GIRO DO PICO DAS CABRAS – JOAQUIM EGÍDIO/SP – 14 QUILÔMETROS

De quem não ousa, não se espera por nada.” (Friedrich von Schiller) 

A maioria dos habitantes da cidade de Campinas e da RMC, com certeza, concordam que nossos redutos naturais, sejam eles de qualquer espécie, rareiam-se.

Rios estão condenados, a fauna está sendo dizimada ou escorraçada para outras regiões, e o que resta da vegetação nativa convive, ombro a ombro, com a indesejada monocultura da cana.

É um quadro desolador para quem procura, sempre que pode, manter uma certa distância da agitação burocrática e do ambiente acinzentado dos grandes centros urbanos.

Não obstante, uma breve pesquisa nos mapas da metrópole campineira é suficiente para encontrar algo interessante.

Delineia-se, à nordeste, uma área em que a cor verde predomina e não é um jardim botânico artificial, nem, tampouco, um parque ecológico de grandes dimensões.

Trata-se de um quadrilátero imaginário formado pelo minúsculo distrito de Joaquim Egídio e as cidades de Morungaba, à leste, Itatiba, à oeste, e Pedreira, ao norte, dentro do qual se insere a Serra das Cabras.

Nesse cenário, onde os limites entre os municípios se camuflam em meio aos resquícios da Mata Atlântica e incontáveis fazendas coloniais, cujas origens remontam ao Ciclo do Café do século XIX, é possível se aventurar em busca de cenários ainda desconhecidos de grande parte da população circundante.

Então, animado, retornei ao Pico das Cabras a fim de realizar o “giro” que seus contrafortes serranos propiciam, desta vez, no sentido inverso.

Para tanto, convidei meu amigo Demétrius (Dedé), e domingo passado “viajamos” até esse emblemático local, de onde iniciamos nossa agreste caminhada, e um resumo do que vivenciamos na trilha, conto abaixo.

O PARQUE PICO DAS CABRAS

O Pico das Cabras fica no distrito de Joaquim Egídio, em frente ao Observatório Municipal de Campinas.

O local é ideal pra quem gosta de natureza, trilhas e principalmente admirar o pôr-do-sol.

Está localizado a 32 quilômetros de Campinas e 120 quilômetros de São Paulo.

O ingresso de R$10,00 é apenas para visitação do Pico das Cabras, que dá acesso as trilhas e aos mirantes de onde se tem a vista das cidades em volta e do pôr-do-sol. 

Pedra existentes no interior do Parque Pico das Cabras.

Mas no mesmo local você também pode visitar o MAAS (Museu Aberto de Astronomia), com ingresso adquirido à parte.

Além do museu, eles também oferecem outras atrações como: Palestras, esportes, eventos culturais, observação de planetas e objetos siderais, dentre outras coisas.

O espaço também disponibiliza estacionamento, banheiro e café.

Depois de ver o pôr-do-sol, você pode aproveitar para conhecer também o Observatório Municipal de Campinas.

O Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini (OMJN) fica na Estrada do Capricórnio, em frente ao Pico das Cabras, apesar do seu funcionamento ocorrer apenas aos domingos ou em eventos especiais.

Além do observatório o espaço também possui um pequeno museu relacionado à astronomia, com muita curiosidade, informação e diversos objetos.

E a atração principal é mesmo o Observatório, porque através de seus telescópios podemos ver o cosmos com planetas, estrelas e a lua.

Cartaz afixado na portaria do Parque Pico das Cabras.

A NOSSA CAMINHADA 

O verdadeiro significado da caminhada não está em rumar para outros mundos, outros semblantes, outras culturas, outras civilizações, está em ficar à margem dos mundos civilizados, quaisquer que sejam.” (H. D. Thoreau) 

Partimos de Campinas às 6 h em meu automóvel e depois de percorrer 30 quilômetros, sendo os derradeiros 5 sobre terra, com muita tranquilidade e descontração, num fresco domingo invernal, chegamos ao Pico das Cabras, 45 minutos mais tarde.

Então, após alguns exercícios de aquecimento, demos início a nossa caminhada, seguindo à esquerda, por uma via de terra nominada Estrada do Capricórnio. 

Logo no início, trilha matosa e agradável.

Percorridos 100 m, nós giramos à direita, atravessamos uma porteira, depois, já numa trilha matosa, fletimos à direita e logo, à esquerda, quando se iniciou um leve descenso.

Observando adiante, podíamos notar ao longe, de nosso lado esquerdo, um verdejante vale que se estreitava entre as abruptas dobras serranas na direção sudeste. 

Grande obstáculo no caminho: um tronco atravessado na trilha.

Uma vez na trilha, seguimos animados naquela direção e num piscar de olhos penetramos numa mata, inicialmente, descendendo de forma suave, transitando próximo a base da Pedra Mor.

Mas não demorou muito, a declividade se acentuou e logo a senda se tornou não apenas uma perigosa vala erodida, mas também coberta de mato em alguns trechos. 

Nesse trecho erodido e pleno de vegetação, eu sigo na frente.

Não bastasse tais percalços, surgiram bifurcações que me obrigaram a consultar o GPS inserto em meu aparelho celular, onde havia salvo um esboço do trajeto gravado no aplicativo Wikiloc.

Depois de descender por um longo tempo, na cota dos 850 m a trilha se desviou, abruptamente, e seguiu rumo ao leste, sempre perdendo altitude, ainda que de forma imperceptível.

Contudo, depois de cruzar um exuberante vale por onde corre um afluente do córrego das Palmeiras, seguimos em ascenso, abandonamos a mata ciliar e prosseguimos sob a fronde de uma vasta área de reflorestamento de eucaliptos. 

Trânsito pelo interior de vasto eucaliptal. O Dedé segue na vanguarda...

Para variar, nesse trecho também observamos inúmeras bifurcações no percurso, mas, no geral, todos os caminhos levam para o sul, onde existe uma estrada principal.

Seguindo em frente, cruzamos mais um bosque de eucaliptos e, finalmente, percorridos 4.500 metros, desembocamos numa via que provém da direita, desde a Fazenda Girolândia, já minha velha conhecida.

Então, giramos à esquerda, atravessamos uma porteira que, na sequência, voltamos a fechar, tal como a encontramos, e prosseguimos em ascenso, agora por uma larga e arejada estrada, situada entre campos de pastagem a perder de vista. 

Observando do nosso lado direito, podíamos visualizar muito próxima a simpática cidade de Itatiba, refulgindo sob o sol matutino. 

No alto do morro, do lado direito, vista da cidade de Itatiba/SP.

No alto do morro, do lado esquerdo, belas fazendas... 

Do lado esquerdo e abaixo, fazendas e belas vivendas instaladas em verdes campos davam o tom na paisagem.

Percorridos 6 quilômetros, chegamos ao topo do morro, situado a 990 m de altitude, e dali nós detínhamos uma ampla vista do entorno circundante, bem como podíamos avistar, bem à nossa frente e à esquerda, o mítico Pico das Cabras de onde tínhamos partido de manhã.

Mais 700 m percorridos e nós transitamos diante do portão de acesso à Fazenda Boa Esperança, depois, prosseguimos em frente, agora já entre campos de pastagens e árvores baixas. 

Trecho com mato alto. Eu sigo na dianteira..

Então, teve início forte e contínuo descenso, que fomos vencendo com tranquilidade, por uma trilha bastante verde e arborizada.

Já no plano, giramos à esquerda, ultrapassamos um riacho por uma ponte, depois viramos à direita e prosseguimos pelo interior de uma senda, plena de verde, mas com mato alto em suas laterais.

Mais adiante, seguimos costeando um grande e belo espelho d’água, porém, logo adentramos à esquerda. 

Bordejando um espelho d' água.

Então, teve início uma suave aclividade, porém, logo acima, precisamos sobrepujar um íngreme ombro serrano, que segue bordejando um vale, situado em meio uma mata ciliar entremeada de reflorestamentos.

A todo momento surgiam bifurcações na trilha, mas o certo é se manter sempre na via principal, que vai ganhando altitude, aos ziguezagues, pela elevada encosta.

E assim, um tanto arfantes, fomos avançando sem pressa, mas em ritmo compassado. 

Em ascenso, pelo interior da mata nativa.

Percorridos 10 quilômetros, nós desaguamos na trilha principal onde, em vários locais, o piso se encontra erodido em face da região ser utilizada por mototrilheiros, o que ocasionou profundos sulcos no leito da senda, e essas valas representam um grande desafio a ser superado pelos caminhantes. 

Trilha estreita mas fresca e agradável.

Finalmente, o caminho se nivelou e, quase em sequência, abandonamos a sombreada mata para caminhar em local aberto e logo tangenciamos as largas aderências da chamada Pedra Partida.

Em princípio, este foi um dos pontos mais proeminente de nosso giro, situado a 1.060 m de altitude.

O lugar é um amontoado de rochas e pedras, sendo que a maior está, literalmente, partida e forma uma ampla cavidade que faria a alegria de qualquer skatista, tendo em vista as largas rampas insertas em seu amplo formato côncavo.

Poças esverdeadas no miolo contrastavam com a claridade porosa da pedra, produzindo uma contextura no mínimo curiosa. 

Vista desde o alto da Pedra Partida.

Fizemos, então, outra pausa para hidratação e ingestão de carboidratos, enquanto apreciávamos a linda vista que se descortinava a nossa volta.

Ali do alto, a paisagem privilegia basicamente o quadrante norte, com toda morraria verdejante daquela zona rural em evidência, tendo alguns vestígios da urbe de Campinas, situada mais para o lado noroeste. 

Vista da parte interior da Pedra Partida.

Revigorados, retomamos a caminhada, agora perdendo um pouco de altitude, até finalmente desaguarmos na Estrada do Capricórnio (também conhecida como Estrada do Observatório), que é uma via de chão batido, pela qual se acessa oficialmente o alto da serra.

Então, giramos à esquerda e prosseguimos tranquilamente pela crista montesina, em meio a eucaliptos perfilados, agora já na direção sudoeste.

Num local situado no 13º quilômetro, nós atingimos a cota de 1077 m de altitude, o ponto de maior altimetria no percurso desse dia. 

Próximo do local de chegada, nova visão da cidade de Itatiba/SP, ao longe...

Em bom ritmo, mais dois quilômetros percorridos, aportamos na entrada do Parque Pico das Cabras, local de onde nós havíamos partido de manhã.

Ali nos confraternizamos pelo sucesso de nosso giro, depois, adentramos em meu veículo e retornamos às nossas residências. 

Meu grande amigo Dedé, que mais uma vez dividiu a trilha comigo.

Mais uma vez, meu agradecimento especial ao meu amigo Dedé pela companhia na trilha, onde sua alegria e grande forma física, fizeram toda a diferença.

Juntos somos mais fortes! Obrigado Dedé pela agradável companhia!

FINAL

"Concentre-se na jornada, não no destino. A alegria não é encontrada em terminar uma atividade, mas em fazê-la." (Greg Anderson)

Sobre a trilha de hoje, que pode ser percorrida nos dois sentidos, se faz necessárias algumas considerações:

Se você for seguir no sentido anti-horário, saindo da fazenda situada ao lado do Observatório, entra-se na mata à direita e prossegue-se em forte descenso.

O grau de dificuldade no percurso global situa-se entre moderado e difícil, em face da orografia do terreno e a distância a ser percorrida, sendo que o sol e o calor podem agravar tais fatores.

No percurso há vários ascensos e descensos, transitando-se por bosques, trilhas bem fechadas e estradinhas de terra.

O derradeiro aclive é bastante íngreme, agravado pelo cansaço auferido durante a quilometragem já percorrida.

Pode-se, também, percorrer a trilha no sentido horário e, nesse caso, o último ascenso será sombreado.

Finalizando, diria que a trilha do Pico das Cabras destina-se a quem já tem treinadas pernas e pulmões fortes, face a sua aclividade/declividade constante.

No Parque Pico das Cabras, onde encontra-se o ponto de maior altimetria do município de Campinas, também há um bar, uma área de camping e, algumas trilhas e fontes para quem tiver um tempo extra ou for de carro, embora, na atualidade, face à pandemia, tudo esteja fechado.

A Serra das Cabras é facilmente acessível mediante estradas de terra locais.

Ou através das várias veredas que partem das proximidades de Joaquim Egídio ou da pacata cidade de Morungaba, contudo, existem outras tantas espalhadas ao longo do morro que fazem a festa dos motoqueiros e ciclistas de plantão que, por sinal, são os que mais frequentam estes contrafortes serranos, por conta das grandes distâncias envolvidas.

Mas são trilhas confusas e repletas de ramificações que podem confundir o andarilho de plantão, mas, nada que um pouco de conhecimento de navegação básica não resolva.

Ou quem sabe este seja apenas mais um tempero para uma aventura inédita e plena de ar puro.

Bom Caminho a todos! 

Agosto/2020