sil.

Sem maiores dificuldades, depois de enfrentar suave declive, percorridos 23 quilômetros, passei por A Pobra do Brollón, um povoado de boa estrutura comercial e numa área situada junto ao rio Saá, onde encontrei mesas e bancos, fiz uma pausa para descanso e ingestão de uma banana.

O dia prosseguia nublado, frio e garoando em certos momentos, ideal para caminhar, quando vesti a mochila, recolhi meus apetrechos e prossegui em frente.

O trecho sequente, basicamente, todo plano, apresentou trajetos ermos e silenciosos, situados entre campos agrícolas, pastagens e bosques nativos, num percurso fácil e belo, que mesclou trechos em asfalto com outros sobre terra batida, todos de impressionante beleza.

Nesse pique, atravessei pequenas aldeias, depois, quase no final da jornada, passei por Reigada, quando ainda me restavam 5 quilômetros para atingir minha meta do dia, onde consegui, sem maiores intercorrências, adentrar em zona urbana, seguindo, depois, calmamente, até o centro de Monforte.

Na verdade, os 9 quilômetros finais foram feitos por uma planície de escassa dificuldade altimétrica, senão, por pequeno ascenso, de onde eu já divisava o local de pernoite nesse dia, com sua torre de Homenaje, que parece coroar a cidade e o vale.

Monforte é a capital da Tierra de Lemos e da Ribeira Sacra, além de ser a segunda cidade em população da província de Lugo, porém, apesar de toda sua importância, ela não possui albergue para peregrinos.

A “Puente Medieval” sobre o rio Cabe, existente em pleno centro de Monforte, consta de 4 arcos semicirculares fortemente reforçados e ainda que sua reconstrução se tenha dado no século XVI, sua origem é da época dos romanos.

Algumas fotos dessa etapa:

Em ascenso ao topo do morro.

Paisagem circundante..

Capela da Virgem dos Remédios.

Em descenso, entre imensos pinheirais..

Ainda em descenso.. caminho deserto e silencioso.

Ponte medieval sobre o rio Lor.

Paisagem circundante, deste o cimo do morro.

Trecho deserto e plano...

Ainda caminhando pelo alto do morro.. tudo deserto e plano.

Passagem sobre o rio Saá. Acima, local para descanso.. em A Pobra de Brollón.

Trecho final... belo demais!

Tudo plano e deserto, como eu gosto...

Em descenso, quase chegando...

Bosques maravilhosos....

Os típicos bosques galegos...

Chegando em Monforte de Lemos..

Edificada nas margens do rio Cabe, um afluente do Sil, esta bonita e histórica cidade conta hoje com quase 20 mil habitantes, o segundo maior povoado da província de Lugo.

Ela é a capital da Ribeira Sacra, zona de grande beleza e valor ecológico, que compreende as ribeiras dos rios Minho e Sil.

Habitada desde os tempos pré históricos, foi um importante bastião romano, porque nela passava a calzada que unia Castilla com a Galícia, ainda que sua maior relevância história provenha da Idade Média, quando era uma cidade-fortaleza feudal.

Dessa época é o magnífico conjunto monumental do Monte de São Vicente del Pino, formado pelo Monastério, atual Parador de Turismo, do século XVI (edificado sobre o anterior do século X); a Torre de Homenage (séculos XIII-XV), residencial dos Condes de Lemos.

Ademais desse conjunto monumental, outras edificações de interessa na cidade monfortina são: o Colégio de Nossa Senhora de la Antígua, conhecido com o “Escorial da Galícia); a Ponte Velha (século XVI) sobre o rio Cabe, medieval, ainda que de origem romana, e, finalmente, seu burgo medieval e a ala dos judeus.

A Colegiata e igreja matriz de Monforte de Lemos.

Ao fundo, ponte medieval sobre o rio Cabe, localizada no centro da cidade.

Aguardando o almoço ... saúde a todos!

RESUMO DO DIA - Clima: Nublado no início, depois, ensolarado, variando a temperatura entre 12 e 18 graus.

Pernoite: Pensão Miño - Cêntrico - Apartamento individual excelente - Preço: 20 Euros;

Almoço: Restaurante Recantos - Excelente! Preço: 10 Euros o “menú del dia”.

AVALIAÇÃO PESSOAL - Uma jornada de grande extensão, com dois aclives importantes a ser superados. Na realidade, trajeto eu abandonei as margens do rio Sil e adentrei aos montes e vales do rios Lor, Saá e Cabe, sucessivamente. Essa etapa é considerada a “Rainha do Caminho de Inverno”, a mais extensa e, possivelmente, a mais difícil, ainda que, também, extremamente bela e plena de trechos exóticos, desertos e silenciosos. No global ela contempla dois duros ascensos e alguns trechos em piso duro, mas agrega paisagens de rara plasticidade.

5º dia: MONFORTE DE LEMOS a CHANTADA – 31 quilômetros